25/06/2009
se cada dia cai
dentro de cada noite
há um poço
onde a claridade está presa.
há que sentar-se
na beira do poço da sombra
e pescar a luz caída
com paciência.
Pablo Neruda
o 'dia de bloom' em vitória
um presente : bloom, o filme
Enfim, se já é extremamente difícil transpor o universo de qualquer obra literária para a linguagem do cinema, com competência e sensibilidade, seria pedir demais que Sean Walsh desse conta das inúmeras facetas do ‘Ulisses’. Na verdade, o simples fato do diretor ter encarado o desafio já o tornaria merecedor do respeito de escritores e leitores de Joyce.
Mas ele merece mais, também os nossos aplausos, pois cumpriu o desafio com a devida competência, sensibilidade - e com a mais completa ausência de ‘invenções’ presunçosas e cansativas, como muitas vezes acontece nessas tentativas de diálogo literatura/cinema.
Destaque para a cena final, a do famoso monólogo de Molly: houve uma total fusão entre as imagens, luzes e sons da cena filme com o fluxo de consciência da personagem magistralmente descrito no livro (do qual publicamos também um trecho em ‘a odisséia de Joyce’); Sean Walsh soube captar toda a rica mistura de erotismo, desejo, nostalgia, ironia, dúvidas e interrogações que estão na fala da esposa de Bloom, que acorda no meio da noite ao ter o sono interrompido pela chegada de Bloom em casa, após o seu demorado cortejo de mais um dia pelas ruas de Dublin e da existência.
Vale também registrar que os atores que interpretam Bloom e Molly foram muito bem escolhidos, interpretação equilibrada, fluida, mas vivaz e rica em nuances quando assim exigido; além da competência como atriz, com certeza a aparência física da atriz Angeline Ball colabora para que ela transmita ao espectador/leitor aquela mistura de luxúria e simplicidade, aquela sensualidade inocente, livre do peso do ‘pecado’, característica da esposa de Bloom. Leve ressalva talvez para o ator que representa Stephen Dedalus, não propriamente com relação à sua atuação, mas pela escolha do ator: muito jovem, mais para estudante ou adolescente do que para jovem escritor em difícil e impetuoso processo de buscas e descobertas. Talvez o personagem Dedalus devesse ter ‘aparecido’ mais no filme.
De qualquer forma, para quem gosta de Joyce, o filme é um delicado e vivo presente. Se os nossos desejos pudessem se tornar realidade, bem que Walsh poderia fazer um ou mais filmes sobre a mesma obra, abordando outras cenas, experimentando outras atmosferas, enfatizando um pouco mais Stephen ou Molly, ou outro personagem - de preferência com os mesmos atores, principalmente a que representa Molly. Afinal, se há na cultura do Ocidente obras que mereçam continuações e releituras o ‘Ulisses’ com certeza é uma delas. E com certeza Sean Walsh saberia nos dar outro presente.
Nota: Stephen Dedalus, Molly Bloom e Leopold Bloom, interpretados, respectivamente, por Hugh O'Conor, Angeline Ball e Stephen Rea. Leia ainda: as odisséias de joyce
as odisséias de joyce
De toda a história da literatura, essa obra é sem dúvida a mais complexa, ambiciosa e a mais bem sucedida em seus objetivos. É uma odisséia, uma narrativa grandiosa, não somente da vida de um homem (Leopold Bloom), mas de certa forma de toda a chamada civilização ocidental.
Quando se diz ‘seus objetivos’ entende-se que há um plano, um projeto. De fato, Joyce não se deixou levar apenas pelo fluxo criativo, ou por uma idéia geral, ao escrever o ‘Ulisses’. Prova disso é a estrutura quase matemática da obra.
O livro é dividido em 18 capítulos, e em cada um deles há a presença, discreta ou explícita, de um elemento ou tema diverso: uma hora do dia, um órgão do corpo, uma cor, um símbolo e, mais fascinante que tudo, uma arte e uma forma de narrativa para cada um dos capítulos.
Joyce passeia por paródias, poemas, sermões farsas, monólogos, ‘falas’ que desnudam consciências ora juvenis ora femininas ora bêbadas. Sem falar, claro, no capítulo final, escrita na narrativa chamada de fluxo de consciência, que Joyce elabora com maestria até hoje inigualada. Aliás, para muitos é certo que a obra de Joyce até hoje não foi superada, principalmente no que diz respeito ao ‘Ulisses’ e ao ‘Finnegan’s Wake’; obra no máximo igualada em muitos aspectos pelo mineiro Guimarães Rosa, principalmente o Rosa épico, poético, cósmico, religioso, metafísico e inventivo de ‘Grande Sertão: veredas’, e o Rosa explorador e radical de ‘Tutaméia’ e de ‘Terceiras estórias’.
E tudo acontece em praças, praias, bares, quartos e ruas, principalmente ruas, dá realmente a impressão de acontecer no mundo de ‘verdade’, no mundo no qual o leitor vive. Sim, é uma espécie de realismo, mas de realismo superior, que somente pode ser construído a partir da palavra mágica, singular e potente do escritor Joyce. Essa proximidade com a vida, com as coisas e com as pessoas somente tem paralelo na já citada obra de Guimarães Rosa.
Enfim, é a história de um Ulisses não tão heróico quanto o da ‘Odisséia’, um Ulisses moderno, que poderia ser qualquer um de nós, na figura do esquivo e inseguro, malicioso e calculista, sensual e nostálgico Leopold Bloom.
E, como dito acima, alguns estudiosos na sua estrutura, nos seus recursos a linguagens, artes, ciências, ‘Ulisses’ também pode ser lido como uma narrativa, uma pequena e discreta epopéia de toda a complexa trajetória da civilização com todo o que ela tem de fascinante e de contraditório, de celebração e de lamento. Na verdade, essa gigantesca tentativa de epopéia da história da humana parece que James Joyce busca construí-la na sua outra obra radical, o ‘Finnegans Wake’ (a qual infelizmente ainda não me dispus a ler), que embora seja de complexa dificuldade em termos de tradução, vem sendo editada em outras línguas - para se ter uma idéia, aqui no Brasil somente foi publicada em 2000, na certamente corajosa tradução de Donaldo Schules.
A arte relacionada ao capítulo é a pintura, o símbolo é uma virgem, os órgãos são o olho e o nariz e a técnica narrativa é a tumescência/detumescência.
Embora apenas dêem uma vaga idéia do capítulo (no total são umas sessenta páginas) registre-se a mudança na técnica de narração: até mais ou menos a metade do capítulo é uma fala delicada, poética, satírica apenas na aparência (uma narrativa que, ao menos na aparência, procura descrever ou comungar com o mundo de garotas, ou mais especificamente, de uma garota virgem). Depois a fala subitamente transforma-se: é agora mais pausada, menos afetada emasi masculinizada, incisiva. É Bloom entrando em cena. Até então, a delicada e brincalhona narrativa sequer fazia suspeitar de sua presença, na espreita, a manter com a jovem Getty MacDowell um ambíguo flerte.
Percebe-se, então, porque Joyce denominou de tumescência/detumescência a técnica narrativa por ele utilizada nesse capítulo. Há num primeiro momento todo um entusiasmo, toda uma expectativa de um acontecimento agradável ou revelador, exatamente como a expectativa de uma garota virgem que se sabe observada por um homem que ela entende como experiente e ousado, e a cujos olhares e gestos ela corresponde de maneira ambígua, discreta. Depois há a fala prosaica do homem que a observava e que se excitava com as mãos, ao conseguir que a garota se exibisse discretamente para ele.
A mudança, quase brutal, da fala, ocorre quando a garota se levanta para ir embora e Bloom percebe que ela mancava. Da tumescência, da impetuosidade incial, temos então a detumescência, a frouxidão, não apenas da froma narrativa mas também da masculinidade de Bloom. São centenas de preciosidades assim que fazem Joyce nos fascinar.
ulisses - trechos
As três mocinhas amigas estavam sentadas nas rochas, comprazendo-se com a cena vesperal e a atmosfera que era fresca mas não demais friorenta. Muitas e freqüentes vezes soíam elas vir àquele recanto favorito para entreterem conversa aconchegada cerca das ondas faiscantes e discutirem assuntos femininos(...).
Gerty tirou por apenas um instante o chapéu para arranjar a cabeleira e mais bonitinha, mais gostosinha cabeça de tranças castanhas jamais se viu(...) Ela quase podia ver o rápido surto de encantamento correspondente nos olhos dele que a fez formigar em cada nervo. Ela repôs o chapéu de modo que pudesse ver sob as abas e balançava os sapatos(...) Ele a fitava como a serpente fitava a sua presa. Seu instinto de mulher dizia-lhe que ela despertara o diabo nele e a esse pensamento um escarlate candente espalhou-se da garganta à fronte a ponto de a adorável cor de suas faces tornar-se uma rosa esplendente. (...) Os olhos que estavam cravados nela faziam sua pulsação retinir. Ela fitou-o por um instante, acolhendo-lhe o olhar, e uma luz irrompeu nela. Paixão ardente havia naquele rosto, paixão silente como um túmulo, e esta a fazia dele. Por fim, eles haviam sido deixados a sós sem os outros a se intrometerem e a fazerem observações e ela compreendeu que podia confiar até a morte nele(...) As mãos e o rosto dele contraíram-se e um tremor se apoderava dela. Ela inclinou-se bem para trás ao olhar para cima e não havia ninguém para ver a não ser ele e ela quando ela revelou as graciosas pernas todas belamente feiçoadas assim, suavemente flexíveis e delicadamente torneadas, e ela lhe parecia ouvir o arquejo do coração dele, pois ela sabia da paixão de homem como aquele, sanguiardente(...)
Ele estava inclinado contra a rocha de trás. Leopold Bloom (pois que era ele) mantém-se silencioso, a cabeça baixada ante aqueles olhos impérfidos. Mas que cruel havia sido! Às voltas de novo? Uma bela alma pura o chamara e miserável que era, como lhe respondera? Um grosseirão consumado é que fora. Ele dentre todos os homens! Mas havia uma infinita reserva de piedade naqueles olhos, para ele também uma palavra de perdão embora ele tivesse pecado e errado e desgarrado. Deveria uma moça confessar? Não, mil vezes não. Esse lhes era o seu segredo, só deles, sós no crepúsculo esconso e ninguém havia para saber ou dizer salvo o morceguinho que voava tão manso pela tarde aqui e ali e os morceguinhos não falam. (...) Páginas 398-422.
O senhor Bloom olhava para ela no que ia manquejando. Pobre moça! Lá estava por que havia sido deixada de molho e os outros davam aquela disparada. Entendi que alguma coisa estava errada pelo jeito da pinta dela. Beleza escorraçada. Um defeito é dez vezes pior numa mulher. Mas as faz polidas. Contente de não ter notado enquanto ela estava à mostra. Diabinho esquentado apesar de tudo. Perto das regras, creio, faz sentirem comichõezinhas. Que dor de cabeça que tenho hoje. Onde é que pus a carta? (...) As virgens ficam malucas ao cabo, eu suponho. Minha irmã? Quantas mulheres em Dublin estão com aquilo hoje? Martha, ela. Alguma coisa no ar. È a lua. Mas então porque todas as mulheres não ficam menstruadas ao mesmo tempo, com a mesma lua quero dizer? Depende do tempo em que nasceram, suponho. Ou todas dão a arrancada juntas e depois ficam para trás. Às vezes Molly e Milly juntas. De todos os modos tirei a melhor disso. (...) Não olhou para trás quando se foi praia abaixo. Não queria dar uma satisfação. Essas garotas brejeiras, essas garotas, essas garotas da praia. Belos olhos que tinha, claros. É o branco dos olhos que dá realce, não tanto a pupila. Entendeu ela que eu? Claro. Como um gato a salvo de salto de cachorro. (...) Elas são todas olhos. Procuram sob a cama pelo que as chama. Ansiando levar o susto de suas vidas. Agudas como agulhas é que são. Quando eu disse a Molly que o homem da esquina da Cuffe era bonitão, pensando que ela ia gostar, ela já tinha pescado que ele tinha um braço postiço. Tinha mesmo. De onde lhes vem isso? (...) Páginas 423-427.
Sim eu penso que ele tornou eles um pouquinho mais duros chupando eles tanto tempo que ele me fez ficar com sede tetéias é como ele chama eles eu tive de rir sim pelo menos este aqui fica durinho de bico por qualquer coisa eu vou dar um jeito para ele fazer de novo e vou tomar ovos batidos com marsala para fazer eles ficarem cheios para ele como é que é curiosa a maneira que todas essas veias e coisas é feita dois iguais em caso de gêmeos eles são considerados como representantes da beleza colocados em cima como aquelas estátuas no museu fingindo esconder ele com mão dela(...) Adeus pro meu sono esta noite de todos os modos eu espero que ele não vá se meter com esses medicandos a levarem ele a se desencaminhar imaginando que é moço de novo voltando às quatro da manhã que eram se não era mais ainda assim ele teve bons modos pra não me acordar que é que eles acham pra palrar toda a noite esbanjando dinheiro e ficando cada vez mais bêbados eles bem que podiam beber água e depois lá começa ele a dar ordens à gente para por ovos e chá Findom e torrada quente com manteiga eu suponho que vamos ter ele sentado como o rei da terra bombeando com o cabo da colher pra cima e pra baixo no ovo dele onde é que ele aprendeu foi aprender isso e eu adoro ouvir ele tropeças nos degraus de manhã com as taças chacoalhando na bandeja(...) Esta droga de cama velha sempre tinindo como o diacho eu creio que se podia escutar a gente até do outro lado do parque até que eu sugeri pra botar o acolchoado com o travesseiro debaixo do meu traseiro eu me pergunto se não é mais bonito de dia eu penso que é mais cômodo eu penso que vou cortar todos esses pelos aí que me escaldam eu podia ficar parecendo uma garota novinha será que ele não ficar de boca aberta na primeira vez quando levantasse minha roupa eu dava tudo pra ver a cara dele(...)
20/06/2009
rebelião na grécia (5) - carta...
A carta abaixo, divulgada no blog Grécia Libertária, foi escrita pelo anarquista grego Ilias Nikoláu, encarcerado numa prisão da Grécia. É um desses testemunhos que dispensam muitos comentários; não somente pela coragem, determinação, sensibilidade e lucidez de quem a escreve, mas até mesmo em respeito à sua situação de prisioneiro. Para aqueles que estão até mesmo perdendo a sua liberdade em nome da resitência e de um horizonte completamente diferente para todos nós, para aqueles que estão de fato se cumprindo como profetas de um novo tempo, um silêncio respeitoso às vezes é a melhor homenagem.
Carta do companheiro anarquista Ilias Nikoláu
E há a sua famosa democracia, que está se armando e se blindando, que persegue, encarcera e assassina tudo o que lhe é hostil.
A nossa existência nós temos que buscá-la, temos que conquistá-la. Não é algo a ser comprado e vendido nas prateleiras dos supermercados ou nas vitrines dos shoppings, com cartões de crédito. Não é algo que abaixa a cabeça e jura em frente da bandeira de alguma nação e em seguida vai guerrear contra outras existências, supostamente inimigas de nossa nação.
dandara: a epopéia continua
Assim, apesar dos costumeiros obstáculos - e em parte por causa deles - que os integrantes da Ocupação Dandara prossigam nessa tarefa de profetas de um novo tempo. E que encontrem alento na carta do anarquista grego Ilias Nikoláu com seu comovente e indomável testemunho, e que vai publicado também como uma homenagem aos companheiros e companheiras da Dandara. Quanto às crianças como Pedro e Ananda, mostradas na matéria abaixo, é a luta e a crença de movimentos como o da Ocupação Dandara e de pessoas como o anarquista Ilias Nikoláu, que lhes darão outras possibilidades, para que não tenham que seguir, por exemplo, o caminho dos ‘sinais de trânsito’ e nem o mesmo caminho do garoto do fotopoema café da manhã de domingo (algumas pessoas afirmam que ele foi executado, cerca de três ou quatro anos depois dessa fotografia). Claro que para muitos eese apelo envolvendo crianças não passa de chantagem emocional por parted e líderes oportunistas e espertalhões. Mas não se poderia esperar outros argumentos de mentes e vontades que se encontram anestesiadas e assustadas, mesmo que se trate de pessoas que já chefiaram um Vara de Infância e Juventude... Que fazer, anão ser continuar a tarefa? Quem quiser saber mais detalhes de como está a atual batalha politica e jurídica pelo terreno ocupado, leia a matéria o desembargador e as crianças ou acesse o blog ocupação dandara.
17/06/2009
flecheira libertária (4)
Flecheira 112, 26 de maio
lata de lixo.
No Espírito Santo, os presos são amontoados em contêineres fétidos, latas de lixo humano, cercados por concertinas. É o horror. As autoridades obstaculizam as visitas de grupos de diretos humanos, alegando "questão de segurança". Mas estes entram e constatam que a comida podre, com "arroz, feijão e algo que parece batata", não é tão ruim diante de tanta imundice. Na revista íntima, mulheres são violentadas por agentes. Os assassinatos são contabilizados como fuga, o desaparecimento de indesejáveis, como na ditadura militar. Não há defensoria pública, somente a seletividade do sistema penal contra pobres, miseráveis, jovens e subversivos. As cercas elétricas e concertinas vão além do visual de campos de concentração: uma criança se corta ao tentar tocar em seu pai.
a lógica da reforma
A crítica que pretende humanizar a prisão-contêiner alimenta a distribuição de verbas e justifica a construção de mais prisões, fazendo a alegria de burocratas que vivem da morte lenta de gente considerada LIXO. Na democracia, representativa e participativa, há a ardilosa capacidade de conformar as pessoas na lógica da formalidade e alimentar esperanças vãs de mudança, respeitando a lei e o procedimento.
abolir
Enquanto existir prisões, de lata, de tijolos ou high-tech, existirá tortura e violência, desaparecimentos e morte lenta, polícia, secretários e burocratas alimentando-se dos corpos de pessoas que não interessam senão como ração de reformas. Para que não exista mais a lata de lixo humana, é preciso que não existam mais prisões.
tire o olho de mim
Num bairro da cidade de São Paulo moradores organizam uma patrulha sob a rubrica de “ vizinho está de olho!” o objetivo é inspecionar a casa e a vida dos outros em busca de inibir a ação de ladrões, por meio da vigilância da própria comunidade. A autoridade aprova, e reitera “ ser copiado por outros bairros” mas relembra que os moradores devem ajudar com informações e evitar qualquer tipo de ação policial. Talvez, perdido em sua própria retórica ele tenha se esquecido que o alcagüeta é aquele que mais deseja ser polícia.
guerras e inimigos nos fluxos
A mais nova guerra dos EUA é contra hackers, espiões e terroristas que transitam nos fluxos computoinformacionais imprescindíveis para o capitalismo e o governo do planeta. As guerras na sociedade de controle ganham novas profundidades que vão dos mega-bytes às vastidões cósmicas, opondo Estados, capitais, fundamentalismos. No entanto, nesses mesmos fluxos outras guerras podem surgir surpreendentes, esguias, imprevisíveis, sabendo que hoje se não se resiste fora dos fluxos, mas neles, afirmando novos costumes liberadores, guerreiros e inimigos das ordens.
“palavras fazem você ver novas terras e com elas estranhas viagens” (samuel beckett).
o desembargador e as crianças
Pedro e Amanda moram na Ocupação Dandara, junto com outras mil e duzentas crianças. Por decisão individual do desembargador Tarcísio Martins, do TJMG, todos eles serão despejados, e o terreno vai retornar à Construtora Modelo. O terreno tem 400 mil m² e estava abandonado há quarenta anos até chegarem lá o Pedro, a Amanda e seus pais, junto com outras mil e oitenta e seis famílias. A Construtora Modelo deve milhões de reais de impostos sobre o terreno, e é uma empresa conhecida de muitos mutuários lesados com cláusulas abusivas em Belo Horizonte e região metropolitana. Além disso há indícios de que o terreno foi grilado.
Mas o Dr. Tarcísio decidiu assim, por liminar no processo 24.9.545746. E, sem nem abrir a Constituição, que prevê que “a propriedade deverá cumprir a sua função social” ele reverteu sozinho uma decisão de outro desembargador. O que é estranho, pois não é comum isto acontecer. E também porque o Dr. Tarcísio tem um vasto currículo e fez sua carreira na defesa dos direitos dos menores abandonados. Ele tem vários livros publicados e foi muito atuante à frente da Vara de Infância e Juventude.
Porém uma coisa parece que o meritíssimo não aprendeu, nem com todo este estudo. É que não existem direitos nem pessoas em abstrato. É que só existem crianças de rua porque existe concentração de renda e de patrimônio. E sua decisão vai botar mais crianças na rua, e vai também aumentar seu currículo de maneira vexatória.
Pedro e Amanda têm duas possibilidades de futuro neste exato momento.
O futuro que seus pais querem construir na Dandara é de ter uma casinha onde morar e uma fonte de renda que se sustentem em cooperativa com as demais famílias. Também querem estudar, brincar no parque que seria construído na área que eles perderam pela liminar. São muitos os sonhos que não dá para contar aqui.
O que o Dr. Tarcísio e a Construtora Modelo querem é bem fácil de explicar. Na verdade, você já conhece.Basta olhar aí do lado de fora da sua janela, nos sinais de trânsito.
15/06/2009
assumir a própria ousadia
Por isso é tão importante não se ater tanto a controles pedagógicos, conceituais e muito menos institucionais. É preciso não sufocar a espontaneidade e a criatividade que existe no meio do movimento comunitário. Existem inúmeros PAP3 (ver abaixo explicação sobre PAP3) informais, latentes, que têm inclusive muito a nos ensinar.
Obviamente que sem desfazer do lúcido e minucioso trabalho teórico, já acumulado pelos técnicos e pesquisadores do ProFea, é preciso estarmos sempre atentos para não sufocar a espontaneidade e a particularidade de cada comunidade.
Assim, o COLEDUC de Vitória estará assumindo e exercendo de fato a sua ousadia e originalidade.
Na verdade, já começamos um trabalho de integração e conhecimento do território, como pode ser visto na matéria comunidades trilhando.
PAP2 - A coordenação local do projeto, no nosso caso sediada em Vitória, formada por membros do CPV e das secretarias envolvidas no projeto: educação, meio ambiente, saúde, direitos humanos, coordenação política e CDV (Companhia de Desenvolvimento de Vitória). Sua principal tarefa é a de formar educadores populares que comporão os PAP3.
PAP3 - formado por lideranças, moradores, conselheiros das comunidades. Tem como tarefa intervir na comunidade e formar novos educadores ambientais populares, que comporão os PAP4.
PAP4 - formado também por lideranças, moradores, conselheiros das comunidades, também com o objetivo de capacitar politicamente, empoderar e intervir para questionar, transformar, conscientizar, enfrentar.
Registrando ainda que todos os PAPs irão trabalhar, refletir, propor e intervir de forma articulada.
Leia também: coleduc: primeiro contato
cpv avança com o coleduc
Entidade indica membros para o Conselho Gestor
Em reunião realizada no dia 01/06, O CPV finalmente indicou os 06 membros que comporão o Conselho Gestor do COLEDUC, o qual terá também a presença de 06 membros indicados pelo executivo municipal. Fica, assim, formalizada a parceria entre o poder institucional ou instituído (as secretarias da prefeitura de Vitória, envolvidas no projeto) e o poder instituinte (as lideranças e conselheiros oriundos do movimento popular). Essa indicação vinha se arrastando há algum tempo, em razão de dificuldades de mobilização das lideranças envolvidas com o COLEDUC, o que inviabilizava até mesmo uma maior reivindicação do poder instituinte em relação à participação do poder institucional. Afinal, se o próprio CPV - que é o órgão proponente do projeto junto ao Ministério do Meio Ambiente - não transmitia a necessária articulação e clareza de objetivos, como esperar um maior compromisso e envolvimento do lado do instituído? Aliás, junto com essa definição dos membros do Conselho Gestor, os representantes institucionais também solicitam há já algum tempo um Plano de Ação, elaborado com clareza por parte do CPV, para que as reivindicações do COLEDUC possam de fato ser atendidas, tais como equipamemtos, pessoal, formação e transporte de conselheiros e lideranças etc. Apresentar esse Plano de Ação aos representantes da prefeitura deverá ser uma das primeiras responsabilidades dos indicados pelo CPV. Leia também
08/06/2009
a densidade e o silêncio...
Não é tarefa fácil fazer no palco esse resgate do primitivo e do ancestral, que todos carregamos no corpo e na memória. A responsabilidade do artista, quando envereda por essas trilhas - infelizmente cada vez mais esquecidas, em nossa civilização abundante de almas de plástico, enfeitadas de bugigangas eletrônicas, a habitar dentro de assépticos condomínios, shoppings e carros último modelo - é a de conseguir, efetivamente, despertar em nós as ligações obscuras e intuitivas que temos com o mundo, com as coisas e com o tempo.
Há que se ter um extremo cuidado para não inchar o trabalho com inúmeras referências e, aí, se perder num trânsito deslumbrado entre as muitas visões cosmogônicas (as diversas religiões, filosofias e sabedorias); e, também, para não cair na tentação do subjetivismo, das divagações pessoais - evitando impor ao espectador a sua visão pretensamente iluminada do que seja uma percepção profunda, uma relação adequada com a vida e com o ser. Enfim, é preciso se postar com maturidade e equilíbrio, pois quanto mais distantes estamos da origem mais temos o que falar e como falar sobre o assunto - que, aliás, deveria ser um dos assuntos mais importantes de todo e qualquer civilização, esse tema de buscar uma relação profunda e reverente com aquilo que nos cerca.
Uma arte que ajude, a nós ocidentais, a evitar nosso quase definitivo esquecimento dos princípios e das origens, nosso medo dos silêncios, nossa fuga de tudo que proponha uma densidade interior, própria. E que também não celebre apenas uma fusão bêbada, carnavalesca ou dionisíaca, como se fôssemos todos bacantes à procura de uma anulação, de um esquecimento de nós mesmos. Uma arte que, embora resgate e celebre a origem comum, o faça de forma a não disfarçar a inescapável e insubstituível ponte que cada um de nós tem com o mistério das coisas, do tempo, das vidas e de si próprio. Uma arte que nos ofereça não apenas carnavalização mas também a reverência ao mistério - nada contra o carnaval e as bacantes, claro, mas tudo a seu tempo e lugar.
Com esse trabalho Paulo Fernandes assume a opção de tentar caminhar em direção a essa arte. Que o diretor e dançarino saiba perseverar na sua tarefa de fazer da dança o instrumento do simbólico e do mítico, do coletivo e do transcendente, que continue a trazer para o palco o silêncio e a densidade.
Roberto Soares
troca de comando no CPV
O atual presidente do CPV, Waldemar Cunha Neto, deverá em breve comunicar o seu afastamento da presidência, tendo em vista convite para integrar uma chapa que disputará as eleições na FAMOPES, a entidade que congrega todas as associações de moradores do em nível estadual, incluindo-se o próprio CPV. Aplaudimos e desejamos sucesso ao Waldemar, em seu novo desafio, registrando que cumpriu suas atribuições no CPV com eficiência e serenidade. Lembrando que o desafio de conduzir a FAMOPES é também tarefa nossa e de todas as lideranças populares do Estado, e com certeza nós do CPV estaremos presentes com Waldemar, numa eventual direção da entidade. Mais à frente publicaremos um panorama acerca da gestão de Waldemar à frenet do CPV. Com relação ao Congresso da FAMOPES, o mesmo acontecerá entre os dias 03 e 04 de julho e, em sua assembléia do dia 04 de junho, o CPV indicou 20 delegados com direito a voz e voto.
Conheça mais sobre o CPV no link fortalecer o cpv
fortalecer o CPV
Dois pontos precisam ser prioritariamente trabalhados pela nova gestão do CPV: a sua organização interna e a capacitação política e técnica dos conselheiros. Neste texto vamos falar apenas do segundo ponto.
Mas de nada adianta indicarmos conselheiros e mais conselheiros, se eles não forem devidamente capacitados no aspecto técnico e, principalmente, no aspecto político. Interessa principalmente às comunidades ter conselhos municipais realmente atuantes, autônomos e democráticos, e que se façam respeitar e que sejam efetivamente buscados pelas comunidades. Aqui devemos nos lembrar que ao executivo, ao legislativo, às entidades de classe, ao meio empresarial, não cabe lutar exaustivamente para que esses conselhos adquiram de fato poder decisório, deliberativo e fiscalizador. Para essas instâncias, os conselhos são um poder concorrente e é previsível que cada instância de poder procure demarcar seu próprio território, sua área de atuação.
Por outro lado, as comunidades estão cada sempre vulneráveis em suas demandas, sempre dependentes de relações de poder assistencialistas e eleitoreiras, submissas a interesses de parlamentares, de administrações ou de partidos políticos.
07/06/2009
comunidades trilhando
em frente à fonte que deu nome ao Morro
fila indiana numbelo jogo de cores, luzes e sombras
A caminhada começou na Rua Sete, subiu pelo Morro da Fonte Grande e chegou até a até a sede do Parque, onde assistimos a um vídeo, andamos por algumas trilhas e visitamos o Mirante. Na volta, descemos por uma outra trilha, do lado de Fradinhos.
Essa foi na verdade a parte mais interessante da caminhada. Guiados por Cláudio, pudemos conhecer muitas histórias sobre os moradores antigos, fazendas e comunidades que existiram nas matas que nos cercam. Cláudio chegou a morar numa das antigas fazendas. Pudemos perceber como é muito mais estimulante e enriquecedor ouvir o relato de alguém que realmente viveu a realidade do lugar. É muito diferente de ficar ouvindo explicações históricas, técnicas e padronizadas de funcionários que, por mais atenciosos e competentes que sejam, nunca vivenciaram as mesmas histórias, e assim não transmitem a mesma sensibilidade, não nos envolvem com a mesma intensidade.
Assim, entendemos que cumprimos nessa trilha os dois objetivos aos quais nos propusemos: o primeiro deles foi a integração entre os moradores da comunidade do Rosário e Morro da Capixaba com os moradores das outras comunidades. O segundo objetivo era o de promover o conhecimento do território onde nós vivemos. Isso pode parecer desnecessário, pois todos nós achamos que conhecemos o suficiente do lugar onde vivemos. Mas a verdade é bem diferente. Às vezes passamos anos a fio morando num lugar e não tomamos conhecimento de suas histórias, de sua diversidade cultural, de sua riqueza natural. Essa, aliás, é uma das propostas do COLEDUC (Coletivo Educador Ambiental): incentivar as pessoas a conhecerem o seu território para melhor protegerem esse território. Afinal, somente podemos cuidar e gostar daquilo que conhecemos bem.
Um outro detalhe a ser lembrado: além do senso de identidade e integração, essas iniciativas ajudam a despertar nas comunidades a sua segurança, a crença na sua capacidade de se auto-organizar, de tomar a frente, sem esperar por diretrizes ou mobilizações oriundas do poder público. Isso é importante, na medida em que desconstrói a dependência absoluta dos poderes de Estado. Claro que o movimento comunitário deve e pode usufruir daquilo que o poder público tem a oferecer. Mas não pode é criar dependência, é ficar inerte e somente se encontrar, se integrar e se conhecer a partir de iniciativas de técnicos, professores, funcionários em geral.
Por ora, quem quiser ler mais sobre o projeto leia o texto primeiro contato.
Estamos tentando conseguir um ônibus gratuito. Se tivermos que pagar, todos terão que ajudar. Mas não deve ficar muito caro, pouca coisa mais do que duas passagens de Transcol. De qualquer forma, se alguém puder ajudar a conseguir o ônibus, entre em contato conosco.
E quem quiser ir no Mestre Álvaro, entre em contato com um dos telefones abaixo. Dependendo da procura é bom garantir logo o seu lugar no ônibus.
Roberto: 9951-4067, Narciso: 8129-5126
a cidade ainda mais distante, com a Terceira Ponte e o Atlântico ao fundo
05/06/2009
'negro é comida de onça'
O texto abaixo foi postado por Wilson Coelho, na lista de discussão 'Opiniões Cênicas', em 05 de junho; trata-se de uma crítica de Gerson R. Albuquerque direcionada a uma peça teatral montada em Rio Branco, capital do Acre.
Como a peça “Se o mundo fosse bom, o dono morava nele” não passou por Vitória, claro que não há como entrar no mérito da crítica que o autor faz.
Mas vale a sua publicação aqui, em razão da instigante postura do autor em relação a uma certa forma estereotipada e acomodada de se ver e interpretar a chamada cultura popular. Vale também registrar a extrema honestidadae e a coragem com a qual o Gerson Albuquerque expõe suas idéias; mesmo não havendo como entrar no mérito da crítica, como dito acima, não parece o caso de uma coragem movida por mágoas ou antipatias pessoais, o que - aliado à inteligência, contundência e pertinência do texto - justifica plenamente a sua reprodução e divulgação neste modesto espaço.
Em meio a pretensos improvisos, pitorescos personagens vão tomando lugar no cenário de uma realidade mitificada. O “preto Benedito” se utiliza de “malandragens”, “espertezas” e “truques” saídos do “mundo da vagabundagem” para ludibriar dois “cabras valentes” - Cabo Rangel, o “Rosinha” e Vicentão, o “Barrote” -, humilhá-los ou desmoralizá-los em “praça pública”, bem “ali em frente a todo mundo”, como meio para conquistar o coração de Marieta, a Madalena do “sertão” idealizado de Suassuna, inundado pelas caricaturas espectrais de Krugli.
A apoteose da nada criativa carga de preconceitos de Krugli se manifesta em falas que, mais de uma vez, repetem os chavões das mídias comandadas pela rede globo em torno de temas como “terrorismo de bandidos” ou “balas perdidas” nos morros cariocas, repletos de “pretos comida de onça”. Porém, é no final do terceiro ato de “Se o mundo fosse bom o dono morava nele”, de Ilo Krugli, que surge em cena a chave de ouro da velha estética do preconceito e de uma “cultura popular brasileira” petrificada por uma tradição escrita e folclorizada sob a égide do olhar colonizador/mente colonizada: a aparição do Boi Bumbá, digo, “Boi Bordado” e a entrada em cena de uma atriz negra - desnuda da cintura para cima - como a alma do boi; aparição insólita de uma “visagem” na fantasmagorica representação desse premiado diretor.
Comicidade rude nesses tempos de discussões atravessadas sobre identidades negras, em um país que deveria de auto-proclamar multi-étnico, multi-lingüístico, multi-cultural. Os meios de comunicação, as escolas, as igrejas, os teatros, as músicas, os cinemas, as artes plásticas, as linguagens todas e tudo o que isso implica – em sua possibilidade de produzir corpos e mentes - deveriam entoar outras falas, outros discursos capazes de romper com essa ultrapassada e homogênea idéia de uma ordem, um povo, uma verdade, uma história, uma tradição, uma cultura, um país.
Rio Branco, Acre, 23 de maio de 2009
Universidade Federal do Acre (gersonroal@gmail.com)
03/06/2009
coleduc: primeiro contato
***********************
Um pouco sobre o COLEDUC
No Brasil, a Educação Ambiental é regulada pela Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), instituída por um lei de 1999, e vem sendo executada pelo ProNEA (Programa Nacional de Educação Ambiental) desde 2003. Alguns dos princípios básicos desse Programa são:
· enfoque democrático e participativo
· visão do meio ambiente como algo mais amplo, abrangente
· a educação como um processo contínuo e permanente
Com base nas diretrizes da PNEA e do ProNEA, foi criado o Programa Nacional de Formação de Educadoras(es) Ambientais (ProFEA). Esse programa pretende implantar a educação ambiental, de forma que haja menos intervenções diretas e mais apoio complementar do poder público, ou seja, uma política de educação ambiental que possibilite e incentive o surgimento de reflexões e ações cada vez mais autônomas, com coletivos municipais e regionais se pensando, se organizando e se autosustentando.
E foi de uma iniciativa desse Programa, o ProFEA, que surgiu o projeto chamado de COLETIVO EDUCADOR. O propósito último seria o de desenvolver uma movimentação nacional contínua e sustentável, visando a formação de educadoras(es) ambientais a partir de diferentes contextos: uma rede articulada, autônoma e interdependente tem por utopia a formação de 180 milhões de brasileiros(as) educados(as) e educando numa visão mais ampla de meio ambiente.
O projeto pretende mapear potenciais “Coletivos Educadores para Territórios Sustentáveis”, possibilitando sua inclusão no Cadastro Nacional de Coletivos Educadores em distintas bases territoriais do Brasil e, assim, viabilizar recursos e processos destinados a sua formação e fortalecimento.
A meta é a identificação de 300 potenciais Coletivos Educadores, a serem selecionados mediante a demonstração de sua capacidade de articular parcerias com as instituições, de dialogar com o ProFEA e de exercer uma atuação permanente e continuada numa base territorial pré-definida.
Um pouco sobre o ‘nosso’ COLEDUC
Elaborado pelo CPV (Conselho Popular de Vitória), o projeto recebeu o nome de “O movimento instituinte na reconstrução do espaço vivido como direito cidadão”. O próximo passo foi o de contactar a SEME - Secretaria Municipal de Educação de Vitória, que abraçou com entusiasmo a idéia.
O Coletivo Educador Ambiental de Vitória (ColEduc-ES) é, então, um grupo constituído por representantes da sociedade civil organizada e do poder público, com o objetivo de construir um projeto político de Educação Ambiental na cidade de Vitória.
O ColEduc-ES terá a missão de promover, na cidade de Vitória, o empoderamento de um grande número de lideranças populares na questão sócio-ambiental. Inicialmente, esse empoderamento se dará através dos Conselhos de Escolas dos CEMEI's (Centros Municipais de Educação Infantil) e das EMEF's (Escolas Municipais de Ensino Fundamental).
O objetivo é o de capacitar cerca de 200 cidadãos, dentre pais de alunos e representantes das comunidades nos Conselhos de Escola. Esse envolvimento se dará através de diálogos profundos, constantes e críticos, versando sobre educação ambiental, que se orientarão sempre para a busca e a elaboração de uma visão bem mais ampla e política do que seja o meio ambiente; e na construção coletiva dessa nova visão de meio ambiente haverá o constante contato entre diferentes comunidades e segmentos sociais.
Aqui é preciso ressaltar que essa capacitação, pretendida para os nossos futuros educadores ambientais, não será direcionada apenas para os aspectos técnicos da questão ambiental. A preocupação será também a de despertar para a compreensão das relações de poder que determinam o problema (e as possíveis soluções) do meio ambiente, ou seja, muito mais do que tratarmos apenas de conservação e preservação de um meio ambiente constantemente agredido e prestes a entrar em colapso, o propósito do Movimento Instituinte estará sempre girando em torno das realidades políticas e econômicas que permitem, incentivam ou ignoram essa agressão recorrente, irresponsável e cega ao mundo que nos cerca e nos sustenta.
Enfim, ao Movimento Instituinte caberá compreender, questionar e contribuir no enfrentamento das situações de degradação impostas pelos poderes instituídos, sejam eles de natureza pública ou privada, sejam eles de âmbito federal, estadual, municipal ou local. A utopia maior do Movimento será a de contribuir para consolidar de vez uma nova postura da civilização ocidental para com o mundo, uma postura de integração e não mais de agressão, de domínio, uma postura de reverência e amizade e não apenas instrumentalização e conquista que, no fundo, apenas disfarçam o medo, a insegurança e a incapacidade para se postar com a devida humildade perante o Outro que é o mundo, o cosmos.
O nosso projeto tem como foco o Movimento Instituinte, centralizando a sua proposta de ação na Escola e na Unidades de Saúde, através da formação dos conselheiros locais oriundos do movimento popular e da associação de pais - e podemos perceber a importância dessa escolha para o movimento popular.
Afinal, a opção foi no sentido de enfatizar e valorizar o movimento instituinte em relação ao movimento instituído - o movimento popular em relação aos espaços institucionais, a comunidade em relação à administração escolar, a democracia direta em relação à democracia representativa; essa escolha, na verdade, reflete uma das diretrizes do ProFEA, qual seja, a de não restringir a formação de educadres ambientais apenas aos técnicos, pedagogos e professores, não restringir a educação ambiental à educação formal.
Roberto Soares Coelho, representante do CPV na Regional 01 - centro de Vitória - é membro do COLEDUC /ES desde a sua fundação.
02/06/2009
rebelião na Grécia (4)
Ações na Grécia rebelde contra a repressão no México
(por agência de notícias anarquistas-ana - a_n_a@riseup.net)
Atenas, Grécia
As companheiras e companheiros de bases de apoio do EZLN...
As companheiras e companheiros da Otra Campaña e da Zezta Internazional...
As companheiras e companheiros da Sexta Comissão e da Comissão Intergaláctica do EZLN...
A todos os lutadores sociais...
O poder capitalista revela uma vez mais seu verdadeiro rosto, o da repressão e da violência, da calúnia e das mentiras, das ameaças, das torturas e das arbitrárias detenções contra a digna luta zapatista e o movimento da Otra Campaña, contra cada movimento, cada rebelde e insubmisso em qualquer parte do México e do Mundo.
Exigimos:
- A liberdade imediata e incondicional dos 7 companheiros presos políticos da Otra Campaña de San Sebastian Bachajón, dos companheiros de Atenco, de Oaxaca, de Guerrero e de todo México e do mundo.
- O cancelamento das ordens de prisão.
- O fim das agressões, perseguições e repressão contra as comunidades rebeldes zapatistas e de todos os rebeldes do México e do Mundo.
- Fim das perseguições dos lutadores sociais. Liberdade aos presos políticos!
A paixão pela liberdade é mais forte que todos os calabouços!
Por um mundo sem patrões, nem escravos, sem policiais, nem exércitos!
Sem cárceres, nem fronteiras! Até a libertação social mundial, a luta continua!
flecheira libertária (3)
Flechadas que, geralmente através de um ou dois parágrafos, atingem em cheio o alvo e despertam para o risco de nos aquietarmos nas certezas estabelecidas, mesmo que tenham duramente conquistadas. Mesmo para quem não comunga das propostas anarquistas ou libertárias, vale a pena ao menos acompanhar o ousado e inusitado percurso dessas flechadas. E quem sabe se deixar flechar. Um pouco de lucidez e dúvidas não ferem tanto assim. Flecheira 112, 26 de maio assim já caminhou a humanidade.... ?
Chifre da África. 4 milhões de crianças correm o risco de desaparecer de fome, doenças, maus-tratos; 6 milhões de pessoas dependem de doações da caridade internacional, para serem mantidas lá, em seus campos de refugiados, em suas aldeias de terra seca, aguardando a caixinha de ração, a vacina contra sarampo, o fotógrafo condoído. E se a tal ajuda não chegar? Se nem o fotógrafo aparecer? Esses milhões começarão a se mover, a sair de suas choças e atravessar mares apenas para fazer viver suas crianças? Tal qual aqueles hominídeos primatas que se ergueram em duas pernas e, andando livres a partir da África, ocuparam o mundo inteiro, das estepes geladas às florestas úmidas, dos desertos às praias. Ou não, ou morrerão a míngua? Confinados dentro de cercas farpadas, esperando o comboio humanitário chegar pelo caminho empoeirado.
zeladores
Moças e senhoras educadas dedicam-se a delatar condutas politicamente incorretas. São as novas policiais ou zeladoras da sua vida. Há homens também entre elas, firmes em deixar tudo limpo. Limpar o congresso, bares, escolas e lares. Nada de barulhos, risadas, choros, diversão; somente ruídos controlados, sorrisos breves, lágrimas com discrição: violência surda! Não fume, não beba, não minta, não diga as palavras erradas. Seja um (a) conformista sóbrio (a). Ao abrir a capa vê-se no corpo as carnes do fascista!
tráfico de gente ou imigrações ilegais?
Não há capitalismo sem ilegalidades, sem tráfico de mercadorias, produtos e gente. Não são poucos os livros, os relatórios, as reportagens jornalísticas que informam como se ganha dinheiro arruinando a vida de pessoas, paisagens, ares e lugares. Na maioria das vezes, e em nome da segurança, o cidadão responsável pede mais polícia, exército, força-tarefa. Não raramente polícias, comerciantes ilegais e as legalidades capitalistas associados extraem lucros em grana, bebem o sangue, detonam crianças e jovens, traficam gente para empresas legais e ilegais. Lidam com vidas de pessoas como excesso no matadouro. flecheira 111 - 19/05/09 fósforos queimados
Gaza (Palestina), Bagram (Afeganistão), Fallujah (Iraque), tanto faz. Bombas explodem a pretexto de portar luz à noite durante combates e o pó de branca fumaça adere à pele de corpos vivos e queima até ser totalmente consumido. Polêmicas humanitárias espocam aqui e ali com alarde, depois caem na apatia. Estaria o fósforo branco dentro das proibições do direito de guerra internacional? Não é arma química, nem arma incendiária, concluem especialistas internacionais, os quais permitem seu emprego, exclusivamente, para sinalizar, iluminar e fazer fumaça. Queima? Tanto faz um fósforo ou outro queimado para a vitória dos exércitos, tanto faz qual exército.
você pode fumar baseado (continuação)
Deu na primeira página da grande imprensa paulista: jovens fumam maconha, a direção da escola chama a polícia e acontece o confronto. Universidades pelo Brasil: jovens fumam pelos cantos temerosos e sorrateiros. Nos lares por aí, o uso de drogas segue condenado pelos pais. Seus filhos usuários, bem domesticados, calam ou concordam. E com sorrisinhos marotos se declaram antitabagistas. Era da dissimulação e dos contingentes reativos que pedem segurança, polícia, vigilância, prisão, tribunal e, ao mesmo tempo, consomem sua droguinha de juventude. Enquanto isso o tráfico enriquece, os bancos lucram, a polícia se arma e espiona sob a alegação de controle dos perigosos.
você pode ...
Um desfigurado contingente reativo escorre pelas ruas e avenidas fritos pelo crack. Um montado pequeno contingente reativo sacode pelas pistas de danças com cocaína e sintéticos. Um enorme contingente reativo tenta dormir contagiado pelos medicamentos. Hoje você pode, mas no interior dos variados contingentes reativos.
“ na escola ensinam-lhe cidadania, patriotismo... e como eleger chefes”
“ os que optam pela via libertária têm pela frente todas as adversidades”
(edgar rodrigues).