04/04/2011

algumas variações de cultura


extraído de suave coisa

A cultura da couve, que exige um trato delicado e água perto
para dar folhas tenras. A cultura
do milho, que se disfarça às vezes em mulheres viçosas.
As socas de capim que constituem tamanha
sabedoria natural sobre os morros. A cultura da morte,
que não dá sossego, ou mesmo a cultura do sono
a descoberta arregalada dos olhos pensativos no céu.

A cultura curiosa da satisfação em te ver
após o banho. A sanha cultural dos sanhaços
bicando um mamão maduro no pé. A poeirenta
Kultur que se agasalha com tosse pesquisando venenos
na obra do poeta imaturo que abriu os braços no abismo
e mergulhou gargalhando para os pósteros.

O caldo espesso das culturas nanicas
que proliferam pela madrugada em esquinas
onde mosquitos invisíveis telegrafam na luz.
Os ombros bambos da cultura na cama
com essa impressão de cicatriz das suas unhas nas costas
raspando escamas ou camadas de conotação babilônica.
A cultura do êxtase. O encadeamento despojado
dos objetos sem função quando alguém
não se procura, não ensaia, não tece elogios, não discute.

A cara calma da pessoa calada que desaparece de cena
para observar seus iguais com paciência de boi.
Aquela pressa dos pacotes que estão vendendo cultura
e a falta que uma escova de dentes, no outro extremo,
faz na boca do povo.

(Leonardo Fróes, argumentos invisíveis)

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