05/05/2010

terremoto capixaba

Na quarta-feira passada, 28 de abril, o mundo político e os eleitores do Espírito Santo foram sacudidos pelo anúncio de que Ricardo Ferraço (PMDB) não seria mais candidato a governador.

Obviamente que o governador Paulo Hartung, também do PMDB, vem tentando passar a versão de que foi dele a iniciativa de propor a troca do nome de Ferraço pelo apoio à candidatura do senador Renato Casagrande, em nome de suposta unidade política para o bem do Espírito Santo. Mas ninguém precisa ser filiado a partido político para saber que toda a surpreendente mudança passou por Brasília.A desistência de Hartung em lançar Ferraço teria sido uma determinação da direção nacional do PMDB e do PT, e do próprio presidente Lula, como forma de compensação para que o PSB impedisse a candidatura presidencial de Ciro Gomes.

Todas essas articulações estão muito bem registradas e analisadas nas matérias relacionadas abaixo, todos publicadas pelo site Século Diário.
Aliás, registre-se mais uma vez a extrema seriedade e autonomia com que o Século Diário vem cobrindo não apenas a vida política do Espírito Santo, mas também os bastidores do Ministério Público, do Tribunal de Contas e do Poder Judiciário, esse último ainda sob cerrada vigilância do Conselho Nacional de Justiça, após a deflagração da Operação Naufrágio.

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O que importa aqui é registrar o histórico momento em que a realidade política do Espírito Santo deixou de ser conduzida por um só homem, o governador Paulo Hartung.

Nada contra determinado político exercer sua extrema habilidade para aglutinar em torno de um projeto político a quase totalidade das forças políticas de determinada cidade, estado ou país. Paulo Hartung foi um dos que durante um certo tempo conseguiu essa proeza - um verdadeiro mestre da política, às vezes quase superando até mesmo a tão decantada habilidade dos políticos mineiros.

O problema é quando essa habilidade política passa a se tornar um fim em si mesma, e tal como um câncer começa a corroer a vida política, econômica e social do Estado. Foi também o que aconteceu com Hartung e o Espírito Santo.
O editorial Caiu o Império, linkado abaixo, traz uma análise bastante pertinente de toda essa concentração de poderes e do melancólico declínio de seu mentor, o ‘imperial’ Paulo Hartung.

Aqui, citamos apenas uma das consequências nefastas da apropriação das forças políticas e das instituições por Hartung: a situação de barbárie em que se encontra os sistema prisional do Espírito Santo (mais detalhes nos textos horrores do espírito santo e na vídeo-reportagem da tv record presídios: longe da dignidade.

De resto, que seja benvindo e duradouro o retorno da pluralidade política ao Espírito Santo. E que ele também ocorra no resto do país. Afinal, a impressão que se tem é que já não há mais diferença de projetos políticos, já não mais confronto de interesses, já não há mais luta de classes, quando se tenta juntar, como aconteceu aqui no ES, numa mesma coligação eleitoral forças políticas absolutamente opostas como Élcio Álvares (DEM), ex-governador do ES, imposto pela ditadura militar de triste memória, e a combativa defensora dos direitos humanos e deputada federal Iriny Lopes, do PT. O eleitor se sente fraudado.

Na verdade, situações assim só fazem acelerar o desgaste da chamada democracia representativa, preparando o terreno para sua gradual substituição pela democracia direta, popular e participativa.
Mas enquanto a democracia direta não vem, façamos coro com o Século Diário, no editorial acima citado, e saudemos ao menos o retorno da pluralidade política à democracia burguesa do ES. Afinal, pelo menos no quesito emoção a política local ganhou pontos.

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Leia também

caiu o império
a grande derrota
a democracia agradece

Como dito acima, são textos publicados pelo site Século Diário. Quem quiser também se informar sobre o escândalo do Judiciário Capixaba, trazido à tona pela Operação naufrágio em 2008, e que cuminou inlcusive na vergonhosa prisão do presidente do TJES, vá ao site, clique em Arquivos e comece a procura pelos meses de dezembro 2008 ou janeiro 2009.
Dos veículos de imprensa mais estruturados  no ES, é o único  que faz uma cobertura realmente confiável, autònoma e corajosa deste e de outros assuntos.

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