22/12/2010

o natal como resistência

Abaixo seguem considerações acerca do Natal.
Não tive tempo de selecionar alguns poemas, tal como gostaria.
Por isso, tomo a liberdade de remeter o leitor para texto, poemas e imagens que postei aqui no blog em dezembro de 2008:
"então é natal..."

o natal como resistência

Os hábitos consumistas, barulhentos e presunçosos - estimulados pelas mensagens espetaculosas e de um nauseante tom comovente-humanitário da mídia - já tornaram a passsagem de Natal e Ano Novo algo tão sem graça, repetitivo e superficial que fica até chato fazer a crítica dessas efusões, patéticas em suas ilusões de comunhão, de fraternidade e de real confraternização entre pessoas.

Mas tudo bem, não deixa de ser um momento de resistência, um momento de promessa para uma civilização futura, de fato voltada para o humano, para a vida, o planeta e para o Cosmos, e não uma humanidade rastejando apática e ilusoriamente feliz sob uma engrenagem estúpida, antihumana e burra como o é atualmente a engrenagem capitalista-ocidental.

Se não vale a pena fazer essa crítica, então que confraternizemos todos dentro de nossos estreitos e exclusivos círculos familiares, sociais e profissionais, até onde puder ser legitimamente honesto e moralmente suportável.
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Mas, por outro lado, não poderia deixar de divulgar esse belo e poético texto de Padre Alfredinho, "Tocamos flauta e vocês não dançam", afinal é um verdadeiro e contundente manifesto em prol de uma Igreja Católica que realmente faça jus às palavras que os seus padres e bispos lançam de seus púlpitos por ocasião do Advento e do Natal.

Uma Igreja que deveria se fazer cada vez mais presente nas lutas dos povos, nesse momento de expectante encruzilhada pelo qual passa a humanidade, mais especificamente as sociedades ocidentais, e que no entanto é uma Igreja que permanece distante das tensões e angústias que se avolumam neste decisivo século XXI.

Talvez se faça alguma ressalva ao texto de Padre Alfredinho, no sentido de o autor clamar demais por uma Igreja mais atuante no aspecto social, concreto, no cotidiano dos povos e das pessoas.

E, nesse caso, Pe Alfredinho esquecer-se-ia de que também é tarefa da Igreja, ou de qualquer religião, conservar e alimentar a reverência, a transcendência. E reverência e transcendência supõem silêncio, contemplação e às vezes também rituais, momentos litúrgicos ancestrais - seculares e às vezes até milenares. Ou seja, para esses críticos a religiosidade não se esgota em ações e missões no cotidiano, em atender aos 'desafios da história'.

Mas o texto de Pe Alfredinho não traz 'receitas' ou exigências simplificadoras, não propõe um sacerdócio unilateral, reduzindo a religiosidade a uma mera ação transformadora das estruturas. O que o texto resgata é a necessidade de haver um equilíbrio entre as duas tarefas da Igreja: a tarefa de celebrar o terreno e o divino, a tarefa da contemplação e da ação, da transcendência e da imanência.

Tanto que essa postura de denúncia de excessos e de busca do equilíbrio já estava presente num outro texto seu, e que também publicarei no próximo mês: "O espírito sopra onde quer".
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Para quem não sabe, Pe. Alfredo Gonçalves é ligado à ala progressista da Igreja Católica e atua nas Pastorias urbanas da cidade São Paulo, e também ministra palestras e cursos de formação pelo Brasil afora, para pastorais sociais e outras entidades e movimentos ligados à Igreja Progressista - ainda bem que esses movimentos ainda existem aqui no Brasil e na América Latina, e felizmente cada vez mais atuantes, nesse ambíguo momento de avanço institucional de governos progressistas, mas também de desmobilização e de perda de autonomia dos movimentos populares, ao menos aqui no Brasil.

O texto de Pe Alfredinho aproxima-se bastante daquela síntese tão necessária entre religiosidade e filosofia, entre transcendência e fé, uma religiosidade que contemple a) uma vivência da liturgia e da fé b) uma ação evangelizadora que se traduza em ação transformadora das estruturas injustas e pecadoras e c) uma religiosidade ao mesmo tempo mais cósmica e existencial, que se alimente da e na transcendência do divino e do mistério.

Ou seja, uma religiosidade que vai além até mesmo da clássica complementação entre fé e obras, exigindo uma terceira a presença : a relação especial, única e necessária de cada consciência vivente com o Ser que nos cerca e com a Fonte desse Ser, num testemunho admirado do fascínio de se saber, de se sentir portador dessa relação especial com a Fonte.
Todos os meses tenho recebido e lido vários de seus textos, e como não tenho tido tempo para selecioná-los e publicá-los, publico, então, mais dois textos de Pe Alfredinho nesta época do Advento: "Labirinto da Oração" e "O silêncio".

São leituras bastante apropriadas para essa época de interiorização, reflexão e de retrospectivas existenciais - claro para quem ainda consegue dialogar com o silêncio e com o Cosmos, nessa época de falatórios, efusões ingênuas e manipuladas e de barulhentas e presunçosas confraternizações.

Ainda acerca do Natal, segue também um texto, "Às vésperas do Natal", que fala exatamente de como somos irresistivelmente levados a nos envolver, a nos deixar seduzir pelo clima de falsa efusão e de falsa confraternização dos festejos de fim de ano, as efusões e convocações de caráter comovente-humanitário de que falei no iício desta postagem.

De qualquer forma, essa sedução e essa adesão ao espírito natalino - mesmo que conspurcado pela mídia e pelas engrenagens narcotizantes da moderna e espetaculosa sociedade de controle – mesmo assim essa adesão significa um real anseio de real confraternização entre povos e pessoas.

E se o anseio e a esperança existem, é porque há uma negação das nauseantes engrenagens dessa sociedade de controle; mesmo que seja uma negação inconsciente, mesmo que seja uma revolta que não a se assume, temos então que continuar a tarefa de tentar trazer para a humanidade e para o planeta o verdadeiro Advento da vida, do mistério e do divino.

Nesse sentido, no sentido da esperança, da resistência e da ação de enfrentamento e de transformação, vale a pena sim dizer

FELIZ NATAL!!!

tocamos flauta e vocês não dançam

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
“Tocamos flauta e vós não dançastes
entoamos lamentações e vós não batestes no peito” (Mt 11,17)
De início, chama a atenção o comportamento que Jesus, através do evangelista, atribui às crianças. De fato, as palavras acima são colocadas na boca delas. Estão impacientes com seus colegas, pois eles se recusam a aderir ao momento presente. Recusam a alegria simbolizada no toque da flauta e recusam, igualmente, a tristeza que costuma acompanhar as lamentações. Afinal, o que querem? São incapazes de dançar e incapazes de “bater no peito”. Ambas as atitudes parecem incompatíveis com a espontaneidade e a transparência da criança. Esta, em geral, traduz no olhar, no rosto e no modo de agir aquilo que se passa em seu interior. Como é possível essa contradição?

Também chama a atenção o fato de essa passagem do Evangelho de Mateus ser utilizada pela liturgia do Advento. Tempo em que se prepara o coração, a casa e toda a existência para a vinda do Senhor. Tempo de conversão e penitência, sem dúvida, mas que tem como horizonte os festejos natalinos. Celebra-se o mistério da encarnação, a chegada do Emanuel, Deus-conosco! Luzes, música, anjos, pastores, estrela, reis magos, manjedoura, animais, gruta de Belém – tudo lembra a magia do Natal. O verbo de faz carne, “arma sua tenda entre nós”, mexendo com as recordações da infância, da família e da reconciliação com os parentes e a vizinhança. Um toque inefável de um Deus que, feito menino nu e pobre, débil e indefeso, visita a história humana. Um Deus que se humaniza para abrir o caminho a divinização humana.

Mas nem Jesus nem Mateus estão falando de crianças. O que está em jogo é o comportamento dos contemporâneos das narrativas evangélicas. Veio João Batista, um profeta austero, sisudo, homem do deserto, ainda vinculado ao predomínio do julgamento, próprio do Antigo Testamento, “que não come nem bebe”, e vocês dizem que “ele está com o demônio”. Veio o Filho do Homem, “que come e bebe”, caminha ao lado dos pobres, fala de misericórdia e compaixão, e vocês o acusam de “comilão e beberrão, amigo dos cobradores de impostos de dos pecadores”. Afinal de contas, que querem vocês? Não são capazes de se lastimar com a profecia de João, rude e enérgica, nem se alegram com a Boa Nova do Evangelho!

Talvez esteja aqui um dos males mais evidentes da Igreja atual, em grande parte de seus representantes, setores e instâncias: indiferença, inércia, omissão frente aos desejos e temores do povo, a seus fracassos e vitórias. Nas dores e angústias, incapaz de marcar presença; nas esperanças, lutas e sonhos, manifestando ceticismo e apatia. Uma Igreja que constrói uma redoma de vidro entre si e os embates das ruas, praças e campos. Retorna à sacristia, à atitude dogmática e doutrinária, à primazia da formação do clero, às exigências dos sacramentos, ao liturgismo desligado da vida, à solenidade de uma aparência triunfal, às exterioridades das manifestações religiosas, ao intimismo e espiritualismo ineficazes, ao autoritarismo hierárquico, ao abandono da “opção preferencial pelos pobres”, em alguns casos à aliança com o poder... Uma Igreja que ainda ergue um muro intransponível entre os de dentro e os de fora, os nossos e eles, os salvos e os perdidos!

Parece ter medo de sair a campo, de “sujar as mãos” nos desafios da história. Incapaz de dançar ao som da flauta, de participar das festas populares, de inebriar-se com a alegria que nasce e cresce até mesmo em meio à pobreza mais adversa. Incapaz, ao mesmo tempo, de entristecer-se com as tragédias que se abatem sobre pessoas, grupos e comunidades inteiras. Mais propensa a encerrar-se em debates sem fim sobre a origem e o carisma, seja da Igreja como um todo, seja de cada Congregação Religiosa. Tudo indica estar ela mais inclinada a visitar o berço e o museu, do que enfrentar os novos problemas da fronteira. Nada contra o berço e o museu, desde que esse passo atrás signifique uma busca das fontes, para beber a água do próprio poço, fortalecer o ardor missionário e avançar para horizontes desconhecidos. Enfim, não poucos representantes da Igreja, pessoas ou instituições, parecem viver das glórias do passado, cultivando uma espécie de narcisismo doentios, debruçada sobre o próprio umbigo, sem coragem de erguer a cabeça e seguir o caminho. O saudosismo do paraíso perdido toma o lugar da promessa e da tarefa de libertação.

Daí, não raro, sua postura cortês e polida, atenciosa e diplomática, mas sempre a certa distância dos fatos reais. Resulta que, diante dos conflitos, prevalece uma reconciliação camuflada e envernizada, não uma resolução corajosa e definitiva. Como as crianças da praça, nada de riso ou choro, nada de lágrimas ou festa. A neutralidade parece ser a norma: não vi, não ouvi, não sei, não conheço, não me meto em política, nosso campo de ação é de caráter puramente espiritual! Neutralidade extremamente cômoda, mas sempre suspeita. E facilmente usada e abusada por quem sabe manipular as forças sociais, religiosas ou não. Tudo ao contrário dos quatro verbos, na primeira pessoa do singular, atribuídos a Deus no Livro do Êxodo: “eu vi a aflição do meu povo, eu ouvi seu clamor, eu conheço seu sofrimento e eu desci para libertá-lo” (Ex 3,7-10). Onde foi parar a experiência desse Deus tão atento, sensível e solidário com as condições de vida e trabalho em que vive o seu povo? Ou então, voltando-se para o Novo Testamento, onde foi parar a figura de Jesus de Nazaré que “percorria todas as cidades e aldeias”, encontrava-se com as “multidões cansadas e abatidas” e por elas “sentia compaixão”, pois estavam como “ovelhas sem pastor” (Mt 9,35-38)?

Pular, cantar, danças como as crianças! Gemer, gritar, revoltar-se como os oprimidos! Numa palavra, viver o momento presente. Carpe die – diz a expressão latina, linguagem tão conhecida pela Santa Madre Igreja. Ao invés disso, esta prefere refugiar-se numa posição distante e hermética, enquanto o sangue da vida, quente e em franca ebulição, passa pelos botecos, feiras livres, padarias, açougues, supermercados e shopping centers; pelos ônibus, trens e metrô; pelos shows e estádios de futebol; pelas festas de aniversário, casamento, natal e carnaval... Raramente passa por nossas celebrações eucarísticas, muitas vezes frias, vazias formais e demasiadamente preocupadas com o ritual litúrgico.

Nem lágrimas, nem expressões efusivas! É preciso manter a tradição, a doutrina e a formalidade! Mas, onde fica o “caldeirão cultural” que vem da fusão das expressões negras, indígenas e populares? Isso nada tem a ver com a liturgia! Seu lugar é nas ruas e praças! E assim, como no testemunho de Jesus, ou a Igreja se torna itinerante, abrindo-se ao “outro, estranho, diferente”, e com isso se converte e se salva; ou permanece trancada no tempo e no templo, irremediavelmente impermeável à Boa Nova do Evangelho. Ainda a exemplo de Jesus, ou a Igreja tem coragem de manifestar sua sede e sai a buscar água até mesmo em fontes estrangeiras; ou se afoga e asfixia num doutrinarismo obsoleto e cristalizado, a-histórico e sem vida. Enfim, sempre de acordo com a proposta evangélica, ou a Igreja retoma um profetismo que, na expressão da Gaudium et Spes (nº 1), a aproxima “das alegrias e esperanças, das tristezas e angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem”, ou permanecerá debruçada à janela, “pra ver a banda passar cantando coisas de amor”, como lembra o poeta.

às vésperas do natal

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
“O que fostes ver no deserto,
um caniço agitado pelo vento?” (Lc 724b)
A metáfora do “caniço agitado pelo vento” se presta como uma luva para os dias que correm. De fato, um simples olhar às ruas, praças e corredores dos shoppings centers é suficiente notar como parecemos “caniços” agitados pelos ventos do marketing, da propaganda e da publicidade.

Um exemplo apenas um: lançado novo produto, shampoo dois em um, que “acaba com a caspa e, ao mesmo tempo, hidrata os cabelos”. Apelo comercial: “você não pode viver sem ele!”. A insistência no apelo e a obsessão em apregoar as qualidades do produto revelam exatamente o contrário: você pode, sim, viver sem ele! A ânsia mercadológica mascara a mensagem, fala pelas entrelinhas, nega-se a si mesma. A propaganda estridente sinaliza para o vazio e a inutilidade do objeto. Por outro lado, o apelo dirige-se ao desejo de posse daquilo que está exposto na vitrine, envernizado por luzes e enfeites. Desejável, porque simultaneamente próximo e distante. Mas o desejo de posse se desfaz no exato momento da compra. Esta, ao tornar seu o que parecia um sonho impossível, dilui automaticamente o desejo. A magia derrete-se com a própria aquisição. Mas faz nascer outros impulsos ou paixões, e assim por diante...
O mercado nutre-se dessa fome e dessa sede insaciáveis de comprar, ter, exibir, aparentar, inovar, competir. Fome e sede de novidades que, constantemente, morrem com a posse e renasce com novos desejos frente a produtos inéditos, ou simplesmente reciclados. Basta uma mudança no rótulo, na cor, no formato, nos ingredientes ou na embalagem, para que o velho se torne novo. Instala-se o círculo fechado e vicioso do “produzir e consumir”, no ritmo da matemática, tão veloz e alucinado que não deixa lugar nem tempo à reflexão. O anseio da compra substitui a pergunta pela necessidade. Com razão, Marx referia-se ao “fetiche da mercadoria”.

Numa outra metáfora, a cidade às vésperas dos festejos natalinos, mais parece um imenso espetáculo de marionetes controlado pela gigantesca “mão invisível” do sistema capitalista, para usar a expressão de Adam Smith. Nesse palco de milhões de atores/consumidores embriagados, a poderosa mão transforma seus dedos em tentáculos que chegam aos quatro cantos do planeta, ou às mais íntimas dimensões do ser humano, tais como as relações de afeto, de família, de amizade... Penetra até no sacrário do que existe de mais sagrado.
A cidade vira um formigueiro humano, para terminar com uma terceira metáfora. Torrentes de pessoas se movem nos centros comerciais, num vaivém permanente, deslocamento centrípeto e centrífugo, onde não faltam gritos, promoções, cifrões, pechinchas, pacotes, empurrões... Mas, em meio a tudo isso, a alegria inebriante de diluir-se nessa multidão viva e ansiosa por novidades. Evidente que o cidadão tem o direito de adquirir aquilo para o que tanto trabalhou e com o que tanto sonhou. O conforto não pode ser privilégio de poucos. Graças a Deus, muitos brasileiros hoje podem ter acesso a produtos que antes estavam longe de seu bolso. Mas fica o alerta contra a embriaguez que nos torna “caniços, marionetes”, uma espécie de seres com opinião invertebrada, que o poder do marketing facilmente manipula e explora. Vale, pois, a advertência de Jesus narrada pelo evangelista Lucas. “O que fostes ver no deserto?”

o labirinto da oração

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
Parafraseando Octavio Paz (El Laberinto de la Soledad ), podemos começar dizendo que rezar é entrar num labirinto complexo e desconhecido. De acordo com o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, a palavra em seu sentido figurado significa “coisa complicada, confusa, obscura”. Trata-se de um ambiente relativamente estranho e tortuoso, onde se entra com relativa facilidade, mas de onde é difícil sair sem tropeçar em repetidos obstáculos. Os corredores e aparentes saídas frequentemente nos enganam e nos deixam perdidos. Numerosas possibilidades se abrem, mas quase todas se revelam falsas. É preciso, a toda hora, fazer, desfazer e refazer a trajetória. Neste caso, a linha reta é o caminho mais longo entre a entrada e a saída.

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 Num primeiro momento, entramos no labirinto das próprias sensações, percepções e pensamentos. Prevalecem de início os ruídos internos e externos. De um lado, os sons múltiplos da casa, das ruas e da cidade teimam em nos acompanhar. Difícil livrar-se deles. Uma conversa próxima, um grito ou uma buzinada; a televisão, o rádio e outros aparelhos ligados; o ronco dos motores, a algazarra das crianças ou uma discussão acalorada; sirenes da polícia, dos bombeiros ou de ambulâncias; o latido de cães, o toque da campainha e o do telefone; o burburinho indefinido da vizinhança – enfim, uma imensa cacofonia que reveste um cotidiano cada vez mais eletrônico, metálico e ruidoso. Isso sem falar dos “ruídos abstratos”, tais como as injustiças e assimetrias, as desigualdades sociais, as notícias sensacionalistas, a discrepância entre luxo e lixo, a miséria e a fome, as agressões à natureza, as guerras, conflitos e violência, o efeito das drogas e do álcool...

De outro lado, do fundo das entranhas sobem outro tipo de ruídos. Temores e desejos, paixões e impulsos, medos e angústias, dores e esperanças, sonhos e fantasias se mesclam e se confundem. Sentimo-nos dilacerados entre aquilo que aflora imediatamente aos sentidos e a busca de algo mais profundo e indefinido. Divididos entre os apelos aparentes e imediatos e uma sede que brota do íntimo do ser e que não se deixa calar tão facilmente. O fascínio pelo que está ao alcance dos olhos, dos ouvidos e das mãos contrasta com um vazio que parece aprofundar-se à medida que nos enchemos das “coisas supérfluas”.
Semelhantes ruídos – externos e internos – distraem e impedem uma verdadeira concentração. A eles, podemos acrescentar ainda os sentimentos de inveja, ciúme, rancor, vingança, ódio, inferioridade ou superioridade, orgulho ou falsa humildade, etc., os quais, de forma estridente, também brotam como erva daninha no terreno de um coração que nos parece sempre selvagem e desconhecido. Em tal clima ruidoso, torna-se impossível avançar na direção de um encontro íntimo com Deus e conosco mesmos. Permanecemos numa espécie de ante-sala da oração. Perplexos, descentrados, com uma vontade sedutora de retomar as atividades diárias. Nessa ante-sala, vem a sensação de perda de tempo. E vem, com mais força ainda, o ímpeto de voltar a produzir, fazer, consumir, aparentar, mexer-se...

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 Prisioneiros nessa confusão de ruídos multiformes, variados e polifônicos, nos debatemos entre a busca de uma atitude orante, de um lado, e, de outro, a busca de algo para fazer. Pois, como diz a cultura ocidental marcada pelos critérios do capitalismo e da filosofia liberal, “time is money”. Entramos então no segundo momento da oração. Há uma barreira a ser vencida. A impaciência precisa ser domada pela perseverança. Se formos persistentes, passamos a um novo estágio: o labirinto do silêncio.

Neste novo labirinto, duas dimensões se descortinam: o silêncio pessoal e o silêncio de Deus. No silêncio pessoal, não se trata de deixar do lado de fora os ruídos acima descritos. Eles são teimosos como um rosto amado. O próprio esforço para esquecê-los torna-os ainda mais vivos e presentes. Não nos livramos deles tão facilmente. Trata-se, então, de trazê-los para dentro da oração, ou em linguagem popular, de “encarar o touro pelos chifres, de dar nome aos bois”. Ou seja, ao invés de ignorá-los, o desafio é verbalizá-los com toda a coragem e sinceridade. Conforme nos indica a psicologia, o ato de verbalizar as sombras do passado faz com que elas vão se desvanecendo. Verbalizar os ruídos é uma maneira de ir controlando seu poder, de impedir que eles nos dominem, de não deixar que nos afoguem e asfixiem.

Numa palavra, o segredo está em rezar os próprios ruídos. Rezando-os, começamos a transformá-los em música. Aqui deparamo-nos com uma espécie de alquimia da oração: reconhecer e verbalizar os ruídos que ameaçam nos dominar é a única forma de transfigurá-los em nova sinfonia. Na base dessa transfiguração está o fato de que o coração humano anseia profundamente refazer a sintonia com a grande orquestra que é o universo. Fazem parte dela o canto dos pássaros, o som da chuva e das águas, o brilho das flores e das estrelas, o sorriso das crianças, o olhar dos enamorados... Se os ruídos humanos rompem essa sintonia, seu reconhecimento traz a possibilidade de reconciliação. No fundo, trata-se de encarar nossos sentimentos, fragilidades e fraquezas com os olhos de Deus. Se nossa atitude for de arrependimento de sincera busca, seu amor, misericórdia e compaixão nos convidarão novamente a fazer parte da gigantesca orquestra da criação.

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Convertidos os ruídos em melodia, entramos no labirinto do silêncio divino. Deus é Aquele que não fala, insiste Bruno Forte em seus escritos. Jesus, revelando seu rosto ausente, é quem traduz o silêncio do Pai em palavras para a compreensão humana. Mas nem por isso o mistério se desfaz. O revelado novamente silencia e se oculta. Presença ausente, ausência presente! Nenhuma oração ouve diretamente a voz de Deus, apenas seu silêncio misterioso e impenetrável. Podemos ter alguns vestígios de sua voz através da palavra de Deus, nas Sagradas Escrituras, mas seus desígnios não cabem em palavras humanas. A razão não tem condições de alcançar a profundidade incomensurável do Eterno Silencioso.

Aqui, se Jesus é a revelação do Pai, o rosto humano de Deus, o Espírito Santo é quem nos reconduz até Ele. Conclui-se que, nesta terceira etapa do labirinto da oração, o segredo é deixar-se conduzir pelo Espírito. É Ele que reza em nós, que conhece nossos pedidos antes mesmos de serem formulados, lembra a teologia e a espiritualidade do apóstolo Paulo. Conhece nosso coração e nossa alma antes que as palavras cheguem à nossa boca. Abrir-se à presença do Espírito é deixar-se conduzir ao mais íntimo de nosso ser. Ali, para além de nossos desejos e temores superficiais, reside o desejo único e insaciável de todo o ser humano: habitar na Casa de Deus. Ou, nas palavras de santo Agostinho, o coração humano caminhará irrequieto enquanto não repousar junto de Deus, de onde se originou.

Mas, seguindo ainda a linha de pensamento de Bruno Forte, o silêncio de Deus é também a condição da liberdade humana. Deus se oculta e se retrai para que possamos ser livres, decidir nossos destinos. Ele não interfere nas decisões que tomamos, mesmo que estas nos levem a negar sua oferta de amor e salvação. Em síntese, o silêncio pessoal, espelhando-se no silêncio de Deus, encontra luzes para vencer as trevas, para orientar-se no labirinto escuro da oração e traçar novas veredas que levem a refazer a história individual e coletiva.

o silêncio

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
O silêncio representa uma das formas de linguagem mais significativas de que dispõe o ser humano. Mais do que a fala ou a escrita, às vezes constitui um fator predominante da comunicação. Porém, existem diferentes qualidades de silêncio. Este, tanto quanto as palavras e os discursos, pode simultaneamente revelar e esconder a verdade. Tanto o diálogo verbalizado quanto a comunicação silenciosa podem ser enganosos. De fato, há silêncios opacos e despidos de luz, e há silêncios transparentes e cristalinos como a água da fonte. Convém deter-se em algumas atitudes humanas em que o silêncio exerce funções distintas, não raro contraditórias.

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Tomemos, de início, o silêncio da indiferença. O mundo gira, a história caminha sobre campos minados, o embate de interesses permeia a vida de tensões, conflitos e incongruências, mas o silêncio insiste em nada ver. Cego e surdo, permanece omisso diante dos embates que se desenrolam a seu lado. Assimetrias entre povos, nações e culturas; desigualdades econômicas, sociais e culturais; o luxo e a miséria de mãos dadas, caminhado lado a lado, guerras e catástrofes sucedem-se com crescente brutalidade – nada disso o incomoda.
Nem sequer os escândalos estridentes das disputas e da corrupção política são capazes de acordar esse tipo de silêncio. Desfruta um sono profundo em meio às turbulências e abalos sísmicos do cotidiano. Seria capaz de cochilar no fragor de uma batalha, ao som da metralha e dos canhões, tal a ausência e descompromisso com a vida que o cerca. Interpelado por todos os lados, segue indiferentemente seu caminho. Não se deixa sacudir por confrontos que a outros exigem imediata tomada de posição. Surfando na superfície dos oceanos, jamais suspeita das correntes subterrâneas.

Pode tratar-se de uma postura silenciosa ou silenciada. Silenciosa, quando parte do próprio indivíduo, que não quer saber de “meter-se na vida alheia”. Ou então: “em briga de marido e mulher não se põe a colher”. Não importa que crianças e esposas sejam vítimas, espancadas, e às vezes cruamente assassinadas. A pessoa não se deixa perturbar em seu ninho de paz! Mas pode tratar-se também uma postura silenciada, isto é, calada à força de perseguição ou repressão. Neste caso, o medo paralisa toda e qualquer atitude em favor de si mesmo ou dos mais débeis. É o silêncio do cemitério! Com freqüência a atitude silenciada se converte em atitude silenciosa. De tanto ser censurada, a pessoa se auto-silencia.

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 Em segundo lugar, temos o silêncio envenenado. Por trás dele oculta-se quem desdenha qualquer gesto de comunicação. É o silêncio da recusa, do isolamento. Neste caso não há somente indiferença inerte ou submissa, mas uma atitude hostil para com tudo e todos. Trata-se de um silêncio ativo e agressivo, com requintes de constrangimento. Silêncio que habita e divide amigos, casais, famílias, grupos, comunidades, companheiros de trabalho, etc. Atitude francamente belicosa frente ao menor sinal de aproximação.

É um silêncio que destila ódio e rancor, erguendo barreiras a qualquer tentativa de diálogo. Enquanto o silêncio da indiferença foge do confronto por mera preguiça ou desconhecimento, o silêncio envenenado o faz para fechar-se a todo tipo de encontro. Levanta cercas, muros e obstáculos a toda possibilidade de relação. Resulta ser um silêncio frio, estéril, corroído pelo medo de abertura, trancado em si mesmo, completamente incomunicável. Nessa perspectiva, “o outro é o inferno”, como diria o filósofo Sartre.
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 Por fim, há o silêncio povoado. Memória habitada por lembranças agradáveis, por rostos, nomes e histórias conhecidas e pelo totalmente Outro. Silêncio onde as palavras se calam para fazer emergir a Palavra que se manifesta no mais íntimo de nosso ser. Se o silêncio da indiferença é omisso diante das injustiças e disparidades socioeconômicas, e o silêncio envenenado constitui uma declaração de guerra a quem está por perto, o silêncio povoado tem a marca da serenidade pacífica. Convive como uma memória repleta de pérolas que lhe proporcionam uma intensa vida interior.

Um exemplo: é notório e amplamente sabido que um casal que se ama, ou um grupo que cultiva grande intimidade, costuma comunicar-se muito mais por meio do silêncio do que por palavras. Quando estas se fazem tão necessárias pode ser um sinal de que o amor escasseia. É preciso preencher com a tagarelice o vazio deixado por um silêncio incômodo. De fato, enquanto as palavras são dirigidas aos ouvidos, o silêncio une corações e almas, na medida em que oculta segredos, cultiva um mistério que aquelas tendem a banalizar.

Mais ainda, é um silêncio profundamente fecundo, capaz de engendrar relações sempre mais abrangentes. Abre veredas insuspeitadas para o encontro comigo mesmo, com os outros, com a natureza e com Deus. Também é um terreno fértil para o nascimento de palavras novas, vivas e criativas. A palavra que gera vida se forja, se gesta e cresce no útero do silêncio. Só ele é capaz de produzir a palavra eficaz e oportuna para abrir novos horizontes à história humana, pessoal e coletiva. Somente quem é capaz de silenciar será igualmente capaz de dizer algo novo.

13/12/2010

Encontro de Cancun : a cegueira continua

Como era de se prever, a Cúpula de Cancun não trouxe novidades que levassem a um enfrentamento sério e lúcido da catástrofe planetária que nos espera.
Fica mais uma vez patente que somente nos resta agir para que, através da dialética que move a história, a humanidade não deixe a barbárie do totalitarismo tecnológico substituir o capitalismo.

Que  a obsolescência e a estupidez do capitalismo e da agressão do Ocidente  sejam superados dialeticamente e que façamaos brotar um modo de organização das sociedades voltado de fato para a vida, para as pessoas e para a celebração do planeta e do Cosmos.

A esse respeito, a nota da Via Campesina, publicada mais abaixo, tem bastante a dizer.
E o texto a seguir, Natasha Pitts, traz uma análise do fracasso da Cúpula de Cancun.
Ambos os textos foram extraídos do site da Adital.

   
Acordos firmados em Cancun decepcionam organizações e movimentos sociais
Natasha Pitts,  jornalista da Adital

A 16º Cúpula sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP 16) terminou na última sexta-feira (10) deixando um forte sentimento de decepção em centenas de campesinos, indígenas, ambientalistas e membros de movimentos e organizações populares de inúmeros países, que se articularam antes e durante as negociações da COP 16 para lutar por acordos justos e que enfrentassem as causas profundas do desequilíbrio ambiental.

Mesmo com a existência de propostas viáveis, como as sugeridas durante a Conferência Mundial dos Povos sobre Mudanças Climáticas, que aconteceu em Cochabamba, na Bolívia, entre os dias 20 e 22 de abril deste ano, optou-se, mais uma vez, pelas "soluções de mercado". Essas, como bem define a Coordenadora Andina de Organizações Indígenas (Caoi), são apenas ‘negócios para tratar de solucionar o que provocaram com os mesmo negócios depredadores’.

Nesta Cúpula, tratou-se de reafirmar o texto do ‘Acordo de Copenhague’, proposto na COP 15, e considerado pelos movimentos populares um mecanismo nocivo que evadiu por completo a busca de soluções concretas para barrar a crise climática. Isso, porque o acordo não busca responder com urgência situações como a redução das emissões de gases que provocam o efeito estufa.
Sobre o protocolo de Kyoto, a proposta foi um segundo período de compromissos, no entanto não há informações sobre datas nem mecanismo para que o segundo período se concretize. Além disso, a adoção de compromissos será meramente voluntária, o que quer dizer que a redução nas emissões de gases será feita de acordo com a vontade e a consciência de cada país.

De acordo com a Aliança Social Continental, o acordo fechado em Cancun também prevê outras decisões graves, como a meta de aumento da temperatura mundial, que ficou definida em 2°C. Esta mesma meta já havia sido sugerida, mas foi recusada porque não cumpria com a tarefa de evitar a desaparição de regiões inteiras, como algumas ilhas. Mas, neste ano, a meta foi aceita, pondo em risco a perpetuação da vida humana.

Sobre a questão de financiamento, foi aprovada uma sugestão vazia. Apesar da aprovação da criação de um fundo global, a Aliança Social afirma que os recursos não estão garantidos, assim como sua origem e forma de implementação. Além disso, os recursos são insuficientes para enfrentar as consequências da crise climática. Outra sugestão fortemente rechaçada pelos movimentos populares foi a de que o Banco Mundial, responsável pela promoção de projetos destruidores do meio ambiente, seja responsável por coordenar este fundo.
Apesar de a ganância ter sido novamente colocada acima da vida, na ‘Declaração de Cancun’, os setores populares asseguram que a luta não chegou ao fim e que continuarão impulsionando o nascimento de uma civilização em que a vida em todas as suas formas seja o centro de tudo.
Comprometeram-se também a ‘continuar caminhando na construção de um movimento forte, multisetorial e unificado em defesa da natureza por meio da conscientização, educação e organização de base; aprofundar as propostas presentes no Acordo de Cochabamba; avaliar as possibilidades de uma consulta popular, de uma nova cúpula dos povos e de outras formas de envolvimento dos setores populares; assim como aumentar a organização e pressão sobre os governos nacionais e internacionais’.

Globalizar a luta já!!!

Governos continuam indiferentes ao aquecimento do planeta
por Vía Campesina *, da  página do MST

Os membros da Via Campesina de mais de 30 países de todo o mundo juntamos milhares de lutas em Cancún para exigir da Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP 16) justiça ambiental e respeito à Mãe Terra, para denunciar as ambiciosas intenções dos governos, principalmente do Norte, de comercializar todos os elementos essenciais da vida em benefício das corporações transnacionais e para apresentar as milhares de soluções para esfriar o planeta e para frear a devastação ambiental que hoje ameaça muito seriamente a humanidade.

No Fórum Alternativo Global pela Vida, Justiça Social Social e Ambiental, o principal espaço de mobilização, celebramos oficinas, assembléias e reuniões com nossos aliados e uma ação global, chamamos os milhares de Cancún e tivemos repercussão em todo o planeta e até nas salas do Palácio da Lua da COP 16.

A ação do dia 7 de dezembro teve como expressão da nossa luta uma marcha de milhares de membros da Via Campesina, acompanhados por indígenas maias da península mexicana e milhares de aliados de organizações nacionais e internacionais.

A mobilização para Cancún começou desde o dia 28 de novembro, com três caravanas que saíram de São Luis Potosí, Guadalajara e Acapulco, que percorreram os territórios mais simbólicos da devastação ambiental, mas também de resistências e lutas das comunidades.

O esforço das caravanas foi um trabalho conjunto com a Assembléia Nacional de Afetados Ambientais, o Movimento de Libertação Nacional, o Sindicato Mexicano de Eletricistas e centenas de povos e pessoas que nos abriram as portas de sua generosidade e solidariedade. No dia 30 de novembro chegamos com nossas caravanas na Cidade do México, celebramos um Fórum Internacional e uma marcha, acompanhados de milhares de pessoas e centenas de organizações que também lutam pela justiça social e ambiental.

Na nossa jornada para Cancún, outras caravanas, uma de Chiapas, outra de Oaxaca e uma de Guatemala, depois de muitíssimas horas de viagem, se uniram em Mérida para celebrar uma cerimônia em Chichen Itza e finalmente chegar a Cancún no dia 3 de dezembro para instalar nosso acampamento para a Vida e a Justiça Social e Ambiental. No dia seguinte, 4 de dezembro, abrimos nosso fórum para assim darmos início a nossa luta em Cancún.

Por que chegamos a Cancún?

Os atuais modelos de consumo, produção e comércio têm causado uma destruição do meio ambiente, da qual os povos indígenas, camponeses e camponesas somos as principais vítimas. Assim nossa mobilização para Cancún e em Cancún é para dizer para dizer aos povos do mundo que necessitamos de uma mudança de paradigma de desenvolvimento e economia.

É necessário transcender o pensamento antropocêntrico. É necessário reconstituir a cosmovisão de nossos povos, que se baseia no pensamento holístico da relação com o cosmos, a mãe terra, o ar, a água e todos os seres viventes. O ser humano não é dono da natureza, mas faz parte do todo que tem vida.

Frente a essa necessidade de reconstituir o sistema, o clima, a Mãe Terra, denunciamos:
1. Os governos continuam indiferentes frente ao aquecimento do planeta e em vez de debater sobre as mudanças de políticas necessárias para o resfriamento, debatem sobre o negócio financeiro especulativo, a nova nova economia verde e a privatização dos bens comuns.
2. As falsas e perigosas soluções que o sistema capitalista neoliberal implementa, como a a iniciativa REDD+ (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação), o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Livre), a geoengenharia representam comercialização dos bens naturais, compra de permissões para contaminar com créditos de carbono, com a promessa de não cortar bosques e plantações no Sul.
3. A imposição da agricultura industrial através da implementação de produtos transgênicos e acumulação de terras que atentam contra a Soberania Alimentar
4. A energia nuclear, que é muito perigosa e que de nenhuma maneira é uma verdadeira solução.
5. O Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial do Comércio por facilitar a intervenção de grandes transnacionais em nossos países.
6. Os impactos que ocasionam os tratados de livre comércio com países do Norte e da União Européia, que não são mais que acordos comerciais que abrem mais as portas de nossos países a empresas transnacionais para que se apossem de nossos bens naturais.
7. A exclusão dos camponeses e povos indígenas das discussões dos temas transcendentais da vida da humanidade e da Mãe Terra.
8. A expulsão dos companheiros e companheiras do espaço oficial da COP 16 por sua oposição aos planejamentos dos governos que apelam por um sistema depredador, que apostam por exterminar a Mãe Terra e a humanidade.

Não estamos de acordo com a simples idéia de "mitigar" ou "adaptar" à mudança climática.
Precisamos de justiça social, ecológica e climática, por isso exigimos:
1. Retomar os princípios dos acordos de Cochabamba de 22 de abril de 2010 com um processo que realmente nos leve à redução real da emissão de gases de carbono com efeitos estufa e para atingir a justiça social e ambiental.
2. A Soberania Alimentar com base na agricultura camponesa sustentável e agroecológica, dado que a crise alimentar e a crise climática são a mesma coisa, as duas são conseqüência do sistema capitalista.
3. É necessário mudar os estilos de vida e as relações destrutivas do meio ambiente. É necessário reconstituir a cosmovisão de nossos povos originários, que se baseia no pensamento holístico da relação com o cosmos, a Mãe Terra, o ar, a água e todos os seres viventes.
A Via Campesina, como articulação que representa milhares e milhares de famílias camponesas no mundo, e preocupada com a recuperação do equilíbrio climático, chama a:
1. Assumir a responsabilidade coletiva com a Mãe Terra, mudando os padrões de desenvolvimento das estruturas econômicas e acabando com as empresas transnacionais.
2. Reconhecemos governos como o da Bolívia, Tuvalu e alguns mais, que têm tido a valentia de resistir contra a imposição dos governos do Norte e corporações transnacionais e fazemos um chamado para que outros governos se somem à resistência dos povos frente a crise climática.
3. Fazer acordos obrigatórios de que todos os que contaminem o ambiente devem prestar contas pelos desastres e delitos cometidos contra a Mãe Natureza. Da mesma forma, obrigar a reduzir a emissão de gases de carbono onde elas são geradas. Aquele que contamina deve deixar de contaminar.
4. Alertamos aos movimentos sociais do mundo sobre o que acontece no planeta para defender a vida da Mãe Terra porque estamos defendendo o que será o modelo das futuras gerações.
5. Chamamos para ação e mobilização social as organizações urbanas e camponesas, para a inovação, para a recuperação das formais ancestrais de vida, a nos unirmos em uma grande luta para salvar a Mãe Terra, que é a casa todos e todas, contra o grande capital e os maus governantes. Isso é nossa responsabilidade histórica.
6. A que as políticas de proteção da biodiversidade, soberania alimentar, manejo e administração da água, que se baseiem nas experiências de participação plena das próprias comunidades.
7. A uma consulta mundial junto aos povos, para decidir as políticas e ações globais para parar a crise climática.

Hoje!, agora mesmo, chamamos a humanidade para atuar imediatamente para a reconstituição da vida de toda a Mãe Natureza, recorrendo à aplicação do "cosmoviver".

Por isso, desde as quatro esquinas do planeta, nos levantamos para dizer: Não mais dano a nossa Mãe Terra!, Não mais destruição do planeta!, Não mais despejo de nossos territórios!,Não mais morte dos filhos e filhas da Mãe Terra!, Não mais criminalização das nossas lutas!
Não ao entendimento de Copenhague.
Sim aos princípios de Cochabamba.
Redd não! Cochabamba sim!
A terra não se vende, se recupera e se defende!
Globalizemos a luta, globalizemos a esperança!!!


Via Campesina - Declaração de Cancún
Fórum Global pela Vida, Justiça Social e Ambiental
4 a 10 de dezembro de 2010
* Via Campesina: Movimento internacional de camponeses e camponesas, pequenos e médios produtores, mulheres rurais, indígenas, gente sem terra, jovens rurais e trabalhadores agrícolas

wikileaks: serra e o pré-sal

E continuam as repercussões dos telegraams diplomáticos divulgados pelo site wikileaks. A matéria abaixo, extraída do blog Festival de Besteira da Imprensa resgata um pouco daquela atmsofera de mentira e embuste que caracterizou a a campanha eleitoral do PSDB.

Serra iria entregar pré-sal para petroleiras americanas
por Augusto da Fonseca, do blog Festival de Besteira da Imprensa


Agora fica mais claro o porque da baixaria da campanha Serra contra a Dilma.
Como foi várias vezes insinuado – e agora confirmado pelo WikiLeakes – o que estava em jogo era a maior riqueza comercial do Brasil: o petróleo do pré-sal.

E o Serra com aquela conversa mole de que iria estatizar a Petrobras!
O pior é que muita gente (boa?) acreditou no entreguista.
Triste final de carreira para um cara que foi líder estudantil, no início dos anos de chumbo.

O que dirá, com essa notícia, o Merval, a Míriam, o Sardenberg e o Augusto Nunes, entre outros?
Leiam ao texto de matéria do site Folha.com:

“As petroleiras americanas não queriam a mudança no marco de exploração de petróleo no pré-sal que o governo aprovou no Congresso, e uma delas ouviu do então pré-candidato favorito à Presidência, José Serra (PSDB), a promessa de que a regra seria alterada caso ele vencesse.

É isso que mostra telegrama diplomático dos EUA de dezembro de 2009 obtido pelo site WikiLeaks (www.wikileaks.ch). A organização teve acesso a milhares de despachos. A Folha e outras seis publicações têm acesso antecipado à divulgação no site do WikiLeaks.

“Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava… E nós mudaremos de volta”, disse Serra a Patricia Pradal, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Governo da petroleira norte-americana Chevron, segundo relato do telegrama.”

09/12/2010

assine: parar a perseguição ao wikileaks

Leia com atenção o texto e se estiver de acordo assine embaixo a petição online. Neste momento é muito importante o envolvimento d etodos nesta que já está sendo considerada como a  1ª Guerra da Informação no mundo.

Caros amigos

A campanha de intimidação massiva contra o WikiLeaks está assustando defensores da mídia livre do mundo todo.

Advogados peritos estão dizendo que o WikiLeaks provavelmente não violou nenhuma lei. Mas mesmo assim políticos dos EUA de alto escalão estão chamando o site de grupo terrorista e comentaristas estão pedindo o assassinato de sua equipe. O site vem sofrendo ataques fortes de países e empresas, porém o WikiLeaks só publica informações passadas por delatores. Eles trabalham com os principais jornais (NY Times, Guardian, Spiegel) para cuidadosamente selecionar as informações que eles publicam.

A intimidação extra judicial é um ataque à democracia. Nós precisamos de uma manifestação publica pela liberdade de expressão e de imprensa. Assine a petição pelo fim dos ataques e depois encaminhe este email para todo mundo – vamos conseguir 1 milhão de vozes e publicar anúncios de página inteira em jornais dos EUA esta semana!


O WikiLeaks não age sozinho – eles trabalham em parceria com os principais jornais do mundo (NY Times, Guardian, Der Spiegel, etc) para cuidadosamente revisar 250.000 telegramas (cabos) diplomáticos dos EUA, removendo qualquer informação que seja irresponsável publicar. Somente 800 cabos foram publicados até agora. No passado, a WikiLeaks expôs tortura, assassinato de civis inocentes no Iraque e Afeganistão pelo governo, e corrupção corporativa.

O governo dos EUA está usando todas as vias legais para impedir novas publicações de documentos, porém leis democráticas protegem a liberdade de imprensa. Os EUA e outros governos podem não gostar das leis que protegem a nossa liberdade de expressão, mas é justamente por isso que elas são importantes e porque somente um processo democrático pode alterá-las.

Algumas pessoas podem discordar se o WikiLeaks e seus grandes jornais parceiros estão publicando mais informações que o público deveria ver, se ele compromete a confidencialidade diplomática, ou se o seu fundador Julian Assange é um herói ou vilão. Porém nada disso justifica uma campanha agressiva de governos e empresas para silenciar um canal midiático legal. Clique abaixo para se juntar ao chamado contra a perseguição:


Você já se perguntou porque a mídia raramente publica as histórias completas do que acontece nos bastidores? Por que quando o fazem, governos reagem de forma agressiva, Nestas horas, depende do público defender os direitos democráticos de liberdade de imprensa e de expressão. Nunca houve um momento tão necessário de agirmos como agora.

Com esperança
Ricken, Emma, Alex, Alice, Maria Paz e toda a equipe da Avaaz

vídeo: discurso de soldado americano

Esta matéria da Folha fala da prisão do soldado  Bradley Manning, acusado pelo governo americano de colaborar no vazamento dos documentos divulgados pelo Wikileaks. Também informa sobre a homenagem que a cidade americana de Berkeley pretende fazer ao militar acusado.

O episódio lembra o discurso de um outro soldado americano, o veterano da Guerra do Iraque Mike Prysner. Circula na internet  que o soldado teria morrido exatamente dois dias depois desse discurso, vítima de ataque cardíaco. Se de fato Mike Prysner morreu, a se basear no seu discurso, a causa bem pode ter sido outra...

Afinal, somente os ingênuos, os que querem se tranquilizar a todo custo e os fascistas disfarçados de cidadãos cumpridores de seus deveres é que duvidam do que os comandantes do poder ocidental são capazes de fazer.


08/12/2010

vídeo: entrevista com Julian Assange

Neste vídeo, Julian Assange fala longamente sobre o Wikileaks. A entrevista foi feita em julho  2010, em Oxford, Inglaterra.
Para ter as legendas em português clique em "View subtitles" e escolha: portuguese (brazil)
 


O vídeo foi divulgado originalmente em http://www.ted.com/

07/12/2010

Não matem o mensageiro...

Julian Assange, criador do Wikileaks (leia um pouco mais aqui),  site que está sacudindo o mundo da política, das mídias e da interent em especial, está preso na Inglaterra. Mas o seu trabalho e o projeto do Wikileaks não serão jamais encarcerados. Nem mesmo a voz de Assange será calada, como se vê no texto abaixo - e enquanto houver espaços, corações  e mentes que insistam em acreditar na possibilidade uma humanidade menos anêmica e menos submissa. 
Viva Assange e todos os envolvidos no Projeto Wikileaks!  

Não matem o mensageiro por revelar verdades incômodas
por Julian Assange [*]

WIKILEAKS merece protecção, não ameaças e ataques.
Em 1958 o jovem Rupert Murdoch, então proprietário e editor do jornal The News, de Adelaide, escreveu: "Na corrida entre o segredo e a verdade, parece inevitável que a venda sempre vença".

A sua observação talvez reflicta o desmascaramento feito pelo seu pai, Keith Murdoch, de que tropas australianas estavam a ser sacrificadas inutilmente nas praias de Galipoli por comandantes britânicos incompetentes. Os britânicos tentaram calá-lo mas Keith Murdoch não foi silenciado e os seus esforços levaram ao término da desastrosa campanha de Galipoli.

Aproximadamente um século depois, WikiLeaks está também a publicar destemidamente factos que precisam ser tornados públicos. Criei-me numa cidade rural em Queensland onde as pessoas falavam dos seus pensamentos directamente. Elas desconfiavam do governo como de algo que podia ser corrompido se não fosse vigiado cuidadosamente. Os dias negros de corrupção no governo de Queensland antes do inquérito Fitzgerald testemunham do que acontece quando políticos amordaçam os media que informam a verdade.
Estas coisas ficaram em mim. WikiLeaks foi criado em torno destes valores centrais. A ideia, concebida na Austrália, era utilizar tecnologias da Internet de novas maneiras a fim de relatar a verdade.

WikiLeaks cunhou um novo tipo de jornalismo: jornalismo científico. Trabalhamos com outros media para levar notícias às pessoas, assim como para provar que são verdadeiras. O jornalismo científico permite-lhe ler um artigo e então clicar online para ver o documento original em que se baseia. Esse é o modo como pode julgar por si próprio: Será verdadeiro este artigo? Será que o jornalista informou com rigor?

Sociedades democráticas precisam de meios de comunicação fortes e WikiLeaks faz parte desses media. Os media ajudam a manter o governo honesto. WikiLeaks revelou algumas verdades duras acerca das guerras do Iraque e Afeganistão, e desvendou notícias acerca da corrupção corporativa.

Há quem diga que sou anti-guerra: para que conste, não sou. Por vezes os países precisam ir à guerra e há guerras justas. Mas não há nada mais errado do que um governo mentir ao seu povo acerca daquelas guerras, pedindo então a estes mesmos cidadãos para porem as suas vidas e os seus impostos ao serviço daquelas mentiras. Se uma guerra é justificada, então digam a verdade e o povo decidirá se a apoia.

Se já leu algum dos registos da guerra do Afeganistão ou do Iraque, algum dos telegramas da embaixada dos EUA ou algumas das histórias acerca das coisas que WikiLeaks informou, considere quão importante é para todos os media ter capacidade para relatar estas coisas livremente.
WikLeaks não é o único divulgador dos telegramas de embaixadas dos EUA. Outros media, incluindo The Guardian britânico, The New York Times, El Pais na Espanha e Der Spiegel na Alemanha publicaram os mesmos telegramas.

Mas é o WikiLeaks, como coordenador destes outros grupos, que tem enfrentado os ataques e acusações mais brutais do governo dos EUA e dos seus acólitos. Fui acusado de traição, embora eu seja australiano e não cidadão dos EUA. Houve dúzias de apelos graves nos EUA para eu ser "removido" pelas forças especiais estado-unidenses.

Sarah Palin diz que eu deveria ser "perseguido e capturado como Osama bin Laden", um projecto de republicano no Senado dos EUA procura declarar-me uma "ameaça transnacional" e desfazer-se de mim em conformidade. Um conselheiro do gabinete do primeiro-ministro do Canadá apelou na televisão nacional ao meu assassinato. Um bloguista americano apelou a que o meu filho de 20 anos, aqui na Austrália, fosse sequestrado e espancado por nenhuma outra razão senão a de atingir-me.

E os australianos deveriam observar com nenhum orgulho o deplorável estímulo a estes sentimentos por parte de Julia Gillard e seu governo. Os poderes do governo australiano parecem estar à plena disposição dos EUA quer para cancelar meu passaporte australiano ou espionar ou perseguir apoiantes do WikiLeaks. O procurador-geral australiano está a fazer tudo o que pode para ajudar uma investigação estado-unidense destinada claramente a enquadrar cidadãos australianos e despachá-los para os EUA.

O primeiro-ministro Gillard e a secretária de Estado Hillary Clinton não tiveram uma palavra de crítica para com as outras organizações de media. Isto acontece porque The Guardian, The New York Times e Der Spiegel são antigos e grandes, ao passo que WikiLeaks ainda é jovem e pequeno. Nós somos os perdedores. O governo Gillard está a tentar matar o mensageiro porque não quer que a verdade seja revelada, incluindo informação acerca do seu próprio comportamento diplomático e político.
Terá havido alguma resposta do governo australiano às numerosas ameaças públicas de violência contra mim e outros colaboradores do WîkLeaks? Alguém poderia pensar que um primeiro-ministro australiano defendesse os seus cidadãos contra tais coisas, mas houve apenas afirmações de ilegalidade completamente não fundamentadas. O primeiro-ministro e especialmente o procurador-geral pretendem cumprir seus deveres com dignidade e acima da perturbação. Fique tranquilo, aqueles dois pretendem salvar as suas próprias peles. Eles não conseguirão.

Todas as vezes que WikiLeaks publica a verdade acerca de abusos cometidos por agências dos EUA, políticos australianos cantam um coro comprovadamente falso com o Departamento de Estado: "Você arriscará vidas! Segurança nacional! Você põe tropas em perigo!" Mas a seguir dizem que não há nada de importante no que WikiLeaks publica. Não pode ser ambas as coisas, uma ou outra. Qual é?

Nenhuma delas. WikiLeaks tem um historial de publicação quatro anos. Durante esse tempo mudámos governos, mas nem uma única pessoa, que se saiba, foi prejudicada. Mas os EUA, com a conivência do governo australiano, mataram milhares de pessoas só nestes últimos meses.

O secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, admitiu numa carta ao congresso estado-unidense que nenhumas fontes de inteligência ou métodos sensíveis haviam sido comprometidos pela revelação dos registos de guerra afegãos. O Pentágono declarou que não havia evidência de que as informações do WikiLeaks tivessem levado qualquer pessoa a ser prejudicada no Afeganistão. A NATO em Cabul disse à CNN que não podia encontrar uma única pessoa que precisasse de proteger. O Departamento da Defesa australiano disse o mesmo. Nenhuma tropa ou fonte australiana foi prejudicada por qualquer coisa que tivéssemos publicado.

Mas as nossas publicações estavam longe de serem não importantes. Os telegramas diplomáticos dos EUA revelam alguns factos estarrecedores:

Os EUA pediram aos seus diplomatas para roubar material humano pessoal e informação de responsáveis da ONU e de grupos de direitos humanos, incluindo DNA, impressões digitais, escanerização de íris, números de cartão de crédito, passwords de Internet e fotos de identificação, violando tratados internacionais. Presumivelmente, diplomatas australianos na ONU também podem ser atacados.

O rei Abdula da Arábia Saudita pediu que os EUA atacassem o Irão.
Responsáveis na Jordânia e no Bahrain querem que o programa nuclear do Irão seja travado por quaisquer meios disponíveis.
O inquérito do Iraque na Grã-Bretanha foi viciado para proteger "US interests". A Suécia é um membro encoberto da NATO e a partilha da inteligência dos EUA é resguardada do parlamento.

Os EUA estão a agir de forma agressiva para conseguir que outros países recebam detidos libertados da Baia de Guantanamo. Barack Obama só concordou em encontrar-se com o presidente esloveno se a Eslovénia recebesse um prisioneiro. Ao nosso vizinho do Pacífico, Kiribati, foram oferecidos milhões de dólares para aceitar detidos.

Na sua memorável decisão no caso dos Pentagon Papers, o Supremo Tribunal dos EUA declarou: "só uma imprensa livre e sem restrições pode efectivamente revelar fraude no governo". Hoje, a tempestade vertiginosa em torno do WikiLeaks reforça a necessidade de defender o direito de todos os media revelarem a verdade.

08/Dezembro/2010

[*] Editor-chefe do WikiLeaks
O original encontra-se em www.theaustralian.com.au/...

o diálogo verdeazul do mar e da montanha

Em junho de 2009 publiquei aqui algumas fotos obtidas por ocasião de uma trilha que fizemos no Morro da Fonte Grande, que fica bem no Centro de Vitória.
Como fizemos novamente a trilha, publico outras fotos, agora não apenas da trilha propriamente dita mas também das cidades em volta: Vitória, Cariacica e Velha. 

duas das muitas ilhas da baía de vitória. à frente o
santuário de santo antônio, já mostrado aqui,
em junho de 2009
na parte de cima, alguns bairros de cariacica; do lado de cá,
alguns de vitória: caratoíra, santo antônio, santa tereza,
morro do quadro
a segunda ponte, ligando vitória a cariacica e vila velha;
ao lado da ponte, a rodoviária de vitória 
o pico da fonte grande contempla, na distância, o pico do
moxuara  (no alto à esquerda)
o pico do moxuara

a fazenda e os mísseis

Outras imagens obtidas na caminhada pelo Morro da Fonte Grande  - veja mais aqui
olhada por detrás a pedra dos olhos
ganha uma imponência diferente
e olha o que ela olha lá ao fundo:
o intérmino atlântico

resistentes resquícios das fazendinhas e roças que haviam
na fonte grande num tempo não tão distante;
criaturas privilegiadas: pastar, cavalgar e pairar acima do mar 


embora sem a mesma resistência, outros vestígios
de um tempo mais bucólico e menos anêmico, 

como não poderia de ser, até mesmo na fonte grande
 os indefectíveis sinais da ambígua engenhosidade humana;
como se fossem mísseis a marcar território contra a serenidade
como se todas as obras humanas não fossem se tornar ruínas, como acima

simbioses

vinde ver o devir de verdes e carmins
folhagens lenhos cogumelos aleitados
 deitados em penumbras e fiapos de sol*
gozosas núpcias de vegetais, sóis e sombras





estas também são fotografias tiradas no morro da fonte grande - veja mais acima


* ou fiapossóis, só para lembrar o poeta paul celan