16/09/2009

flecheira libertária (5)

'Flecheira Libertária' é uma seção do endereço anarquista nu-sol - núcleo de sociabilidade libertária (nº 126, 15/09/2009).
proibição
O proibicionismo às drogas subordinou culturas, favoreceu indústria de armas, especializou polícias, organismos internacionais e rastreamentos eletrônicos. Ampliou relações diplomático-militares e controles científicos. E, principalmente, propiciou a expansão do tráfico. O proibicionismo está a serviço do lucro, da repressão, do legal e do ilegal. Consagra o proprietário, o traficante e o dissimulador.
liberação
Os defensores da liberação das drogas sabem que elas são inseparáveis da cultura; sabem que liberar as drogas é acabar com o tráfico, conter um ramo altamente lucrativo do capitalismo, paralisar temporariamente os negócios dos moralistas, arruinar parte da crença na repressão e da fé em segurança. Os defensores da liberação são um perigo à empresa, ao Estado e ao traficante. Arruínam seus negócios. Os defensores da liberação das drogas querem mais que descriminalizar maconha!
vida
O proibicionismo precisa da vida breve da criança pobre-podre-calcinada cada vez mais nas mãos do traficante como braço armado, consumidor, sicário e serviçal; precisa de jovens dispostos a morrer bem cedo, tentando, pelo avesso, imitar o burguês bem sucedido, o herói, o mártir, o bandidão das antigas na periferia, nas favelas; precisa de gente insatisfeita com esta merda de mundo, para consumir, se endividar e cair nas mãos dos traficantes como os preferenciais bibelôs de sua estética em ruínas... O proibicionismo e o tráfico celebraram um casamento indissolúvel. Só os revoltados sabem que onde há vida não há proibição e que onde há tráfico não há mais vida.
outros sonhos de ópio
A cada dia, há muitas gerações, dedos ágeis e olhares atentos de mulheres e crianças entrelaçam sem cessar fios e cores. Hoje, por horas e horas, vai sendo tecido mais um centímetro da produção média anual de 200 milhões de metros quadrados de tapetes no Afeganistão. Para as dores dos corpos constritos a ínfimos gestos, usa-se o ópio; para aquietar crianças pequenas que atrapalham os fios, usa-se o ópio, há gerações. Hoje, o país precisa de mais tapetes para superar a marca dos 170 milhões de dólares de lucro anual com as exportações. Mais horas, mais teares, mais bebês quietinhos, mais ópio. Denuncia-se, porém, o vício do ópio na população de artesãos. Estuda-se como combatê-lo com uma ação internacional. Mas nunca se pergunta pela dor.
game over
Um novo programa da força aérea estadunidense recruta jovens para o projeto de combate à distância. De uma sala nos EUA, com monitores e joysticks, os pilotos decolam aviões não-tripulados, lançam mísseis e retornam à base no Afeganistão. Um dos requisitos para a seleção é que eles tenham sido, desde criança, aficionados por videogame. O treinamento é simples, garantem os militares, porque os jovens já vêm educados: matar alvos em telas não lhes é estranho. Sensibilidades torpes e educação para lidar com mortes programadas, eis um traço das guerras na sociedade de controle.
direito e tortura
Alvos preferenciais da polícia na Itália, os imigrantes vindos da África, depois de atravessarem a ilha de Lampedusa e chegarem com vida à Europa, são enquadrados em uma nova legislação. Esta prevê seis meses de prisão para quem andar sem a documentação regularizada, despejo do morador e confisco do imóvel alugado e ainda estimula os médicos a denunciarem pacientes em situação irregular. A página da internet relacionada a um dos proponentes desta nova lei estampa que a tortura de clandestinos é um direito de defesa da nação.
preço da vida
Os canalhas de todo o tipo comemoram. Os imigrantes africanos, árabes, latinoamericanos, gente de todas as partes do planeta que não morreram na travessia em altomar tem como destino viverem sem descanso e sob suspeita, cercados pela polícia. Só assim é que seus corpos e suas existências consideradas insuportáveis são finalmente permutadas, esmagadas, submetidas à força do governo.

“é preciso um dilaceramento que interrompa o fio da história e suas longas cadeias de razões, para que um homem possa, ‘realmente’, preferir o risco da morte à certeza de obedecer” (michel foucault).
“viver é o que há de mais raro neste mundo. muitos existem, e é só” (oscar wilde).

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