01/07/2010

copa da áfrica VII: dunga fora?

Briga com a Globo pode tirar Dunga da seleção após a Copa
(publicado originalmente no site R7)

Em três frentes a CBF procurou a TV Globo para tentar acabar com a crise provocada pelos palavrões de Dunga ao apresentador Alex Escobar após a vitória da seleção brasileira contra a Costa do Marfim, no último domingo (20).
O presidente da entidade, Ricardo Teixeira, procurou Marcelo Campos Pinto, diretor da Globo Esportes. O chefe da delegação, Andrés Sanchez, tratou de falar com João Ramalho, funcionário da emissora que cuida só da seleção brasileira. E o diretor de comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, esteve no espaço reservado à Globo no IBC (centro de mídia internacional), em Johannesburgo.

Todos trataram do mesmo assunto: mostrar que a atitude partiu do treinador. E pediam para evitar a retaliação. A TV Globo aceitou a reaproximação. E o cargo de Dunga está mais do que ameaçado, mesmo se o Brasil vencer a Copa do Mundo.

Teixeira não quer o rompimento com a TV Globo. Há vários acordos milionários entre a entidade e a emissora. Mas tratou de avisar a Campos Pinto que Dunga está tomando as suas atitudes por livre e espontânea vontade. Os palavrões do treinador a Escobar foram a gota d'água para a emissora. O treinador já criou problemas demais.

Desde que assumiu, em 2006, ele resolveu acabar com os privilégios que a Globo sempre teve, como livre acesso aos jogadores e treinadores. Antes de ganhar o cargo de treinador da seleção, Dunga foi comentarista do canal a cabo BandSports. Foi trabalhando como comentarista que ele viu toda a confusa situação na Copa da Alemanha. Estava lá. E jurou que com ele seria tudo diferente.

Já começou em Teresópolis, na Granja Comary, o centro de treinamento da CBF, mandando desmanchar tendas especiais da emissora. Passou a proibir jornalistas da emissora mostrando momentos íntimos da seleção, como o trajeto para os jogos nos ônibus. Barrou as entrevistas exclusivas. Mesmo aconselhado por Rodrigo Paiva a ceder, ser mais maleável, não houve acordo. Não teve como impedir jornalistas da emissora em voos da seleção, mas não os deixa sair antes dos jogadores para filmá-los chegando ao local onde o time vai jogar.
Campanha
Dunga não tolera alguns jornalistas específicos da emissora. Acredita que uns defendem o retorno de Vanderlei Luxemburgo ao seu cargo. Diz que recusou diversos convites para jantar com profissionais da Globo, estratégia utilizada pela emissora com antigos treinadores da seleção. Até pessoas das quais a Globo sabia que Dunga não gostava perderam seus cargos.

Depois do que aconteceu com Escobar, há uma ordem expressa para os jornalistas da Globo não darem entrevistas aqui em Johannesburgo. Em off, porém, há a confirmação do imenso mal-estar com Dunga e há muito tempo.

O técnico já reclamou que a emissora chegou a pedir entrevistas a uma hora da manhã a seus atletas, nos Estados Unidos. E que os repórteres estão acostumados ao abuso pelo fato de a Globo ter os direitos de transmissão dos jogos da seleção.

Na Olimpíada de Pequim, o clima já foi bem ruim. Ele achou que a medalha de bronze não foi valorizada. De lá para cá, o clima conseguiu ficar pior. Dunga respeita poucos jornalistas. Entre eles, William Bonner e Fátima Bernardes. Eles o convenceram a ir para o Jornal Nacional depois da convocação definitiva para a Copa de 2010. Os executivos da Globo acreditaram que tudo estava resolvido.

Tanto que estava sendo preparado um profundo perfil de Dunga e não teria apenas lados positivos. A reportagem foi suspensa como uma demonstração de boa vontade. E os executivos da emissora mandaram cerca de 280 profissionais para a África do Sul. O 'Exército Verde', porque todos usam a camisa verde do uniforme.

Todas as estrelas do jornalismo da emissora estão aqui na África. Vieram cheias de pautas para serem feitas com os jogadores. Só que Dunga trancou a seleção. E para todos os veículos, inclusive a Globo. São apenas dois jogadores por dia dando coletiva e depois treino apenas para ser filmado. Na semana passada, ele resolveu ainda fechar os treinos. A emissora teve de espalhar jornalistas pela África do Sul para buscar matérias. Isso teve um custo inesperado, caro e improdutivo.

A audiência está mesmo com os jogadores. O repórter Mauro Naves conseguiu uma exclusiva com Robinho na segunda folga em Johannesburgo. Dunga deu uma enorme bronca no jogador. O atacante foi obrigado a pedir desculpas a todo o grupo. E jurou que não cairia no mesmo erro.
Dinheiro
Com os treinos fechados, os patrocinadores também reclamaram. Os treinos são as grandes vitrines para os 11 patrocinadores que pagam, juntos, R$ 220 milhões anuais à CBF. Eles investem tanto para aparecer nas TVs. Dunga sozinho está travando esse forte interesse econômico.

A emissora chegou mesmo a negociar com Ricardo Teixeira entrevistas de jogadores para entrar no Fantástico de domingo. Dunga vetou. E foi além. Há um espaço reservado para as emissoras que são donas dos direitos de transmissão das partidas da Copa. Fica à beira do gramado. Os destaques dos jogos sempre param ali para falar. Só que, no último domingo, Dunga não deixou seus atletas falarem à Globo, os retirou, gritando “vestiário”, e sabotou também essas entrevistas.

Os palavrões do treinador a Alex Escobar foram a gota d'água. A emissora carioca fez um editorial forte, respondendo a Dunga no Fantástico. Na saída do estádio Soccer City, jornalistas flagraram o chefe de Esportes da emissora, Luiz Fernando Lima, desabafando: reclamando que de nada adiantaram encontros com a cúpula da CBF para garantir paz entre o treinador e a Globo durante a Copa.
Ex-repórter, Luiz Fernando desabafou em voz alta. Para evitar que tudo ficasse pior, a CBF teve de entrar em várias frentes para se desculpar com a Globo. Isso desagradou, e muito, a Ricardo Teixeira.

Antes da Copa, Dunga disse ao R7 que seu futuro na seleção, depois da Copa, dependia “do doutor Ricardo”. É bom ele ficar atento a convites de equipes italianas. Ricardo Teixeira está disposto a não mantê-lo no cargo para a Copa de 2014. Mesmo se o Brasil for campeão.

O presidente da CBF não quer mais quatro anos desse clima. Só não pode afastá-lo agora para não atrapalhar a seleção. Mas os dias de Dunga parecem estar chegando ao fim, graças à sua postura radical e agressiva. O sonho é um técnico mais maleável para 2014.

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