26/04/2011

degraus

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

mário quintana

dala: excertos

Dando seqüência ao mergulho na contrita e transcendente atmosfera da Sexta-Feira da Crucificação (veja vídeo abaixo), selecionei um trecho de minha novela Dala, que publicarei em breve em meio eletrônico.

Dala personifica nada mais nada menos do que a Terra, o planeta.  U. é a sede de Absoluto, de Espírito, do transcendente no cotidiano, e é a radical recusa desse cotidiano, exatamente por não perceber nele o espaço do divino. Tão embriagado dessa sede e dessa recusa, tão desgastado pelo vaivém de sua tarefa de poeta num mundo excessivamente prosaico, que o seu processo de ruptura torna-se-lhe insuportável, culminando em visões mágicas na noite de seu aniversário, através das quais ele é alçado até a órbita terrestre, e lá envolto pela magia de Dala, personagem através do qual dou feições humanas ao nosso próprio planeta.
 
O trecho em questão é a parte final do capítulo em que o jovem U. narra a trajetória de sua existência a Dala, até a noite em que logrou encontrar-se face  a face com ela.

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Dala - final do capítulo V
 
Dala:
(reinstalando a seriedade no âmbito da navigagem)
"então, imune à trajetória terrena, te vi numa tentativa de retorno ao transcendente, às rarefeitas e incompletadas raízes: houve o retornar reticente e tardio aos cânticos e templos. a matriz de Santa Rita de Cássia, repleta de penumbras proibidas, ainda afastadas de ti. a procissão nas manhãs da Crucificação, o roxo lutuar das flores exigindo silêncio. tu de longe, no espaço a ti reservado.’’

U.:
(ainda com a cabeça recostada no peito de Dala, numa voz recatada, olhando para baixo)
"sim, dala amiga, recordo  tais vivências com dolorosa nitidez. nas manhãs:

 procissão. silêncio. contritos todos.
a manhã é um culto secreto, místico
estamos possessos pela melodia, aturdidos

e à tarde e à noite as sete palavras varavam a cidade, ecoavam pela casa. tornavam tudo bíblico, pareciam circundar a cidade com muralhas invisíveis e arcanjos terríveis. um santo sepulcro, transcendental. até que um dia os senhores padres houveram por bem alternar as comemorações da Santa Semana: um ano numa paróquia, o seguinte na outra. mudou-se também o itinerário das procissões. eu habitava longe da outra igreja e das ruas por onde a revivescente passou a passar, ano sim ano não. eu não era bom peregrino, perdi um pouco do ritmo

fomos para o jardim da casa
rezava-se à cidade. articulamos
negras vozes que se dissiparam

a horas altas, olhos nebulosos
plantar lírios azuis, impossíveis

migrar para o alto e além, purificar-se da impressão de pecado que nos invade, nos oprime, por percebermos quão longe o humano está de exercer o seu testemunho, a sua tarefa de sentinela e companheiro do Real, ou de Deus, se preferires. essa mistura de singeleza e magnetismo das alturas que nos advém quando da Santa Semana lavava-me, deixava-me apenas triste, pequeno, amamentava-me numa melancolia modesta, uma espécie de nostalgia e recatada solidariedade para com o Crucificado, que me dispensava da condição de pecador por fazer parte de uma tão incompreensível raça.
enfim, a celebração religiosa, feita ao mesmo tempo de recatos e tremores, parecia fazer com o mundo terreno perdesse sua face medonha, medrosa, religando-se a um outro mundo, não celestial, perfeito, mas apenas distante, diferente, impassível, feito de lírios azuis e impossíveis, modesto e melancólico em sua incapacidade para tornar verdadeiramente azul e etéreo o mundo terreno, concreto, vivente.

enfim, viajava, vivia, celebrava solitário em minha ambígua condição de ateu saudosista. mas o que deveria durar até o domingo de Páscoa (o renascimento, a vida nova) acabava já na manhã de sábado de Aleluia, o mundo e a vida apareciam-me novamente como terrenos, sensuais, triviais. acho que, para mim, o calendário humano deveria ser uma constante sexta-feira da Paixão, um eterno ano de recolhimento, silente respeito e contrição, até que de fato pudéssemos todos enxergar um palmo adiante do nariz, vermos a nossa condição de testemunhas e amparo do Real

senti que caíamos: tudo e todos
houve uma alegria... e uma manga
caiu no quintal. no jardim da casa

em tudo estava ela...
em tudo!

o que digo é que, depois da sexta-feira da Compaixão, da solidariedade lutuosa dos humanos para com o Real e sua testemunha Crucificada, havia sempre a queda, o retorno da lucidez e da desdenhosa resignação para com os justificáveis frutos terrenos dos homens. até que num domingo à noite, embriagado e faminto numa missa, retirei-me definitivamente do culto, cabisbaixo, definitivamente descrente da possibilidade de um mundo azul e etéreo, desdenhosamente prisioneiro de um mundo terreno. devo ter me tornado qualquer coisa como um adulto, feito de sentimentos sérios e confiáveis

ensejei viver por hábito.
amei por necessidade

e assim foi a jornada, em meio a teus filhos,  desta

criatura nula
sem razão, método, ciência
cura

foi só, passaram-se anos
atravessei as terras
ergui o substituto
assim vivi. mas não me bastando
as fontes secaram-se

e por detrás desse espantalho, a quem deleguei a função de substituir-me, estava sempre à espreita Uoutro, dilacerado e entediado, raivoso e desdenhoso, crente e errante, mas sempre escondido, sem se achar com direito à cidadania, impondo a si próprio uma clandestinidade como única forma de não sangrar mais, de não se arrebentar de vez. até que nesta noite imensa, ofegante, não suportei mais, ousei e consegui vir aqui, até ti

por entre fendas e musgos
te entrevi - misto de estrela
seda pedra vento

Dala, errante do plenilúnio
girando girando a dança
dança
cadente e ligeira...
na trança do infinito...
sarabanda

são estas as notícias que te traz teu mais recente acompanhante, confuso... fala-me agora, de ti...”

22/04/2011

vídeo: inflamatus

( oitavo movimento do stabat mater,  de Rossini)



O Stabat Mater Dolorosa é  a peça de música sacra apropriada para  ver e ouvir na Sexta-Feira da Crucificação, durante a Semana Santa dos católicos.

Stabat Mater ("Estava a mãe") corresponde às duas primeiras palavras do Hino Mariano, o qual descreve a angústia de Maria durante a Crucificação do Cristo. 
De acordo com Otto Maria Carpeaux, os cinco grandes exemplos dessa composição musical, para esse magnífico texto, foram compostos por Vivaldi, Pergolesi, Haydn, Verdi e Rossini.

Quanto ao texto propriamente dito, existem dois tipos de Stabat Mater, o Dolorosa e o Speciosa, sendo usado liturgicamente o primeiro.

O Speciosa rememora Maria junto à manjedoura, no nascimento do filho; o Dolorosa retrata o sofrimento de Maria, já presencindo a dor do filho na cruz. O Speciosa contém 13 stanza (duplas) de 6 linhas; o dolorosa, 10. O Dolorosa é o executado no mundo da Música Sacra.

A seguir, o texto correspondente ao oitavo movimento, mostrado no vídeo acima; segue-se o original em latim. 

Inflamado e elevado pelas chamas
seja defendido por ti, ó Virgem
no dia do juízo final.

Faz com que eu seja custodiado pela cruz
fortalecido pela morte de Cristo
e confortado pela graça.

Inflammatus et accensus
per te, virgo, sim defensus
in die judicii.

Fac me cruce custodiri
morte Christi praemuniri
conforverti gratia.

Noutra ocasião, postarei aqui minhas impressões de uma competente e aconchegante apresentação do Stabat Mater, que tive  a oportunidade acompanhar na Catedral de Vitória, nesta Semana  Santa.
A apresentação ficou a  cargo da Orquestra Filarmônica do Espírto Santo, com regência do maestro Modesto Flávio, acompanhado do coro da Fames - com  a presença da soprano Natércia Lopes - e do coral da CST.

20/04/2011

guerra da líbia e guerras do brasil

O texto abaixo é uma mensagem postada pelo poeta e diretor de teatro Wilson Coelho, na lista do Opiniões Cênicas, grupo de discussão virtual de Vitória, ES.

Vale pelas reflexões despertadas. Afinal, como já foi apontado aqui em março, é muita coincidência que, logo num país ainda hostil aos EUA e a Israel, as manifestações populares tenham evoluído imediata e eficientemente para uma revolta armada.

E todo mundo sabe que EUA e Europa não estão nem aí para questões humanitárias. Portanto, somente ingênuos e doutrinados acreditam que a Guerra da Líbia tem motivos nobres, ou que seria inevitável. Aliás, com respeito a esse último ponto, porque a mídia e os governantes nunca levaram a sério a proposta de uma comissão de negociação, aventada por alguns governantes da América Latina? Provavelmente não seria tão interessante quanto a guerra...

De tudo isso, o que choca e indigna é, como de costume, a frieza com que governantes e povos dos EUAe da Europa permitem que um povo seja assim massacrado e sua nação seja destruída - prestem mais atenção nessas denúncias acerca da utilização de bombas de urânio empobrecido e de bombas de fósforo branco, nessas guerras do terceiro milênio. É coisa de quem já perdeu a alma há muito tempo. Leia mais em resistir

Tudo bem, não é nada diferente daquilo que foi feito no Vietnã, no Afeganistão, no Iraque, na Palestina... Mas isso sempre nos choca e faz renascer nosso ódio e desprezo para com esses pessoas e poderes que, apesar de serem apenas instrumentos da história em sua complexa evolução dialética, ainda assim são responsáveis pela sua liberdade de agir assim ou assado e, portanto, responsáveis por sua próprias existências primitivas, estreitas, raivosas, egocêntricas.

Falar nisso, que povo será o próximo da lista? Talvez um dia o Brasil do cobiçado pré-sal e da cobiçadíssima Amazônia...? Ah, com certeza que, nesse hipotético dia, um bando de cretinos e de fascistóides iria para a mídia e para as ruas aplaudir e reverenciar os estrangeiros 'salvadores' da pátria - afinal, essas pessoas sempre encontram argumentos para os seus malabarismos verbais e morais, advindos de sua miséria existencial, adequadamente mantida no ponto certo pela sociedade de controle.
*************
Aliás, passada a trégua da Batalha de 2010, que foram as últimas eleições, parece que os setores retrógrados, presunçosos e egocêntricos começam a se articular novamente, contra o processo de transformação que está em curso neste país (embora obviamente limitado e sem ousadia).
Com essas suas posturas, esses setores pelo menos demonstram sinceridade e  engajamento político, e ajudam a desconstruir o mito de que não há luta de classes no Brasil, de que esse país seria o território por excelência da cordialidade e da conciliação. Na verdade, até o momento em que o processo de transformação possa ocorrer num ambiente institucional e de democracia formal, é claro que uma oposição a esse processo é benvinda e necessária, para servir de contraponto, de correção a excessos e mesmo de complementação ou alternância de projetos.

Mas, desde que seja de fato uma oposição democrática e não fascistóide, que seja de fato modernizante e não obsoleta, desde que seja de fato acomapanhada de um projeto de país e não apenas de manutenção de poderes e privilégios descabidos e descarados.

Não há ainda essa oposição aos governos do PT. E para construí-la não basta apenas a perspicácia e o comprometimento de dirigentes partidários e de líderes empresariais. É preciso que a chamada classe média e alguns setores populares contrários ao PT exijam, reivindiquem uma oposição assim, ao invés de ficar apenas papagueando no mundo digital e no mundo real posições fascistas, obsoletas e simplórias - articuladas, divulgadas e conduzidas por dirigentes partidários, jornalistas, acadêmicos, militares e empresários que perderam o bonde da história.

Ao texto, então, postado por Wilson Coelho e  publicado abaixo.

o que a mídia NÃO vai mostrar

MESMO QUE KADDAFI SEJA O BIZARRO QUE FOR, A ONU CONSTATOU EM 2007:  

1 - Maior Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África (até hoje é maior que o do Brasil)
2 - Ensino gratuito até a Universidade
3 - 10% dos alunos universitários estudam na Europa, EUA, tudo pago
4 - Ao casar, o casal recebe até 50.000 US$ para adquirir seus bens
5 - Sistema médico gratuito, rivalizando com os europeus. Equipamentos de última geração, etc...
6 - Empréstimos pelo banco estatal sem juros
7 - Inaugurado em 2007, maior sistema de irrigação do mundo, vem tornando o deserto (95% da Líbia), em fazendas produtoras de alimentos
E assim vai....

PORQUE DETONAR A LÍBIA ENTÃO?

Três  principais motivos:
1 - Tomar seu petróleo de boa qualidade e com volume superior a 45 bilhões de barris em reservas
2 - Fazer com que todo mar Mediterrâneo fique sob controle da OTAN. Só falta agora a Síria
3 - E o maior provàvelmente . O Banco Central Líbio não é atrelado ao sistema mundial Financeiro
Suas reservas são toneladas de ouro, dando respaldo ao valor da moeda, o dinar, e desatrelando das flutuações do dólar.

O sistema financeiro internacional ficou possesso com Kaddafi, após ele propor, e quase conseguir, que os países africanos formassem uma moeda única desligada do dolar (destaque por conta do blog desvelar).

O QUE É O ATAQUE HUMANITÁRIO PARA LIVRAR O POVO LÍBIO:

1 - A OTAN, comandada pelos EUA, já bombardeou as principais cidades Líbias com milhares de bombas e mísseis que são capazes de destruir um quarteirão inteiro. Os prédios e infra estrutura de água, esgoto, gás e luz estão sèriamente danificados
2 - As bombas usadas contem DU (Uranio depletado) tempo de vida 3 bilhões de ano - causa cancer e deformações genéticas (destaque por conta do blog desvelar).
3 - Metade das crianças líbias estão traumatizadas psicológicamente por causa das explosões que parecem um terremoto e racham as casas
4 - Com o bloqueio marítimo e aéreo da OTAN, principalmente as crianças, sofrem com a falta de remédios e alimentos
5 - A água já não mais é potável em boa parte do país. De novo as crianças são as mais atingidas
6 - Cerca de 150.000 pessoas por dia, estão deixando o país através das fronteiras com a Tunísia e o Egito. Vão para o deserto ao relento, sem água nem comida
7 - Se o bombardeio terminasse hoje, cerca de 4 milhões de pessoas estariam precisando de ajuda humanitária para sobreviver: Água e comida. De uma população de 6,5 milhões de pessoas.

Em suma: O bombardeio "humanitário" acabou com a nação líbia. Nunca mais haverá a nação Líbia. Foram varridos do mapa.
SIMPLES ASSIM.

18/04/2011

violão clássico: minueto de bach

o encontro

como se um raio mordesse
meu corpo pêro rosado
e o namorado viesse
ou em vez do namorado

um novilho atravessasse
meus flancos de seda branca
e o trajecto me deixasse
uma açucena na anca

como se eu apenas fosse
o efeito de um feitiço
um astro me desse um couce
e eu não sofresse com isso

como se eu já existisse
antes do sol e da lua
e se a morte me despisse
eu não me sentisse nua

como se deus cá em baixo
fosse um cigano moreno
como se deus fosse macho
e as minhas coxas de feno

como se alguém dos espaços
me desse o nome de flor
ou me deixasse nos braços
este cordeiro de amor

natália correia - portugal

nosso versos

nosso versos
caem sobre o mundo.
como chuva.

quase todos
se abrigam desses versos
sob chapéus de indiferença.

mas alguns
miram o céu
e os versos
lhes caem nos olhos

reconhece-os rua afora
pois eles trazem
os olhos incendiados

luis gonzález ansorena  -- espanha, extraído de apologia de la luz
tradução: roberto soares

14/04/2011

projetos de futuro

Esta tarde sou rico porque tenho
um céu todo de prata para mim
sou o dono também desta emoção
que é saudade igualmente do passado
e uma doce alegria por tê-lo vivido.

Tudo quanto me deixou me pertence
transformado em tristeza, e o que afinal intuo
que não hei-de alcançar converteu-se
num grato caudal de conformismo.

Meu património aumenta a cada instante
com aquilo que vou perdendo, porque quem vive perde,
e perder significa ter tido.

Não tenho já ambições, mas tenho
um projecto ambicioso como nunca tive:
aprender a viver sem ambição,
em paz por fim comigo e com o mundo.

vicente gallego - espanha
(tradução de albino m. - portugal)

13/04/2011

um verso

estranho mundo o nosso: cada dia
lhe interessa mais os poetas;
a poesia cada vez menos.

josé emilio pacheco - portugal

12/04/2011

vídeo: led zeppelin e as escadas precárias

procurava um vídeo bem representativo do rock dos anos setenta para postar aqui. eis que no diário gauche foi postado um texto e um vídeo de robert plant. achei muito interessante o texto, e o coloquei abaixo, mas preferi postar outro vídeo do led zepellin.
pois achei que a letra de stayway the heaven tem muito a ver com o texto do cristóvão feil: afinal o texto dele fala dessa geração que nasce,  cresce e vive - e morre - iludida, conduzida  por escadarias e paraísos tão precários e patéticos.
na verdade, essa geração não consegue ver muita escolha: ou ela se delicia com esses patéticos paraísos ou então, quando se rebela, ela se entorpece e enlouquece, como esse infeliz rapaz que provocou o absurdo massacre de realengo - veja texto aqui.


e, aqui,  o texto escrito por cristóvão feil, postado originalmente em diário gauche
Dias atrás, estava eu numa fila em algum lugar (tudo tem fila, agora, os filhos do lulismo querem consumir à tripa forra), e ouço o uivo gutural de Roberto Plant, no início do Immigrant Song, com o velho e bom Led Zeppelin. Virei num repente pra ver o sujeito que havia colocado aquele ringtone no telefone. Era um tipo faceiro, com pulôver nas costas e os braços do mesmo amarrados cuidadosamente no peito, onde havia uma corrente dourada. O famoso bundinha mimado por papi e mami. O cara acabou de avacalhar com o velho Plant. Nesta sociedade de hiper-ultra-consumo tudo é digerido, absorvido e regurgitado sem o menor respeito pelo significado de origem.

Fetichizaram Roberto Plant.
O mesmo que fizeram com o Che e tudo o mais.
Coisas da vida.
 
*****************
e, embaixo, não resisiti e aproveitei para também publicar um comentário feito por um usuário acerca do vídeo do led zeppelin, feito por tal medmaax. vale pela sua juvenil e irreverente indignação. 
Você dizem RESTART. Eu digo BLACK SABBATH
Você dizem CINE. Eu digo AC/DC
Você dizem FRESNO. Eu digo A7X
Você dizem PINK Eu digo PINK FLOYD.
Você dizem MILEY CYRUS. Eu digo LED ZEPPELIN.

Você diz  LADY GAGA. eu digo NIRVANA
Você diz  HANNAH MONATNA. Eu digo  QUEEN.
Você diz JONAS BROTHERS. Eu digo AEROSMITH.
Você diz  JUSTIN BIEBER, eu mando vc  se F* e digo GUNS N ROSES
95% dos adolescentes nos dias de hoje só aprenderam a ouvir o pop e outras porcarias.
Se vc é um dos 5% ajude, passe isto!

por medmaax

indagações corrosivas: escolas, pedagogias... e realengo

A mensagem abaixo foi postada inicialmente no Grupo de Discussão do COLEDUC - Coletivo de Eucadores Ambientais de  Vitória, ES, como uma resposta a uma outra mensagem, que convidava os participantes do COLEDUC para se mobilizarem em torno de uma ação política em prol da educação pública. O arquiteto Neison Guimarães respondeu, então, com as palavras abaixo.

por neilson guimarães
prezados...saudações... desculpem-me pela ignorância, mas...
o atual modelo educacional mudará algo no país?
as futilidades impostas aos jovems nas escolas ultrapassadas estão lhes servindo para algo?
resumindo:
os filhos das classes endinheiradas em sua grande maioria se dão bem, porém vejo as proles dos miseráveis sistêmicos continuarem na merda como os vermes, e a educação? para que serve nesse caso?

infelizmente já tenho constatado mendigos que um dia os conheci como operários, e lamentavelmente vejo seus filhos se acabando no craque, a droga do momento...
para que serve a educação para quem não tem dignidade humana, e vive como o escravo contemporâneo para dar bem estar à aristocracia?

agora me digam: qual a diferença de criarem ou não creches domiciliares na superfície do inferno? mudará o que?
parece até aquele papo das vans que fazem transporte público e as grandes empresas de transporte da aristocracia tentando brecar, porque não legalizar os coitados?

sinceramente colegas, quem mudará o atual panorama de exploração humana na superfÍcie do inferno, se até mesmo os próprios polÍticos representantes do povo vivem como sultões, e ainda aumentam o seu salário em 65%, ás custas do sofrimento dos escravos contemporâneos? e os seus próprios filhos estudam em escolas de países de 1º mundo, muito longe da caótica realidade brasileira!

e viva o meio ambiente...e viva as plantinhas e os bichinhos...e viva o capitalismo brutal...
e viva o apocalipse...que venha logo o tsunami!

****************
Apesar de ser um texto breve, e sem maiores pretensões de articulação, achei muito interessante o tom meio que libertário de sua indignação. Parece derrotismo mas é apenas uma crua constatação: até onde de fato a educação - um dos mais importantes aparatos ideológicos do capitalismo - pode de fato promover a libertação,o enfrentamento contra um sistema que oprime a e imbeciliza cada dia com mais eficiência? E até onde o atual sistema de dominação 'permite' que a educação 'liberte' e 'desperte' as pessoas?

Podemos realmente ter esperança na eficácia de uma mudança 'por dentro', gradual, institucional, feita sem rupturas e sem um radical enfrentamento das condições postas pelo atual sistema de dominação e controle? Vai chegar realmente a hora da superação, digamos, benéfica deste sistema? Ou será que teremos uma superação 'maléfica', de fato caminhando para o 'inferno', ou melhor, para um falso paraíso, tão bem representando pelo livro 'Admirável mundo novo", de Huxley - ou seja uma ditadura tecnológica e robotizante, mas consentida e desejada por uma humanidade cad dia mis resignada, assustada e entorpecida?

Não é colocar em dúvida a construção da cidadania, a validade da formação política e social, muito menos de desacreditar na luta popular e social - por mais desarticulada e cooptada que ela pareça estar em nosso país.

Mas o que o breve texto de Neilson lembra é o senso da urgência, do perigo que nos ronda: será que realmente teremos tempo e  condições de fazer um embate vitorioso contra  a agonizante besta do capitalismo, através apenas da luta institucional? Ou seremos convocados para um enfrenatemnto mais direto e mais ousado? E até onde saberemos captar e apreender a chegada dessa convocação, o chamamento da históia?
****************
Numa triste coincidência, estava  a finalizar o texto acima exatamente no dia em que ocorreu o Massacre de Realengo - veja texto aqui. Essa tragédia só vem a reforçar a validade das indagações que faço no meu texto e das afirmação que Neison Guimarães faz no seu.

A besta agonizante não se entregará tão facilmente e, enquanto resiste, teremos muita dor, trsiteza e vidas limitadas, medrosas, conduzidas pela sociedade de controle, e às vezes tragédias declaradas como essa de Realengo.

Ecoando Neilson, creio que a seguinte pergunta é oportuna: o que nossas escolas e nossas pedagogias  podem de fato fazer para evitar tragédais assim? Talvez seja o caso se prestar mais atenção nas escolas e pedagogias do MST.

leia também a besta agonizante
de neilson guimarães já publiquei aqui salamaleicon

massacre de realengo: mais vítimas da besta agonizante

Passada o choque inicial, que se segue a toda tragédia, e passada também a espetacularização e a banalização próprias dos atuais veículos de comunicação,  já se pode refletir com um pouco mais de lucidez sobre o Massacre de Realengo. Embora lucidez seja uma palavra um pouco difícil de se aplicar em acontecimentos como esse Massacre.

De toda forma, os trechos abaixo colocam  a questão num foco menos distorcido, ao invés de se procurar causas e soluções fáceis e moralistas. Pode parecer discurso repetitivo e inócuo, mas não é  focando em indivíduos e situações específicas que se compreende tragédias assim.

Sabemos que é apenas mais um infeliz episódio provocado pela irracionalidade do atual modelo de sociedade, a irracionalidade desta organização de controle e manipulação que não cessa de produzir dor, infelicidade, conflitos e às vezes tragédias explícitas. Tanto Columbine, nos EUA, quanto Realengo são aspectos da mesma realidade. E  sabemos que infelizmente muita dor e muita tragédia ainda hão de ocorrer, até que a humanidade consiga finalmente superar esse estágio em que a besta agonizante do capitalismo ainda consegue ferir e escoicear. 

palavra e silêncio (trechos)
por alfredo gonçalves, publicado originalmente em  província são paulo

O que dizer deste trágico e inesquecível dia 7 de abril carioca? O que dizer frente ao massacre de 12 crianças e adolescentes em plena sala de aula? O que dizer, na noite seguinte, diante dos muros revestidos de flores e velas da Escola Municipal de Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro? O que dizer de uma violência tão nua e crua, tão fria e meticulosamente calculada?

As palavras emudecem. Emudece a escola Tasso de Oliveira, com suas paredes banhadas de sangue inocente. Igualmente mudos ficam a Cidade Maravilhosa, o Brasil e o Mundo. Mudos e atordoados, estupefatos, quedamos todos nós! Palavras como perplexidade, terror, barbárie ficam aquém dos fatos brutais… Infinitamente aquém! Parece que só o silêncio respeitoso e reverente é capaz de dizer algo. No sangrento espetáculo de vidas tão precocemente ceifadas, as palavras parecem sobrar ou faltar. Serão sempre de mais ou de menos.

Entretanto, não basta o silêncio! Ainda que as palavras sejam de menos, é preciso arriscar algumas, sob pena de cumplicidade ou omissão. Mas, de forma insistente, volta a pergunta: o que dizer?

(...)O que dizer às famílias enlutadas, obrigadas a sepultar seus entes queridos no vigor de sua primavera? Expressões de conforto? Abraços de carinho? Mensagens de confiança? Presença de holofotes, câmeras e microfones? Notícias sensacionalistas? Espaço para desabafos na mídia? Mas a dor é mais forte e mais funda, muito mais forte e mais funda que tudo isso. E ainda neste caso o silêncio se sobrepõe às palavras indiscretas e ao pranto sufocado, engolido.(...)

(...)O que dizer sobre o ex-aluno da escola, Wellington Menezes de Oliveira? Nome inglês mesclado com sobrenome bem brasileiro. O que dizer desse jovem de apenas 23 anos, órfão e só, perdido e abandonado? O que dizer de sua existência solitária e subterrânea, fora do alcance de toda a análise? Poderia ser o irmão mais velho das crianças que alvejou de maneira tão friamente pensada. O que dizer de alguém que mata, fere e em seguida se mata? Aqui poderíamos enfileirar uma série de por quês: de ordem social, econômica, política, cultural, psicológica, psicopatológica… Também poderíamos recorrer à sua carta-testamento ou ao testemunho dos policiais. Mas tanto seus tiros letais quanto suas palavras escritas continuam um enigma para quem segue vivendo sobre a face da terra. O que sobra desses poucos minutos de horror? Um silêncio tão cerrado quanto a boca dos mortos!

O que dizer, enfim, de uma sociedade que engendra ações desse gênero? Cenas que estávamos acostumados a presenciar pela telinha, vindas do outro lado do mundo ou mar: dos Estados Unidos, da Alemanha, ou da Inglaterra…(...)

(...) Desta vez, porém, a violência parece ter atingido um grau mais elevado. Ou descer aos porões sombrios infectos, inusitados e selvagens em que se escondem inúmeras crianças, adolescentes e jovens. Quantas vezes já estivemos reféns desses seres, agindo em grupo ou solitariamente! E quantos deles nunca conheceram um olhar mãe, um beijo molhado, um carinho de afeto, uma palavra de ternura, um leito suave, uma roupa nova ou uma comida quente!

A brutalidade é grande demais para caber, inteira, na alma de um jovem. Wellington carrega muito mais anos de sofrimento do que sua tenra idade pode suportar. Sofrimento que se transfigura em agressão e, como um dique que se rompe, devasta tudo o que vê pela frente. Violência exacerbada à máxima potência, que atinge simultaneamente as vítimas, seus familiares, a sociedade e o próprio assassino. É aqui que a palavra emudece! Como emudeceu diante do holocausto da Segunda Guerra Mundial, por exemplo. As letras e palavras se tornam estreitas, acanhadas, impotentes. Incapazes de conter os sentimentos que varrem o coração de cada um de nós.(...)

04/04/2011

algumas variações de cultura


extraído de suave coisa

A cultura da couve, que exige um trato delicado e água perto
para dar folhas tenras. A cultura
do milho, que se disfarça às vezes em mulheres viçosas.
As socas de capim que constituem tamanha
sabedoria natural sobre os morros. A cultura da morte,
que não dá sossego, ou mesmo a cultura do sono
a descoberta arregalada dos olhos pensativos no céu.

A cultura curiosa da satisfação em te ver
após o banho. A sanha cultural dos sanhaços
bicando um mamão maduro no pé. A poeirenta
Kultur que se agasalha com tosse pesquisando venenos
na obra do poeta imaturo que abriu os braços no abismo
e mergulhou gargalhando para os pósteros.

O caldo espesso das culturas nanicas
que proliferam pela madrugada em esquinas
onde mosquitos invisíveis telegrafam na luz.
Os ombros bambos da cultura na cama
com essa impressão de cicatriz das suas unhas nas costas
raspando escamas ou camadas de conotação babilônica.
A cultura do êxtase. O encadeamento despojado
dos objetos sem função quando alguém
não se procura, não ensaia, não tece elogios, não discute.

A cara calma da pessoa calada que desaparece de cena
para observar seus iguais com paciência de boi.
Aquela pressa dos pacotes que estão vendendo cultura
e a falta que uma escova de dentes, no outro extremo,
faz na boca do povo.

(Leonardo Fróes, argumentos invisíveis)