11/02/2011

levante árabe VI: o monstro ainda vive

trechos do artigo:  3ª semana, 16º dia, mas o monstro ainda vive
por Robert Fisk, no The Independent – Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

"..." Durante dois dias, o novo governo ‘de volta à normalidade’ tentou pintar uma imagem do Egito como nação que estaria voltando ao velho torpor da ditadura de sempre. Postos de gasolina funcionando, os obrigatórios engarrafamentos no trânsito, bancos abertos – embora só se permitam saques de pequenas quantias – lojas voltando aos negócios, ministros sentados frente às câmeras da televisão estatal, como instruídos pelo homem que quer manter-se rei por mais cinco meses, para impor ordem ao caos – único motivo alegado para agarrar-se tão alucinadamente ao poder.

Issam Etman provou que o rei errou. Empurrado e apertado pelos milhares que o cercavam, levava sobre os ombros a filhinha de cinco anos – Hadiga. “Estou aqui por causa dela” – gritava para ser ouvido acima das vozes da multidão. “Pela liberdade dela, quero que Mubarak se vá. Não sou pobre. Tenho uma empresa de transportes e um posto de gasolina. Está tudo parado e as coisas estão difíceis, mas não reclamo. Estou pagando meus empregados, mesmo sem trabalhar, do meu próprio bolso. Aqui, é questão de liberdade. A liberdade vale qualquer sacrifício.” Nos ombros de Issam Etman, seu pai, Hadiga assistia ao movimento épico daquela multidão em ação. Nenhuma aventura de Harry Potter algum dia superará essa experiência.

Muitos dos manifestantes – tantos, na noite passada, que a multidão chegava às pontes sobre o Nilo e avançava para outras praças no centro do Cairo – estavam ali pela primeira vez. Os soldados do 3º Exército do Egito pareciam poucos, 40 mil manifestantes para cada soldado, sentados nos tanques e carros blindados de transporte, sorrindo nervosos, cercados por velhos e jovens, homens e mulheres que escalavam os tanques, ou dormindo sobre a carroceria, a cabeça sobre as grandes engrenagens das esteiras. Uma força militar tornada impotente ante um exército popular.

Muitos disseram que vieram à praça, porque tiveram medo de que o mundo estivesse começando a desinteressar-se daquela luta, porque Mubarak continuava no palácio, porque nos últimos dias a multidão diminuíra, porque muitas das equipes de televisão haviam sumido à caça de outras tragédias e outros ditadores, porque se sentia no ar o cheiro da traição.

Se a República de Tahrir secar, acabou-se o despertar nacional. Mas ontem se viu que a revolução continua viva.

O único erro até agora subestimar a capacidade de sobrevivência também do regime, de ele vencer a indignação das ruas, de fazer desligar as câmeras de televisão, de calar a única voz dessa multidão – os jornalistas – e de persuadir os velhos inimigos da revolução, os ‘moderados’ que o ocidente tanto ama, a esquecer as reivindicações do povo na praça.  "..."

"..." Como um povo que só conhece a ditadura, há tanto tempo, planejará sua revolução? No ocidente, tendemos a esquecer essa dificuldade. Vivemos tão fortemente institucionalizados, que tudo, no nosso futuro está programado.

O Egito é uma tempestade sem direção, uma avalanche, uma inundação de manifestação popular que não cabe perfeitamente nos nossos livros de história revolucionária nem em nossa meteorologia política. "..."

"..." 3ª semana – 16º dia – já sem o romance e a promessa do “Dia de Fúria” e das grandes batalhas contra os bandidos do ministério do Interior de Mubarak, e o momento, faz apenas uma semana, quando o exército desobedeceu a ordem de Mubarak para esmagar, literalmente, o povo na praça.

Haverá 6ª semana, algum 32º dia? As câmeras de televisão ficarão aqui? E o povo? E nós? Ontem, outra vez, nossas previsões foram derrotadas. Mas será que os egípcios lembrarão que as unhas de aço da ditadura estão plantadas muito fundas na areia, mais fundas que as pirâmides, mais poderosas que qualquer ideologia? Ainda não vimos o corpo inteiro do monstro. Nem a extensão de sua vingança.

Se quiser ler o texto completo, está no site escrevinhador:
3ª semana, 16º dia mas o monstro ainda vive

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