24/09/2012

as cidades de plástico


Os campos de concentração na planta das cidades pós-modernas
(ou nova concepção arquitetônica do inferno)

Cidade sem olhos
Tebas
a de sete portas
inaugura sua nova
arquitortura.

Trocou retinas humanas
por câmaras de Cérbero
em alta definição
do inferno.

População cega
não age
ob
     serva
o mundo
tudo e todos
agora
monumental submundo.
Fones no umbigo
celulares ao vento
lotam de solidão as avenidas.

Foram-se os heróis
vieram as celebridades
e uma espessa camada gosmenta
de palavras acomodadas
em poemas.

Quando voltarão o incômodo, a turbulência e o tumulto?

zantonc, no blog  caosgraphia

por que a reeleição de FHC nunca chegou ao STF?

Claro que os erros e hipocrisias de adversários não justificam erros e desvios de comportamentos de um partido político, a partir do momento em que esse partido se dispõe aceitar as regras da já decrépita democracia representativa. Mas também é certo que o PT de Zé Dirceu e companhia não inventou o caixa 2 das campanhas eleitorais, ou outros procedimentos condenáveis na esfera da obsoleta democracia representativa. Nesses tempos de instrumentalização do judiciário pela direita, e de descarada tentativa de golpismo de parte da mídia, o texto abaixo lembra parte dessa história de corrupção e desvios da democracia representativa no Brasil, antes da era PT.

Por que a reeleição de FHC nunca chegou ao STF?
por Laurez Cerqueira,   transcrito de carta maior

Quem não sabe como são feitas as salsichas, as leis e as eleições? A novidade é que parte do Ministério Público e parte do Supremo Tribunal Federal resolveram julgar o “caixa dois”, feito para as eleições municipais de 2004, curvando-se à versão sobre o “mensalão” criada por Roberto Jefferson, pela oposição e por parte da imprensa que sempre tratou o PT como um intruso na política brasileira. Um precedente perigoso que coloca o STF acima dos demais poderes da República. O alvo é o PT. Destruir o PT.

Afinal, a elite não acreditava que os de baixo fossem capazes de se organizar num partido politico de massa para fazer a luta social e eleitoral no país das desigualdades. Naquela eleição, em 2004, apesar de tudo, a esquerda cresceu eleitoralmente e em seguida reelegeu Lula.
Agora, como num delírio narcísico diante do espelho (câmeras de tv, internet) ministros do STF, enrolados nas suas capas pretas, parecem fazer o jogo de setores da imprensa, que querem fazer valer a todo custo a versão do “Mensalão” e patrocinam um triste espetáculo. A hipocrisia, o cinismo, aparecem reluzentes nas faces de alguns inquisidores como se o financiamento de campanhas eleitorais por meio de “caixa dois” fosse uma invenção do PT. As câmeras têm revelado com riqueza de detalhes aspectos sombrios do caráter de personagens centrais do julgamento no STF.


As investigações foram cirúrgicas e não foram além da superfície do sereno mar que encobre o financiamento das campanhas eleitorais de todos os partidos políticos.
 Não há nenhum questionamento sobre os demais partidos, como se os de oposição (PSDB, DEM, PPS) tivessem financiado as eleições de 2004 na mais perfeita ordem.
Especialistas da Universidade de São Paulo (USP) calcularam que nas eleições municipais de 2004 cerca de 400 mil políticos empregaram algo em torno de 12 milhões a 16 milhões de trabalhadores, para disputar 55 mil vagas de vereador e 5.600 cargos de prefeito no país.

A infra-estrutura das campanhas eleitorais municipais de 2004 - propaganda dos candidatos veiculada pelos mais variados meios de comunicação - comícios, shows, alugueis, equipamentos de comitês eleitorais, assessores, enfim, custou cerca de 5 bilhões de reais. O total gasto atingiu a cifra de 41 reais por eleitor. 
Especialistas estimam que, por baixo, mais da metade do dinheiro envolvido em campanhas não aparece nas prestações de contas.
Cerca de 70% a 80% das despesas dos candidatos não foram registradas como manda a lei. O que daria em média geral 1 real para o caixa oficial e 3 reais para o caixa dois. Quem adota o caixa dois costuma dizer que as contribuições sem registro são feitas a pedido dos contribuintes que não querem se expor como se o problema fosse a Lei Eleitoral.


O professor David Samuels, da Universidade de Minnesota, pesquisador do processo eleitoral no Brasil, analisou o perfil de doadores oficiais a partir dos registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e chegou a conclusão que as candidaturas a presidência da República são financiadas com maior volume de recursos do setor financeiro e da indústria pesada, como a de aço e a petroquímica. Isso porque a Presidência da República é quem responde pela macroeconomia (juros, tarifas, câmbio e política de exportação). Além disso, lida com marco regulatório e concessão de subsídios. Os setores financiadores das campanhas à presidência da República costumam ser os mesmos das candidaturas ao Senado Federal e à Câmara dos Deputados porque os assuntos tratados no Senado e na Câmara são também do âmbito da União; já as candidaturas a governador recebem mais recursos de empreiteiras, isso porque as grandes obras estão mais concentradas nos Estados; os candidatos a prefeito e vereador recebem mais recursos das empresas de transporte e de coleta de lixo.

A campanha à reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é considerada por especialistas a mais cara da história do país e nasceu contaminada. Segundo denúncia publicada na época pelo jornal Folha de São Paulo, assinada pelo repórter Fernando Rodrigues, a aprovação da emenda que possibilitou a reeleição contou com a compra do voto de vários parlamentares na Câmara dos Deputados, por R$ 200 mil cada um.
Naquele momento, Sérgio Motta, ministro das Comunicações havia declarado que o projeto dos tucanos era permanecer no poder por no mínimo 20 anos. Disse isso depois das privatizações dentre outras áreas, a de telecomunicações.


No início da campanha presidencial de 1998, o comitê eleitoral responsável pelas articulações da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso elaborou um orçamento minucioso de gastos e concluiu que, para cobrir todas as despesas do pleito, seria necessário R$ 73 milhões. Esse orçamento prévio foi comunicado ao Tribunal Superior Eleitoral.
Passadas as eleições o comitê fez as contas e encaminhou a declaração oficial de doações ao TSE, informando que o total arrecadado e gasto na campanha foi de R$ 43,022 milhões. 
A revista Época, de 30 de novembro de 1998, informou que a equipe que cuidou das finanças, coordenada pelo ex-ministro Bresser Pereira, dias depois do envio da lista ao Tribunal, refez as contas e concluiu que os gastos foram R$ 45,931 milhões, uma quantia muito superior ao total declarado ao TSE.

Esse desencontro de valores, entre o que se arrecadou, o que se gastou e o que se declarou ao TSE jamais foi explicado pelos coordenadores. Paira sobre esse assunto uma nuvem de mistério. Curioso é que na campanha de 1998 o candidato Fernando Henrique Cardoso viajou menos, fez menos comícios do que em 1994, mas gastou R$ 10 milhões a mais. 
Bresser Pereira conta que, diante do volume das dívidas deixadas pelo comitê, ele foi obrigado a reunir a equipe financeira e colocá-la de novo em campo para arrecadar mais dinheiro dos empresários para cobrir o rombo. 

A revista Época informou ainda que as solicitações foram deliberadamente concentradas nos grupos empresariais que compraram as estatais. Na segunda quinzena de outubro daquele ano (período proibido pela lei) foram arrecadados R$ 8,2 milhões. Essa decisão foi absolutamente ilegal e contrariou a legislação eleitoral, mas mesmo assim a arrecadação de recurso foi feita. 


Dentre as empresas que doaram recursos após o pleito, constam a Vale do Rio Doce, Companhia Petroquímica do Sul (Copesul) e Telebras. As subsidiárias da Vale do Rio Doce doaram R$ 1,5 milhão. Os donos da Copesul, R$ 1 milhão e os grupos La Fonte/Jereissati/Andrade Gutierrez e Inepar, que haviam comprado as empresas do sistema Telebras, doaram R$ 2,5 milhões. No final da ofensiva dos coletores, os dirigentes do comitê disseram que ficou faltando R$ 2,9 milhões para liquidar as contas.

Na mesma matéria, a Época destacou o setor financeiro como o que mais contribuiu para a campanha à reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Em 1994, os banqueiros deram R$ 7,1 milhões. De cada R$ 10,00 que entraram no caixa da campanha, R$ 4,30 originaram do setor financeiro. Em 1998, a aposta do setor no candidato à reeleição atingiu 43% (R$ 18,6 milhões) mais que o dobro da campanha anterior. Apenas cinco conglomerados financeiros contribuíram com quase R$ 10 milhões. Somados, responderam por 66,1% das doações feitas pelo setor financeiro e 28,6% do total de contribuições declaradas na campanha presidencial, informou a revista.

As controvérsias sobre o financiamento da milionária campanha à reeleição de Fernando Henrique Cardoso não pararam por aí. Para complicar ainda mais a vida do tucanato a Folha de São Paulo, de 12 de novembro de 2000, publicou uma vasta matéria com informações comprometedoras, obtidas de planilhas eletrônicas datadas de 30 de setembro de 1998, vazadas do comitê eleitoral do candidato tucano. Essas planilhas revelam a existência de uma contabilidade paralela de arrecadações e gastos da campanha. 
O jornal informou que pelo menos R$ 10,120 milhões deixaram de ser declarados ao TSE e que, de cada R$ 5,00 arrecadados R$ 1,00 era desviado para uma contabilidade particular desconhecida.
Além dos R$ 10,120 milhões não declarados oficialmente ao Tribunal, feitos os cálculos, tomando por base a planilha completa, ficou de fora R$ 4,726 milhões, doados por empresas que constam da lista do TSE, com valores menores do que os da planilha, que aparecem sob a rubrica de uma associação de classe de empreiteiros.
O dinheiro arrecadado pelo comitê financeiro, descrito em 34 registros na planilha principal obtida pelo jornal, totalizara R$ 53,120 milhões. Vale lembrar que na data constante da planilha, a qual os repórteres tiveram acesso, o comitê ainda não havia registrado todas as contribuições o que leva a crer que o volume de recursos não declarados devia ser muito maior, levando em consideração que o orçamento estimado inicialmente pelo comitê para os gastos, e comunicado ao TSE, era de R$ 73 milhões.

Nota-se que havia margem suficiente para declarar os recursos constantes na contabilidade paralela em questão e a equipe financeira não o fez. As razões não foram esclarecidas à imprensa, que insistentemente tentou sem sucesso obter explicações dos responsáveis pelas contas. Toda essa história acabou envolta num manto de mistério.

A imprensa, na época da divulgação das planilhas pelo jornal, andou escarafunchando a lista de contribuintes da campanha da reeleição e trouxe à baila informações preciosas. Os colaboradores ao ver seus nomes e os nomes de suas empresas publicados nos jornais não conseguiram esconder o constrangimento. Muitos deles acabaram dando informações contraditórias. A lista mais parecia um condomínio de interesses escusos. 
A maior doação constante na planilha publicada foi de R$ 3 milhões e não está registrada no TSE.

O jornal atribuiu à época essa contribuição ao então ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Andrea Matarazzo. Ele negou dizendo que não participou do grupo de arrecadadores e que apenas realizou alguns jantares com empresários. Mas, membros da equipe financeira como Bresser Pereira e o publicitário Luiz Fernando Furquim afirmam que Andrea Matarazzo fazia parte sim do grupo de coletores. Um detalhe: na planilha não consta registro da procedência do dinheiro.

O publicitário Roberto Duailibi, dono da agência DPZ, em entrevista à Folha de São Paulo, disse no primeiro momento que havia contribuído com R$ 7.500 mil. Quando ficou sabendo que a sua doação não estava registrada no TSE ligou para o jornal e disse que a empresa dele não havia contribuído com a campanha. Porém, consta na planilha que a DPZ contribuiu com R$ 200 mil. Outro publicitário, Geraldo Alonso, da agência Publicis Norton disse ao jornal que contribuiu para a campanha com serviços de publicidade. O valor do trabalho prestado pela agência dele registrado na planilha foi de R$ 50 mil. Em seguida ele negou que havia prestado serviços.


A empresa Atlântica Empreendimentos Imobiliários, da banqueira Kátia Almeida Braga, (Grupo Icatu), uma das coletoras de recursos, disse que contribuiu com R$ 100 mil e que tinha recibo emitido pelo PSDB. Esse valor aparece na planilha e não foi registrado na contabilidade oficial. Numa investida no Rio de Janeiro, Kátia Almeida Braga procurou dezoito empresários. Uma das empresa da lista era a Sacre, de Salvatore Cacchiola, aquele banqueiro do caso Marka e FonteCindan, que fugiu para a Itália depois do escânddalo financeiro. Kátia Braga conseguiu que a empresa dele doasse R$ 50 mil para a campanha.
Outra empresa que chamou atenção na lista de contribuintes da campanha de Fernando Henrique Cardoso foi a Vasp, de Wagner Canhedo, um dos acusados de integrar o esquema PC no governo Collor e que responde até hoje vários processos na justiça. A empresa de Canhedo era devedora na época de mais de R$ 3 bilhões ao governo. Canhedo doou R$ 150 mil e não consta na declaração do TSE. No caso da Vasp a lei proíbe doações, mas a direção da empresa confirmou a doação à Folha de São Paulo.


Além desses casos existem muitas outras irregularidades reveladas pela imprensa, como por exemplo, doações feitas por universidades e escolas privadas. A legislação proíbe instituições de ensino de participar de financeiramento de campanhas eleitorais, mas o presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), Edson Franco, confirmou a jornalistas que diversas instituições foram procuradas pelo ex-ministro Bresser Pereira e que várias delas fizeram doações. Ele citou a Unip, de João Carlos Di Gênio e a Faculdade Anhembi-Morumbi. Todos esses casos nunca foram investigados, o Minitério Público e o STF não se interessam por esse assunto.


A diferença do caixa dois da reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso do caixa dois das eleições municipais de 2004 é que o PT dançou, foi investigado e está sendo julgado, enquanto os tucanos e o PFL flanam na desgraça do PT. 
O deputado José Dirceu, em seu depoimento no Conselho de Ética, lembrou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse certa vez que não admitiu a instalação de CPIs durante seu governo porque sabia que uma CPI o derrubaria.


Portanto, o financiamento de campanhas eleitorais por meio de caixa-dois é uma prática conhecida e só veio a público porque parte da cúpula do PT resolveu participar da festa e se deu mal. Agora o partido está sendo ridicularizado como se fosse um penetra.

Financiamento público já!





22/09/2012

o pastor em sua tenda

olhares,rostos, corpos 

flagrei a imagem desse jovem pastor, numa feira livre de ipatinga, minas.
além da referência bíblica do bairro onde acontecia a feira (canaã)
não há como não  ligar a imagem aos poéticos versos do profeta isaías
"e o verbo se fez carne e habitou tenda entre nós" (Ìsaías, 1, 14) 

19/09/2012

por que eles têm medo do Lula?

por Emir Sader, de  carta maior

(leia também a intérmina guerra)

Lula virou o diabo para a direita brasileira, comandada por seu partido – a mídia privada. Pelo que ele representa e por tê-los derrotado três vezes sucessivas nas eleições presidenciais, por se manter como o maior líder popular do Brasil, apesar dos ataques e manipulações de todo tipo que os donos da mídia – que não foram eleitos por ninguém para querer falar em nome do país – não param de maquinar contra ele.
Primeiro, ele causou medo quando surgiu como líder operário, que trazia para a luta política aos trabalhadores, reprimidos e super-explorados pela ditadura durante mais de uma década e o pânico que isso causava em um empresariado já acostumado ao arrocho salarial e à intervenção nos sindicatos.

Medo de que essa política que alimentava os superlucros das grandes empresas privadas nacionais e estrangeiras – o santo do chamado “milagre econômico” -, terminasse e, com ela, a possibilidade de seguirem lucrando tanto às custas da super-exploração dos trabalhadores.

Medo também de que isso tirasse as bases de sustentação da ditadura – além das outras bases, as baionetas e o terror – e eles tivessem que voltar às situações de incerteza relativa dos regimes eleitorais.

Medo que foi se acalmando conforme, na transição do fim do seu regime de ditadura militar para o restabelecimento da democracia liberal, triunfavam os conservadores. Derrotada a campanha das diretas, o Colégio Eleitoral consagrou um novo pacto de elite no Brasil, em que se misturavam o velho e o novo, promiscuamente na aliança PMDB-PFL, para dar nascimento a uma democracia que não estendia a democracia às profundas estruturas econômicas, sociais e midiáticas do país.

Sempre havia o medo de que Lula catalizasse os descontentamentos que não deixaram de existir com o fim da ditadura, porque a questão social continuava a arder no país mais desigual do continente mais desigual do mundo. Mas os processos eleitorais pareciam permitir que as elites tradicionais retomassem o controle da vida política brasileira.

Aí veio o novo medo, que chegou a pânico, quando Lula chegou ao segundo turno contra o seu novo queridinho, Collor, o filhote da ditadura. E foi necessário usar todo o peso da manipulação midiática para evitar que a força popular levasse Lula à presidencia do Brasil, da ameaça de debandada geral dos empresários se Lula ganhasse, à edição forjada de debate, para tentar evitar a vitória popular.

O fracasso do Collor levou a que Roberto Marinho confessasse que eles já não elegeriam um presidente deles, teriam que buscar alguém no outro campo, para fazê-lo seu representante. Se tratava de usar de tudo para evitar que o Lula ganhasse. Foram buscar ao FHC, que se prestou a esse papel e parecia se erigir em antidoto permanente contra o Lula, a quem derrotou duas vezes.

Como, porém, não conseguem resolver os problemas do país, mas apenas adiá-los – como fizeram com o Plano Real -, o fantasma voltou, com o governo FHC também fracassando. Tentaram alternativas – Roseana Sarney, Ciro Gomes, Serra -, mas não houve jeito.

Trataram de criar o pânico sobre a possibilidade da vitória do Lula, com ataque especulativo, com a transformação do chamado “risco Brasil” para “risco Lula”, mas não houve jeito.

Alívio, quando acreditaram que a postura moderada do Lula ao assumir a presidência significaria sua rendição à politica econômica de FHC, ao “pensamento único”, ao Consenso de Washington. Por um lado, saudavam essa postura do Lula, por outro incentivavam os setores que denunciavam uma “traição” do Lula, para buscar enfraquecer sua liderança popular. No fundo acreditavam que Lula demoraria pouco no governo, capitularia e perderia liderança popular ou colocaria suas propostas em prática e o país se tornaria ingovernável.

Quando se deram conta que Lula se consolidava, tentaram o golpe em 2005, valendo-se de acusações multiplicadas pela maior operação de marketing político que o pais ja conheceu – desde a ofensiva contra o Getúlio, em 1954 -, buscando derrubar o Lula e sepultar por muito tempo a possibilidade de um governo de esquerda no Brasil. Colocavam em prática o que um ministro da ditadura tinha dito: "Um dia o PT vai ganhar, vai fracassar e aí vamos poder governar o país sem pressão.”

Chegaram a cogitar um impeachment, mas tiveram medo do Lula, da sua capacidade de mobilização popular contra eles. Recuaram e adotaram a tática de sangrar o governo, cercando-o no Parlamento e através da mídia, até que, inviabilizado, fosse derrotado nas eleições de 2006.

Fracassaram uma vez mais, quando o Lula convocou as mobilizações populares contra os esquemas golpistas, ao mesmo tempo que a centralidade das políticas sociais – eixo do governo Lula, que a direita não enxergava, ou subestimava e tratava de esconder – começava a dar seus frutos. Como resultado, Lula triunfou na eleições de 2006, ao contrário do que a direita programava, impondo uma nova derrota grave às elites tradicionais.

O medo passou a ser que o Brasil mudasse muito, tirando suas bases de apoio tradicionais – a começar por seus feudos políticos no nordeste -, permitindo que o Lula elegesse sua sucessora. Se refugiaram no “favoritismo” do Serra nas pesquisas – confiando, uma vez mais, na certeza do Ibope de que o Lula não elegeria sua sucessora.

Foram de novo derrotados. Acumulam derrota atrás de derrota e identificam no Lula seu grande inimigo. Ainda mais que nos últimos anos do seu segundo mandato e na campanha eleitoral, Lula identificou e apontou claramente o papel das elites tradicionais, com afirmações como a de que ele demonstrou “que se pode governar o Brasil, sem almoçar e jantar com os donos de jornal”. Quando disse que “não haverá democracia no Brasil, enquanto os políticos tiverem medo da mídia”, entre outras afirmações.

Quando, depois de seminário que trouxe experiências de regulações democráticas da mídia em varias partes insuspeitas do mundo, elaborou uma proposta de lei de marco regulatório para a mídia, que democratize a formação da opinião pública, tirando o monopólio do restrito número de famílias e empresas que controlam o setor de forma antidemocrática.

Além de tudo, Lula representa para eles o sucesso de um presidente que se tornou o líder político mais popular da história do Brasil, não proveniente dos setores tradicionais, mas um operário proveniente do nordeste, que se tornou líder sindical de base desafiando a ditadura, que perdeu um dedo na máquina – trazendo no próprio corpo inscrita a sua origem e as condições de trabalho dos operários brasileiros.

Enquanto o queridinho da direita partidária e midiática brasileira, FHC, fracassou, Lula teve êxito em todos os campos – econômico, social, cultural, de políticas internacional -, elevando a auto-estima dos brasileiros e do povo brasileiro. Lula resgatou o papel do Estado – reduzido à sua mínima expressão com Collor e FHC – para um instrumento de indução do crescimento econômico e de garantia das políticas sociais. Derrotou a proposta norteamericana da Alca – fazer a América Latina uma imensa área de livre comércio, subordinada ao interesses dos EUA -, para priorizar os projetos de integração regional e os intercâmbios com o Sul do mundo.

Lula passou a representar o Brasil, a América Latina e o Sul do mundo, na luta contra a fome, contra a guerra, contra o monopólio de poder das nações centrais do sistema. Lula mostrou que é possível diminuir a desigualdade e a pobreza, terminar com a miséria no Brasil, ao contrário do que era dito e feito pelos governos tradicionais.

Lula saiu do governo com praticamente toda a mídia tradicional contra ele, mas com mais de 80% de apoio e apenas 3% de rejeição. Elegeu sua sucessora contra o “favoritismo” do candidato da direita.

Aí acreditaram que poderiam neutralizá-lo, elogiando a Dilma como contraponto a ele, até que se rendem que não conseguem promover conflitos entre eles. Temem o retorno do Lula como presidente, mas principalmente o temem como líder político, como quem melhor vocaliza os grandes temas nacionais, apontando para a direita como obstáculo para a democratização do Brasil.

Lula representa a esquerda realmente existente no Brasil, com liderança nacional, latino-americana e mundial. Lula representa o resgate da questão social no Brasil, promovendo o acesso a bens fundamentais da maioria da população, incorporando definitivamente os pobres e o mercado interno de consumo popular à vida do país.

Lula representa o líder que não foi cooptado pela direita, pela mídia, pelas nações imperiais. Por tudo isso, eles tem medo do Lula. Por tudo isso querem tentam desgastar sua imagem. Por isso 80% das referências ao Lula na mídia são negativas. Mas 69,8% dos brasileiros dizem que gostariam que ele volte a ser presidente do Brasil. Por isso eles tem tanto medo do Lula.

18/09/2012

el seclanteño


dois vídeos com a mesma canção: acima o próprio pedro aznar interpreta el seclanteño.
abaixo, outra interpretação,  tendo ao fundo um pouco da paisagem da província
de salta, onde fica o município de seclantas, na argentina.

O seclantenho*
Pedro Aznar

firme como rocha
mastiga coca
e se ilumina
o seclantenho
caminha tranquilo
como o seu sonho

uma nuvem se abaixa
enquanto ele sobe
não tem pressa
o seclantenho
de pele escura
como o seu sonho

uma flor de areia
me fala de sua dor
sua dor de areia
não vale a pena
o verde vale
longe se perde
como o seu canto
o seclantenho
mastiga o seu pranto
como o seu sonho

baguala** e dor
adeus e areia
pelo caminho
o seclantenho
sem destino
como o seu sonho

*seclantenho: natural de Seclantás, norte da Argentina
**baguala:  música folclórica do noroeste da Argentina
    tradução livre: roberto soares

*********************
el seclanteño
Pedro Aznar

Cara de roca
Mastica coca
Y se ilumina
El seclanteño
Lento camina
Como su sueño

Baja una nube
Mientras él sube
No tiene apuro
El seclanteño
De pelo oscuro
Como su sueño

Zarcillo de arena
Contame la pena
Tu pena de arena
No vale la pena

El valle verde
Lejos se pierde
Como su canto
El seclanteño
Mastica el llanto
Como su sueño

Baguala y pena
Adiós y arena
Por el camino
El seclanteño
Sin un destino
Como su sueño

17/09/2012

a intérmina guerra

Apesar da moderação, das conciliações e das concessões à disforme democracia burguesa do Brasil, mesmo asssim  Lula e o PT ainda assustam e incomodam  (e muito) não apenas  às elites, mas também a setores despersonalizados, preconceituosos e efricientemente manipulados das classes médias e populares. Nessa guerra interminável - desses setores contra as tentativas de se instaurar um  novo ciclo no Brasil -  a decrépita Veja é mais vez uma acionada, como se pode atestar neste texto transcrito de Carta Maior.

A guerra da Veja contra o retorno de Lula


A revista Veja publicou neste final de semana mais uma de suas bombásticas “denúncias” contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “Marcos Valério envolve Lula no mensalão”, diz a publicação. Quase que imediatamente, os colunistas políticos de sempre passaram a reproduzir a “informação” da revista. Cristiana Lôbo tuitou sábado à tarde: “Está instalada a polêmica sobre entrevista de Marcos Valério à Veja. Diz que Lula sabia e que PT deu garantias de punição branda por silêncio”. Detalhe: não havia nenhuma “entrevista de Marcos Valério” na revista. E a própria Veja dizia isso: a reportagem foi “feita com base em revelações de parentes, amigos e associados”.

O jornalista Ricardo Noblat foi outro que passou a tarde de sábado repercutindo a “denúncia” da revista. Ainda no sábado veio o desmentido do advogado de Valério: “O Marcos Valério não dá entrevistas desde 2005 e confirmou para mim hoje que não deu entrevista para a Veja e também não confirma o conteúdo da matéria”, disse Marcelo Leonardo. Noblat não seu deu por vencido e, pelo twitter, reclamou dos termos do desmentido: “O advogado de Valério diz que seu cliente não confirma as informações publicadas pela Veja. Por que não disse que Valério as desmente?”. Entusiasmado, o imortal Merval Pereira (O Globo) afirmou em um artigo intitulado “Valério acusa Lula”: “os estragos políticos são devastadores, e nada impede que uma denúncia seja feita contra Lula mais adiante”. Merval não mencionou o desmentido oficial do advogado de Valério.

A tese do “domínio final do fato”
A Folha de S.Paulo correu para dar voz a José Serra que classificou as “denúncias” como graves e defendeu a abertura de investigações. Merval Pereira, fazendo às vezes de jurista, manifestou esperança na tese do “domínio final do fato”, que levou o Procurador- geral Roberto Gurgel a acusar José Dirceu como “o chefe da quadrilha do mensalão”. O jornalista de O Globo escreveu: “Alguns ministros do Supremo deixaram escapar, no início do julgamento, que pela tese do domínio final do fato, se a cadeia de comando não terminasse no ex-ministro José Dirceu, teria forçosamente que subir um patamar e atingir o ex-presidente Lula”.

Já o colunista político Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo preferiu explorar as possíveis consequências políticas da matéria nas eleições municipais deste ano. Ele escreveu sábado em seu blog: “Do ponto de vista jurídico, o efeito pode ser nulo. O processo do mensalão está em fase de julgamento e não serão mais acrescentadas provas. Do ponto de vista político, a reportagem da revista Veja desta semana pode ter grande impacto na reta final das eleições municipais, sobretudo nas grandes cidades nas quais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem interesse direto, junto com o PT, em garantir vitórias para alavancar a sigla em 2014”.

Merval: “nada impede uma nova denúncia”
Mais uma vez, o circuito da “informação” funcionou e o assunto ganhou ampla repercussão pelos “formadores de opinião” de plantão. O funcionamento desse circuito é um tanto peculiar. Denúncias com base factual muito forte, como aquelas relacionadas às ligações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com a revista Veja, são solenemente ignoradas. Qualquer denúncia publicada pela revista Carta Capital recebe o mesmo tratamento silencioso. Mas qualquer denúncia da Veja é rapidamente repercutida. Os jornalistas citados acima sequer se dão ao trabalho de dar alguma justificativa para esse comportamento seletivo. Ele parece estar inserido, para usar a tese cara a Merval Pereira no “domínio final dos fatos”. Mas essas observações, é claro, são carregadas de uma certa ingenuidade. Não há razões para supresas nem espantos quanto ao funcionamento desse mecanismo de repercussões.

O artigo de Merval Pereira não deixa nenhuma dúvida sobre o que seria esse “domínio final dos fatos”, ou melhor, quem seria: Luiz Inácio Lula da Silva. O site Brasil 247 afirmou, na tarde de domingo, em texto intitulado “Globo antecipa próxima etapa do golpe contra Lula”: “No seu artigo deste domingo, Merval Pereira toma como verdade a “entrevista” de Veja com Marcos Valério, já negada pelo publicitário, e avisa: ‘Nada impede que uma nova denúncia seja feita mais adiante’. Ou seja: com alguns companheiros condenados e outros presos, Lula terá uma espada no pescoço”. Em outra matéria (“Civita deflagra operação para colocar Lula na cadeia”), o Brasil 247 sustentou que o objetivo da Veja é transformar Lula em réu no STF e impedir que ele volte à concorrer à Presidência da República.
Cristiana Lôbo pede explicações a Noblat
No início da noite de domingo, Cristiana Lôbo pediu a Ricardo Noblat, mais uma vez pelo twitter, para que ele explicasse em que pé estava o assunto: “Passei o fim de semana em Goiânia e não entendo mais a polêmica sobre a não entrevista de M. Valério. Você pode me explicar @BlogdoNoblat ?” E Noblat explicou do seguinte modo (em três tuitadas sucessivas), introduzindo uma novidade, a existência de uma suposta gravação com Marcos Valério: “Veja entrevistou Valério. O advogado dele foi contra. Combinou-se de apresentar a entrevista como conversas de Valério com outras pessoas. E assim saiu a matéria. Ocorre que o advogado de Valério desmentiu que ele tivesse dito o que a Veja publicou. Aí ficou parecendo que a Veja teria inventado coisas e atribuído a Valério. Por isso a direção da revista decide se divulga a fita”.

Do ponto de vista político, a pauta da Veja, já devidamente abraçada pela oposição ao governo Dilma, parece ter um objetivo muito claramente definido. No momento em que Lula começa a voltar aos palanques, nas campanhas das eleições municipais, e em que o STF começará a julgar os réus do chamado “núcleo político do mensalão”, a tentativa é de colar uma coisa na outra. No final da noite de domingo, o Brasil 247 publicou a seguinte síntese sobre o caso, deixando um conselho para o ex-presidente Lula: “No momento em que retorna aos palanques, Lula é alvo de uma tentativa de golpe preventivo. O recado que os opositores transmitem é: “se voltar levará chumbo”. Diante do ataque organizado, o ex-presidente só tem uma alternativa, que é lutar para não ser devorado pelos adversários”.

14/09/2012

remedia amoris

Foi uma péssima ideia a de voltarmos a ver-nos.
Não fizemos mais do que trocar insultos
e culpar-nos de velhas e sórdidas histórias.
Depois foste embora, atirando com a porta
e eu fiquei sozinho, tão furioso e tão só
que não soube que fazer senão exasperar-me.
Pus-me então a beber. Bebi como os escritores
malditos de há cem anos, como os marinheiros
e bêbedo andei pela casa deserta
cansado de viver, buscando-te na sombra
para te culpar a ti por tu ires embora.
Primeiro uma garrafa, depois duas e de repente
fiquei tão mal que consegui esquecer-te.

luis alberto de cuenca  - espanha    (1950   -   )
em   rua das  pretas

12/09/2012

piscina pública

Risos
        gritos
                rumor
de conversas sobre a relva
jogadores de cartas
leitoras obstinadas
beijos
             ainda inocentes
de frescos adolescentes
bandos de garotos à beira da piscina
meninas
           flexíveis
                     como
juncos
jovens imigrantes
                         exibindo
                                    saltinhos acrobáticos

jovenzitas
mostrando a sua nudez explícita
(ninguém lhes explicou - coitadas -
que tapadas excitariam muito mais)
vaporizadores de bronzeado
que surgem
aqui
        e ali
como géiseres simpáticos

e o deus Sol que cruza lentamente o dia
dourando por igual
miúdos
gordas carecas
mamalhudas saloios
estrangeiros donas de casa condutores de domingo
mirones engatatões anoréticas culturistas
que
no final da tarde recolhem as suas coisas
cansados
                 esgotados
                                     desfeitos
sorrindo
enquanto a sombra negra dos prédios
avança inexorável sobre a água...

fernando lópez de artieta - espanha (1986    -    )
em do trapézio

08/09/2012

dragões

Chegou a hora de matar o dragão
de acabar para sempre com este monstro
de fauces terríveis e olhos de fogo.
Há que matar este dragão e todos
que à sua volta se reproduzem.

O dragão da culpa e o do espanto
o do remorso estéril, o do ódio
o que sempre devora a esperança
o do medo, do frio, da angústia.

Há que matar também o que nos esmaga
de bruços contra o chão
imóveis, cobardes, quebrados, sem raízes.

Que o sangue de todos inunde
cada parte da casa
até nos chegar à cinta.
E quando essa pilha de monstros
for só um monte de vísceras
e olhos abertos para o vazio
enfim poderemos trepar, montar-nos sobre eles
chegar às janelas, abri-las ou quebrá-las
deixar entrar a luz, a chuva, o vento
e tudo o que estava retido
atrás dos vidros.


amalia bautista  -   espanha (1962  -   )

07/09/2012

porvir

Chamam-te porvir
porque não vens nunca.
Chamam-te: porvir
e esperam que tu venhas
como animal manso
comer-lhes à mão.
Mas tu permaneces
para além das horas
agachado sabe-se lá onde.

Amanhã! E amanhã será outro dia tranquilo
um dia como hoje, terça-feira ou quinta
uma coisa qualquer, não isto
que ainda esperamos, ainda e sempre.


angel gonzález - espanha   91925  -  2008)

05/09/2012

dura lição para escritores


Acredita que pode mudar o mundo?
Não.
Então por que escreve?
Porque não o posso mudar.

albert ehrismann - suíça (1908 - 1998)
em rua das pretas

um mundo novo ou uma barbárie requentada?

Um setembro que já dura quatro anos: até quando o futuro pode esperar?
(trechos - transcrito de carta maior, 04/09)

O artigo deste domingo de FHC no 'Estadão' é uma das excrescências mórbidas de que falava o italiano comunista Antonio Gramsci. Morto em 1937, ele ensinou: o que caracteriza uma crise é justamente o fato de que 'o velho já morreu e o que é verdadeiramente novo não consegue nascer; nesse interregno, aparecem toda uma série de sintomas mórbidos”.

Que poderia haver de mais sintomaticamente mórbido nesse arrastado colapso neoliberal do que um ex-presidente tucano vir a público pontificar lições de ética, finanças e desenvolvimento tendo como régua e compasso o governo e o credo que o ralo da história digere há quatro anos?

FHC, Serra e outros valem-se do limbo pegajoso dos dias que correm para insistir em políticas e agendas condenadas, mas ainda não substituídas no plano mundial --o que dificulta a sua ruptura definitiva também no Brasil.
Debater com FHC nesse ambiente movediço traz a angústia das reiterações inúteis. 'O velho já morreu', dizia Gramsci.

Mas o novo não consegue nascer.
A quebra do banco Lehamn Brothers completa 4 anos no próximo dia 15. A falência do 4º banco de investimento dos EUA rompeu o sistema financeiro mundial e desencadeou a deriva da qual somos passageiros desde 2008.
Sugestivamente, nesta 3ª feira de setembro, começa também a convenção do Partido democrata nos EUA, da qual Obama sairá candidato à releição.
Visto como esperança de recomeço no terremoto de 2008, o democrata tornou-se ele também um ponto dentro da curva. Mais tragável que o antecessor ou o adversário, sem dúvida. Mas a nicotina mentolada de que é feito provou-se insuficiente para arejar o quadro asifixiante da maior crise capitalista desde 1929.

2008 não encontrou seu Roosevelt. E parece cada vez mais improvável que encontre um new New Deal capaz de afrontá-lo a partir do centro rico.
George Soros, o megaespeculador de cuja argúcia não se deve duvidar, declarou em recente entrevista ao El País que teme pelo desfecho político da deterioração em marcha. Sobretudo na Europa, coalhada de governos histericamente ortodoxos.

Profundamente pessimista com o futuro do euro, vítima da incapacidade alemã de assumir-se como um 'Roosevelt na UE', Soros, a 20ª maior fortuna do planeta, inquieta-se com os fantasmas que povoam seu ângulo de visão privilegiado. Um pouco como aconteceu depois da Depressão de 29, ele adverte, o salve-se quem puder será entremeado de nacionalismos econômicos e totalitarismo político.
A margem de manobra se estreita de uma ponta a outra do impasse.