31/10/2008

desarmonia

O romancista é um poeta desgraçado.
Condenado a sua infalível pantomima
Gesticula abarcando sua infindável solidez
Somente com olhos, argutos - acima de tudo, perenes.
É um espantalho carcomido pelo martírio
de ser incapaz de dizer
Coisas.

É a um só tempo verme e coveiro, criatura emblemática
Onde a carência de gestos apenas lhe curva as costas.
É, portanto, desses seres capsulares.
Casulo de seda amparado por brocas.
E, talvez, bocas.

Satisfaz-se com ínfimas atribulações
mas permanece sentado, alvejando
A blindagem sagrada do tempo com vicejante suavidade
caminhando, sabe deus, com que tez altiva e mole
molestando a carnavalesca desordem das impossibilidades.
Curiosa engrenagem de instinto subjugada pela vergonha
de saber-se inconciliável com
Suas verdades.
Somente a concisão lhe impressiona.

george saraiva

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