27/02/2012

elisa lucinda, carnaval, futebol capixaba e o calor absurdo...

A Escola de samba Boa Vista foi a campeã do Carnaval capixaba deste ano - em Vitória, os desfiles acontecem uma semana antes. O samba enredo da escola fazia uma homenagem à poetisa e atriz capixaba Elisa Lucinda, nascida em Cariacica, mesma cidade da Boa Vista.

Vai o poema  abaixo como uma lembrança do momento - e por ser bastante apropriado para essa época do ano. Gosto do poema pela seu indelicada postura de honestidade, pela sua rasgada afronta ao politicamente correto. Afinal, não é todo dia, nestes tempos de plástico, que vemos poemas escrachadamente relacionar judeus a calores infernais - o que imediatamente remete a campos de concentração - execrar a atmosfera da 'cidade maravilhosa', lamentar a companhia de  zé pagodinhos.

E gosto também pela sua inconformada diatribe contra a estúpida impiedade do calor que se apossa do país por essa época. E que, parece, vai se tornar cada vez mais impiedoso, onipresente e planetário ao longo das próximas décadas - será que de fato seremos todos assados e 'gratinados' aos poucos?   

au gratin

fumo um cigarro fino
como um palito
o calor do Rio é ridículo
calor de chuva enrustida
calor do céu oprimido
de inferno mar resolvido
que não sabe se queima esse cara
ou o assa ao ponto
um calor filho da puta
um calor de estufa
e eu sem nem ser judia
sofro aos pouquinhos
sofro esse zé pagodinho
ardo nesse pecado que não cometi
nesse forno onde me meti
por uma apimentada dica
de um nordestino
que me mostrou uma placa citada, tinhosa:
"CIDADE MARAVILHOSA"

Eu vim.

elisa lucinda - espírito santo
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Ainda a propósito do Carnaval capixaba, talvez seja a hora de rever essa preocupação da Liga em realizar antecipadamente os desfiles de Vitória, por temer que se perca audiência por causa dos desfiles de Rio e São Paulo. Afinal os desfiles têm sido muito procurados, não falta vibração nas arquibancadas e as Escolas têm cativado o público e os seus torcedores.

E a paixão do capixaba pelo samba é autêntica, não obedece a modismos a ou a influências de televisão e  de outras mídias. Para se ter uma idéia dessa relação viva e carinhosa do capixaba com o samba autêntico e multifacetado, basta acompanhar, por exemplo, as animadas e populares apresentações de Edson Papo Furado pelos bares do Centro de Vitória, acompanhado pelo pessoal dos morros adjacentes (Fonte Grande, Piedade, Moscoso) e por muitos outros sambistas, inclusive pela promissora Fabíola Santos.

Não é uma relação alienada como no caso do futebol, na qual os capixabas parece que vibram mais do que os próprios cariocas com os grandes times do Rio de Janeiro. Nada contra, não é birra de torcedor do Galo mineiro. Ocorre que muito desse apoio e dessa vibração deveria ser dado ao próprio futebol local, que há décadas atola-se no ostracismo em termos de participação em competições de nível nacional.

E muito da cobertura e do incentivo, que  a mídia local dá ao futebol de fora, deveria ser direcionado para que os torcedores capixabas se envolvessem mais com os seus times,  com o objetivo a médio ou longo prazo de ter um ou mais times ao menos na segunda divisão do cameponato brasileiro. Enfim, a relação do capixaba com o futebol tem tudo para  ser mais autêntica,  com mais senso de identidade e  de pertencimento. Tal como ocorre com  a sua relação com o carnaval e com o samba. 
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Aliás, a mídia capixaba é muitas vezes provinciana, bairrista e com complexo de inferioridade. É um tal de jornalistas, colunistas e publicitários  colocarem em jornais que as mulheres capixabas são as mais bonitas do Brasil, que as praias capixabas são as melhores que existem, e por aí afora. Como se afirmações assim pudessem ser de fato aferidas, e como se isso fosse de fato importante na vida de um povo.

Mas, pelo menos no caso do samba e do Carnaval do ES, a mídia pode e deve realmente exaltar cada vez mais,  ajudando a construir uma percepção de que o carnaval daqui pode se mostrar de igual pra igual com Rio, São Paulo, Salvador, Ouro Preto, Olinda etc.

E que venha o próximo verão, com 'gratinados', carnaval, escolas de samba, desfiles de blocos na Jerônimo Monteiro e tudo o mais ... - que venham até mesmo as onipresentes partidas do campeonato carioca pela tevê.    

24/02/2012

genesis, de dante ixo

uma balada no estilo do velho e bom rock and roll.uma atmosfera contemporânea, com um quê de desamparo, mas ao mesmo tem-
po envolvente, ou melhor, que comove com seu romantismo
despojado e  ao mesmo tempo descarado, assumido. nestes
tempos de fragmentações e urgências, é bom se deparar de
vez em quando com trabalhos assim,  fazem  falta -
simples e fortes, honestos e expressivos. 

às vezes, quando a luz

as vezes, quando a luz cria ângulos inesperados
e te empurra de novo para a infância

e tu passas perto de uma mansão decadente
escondida por completo por salgueiros centenários

ou junto de um convento abandonado e guardado por abetos
e uma linha de pinheiros gigantes alinhados

percebes mais uma vez que por trás desse muro
debaixo da crespa cabeleira dos salgueiros

continua a existir um segredo
tão maravilhoso e perigoso

que se rastejares e o descobrires
podes morrer, ou então ser feliz para todo o sempre.
lisel mueller - alemanha  (1924 -  )

22/02/2012

o regresso

Como quem, vindo de países distantes fora de
si, chega finalmente aonde sempre esteve
e encontra tudo no seu lugar
o passado no passado, o presente no presente
assim chega o viajante à tardia idade
em que se confundem ele e o caminho.

Entra então pela primeira vez na sua casa
e deita-se pela primeira vez na sua cama.
Para trás ficaram portos, ilhas, lembranças
cidades, estações do ano.
E come agora por fim um pão primeiro
sem o sabor de palavras estrangeiras na boca.

manuel antónio pina - portugal
como se desenha uma casa, Assírio & Alvim, Lisboa, 2011

20/02/2012

a serpente

é por isso que cheguei a casa antes do previsto
e por isso subi as escadas
sigiloso
e é por isso que abri a porta
com a cópia da chave
que julgavas que eu não tinha
é por isso que viraste as costas
e me escapaste dos braços
com a destreza das trutas

é por isso que te passei uma rasteira
e caímos
os dois
ao chão
é por isso
que não fiz caso
quando entre risos me insultaste
é por isso que te desabotoei
os botões das calças
é por isso
que rocei os teus lábios
e tu abriste a boca
como se vão abrindo enquanto ardem
as rosas ou as bolas de papel

é por isso que apaguei a luz
é por isso que fiz tudo tão depressa:
para que não tivesses tempo
de preparar a tua defesa.

igor estankona - país basco (1977  -  )

18/02/2012

mil novecentos e cinquenta e três


logo no primeiro ano
estou só
e não me consigo manter de pé.

se suspeitasse sequer
que iria ser assim para toda a vida
não me riria
com estas gargalhadas
cristalinas.

amadeu baptista - portugal

(a foto acima é do próprio autor: http://www.blogger.com/profile/13873137814159518851)

16/02/2012

discurso de noivado após o jantar

Este eu, um recipiente, que
desde que ninguém o abra
parece compacto, liso
como um ovo Kinder
quase apetitoso. Somente lá
no interior, está escuro. Quem sabe
o que estará dentro, à tua espera.
Obsessões, sem dúvida
hábitos enferrujados
medos incompreensíveis
truques em segunda mão
desejos infantis.

Que tu a desejes ter
a esta prenda embrulhada
roça o milagre.

hnas magnus enzensberger - alemanha

14/02/2012

jirau continua explosiva: morre um trabalhador

Aproximadamente à 01 hora da madrugada de hoje o operário da Camargo e Corréia na Hidrelétrica de Jirau, Josivan França Sá foi atingido por um disparo nas proximidades da rodoviária do distrito de Jaci Paraná (Porto Velho). Jocivan, natural do município de Pedro do Rosário, no Maranhão, de 24 anos, estava trabalhando no canteiro de obras da Hidrelétrica de Jirau, onde teve a função de sinaleiro e ultimamente de armador de ferragens. Ele faleceu desangrado após receber um disparo que atingiu uma artéria no pescoço.

Jocivan, que estava alojado dentro do canteiro de obras de Jirau, durante o domingo tinha ido almoçar e lavar a roupa em casa de parentes. Segundo companheiros, ele não bebia e aquela noite tinha tomado somente uma garrafa de suco. Mais de 300 pessoas estavam esperando desde às 11 horas da noite a chegada dos ônibus do último turno, que não chegaram. Alguns ônibus que passavam pela estrada não quiseram parar. Revoltados alguns operários tentaram interditar com madeiras a BR 364. Chegou uma viatura da polícia, que mandou retirar as madeiras da estrada. Chegou uma segunda viatura e começou um confronto de trabalhadores com a polícia, que utilizou gás pimenta e teria atirado nos operários revoltados.

Segundo seus amigos, Josivan não participava do confronto e estava a uns cem metros do local onde estava a polícia quando caiu no chão atingido por um disparo. Diversas testemunhas recolhidas no local relatam que mais outro operário estava caído na chão e que por tanto foram dois os atingidos, porém não temos mais informações sobre o que aconteceu com o segundo atingido nem sobre a identidade dele. Ainda posteriormente a polícia utilizou balas de borracha contra os operários revoltados e outras pessoas resultaram feridas e sangrando. 
Jocivan com grupo de operários de Jirau
Diversos parentes de Jocivan moradores das proximidades foram avisados da morte dele. O corpo dele já teria sido liberado pelo IML e na Funerária Dom Bosco estava sendo preparado para ser enviado ao Maranhão.

Segundo testemunhas, o uso de gás pimenta pelos policiais contra operários é habitual, e os operários reclamam de ser agredidos pela polícia diariamente. Também é habitual acumular muitas pessoas para utilizar no último ônibus que passa em Jaci Paraná para o canteiro de obras. Este último domingo os ônibus somente chegaram depois do violento confronto.

A CPT e a Pastoral dos Migrantes tem repassado as informações para autoridades, Ministério Público Federal, Estadual e do Trabalho e jornalistas de Porto Velho. Existia temor de que por estes fatos uma nova revolta violenta tomasse conta do canteiro de obras da Usina de Jirau.

(divulgado por Rede Alerta contra o deserto verde e transcrito de cpt rondônia)

13/02/2012

grécia, frança, egito, portugal: tragédias e resistências

E prossegue a árdua caminhada do povo grego rumo à soberania e à dignidade.
Desde dezembro de 2008, esse povo tem dado mostras de uma admirável persitência na luta contra a imposição de medidas arrogantes e antidemocráticas, que visam descaradamente salvar os créditos que, supostamente,  os grandes bancos do  sistema financeiro internacional teriam o direito de receber do governo da Grécia. 
O que está de fato por detrás da dívida grega não é de fácil entendimento. Antes de aceitar o veredicto simplista, que coloca a culpa da cise numa suposta vocação do povo grego para a gastança irresponsável, é preciso debruçar-se sobre dois fatores fundamentais: a forma como foi implantado o Euro, beneficiando principalmente França e Alemanha, em detrimento dos países mais fracos da Europa e o poder descabido dos sistema financeiro internacional. Os textos abaixo mostram mais uma capítulo dessa admirável resistência do povo grego.     
É  fundamental acompanhar e contribuir, seja de que forma for, para uma vitória da luta popular do povo grego, pois ela terá importantes consequências não apenas para  a Grécia e para a Europa, mas para todos os povos do planeta. Poderá simbolizar o início de uma reviravolta no embate dos povos contra a irracionalidade do atual sistema econômico e político, poderá ser a primeira vitória concreta de um povo contra  a cada vez mais perigosa irracionalidade do capitalismo.
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Saindo do plano das moblizações de rua para o campo institucional:  mesmo que não ocorra uma  revolução de verdade na Grécia, com a tomada de poder por parte dos movimentos populares e partidos efetivamente de esquerda, ainda assim é possivel antever uma vitória das forças populares nas eleições de . Veja em Atenas arde...
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Uma outra resistência que começa a se desenhar, também na Europa, é a do povo francês. Embora as manifestações populares, que lá ocorreram nos dois últimos anos, não tenham tido a magnitude, a regularidade e o ardor daquelas da Grécia, há a possibilidade de que o povo francês eleja um candidato socialista.
É claro que o histórico recente do Partido Socialista francês não permite confiar muito numa ruptura radical com o neoliberalismo,  mas pelo programa e pelas posturas do candiato socialista François Hollande, talvez venhamos a ter medidas concretas que possam, finalmente, fazer a segunda potência da Europa vir a romper com as políticas econômicas e sociais que ainda tentam, a todo custo, salvar essa decadente mas cada vez mais perigosa forma de capitalismo. 

O texto  O giro à esquerda... traz iformações sobre a atual situação política e eleitoral da França  e o texto França, da esquerda à direita faz uma breve, mas instrutivo e realita panorama da história das lutas populares em terras francesas, da  Revolução de 1789 até chegar à capitulação recente dos socialistas ao neoliberalismo.
É aguardar para ver o que acontece em maio.
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E não se pode esquecer a também admirável luta do povo egício. Embora fosse preferível que o povo egípcio voltasse às ruas por outro motivo, que não uma resposta à trágica e impiedosa chacina no estádio de futebol, visando os torcedores do Ahly, chacina  certamente arquitetada por uma obscura articulação de militares, conservadores e interesses capitalistas europeus-americanos no Egito. Afinal, as torcidas organizadas tiveram, têm e terão um papel fundamental nas lutas populares do Egito. Veja em As torcidas organizadas e a revolução egípcia.

Ainda sobre o Egito,  Desvelar já publicou, entre várias outras postagens, tahrir-uma-praca-feita-para-revolucao.html   e   o-povo-egipcio-resiste.html
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E por fim, mas não menos importante, em Portugal  o povo começa a consolidar a sua resistência, que começou em 2011: Portugal vive maior protesto dos últimos trinta anos.

Anonymous: diretor fala sobre filme

A entrevista abaixo, transcrita da FolhaOnline, é muito interessante. A ressalva é de que poderia  ter um foco mais amplo, situando as ações do Anonymous no contexto da Rebelião Global que se espalha pelas ruas do planeta afora, não se reduzindo apenas a ativismo virtual nos países ricos mergulhados na crise do Capital. Ou seja, a entevistadora poderia politizar mais as espetaculares ações desse ousado movimento, que a cada dia se fortalece mais na internet,  e fora dela.
Mas já seria moralismo ingênuo e imaturo exigir isso, e logo da Folha de São Paulo, afinal não são as bandeiras de um movimento revolucionário que uma empresa privada de comunicação  tem que defender.

Leia entrevista com o diretor de 'We Are Legion', filme sobre o Anonymous
"O Anonymous é uma nova forma de cultura. E uma muito, muito poderosa." Quem diz isso é Brian Knappenberger, 41, diretor de "We Are Legion - The Story of the Hacktivists" (nós somos legião - história dos hackers ativistas), documentário norte-americano sobre o grupo ativista.

O filme foi exibido pela primeira vez no mês passado, no festival Slamdance, em Park City (EUA), e terá sessão no South by Southwest, em Austin (Texas), em março. Ainda não há estreia prevista no Brasil --país onde "há, certamente, uma forte presença" de membros do Anonymous, segundo Knappenberger.
Em conversa com a Folha, o diretor conta como procurou e abordou os ativistas e revela suas opiniões sobre o grupo. Leia, abaixo, a entrevista com Knappenberger.

Folha - Como você achou esses integrantes e os convenceu a aparecer no documentário?
Brian Knappenberger - Bem devagar. Levou um certo tempo para conseguir a confiança. Conheci frequentando os lugares que eles frequentam, que são os canais de IRC [Internet Relay Chat, protocolo para troca de mensagens e outros dados em tempo real] e os fóruns na internet. Comecei o documentário faz pouco mais de um ano. Quando o Anonymous atacou a MasterCard, a Visa e o PayPal, comecei a pesquisar, bem devagar, e começamos a conhecer pessoas on-line.

Como foi que eles toparam aparecer?
Há os que já estiveram presos e voltaram. E há outros que já tiveram suas identidades reveladas por alguém e dizem que não fazem mais ações ilegais; estes não se preocupam tanto quanto os outros. Há algumas pessoas que, claro, aparecem atrás das máscaras e são bem preocupadas em ser identificadas.

Continua falando com eles?
Sim, tenho contato com muitas pessoas. Mas não sou um membro do Anonymous, não carrego a bandeira. Sou um jornalista independente, sempre olho para o assunto da posição "o que é esta cultura?". É um dos fenômenos culturais mais interessantes da história recente.

Brian Knappenberger, produtor e diretor do documentário "We Are Legion: The Story of the Hacktivists"
Brian Knappenberger, produtor e diretor do documentário "We
Are Legion: The Story of the Hacktivists"
Por quê?
O Anonymous é uma nova forma de cultura. E uma muito, muito poderosa. Muitas coisas não são novidades. Hacking não é novidade, nem hacktivismo [mistura de hacking e ativismo], há muitos exemplos disso nos anos 90 e até mesmo nos 80. Desobediência civil tem uma longa tradição pelo mundo, assim como a figura do "joker" [coringa, piadista]. Mas, se você combinar tudo isso com o número cada vez maior de pessoas on-line nos últimos dez anos e o conforto que temos em nos comunicar on-line e em dividir volumes de informações pessoais... Combine tudo isso, e temos uma cultura nunca antes vista.
Você os retrata como revolucionários no filme. Mas e quando eles liberam informações como cartões de crédito de pessoas comuns? Como separá-los dos hackers comuns?
Focamos no grupo de ativistas hackers que usam esses sistemas de computador para fazer uma manifestação política sobre liberdade de expressão e liberdade de informação on-line. De fato, algumas vezes eles liberam informações privadas de usuários ou cartões de crédito. Mas o fazem de forma bastante barulhenta, pública, é uma provocação. Os hackers conhecidos como "black hats" [chapéus pretos] são bem diferentes. Você nunca ouve falar sobre eles, estão sempre tentando roubar o máximo possível antes de serem pegos e se mantêm completamente silenciosos sobre como entraram nos sistemas. Há uma separação, pode ter certeza.

Qual a importância do julgamento dos membros do Anonymous envolvidos nos ataques a PayPal, MasterCard e Visa [feitos em represália ao corte de serviços ao WikiLeaks em 2010]?
É muito importante. É basicamente um referendo sobre nosso direito de protestar on-line. Acho que um "sit-in" [forma de protesto no qual os manifestantes ocupam um local e ficam sentados de forma pacífica até serem retirados] no mundo real é a principal maneira que as pessoas usam hoje para fazer uma manifestação política. E o Anonymous defende a versão on-line disso. Não significa que não deveria ser ilegal. Num "sit-in" na vida real, você pode ser preso e até passar a noite na cadeia e pagar multas de US$ 250. Mas esses reús do PayPal enfrentam até 15 anos de prisão e multas de US$ 250 mil. É louco. Não é que eles não estivessem fazendo um ato ilegal. Atos de desobediência civil normalmente são mesmo ilegais. Mas a punição deve ser adequada ao crime.

No filme, os integrantes são chamados de muitas coisas: hooligans, terroristas, filhinhos da mamãe etc. Como você os descreve?
Eles são tudo isso e mais [risadas]. O que é chocante sobre o Anonymous é que pode ser um grupo bem diversificado, do mundo todo, de idades diferentes, de ambos os sexos. Muitas vezes nem eles sabem as identidades dos outros. Mas eles têm meio que uma personalidade coesiva e um certo tipo de objetivo. Eles brigam muito entre si sobre o que fazer, que tipos de ataques são apropriados e tal. O Anonymous não é unânime. Frequentemente pessoas discordam de um ataque que outro membro quer promover. Há uma discussão muito forte.

Protesto em Paris contra o Acta (Acordo de Comércio Anticontrafação), que propõe medidas contra falsificação
Protesto em Paris contra o Acta (Acordo de Comércio Anticontrafação),
que propõe medidas contra falsificação

Como vê o desenvolvimento do grupo neste começo de ano?
Eles estão muito poderosos agora. Alguns desses ataques que vimos recentemente [janeiro] estão aumentando de tamanho. Os ataques contra a Motion Picture Association of America [associação dos estúdios de cinema], a Recording Association of America [associação das gravadoras de música], a BMI, a Universal, o Departamento de Justiça, essas investidas foram gigantes, talvez as maiores que já vimos.

E por que eles são tão obcecados com gatos [memes criados no site 4chan ]?
É verdade, é engraçado. Vem de uma piada antiga. As pessoas diziam no começo da internet que ela só prestaria para pessoas postarem fotos de gatos. É o clássico meme da internet. Foi assim que começou. Eles aparentemente amam essas piadas com gatos.

As pessoas que você entrevistou estavam nos EUA ou tinha gente fora do país? Talvez alguém da América do Sul?
Acho que não... Olha, na verdade, eu nem sei exatamente onde algumas pessoas estavam quando fizemos a entrevista. Mas o Anonymous está no mundo todo. Com certeza na Europa. Há, certamente, uma forte presença no Brasil. Difícil dizer um país no qual não haja uma presença do Anonymous de alguma forma.

Pretende fazer um acordo de distribuição do filme ou deixar cair na internet de graça?
Estamos vendo, não sabemos ainda. Em algum ponto vamos provavelmente liberar. Queremos lançar de uma forma que seja consistente com a temática do filme, mas claro, queríamos pelo menos pagar pelo documentário. Não fazer dinheiro em cima, mas queremos fazer de uma forma responsável.

imagens e textos transcritos da folha online
por Fernanda Ezabella, de Los Angeles

09/02/2012

greve na bahia - a luta popular deve dar carta branca para os trabalhadores da polícia? - parte 2

(Caso ainda não tenha lido, veja aqui a primeira parte do texto)

Nem ingenuidade, nem masoquismo
 Há uma argumentação de que, apesar dessas contradições, ou mesmo por causa delas, seria preciso construir uma unidade com os trabalhadores da repressão. Afinal, esses seriam momentos - em que eles experimentam as  mesmas dificuldades, pressões e repressões dos demais trabalhadores - únicos e fertéis para desconstruir sua condição de meras peças do aparato repressivo e, ao mesmo tempo,  despertar neles a  condição de agentes da resistência e da trasnformação política, tal como qualquer categoria.

Pode até ser que proceda um pouco essa argumentação, pode até ser que uns e outros policiais e lideranças despertem para essa consciência e se abram para uma posterior formação política e um engajamento mais amplo, para além de questõesde salários e/ou profissionais.

Mas sabemos que, com relação ao grosso da "tropa", não é isso o que ocorre.
Depois que cessa o movimento, com uma derrota, uma vitória parcial ou total de suas demandas, o que ocorre? Nada, tudo volta ao normal no cotidiano dos policiais: a repressão, a violência, a truculência e, muitas vezes,  a promiscuidade com o crime organizado e com os mecanismos clandestinos de repressão às populações marginalizadas e aos movimentos sociais.

Não há nenhum desdobramento concreto com relação à consciência política dos agentes da repressão - se alguma mudança há, ela fica ao nível da subjetividade, ou do ardor da luta. As engrenagens da estruturas do poder fazem com que tudo volte rapidamente ao normal.

A aliança da luta popular com os trabalhadores da repressão é uma aliança fadada ao fracasso, pior, fadada ao ridículo e à ingenuidade, já que toda  uma história e toda uma legitimidade é colocada a serviço de uma categoria profissional que, por essência, existe para reprimir essa mesma luta popular - e cada vez com mais brutalidade, despreparo e arrogância, com estamos vendo nesse início de 2012.

Sem falar que é uma categoria incumbida de se infiltrar na luta popular, deturpando e confundindo essa luta. Enfim, além da sensação de ridículo e de ingenuidade, para a luta popular fica também um cheiro de traição e de masoquismo nessas alianças com os trabalhadores da repressão.

Nem autoritarismo nem traição
Por último, o risco da arrogância e do autoritarismo. Sem cair no
legalismo burguês-capitalista, de impor limites às mobilizações populares, apoiar ações como a da Bahia, com seu despreparo e seu desrespeito à população, significa que o movimento popular daria uma Carta Branca para que ações assim se repitam toda vez que os trabalhadores da repressão resolvam fazer suas mobilizaçãoes salariais e/ou profissionais - aliás, mesmo neste momento já se corre esse risco, já que outras mobilizações estão programadas pelo país afora - lembrando que a motivação maior dessas mobilizações está na pressão pela aprovação da PEC 300.

E lembrando também que essa Carta Branca aos trabalhadores da repressão certamente  um dia se voltará contra a própria luta popular, pois por sua própria natureza conservadora os trabalhadores policiais sempre tenderão a agir e pensar em sincronia com as forças da ordem capitalista.

E, nesse caso, até mesmo um governo socialista ou democrático-popular, legitimamente constituído, corre o risco de que ssa Carta Branca se volte contra ele. Exemplos assim não faltam: o governo do povo do Chile na época de Allende, o governo do povo da Venezuela na época de Chávez, entre outros.

Provando do próprio veneno
Aliás, uma vítima dessa Carta Branca está sendo o próprio governo progressista da Bahia - afinal lideranças e militantes do PT deram total apoio aos policiais da Bahia, nas mobilizações de 2001, acreditando certamente que esatriam contribuindo para uma postura política mais transformadora da parte desses policiais. Não parece que isso tenha acontecido, não se vê muitos policiais engajados concretamente na luta popular.

O governador Jacques Wagner deve estar sentindo como é amargo experimentar do próprio veneno. Não deixa de ser uma lição para partidos de esquerda e para movimentos populares envolvidos no proceso eleitoral deste ano: não vale a pena apoiar mobilizações assim, visando desgastar o governo de plantão. O feitiço vira contra o feiticeiro, e numa escala às vezes maior e mais perigosa.

Com certeza que um dia os governos do PT serão encostados contra a parede: ou farão avançar o processo de transformação das estruturas de poder no Brasil, ou serão alvo de inevitavel enfrentamento do movimento popular - um enfrentamento implacável, mas também lúcido e generoso, amadurecido e responsável, articulado com as camadas populares, ao contrário do que estamos vendo na Bahia  e talvez presenciemos em outros estados do Brasil nos próximos dias.

rede alerta: em busca da integração das lutas populares

No dia 28/01, sábado, a Rede Alerta contra o Deserto Verde reuniu-se. O encontro foi na sede do Sindicato dos Bancários, centro de Vitória.

A Rede Alerta surgiu no Espírito Santo,  no ano de 1998, com a proposta de fazer a denúncia e o enfrentamento contra os malefícios provocados pelas monoculturas, mais especificamente a monocultura do eucalipto, que é a praga ambiental que mais afeta o Espírito Santo - que está sendo transformado num verdadeiro deserto verde, para usar a  famosa expressão do biólogo capixaba Augusto Ruschi, daí o nome do movimento. 

O movimento cresceu, atraindo militantes e comunidades afetadas pelas monoculturas de estados vizinhos: Minas, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e outros mais distantes.  Houve inclusive um encontro de caráter nacional, em 2005, com presença de militantes de 06 estados.

A Rede Alerta não tem, até o momento, nenhuma Coordenação eleita formalmente, nem estatuto definindo hierarquias e atribuições, ou seja, não é uma entidade no sentido técnico, é mais, como o próprio nome diz, uma rede informal, horizontal e autônoma de movimentos populares. Acabou-se constituindo como uma espécie de articuladora de diferentes movimentos do campo e da cidade. Assim quanto mais intensas as atividades dos movimentos campo/cidade, mais intensa a demanda pelas  ações da Rede Alerta, e vice-versa.

Pode-se dizer que, até 2005, houve uma atividade mais intensa da Rede, já que até então havia uma maior mobilização por parte dos moviemntos populares. Com o relativo descenso das lutas populares, verificado nesta década, também a Rede passou a  ser menos solicitada, o que não significa que ela tenha perdido em o seu ímpeto e os seus objetivos.

Outro fator lembrado no encontro foi o caráter propositivo da Rede Alerta ao longo desses anos, ou seja, as suas ações não se reduziram a  apenas fazer denúncias contra os danos da monocultura e do poder econômico que se alimenta dessa monocultura, houve também propostas de soluções, projeto , alternativas  concretas para as comunidades mobilizadas.

No encontro de sábado, falou-se muito da necessidade de uma maior organização interna da Rede, pricipalmente com a aprovação e divulgação de uma espécie de Carta de Princípios e com a eleição de uma Coordenação Executiva.  Isso, em princípio, daria mais visibilidade e credibilidade à Rede, o que permitiria uma  presença mais intensa e mais articulada junto aos movimentos populares.

Mas,  por ora, de concreto o que a plenária da Rede Alerta definiu foi um  novo encontro, em 24 de março, para se dar mais legitimidade a essas iniciativas. A proposta é de um reunião mais ampla, em nível estadual e com a contribuição de militantes de outros estados. O local ainda será definido e outros detalhes do Encontro estão sendo debatidos em reuniões abertas, a  primeira tendo acontecido no dia 03/02, na UFES, conforme comunicado enviado pela Rede aos participantes do Encontro de 28/01,  e que reproduzo abaixo. Quem se interessar por mais informações escreva para helgomes@uol.com.br.

Mensagem da Rede Alerta
"Companheiros
Devem ter observado que temos novas companhias nesta Lista. Várias pessoas que ainda não haviam participado de nossas atividades apareceram na última reunião, sábado, a qual contou com a presença de 24 militantes. Fizemos alguns exercícios em grupo e propomos entre outras coisas, um encontro estadual da Rede Alerta, para o dia 24 de março próximo, com contribuições de convidados/as daqui e de outros estados. A pauta básica será a organização de uma agenda de atividades e distribuição de atribuições em torno da integração das lutas populares, especialmente aquelas voltadas para o combate à expansão dos grandes investimentos do capital, para a denúncia de seus prejuízos socioambientais e para a difusão da solidariedade e do intercâmbio entre as comunidades atingidas. A proposta é convidarmos os movimentos populares e as representações das comunidades em luta na atualidade capixaba para a construção de uma mobilização comum no campo e na cidade. O formato do encontro ficou como objeto de um grupo de trabalho, que se reunirá na UFES-CCJE, no dia 03/02, às 16 horas."

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Essas preocupação da Rede Alerta, em colaborar para uma maior integração das lutas populares, é muito benvinda, num momento oportuno, quando se discute até mesmo um postura mais engajada - na luta pelas transformação das estruturas de poder - até mesmo para o Fórum Social Mundial, que ocorreu agora em janeiro, em Porto Alegre. Oportunamente, esse blog trará alguns textos acerca dessa discussão sobre o papel do FSM.

08/02/2012

greve na bahia: a luta popular deve dar carta branca aos trabalhadores da polícia? - parte 1

Trabalhadores das polícias são mais trabalhadores do que os outros trabalhadores?

Não são mais, nem são menos trabalhadores.
Além da greve dos policiais militares na Bahia, há ameaça de paralisação em Brasília, Rio de Janeiro e também aqui no Espírito Santo. No governo federal, no Congresso e nos meios de comunicação já se fala abertamente aquilo que já se suspeitava, a partir da da radicalização do movimento: que a motivação maior da greve é a de pressionar para que o Congresso e o governo apóiem a PEC 300, que estabelece um piso mínimo nacional no valor de R$ 3.500,00 para os policias militares.
Óbvio que, enquanto pais, esposos, filhos, mesmo servindo ao aparato de repressão, esses trabalhadores fazem jus à solidariedade e ao respeito que todo trabalhador, ou melhor, que toda pesssoa merece. Não são culpados de execer a, sejamos honestos, execrável e indesejável tarefa de vigiar, reprimir e ajuda a punir, que certamente não existirá no mundo digno e pleno para o qual a humanidade busca caminhar - ou pelo menos não existirá na mesma magnitude e no mesmo volume e com a mesma aceitação.

Mas a questão, para o movimento popular, é a legitimidade e a sinceridade de fazer a defesa dessa categoria profissional, quando os agentes da repressão fazem suas reivindicações de forma extremada, tal como estão fazendo os policiais militares da Bahia: associar-se a a setores marginalizados para simular pânico e desordem como forma de pressão em cima do governo, incendiar ônibus que levavam crianças, ocupar a Assembléia Legislativa armados.

Ora, fosse uma ação de qualquer entidade do movimento popular, num contexto de enfrentamento decisivo contra as forças da ordem (traduzindo: num contexto de revolução popular) nem num contexto assim tais ações se justificariam - espelhariam um movimento imaturo, desorganizado, desvinculado das camadas populares.
Que dizer então de ações assim, quando tem como objetivo apenas reivindicar melhorias salarias, por mais justas e urgentes que elas venham a ser? E quando é que trabalhadores e militantes populares tiveram o direito de fazer as suas reivindicações portando armas nas ruas, atirando para o alto, como já aconteceu várias vezes ao longo dos anos nas mobilizações dos trabalhadores do aparato repressivo?

Ficam duas perguntas: 1 - para convencer a sociedade da justeza de suas reivindicações é preciso portar armas, amedrontar, demonstrar força? e 2 - supondo-se que isso de portar armas em mobilizaçãoes fosse respeitoso, maduro e inteligente, então os trabalhadores da repressão teriam mais direitos do que os outros trabalhadorres, já que somente eles têm acesso legal às armas?

Leia aqui a segunda parte

rap do ônibus

06/02/2012

o mca de vitória...

...e os urgentes dilemas da luta popular planetária

Aqui em Vitória, nesta semana do Dia Nacional de Luta, que ocorrerá em 09 de fevereiro, prosseguem as atividades do Movimento Contra o Aumento. Várias atividades estão programadas para a semana.

Na verdade, neste ano tem havido novamente tentativas de uma ampliação do Movimento Contra o aumento, ou seja, um maior envolvimento e articulação de outras entidades do movimento popular - associações de moradores, sindicatos, professoes etc - já que até então as mobilizações têm ficado restritas aos estudantes universitários e secundaristas.

Mas as articulações para esse maior envolvimento não têm avançado, tal como ocorreu no ano passado. No dia 18 de janeiro, houve uma primeira reunião, bastante animada e com participação de muitas entidades, e depois disso não se teve avanços.

Tudo indica que tem havido resistências por parte dos estudantes mais combativos e de suas representações; talvez temam que uma coordenação ampliada e plural possa desvirtuar os rumos do movimento ou fazê-lo perder a sua natureza horizontal, autônoma e descentralizada. Afinal, sabem que em qualquer entidade, em qualquer movimento popular, a maioria de seus membros, ou pelo menos a maioria de suas lideranças, está, de um jeito ou de outro, ligada a algum partido, ou projeto partidário.

É preciso reconhecer que essa preocupação tem razão de ser. Afinal, no mundo inteiro (com os movimentos Ocupa nos EUA e no Brasil, com os Indignados na Europa, com as revolats dos povos árabes) está sendo gestada e praticada uma nova forma de militância política - mais espontânea e transparente, mais criativa e aguerrida, e que resgata um elemento fundamental: a democracia direta, sem hierarquias, burocracias e militâncias passivas.
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Na realidade, essa é uma discussão que já vem desde o ano passado: até onde haverá real eficácia - em termos de transformação das estrututras politicas e econômicas - nessas diferentes e aguerridas formas de mobilização? Elas trazem realmente a semente das lutas do futuro, ou seja as lutas populares terão que aderir a essas novas formas, sob pena de se tornarem obsoletas, inócuas?

Ou os vibrantes movimentos que explodiram em 2011 são apenas um momento enriquecido da história dessas mesmas lutas populares e, nesse caso, têm que ter a humildade e a lucidez de dialogar com outras formas de luta, mais organizadas, disciplinadas e objetivas (dialogar no sentido de aprender e também de ensinar, ou seja, fazer com que as formas tradicionais de resitência avancem, superem seus vícios e oportunismos)?

E é preciso lembrar que aqueles que de fato fazem as mobilizações pelo transporte público em Vitória, e talvez em várias cidades do país, trazem consigo essa postura libertária, que ao mesmo tempo inova e resgata.

Por outro lado, as lutas populares estão retornando a um momento de maior combatividade, maior organização e, principalmente, maior integração, na tentativa de construção de uma pauta e de uma agenda comuns. Algumas ações integradas: o Fórum Social Mundial, A Rede Alerta contra o Deserto Verde, aqui do ES, o próprio Dia Nacional de Luta Cntra o Aumento Tarifário, as mobilizações dos Atingidos por Barragens, dos ativistas do Fórum de Mídia Livre, as ações programadas para ocorrer em junho de 2012, durante a Rio + 20.

E esse rico e urgente momento pede que todas as formas de luta reflitam um pouco mais nas suas limitações e nos seus vícios, nos seus nas contradições e nos seus oportunismos. Afinal, a barbárie se instala, a cada dia mais ameaçadora, entre nós, como resultado direto das contradições em que o capitalismo se enreda atualemnte - a cada solavanco, a cada sintoma de sua  crise estrutural, o capital procura saídas cegas e irracionais que vão afetando, sufocando, massacrando, pessoas, relações, vidas, projetos, e o próprio planeta.

É urgente  o amadurecimento e a integração de esquerdas, movimentos, resistências.
Com a palavra, a história.

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A propósito, no artigo Lições de Janeiro, no qual Tarso Genro propõe rumos para o Fórum Social Mundial,  há algumas palavras bastante oportunas a respeito dessa necessidade de una luta comum:

"Nenhuma das grandes demandas sociais, ecológicas, culturais-nacionais, étnico-nacionais, econômicas e financeiras dos “movimentos” e dos partidos de esquerda, poderão ser cumpridas, com certa abrangência e qualidade, se o império do capital financeiro insaciável, sobre os estados, não for derrogado pela política. A revolução nacional-democrática dos anos 60 deve ser substituída pela revolução internacional democrática, global, para libertar os estados do jugo do capital financeiro: eis um dos temas que o Fórum Social Mundial poderia tratar, sem exigir que as forças que o compõem percam a sua natureza e especificidade."

"O grande problema do Fórum é a possibilidade, primeiro: do isolamento dos movimentos sociais, em relação ao curso das lutas políticas reais, que se travam no interior da estrutura estatal, no âmbito dos poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário -; e segundo: o isolamento dos partidos concretos, realmente existentes, em relação aos movimentos sociais. Eles estão nos sindicatos e nas instituições de representação da sociedade civil e também estão nos próprios movimentos, carentes de agenda política universal. Esta transição, dos movimentos para o coração do Estado, através da política, é o verdadeiro desafio revolucionário do nosso tempo e o Fórum Social Mundial deve uma contribuição para a solução deste enigma, sob pena dele esgotar-se numa estética de protesto sem causa política dotada de universalidade."

agora é no brasil inteiro

Dia NACIONAL de luta contra o aumento tarifário!


Neste ano, Teresina foi a primeira a cidade a chamar  atenção, em escala nacional, para manifestações populares contra as tarifas de ônibus abusivas, contra a má qualidade do transporte público  e contra a falta de transparência nas concessões desse mportante serviço para a iniciativa privada.

Logo em seguida foi a vez de Vitória do Espírio Santo, que já tinha dado aguerrida demonstração de enfrentamento em junho de 2011(esclarecendo que essas não foram as primeiras cidades a realizar  as mobilizações neste ano,  como se pode ver aqui).

E, agora, dando sequência a este efervescente início de 2012 (efervescente não apenas em relação à luta pelo transporte público), o movimento se articulou em nível de Brasil, como o objetivo de construir o Dia NACIONAL de luta contra o aumento tarifário!.

Ao que tudo indica, essa proposta de uma mobilização unificada não surgiu de nenhuma entidade ou nenhum movimento específico; foi, mais uma vez, uma articulação efetivada  e divulgada através das redes sociais presentes na internet, Facebook principalmente.

Vale registrar uma iniciativa interessante, e que não ficou somente em mobilizações promovidas pela rede virtual: na cidade de Guarulhos (Grande São Paulo) o movimento pelo transporte público realizou, já no ano passado, um plebiscito popular sobre a questão, que com certeza deve ter envolvido diversas entidades dos movimentos sociais e populares, além de grande parte da população, é claro. Sem dúvida, uma excelente tática para que o movimento não seja visto como iniciativa apenas de estudantes.

Mais informaçõessobre o plebiscito, contato pelo facebook com Thiago Santos, de Guarulhos.

mab convoca para dia de luta

Mais um momento da luta popular, neste 2012 que já começou vibrante.

14 de Março: Dia internacional de luta contra as barragens,
pelos rios, pela água e pela vida
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) convoca todas as entidades, organizações, pastorais, redes, ativistas e movimentos sociais a inserirem-se e nos ajudarem a realizar as mobilizações que marcarão o Dia Internacional de Lutas Contra as Barragens, pelos rios, pela água e pela vida, na jornada do 14 de Março.
(email enviado por Rede Alerta contra o Deserto Verde)

Leia mais aqui: dia-internacional-luta-contra-barragens-pelos-rios-pela-gua-e-pela-vida

05/02/2012

noturno de belo horizonte

O chope não me traz o desejado esquecimento
Os insetos morrem de encontro à lâmpada
Ou se açoitam no sofrimento destas rosas secas.
Vem do Montanhês este ar de farra oculta,
Bem mineira, e um trombone, atravessando
A pensão "Wankie", próxima à Empresa Funerária,
Acorda os mortos desolados na Rua Varginha.
Uma lua muito calma desce do Rola-Moça
E se deita, magoada, sobre os jardins da Praça,
O telhado do Mercado Novo, o bairro da Lagoinha.

Tísicos bóiam que nem defuntos na solidão
Dos Guaicurus. O próprio noturno de Belo Horizonte
Tem lá suas virtudes: nas pensões mais imorais
Há sempre um Cristo manso falando à Samaritana.
As mulheres do Norte de Minas, uma de Guanhães,
Duas de Grão-Mogol e três da cidade do Serro
Mandam ao ar esta canção intolerável
Que aborrece até mesmo o poeta Evágrio.
Pobre Evágrio, perdido na estação de Austin.
Triste e duro como uma garrafa sobre a mesa.

Entanto nada indica haja tiros, facadas, brigas
De amantes na Rua São Paulo, calma e sem epístolas.
O Arrudas desce tranqüilo, grosso e pesado,
Carregando cervejas, fetos guardados, rótulos de
Farmácia, águas tristes refletindo estrelas.
Tudo, ao depois, continuará irremediavelmente
Como no princípio. Somente, ao longe,
Na solidão de um poste, num fim de rua,
O vento agita o capote do guarda.

dantas mota - carvalhos, minas gerais
"planície dos mortos" (1945)

04/02/2012

entre mergulhos

Entre mergulhos
uma pedra rasa salta três vezes
na água.
E assim se divide
assim se parte
o rio. A infância
dum lado. Do outro
a terra firme
onde isto se passou.
pedro meixa - portugal

03/02/2012

uma semana de cerco à Rede Bobo:

um novo marco na luta popular?

O primeiro protesto contra a Rede Globo aconteceu no dia 20 de janeiro, em São Paulo - veja aqui.
O segundo protesto - este mais marcante e emblemático - completa uma semana amanhã. Trata-se da greve de fome, em frente à sede da emissora de televisão, levada a cabo pelo cineasta Pedro Rios Leão, o mesmo que documentou a barbárie de Pinheirinhos.

Independente dos desdobramentos desses duas primeiras ações de enfrentamento contra o símbolo da manipulação e da alienação no país,  fica a gratificante constatação de que a resistência popular começa a mirar alvos mais mais amplos, começa a transformar, em atos concretos de enfrentamento,  aquilo que sempre foi sabido, mas que nunca pode ser colocado em prática: que os sustentáculos dos mecanismos de dominação, que devem ser enfrentados, desmascarados e superados, não são apenas os parlamentos, as forças repressivas, o aparelho judiciário,  mas  também, e talvez principalmente, o aparato de comunicação ligado a esses mecanismos de dominação.    

Nesse sentido, essa solitária e oportuna Greve de Fome de Pedro Rios talvez venha a se tornar um marco da luta popular no Brasil,  demarcando o momento em que a resistência popular ousou mirar horizontes mais amplos e  radicais.
Radicais, no sentido de ir de fato à raiz dos problemas do povo, quando se constata que todas as outras instâncias foram esgotadas, no sentido de pura e simplesmente ir para as ruas, para mostrar aos comandantes dos mecanismos de dominação que, finalmente, é chegado o momento de os povos do planeta inteiro terem a sua real parcela de poder e de responsabilidade nos rumos de sua história, da história da humanidade e da história do planeta.

Segue o vídeo com a entrevista de Pedro, algemado em frente à sede da Rede Globo. E, em seguida, uma ótima reportagem e transcrição de trechos da referida entrevista,  feita por Ana Tavares para quem tem medo da democracia?

Pinheirinho, Pedro e a Globo
por Ana Helena Tavares
Quarta-feira, 1º de Fevereiro de 2012, o cineasta Pedro Rios Leão, que esteve em Pinheirinho (São José dos Campos – SP) documentando tudo, está em seu 4º dia algemado e em greve de fome em frente à Rede Globo. Ele protesta contra a omissão da mídia que acobertou a barbárie. O site “Quem tem medo da democracia?” foi lá conversar com ele (vídeo acima).

Pedro tem tido sempre a companhia de diversos outros jovens. Tem sido muito bem tratado pelos pedestres, comerciantes e já até recebeu visitas cordiais de alguns funcionários da Globo. Contou também que um Tenente esteve lá, dizendo-se a mando do governador do RJ, e deu pra ele um número de celular para que ele o ligasse caso alguém o tentasse tirar de lá.

Formação marxista e “apartidarismo”
Com formação marxista, segundo ele “rígida”, porém “muito mais acadêmica do que ativista”, Pedro nunca militou em nenhum partido político. Vestido com a camisa 10 de Zico, comemorativa pelo título mundial do Flamengo, em 81, ele disse ter feito esta escolha “na tentativa de mostrar apartidarismo”.

Apenas participou do movimento “Ocupa Rio”, de vertente apartidária, que ele define como tendo sido “um protesto contra o capitalismo e a enganação que é a democracia representativa, um sistema baseado em abuso de poder econômico, tráfico de influência e força bruta”.

Considera que “estamos passando por um período de graves rupturas econômicas, entre elas a concentração de renda que se tornou absurda, com a exploração inegável e massiva do mercado privado, onde o assédio moral é implícito. No mundo inteiro a política de mercado livre falhou e criou monstros capazes de engolir governos. Em 1916, o Thomas Jefferson falou que ‘os bancos são mais perigosos que todos os exércitos ativos do mundo’”.



A sociedade não pode se fazer de “tadinha”
Segundo ele, há uma “quadrilha que controla o país há muito tempo, formada por banqueiros, empresários, congressistas…” E não adianta só reclamar, porque garante: “O Congresso liberal é feito para ser um balcão de negócios. Se são essas as pessoas que legislam, evidentemente as leis vão proteger os negócios corporativos.”

E vai mais fundo: “Há uma postura muito ruim da sociedade civil de acusar a polícia, o congresso e o governo de corrupção, como se a sociedade fosse cândida e passiva. Tadinha! Eu acho que está na hora de as pessoas relacionarem o sistema corrupto que elas sustentam com a preguiça e omissão delas de exercerem os seus direitos políticos. Não existem forças legalistas ou malvadas dentro do governo ou de um partido. Dentro de qualquer estrutura, seja partidária ou sindical, existem pessoas que aplicam a lei e outras que empregam práticas capitalistas”

A luta não é jurídica, é política
Pedro exemplifica: “O Daniel Dantas já teve pedido de prisão decretado algumas vezes, mas alguns juízes insistem em mantê-lo livre, baseados no absurdo descontrole que existe sobre o poder judiciário no Brasil. Então, as pessoas tem que se conscientizar de que não existe um sistema em funcionamento, existe uma guerra encarniçada, política, dentro do aparelho de Estado, que só vai se resolver para o nosso lado a partir do momento em que a sociedade civil intervir”.

A revolução da tecnologia de informação
“Hoje, a gente pode se comunicar, se expressar, mostrar as coisas. A pulverização da mídia beneficia e agrada o consumidor. As pessoas estão largando a televisão, um quadrado que fala sozinho, para se envolverem em debates”. E ele vê isso tudo positivamente: “Gera benefícios gigantescos na sociedade”.

O Caso Pinheirinho
Para Pedro Rios Leão, que presenciou o drama vivido em Pinheirinho, nem o governo nem a justiça nem a polícia vão aplicar a lei. Assegura que a única “força política” capaz de fazer isso é a sociedade civil. E explica porque resolveu ir até lá: “Quando eu estava aqui no Rio de Janeiro e já acompanhava a disputa política entre o Naji Nahas e seus braços no poder judiciário de São Paulo e o governo paulista contra o governo federal, eu já estava muito preocupado. Eu fui para lá na segunda-feira (23/01, dia seguinte à desocupação), mas antes eu vi o pacto federativo sendo rompido, soube que a Polícia Federal tinha sido expulsa a tiros e o Paulo Maldos (secretário nacional de articulação social da presidência da República) havia sido baleado.”
Se Marechal Lott fosse vivo…
“Se a gente tivesse um único general legalista neste país, se Marechal Henrique Teixeira Lott fosse vivo, isso não teria acontecido. Porque o que aconteceu é muito mais grave que uma questão da esquerda. Eu acho que um militante do Jair Bolsonaro consegue entender que a Polícia Militar não pode atirar na Polícia Federal. Por mais de direita ou conservador que você seja, você fica irritado quando mostram que estão te fazendo de otário, que mentem descaradamente na sua cara”.

As mortes e a ocultação de corpos
Pedro acredita que as provas de sequestro e ocultação de cadáver são “inencontráveis”, mas sustenta que há mortos. E vai mais longe: ”Qualquer um que pise em São José dos Campos, sabe disso”.

02/02/2012

mais fascismo: já é o ovo da serpente no brasil...

... e bem debaixo das 'barbas' da companheirada do PT?

Em mensagem divulgada pela Rede Alerta contra o Deserto Verde, e publicada ao final desta postagem, segue mais uma denúncia de desocupação brutal por parte das forças de repressão.

Dessa vez feita pela Polícia Federal, a mesma que prendeu, sem amndado judicial,  um professor universitário da UNIR - Universidade Federal de Rondônia, que participava de uma manifestação da categoria. Veja o vídeo abaixo:


Definitivamente, está se tornando preocupante essa rotina de brutalidade e truculência com que estão sendo tratadas as mobilizações e ações de resistência de movimentos e pessoas que tentam lutar por seus direitos e por seus princípios.
Essa espécie tolerância zero para com aquilo que não se enquadra, para com aqueles que ousam levanatr a cabeça, pode ser um perigoso passo em direção ao fascismo institucionalizado.
É realmente preocupante: afinal ao longo do 2011, e nesse breve início de 2012, foram tantas as ações repressivas despropositadas ou mesmo ilegais: em Jirau, em Vitória, na USP (duas vezes, contando o como caso doe studante negro), em Rondônia, em Pinheirinhos, no Centro de São Paulo e, agora  na Bahia - somente para citar  as que vêm de memória.

O mais preocupante é que não se pode imputar essa brutalidade e truculência apenas aos governos de partidos conservadores. Este terceiro mandato do PT porecisa estar mais atento a essas situações, para que não corra o risco de ficar na história como o Partido que - apesar de todo um histórico democrático-popular antes de chegar ao governo, e apesar de vários avanços progressistas, mesmo que não no grau desejado - permitiu que se chocasse o "ovo da serpente" do fascismo no Brasil.

Abaixo a mensagem divulgada  pela Rede Alerta. A ação da Polícia Federal em Olivença (próximo a Ilhéus) se deu nesta manhã de quarta-feira.
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Mais uma ação violenta no Povo Tupinambá de Olivença
Estamos todos aterrorizados!!!!
Hoje em mais uma ação da Policia Federal de Reintegração de posse no Povo Tupinambá de Olivença houve grande pânico na Aldeia Tucumã na Ba 001, Acuipe de Baixo.
Os Policiais Federais chegaram fortemente armados, aterrorizando os indígenas presentes, ameaçando inclusive prender menores tupinambá.

Foram destruídas 15 casas de alvenaria, 05 casas de madeiras, e muitas Ocas de palha. Hoje são mais de 20 famílias sem terem onde morar. Crianças, anciões e grávidas que não sabem onde irão morar.

Conversei com vários indígenas que afirmam que a polícia usou de violência moral, perguntando inclusive se eles eram realmente indios, Quem são eles para dizer quem é ou não indígena?
Assunto:
URGENTE POLÍCIA FEDERAL INVADE ÁREA INDÍGENA E AGRIDE TUPINAMBÁ

HOJE QUARTA- FEIRA 1º DE FEVEREIRO, ÁS 6:00 HORAS DA MANHÃ A POLÍCIA FEDERAL INVADIU Á COMUNIDADE DO ACUÍPE DE BAIXO HÁ 30 KM DE ILHÉUS ONDE ESTAVAM VÁRIAS FAMÍLIAS EM ÁREA DE RETOMADAS, E COM TODA VIOLÊNCIA DEBAIXO DE CHUVA ENTROU NAS CASAS E TIROU A FORÇA, CRIANÇAS DE ATÉ I ANO E MEIO, ADOLESCENTES, IDOSOS ETC... E COLOCOU NO CAMBURÃO, UM DOS ÍNDIOS POR NOME DE CRISPIM E OUTRO POR NOME DE NAILTON FORAM ALGEMADOS POR QUE COMEÇARAM A TOCAR O MARAKÁ E CANTAR MÚSICAS DE RITUAL "PORANCIM" E AMEAÇARAM A PRENDER DUAS LIDERANÇAS QUE AINDA ESTÃO DENTRO ESCONDIDOS, O PROBLEMA É QUE ELES TAMBÉM JÁ DERRUBARAM ALGUMAS CASAS E LOGO VAI PRENDER MAIS PESSOAS QUE ESTÃO AINDA ESCONDIDAS.

SEGUNDO O UM DOCUMENTA QUESE A PRÓPRIA POLÍCIA TEM RELATOU QUE ESSA AÇÃO VAI SE ESTENDER A TODAS AS RETOMADAS DO LITORAL, TABA JAYRY, TUPÃ, ITAPOÃ E SYRYÍBA.

NESSE EXATO MOMENTO ALGUMAS PESSOAS ESTÃO ALOJADOS NA ESCOLA E OUTRAS ESTÃO DETIDAS DENTRO DE UMA DAS CASAS. ATÉ AGORA NENHUMA INSTITUIÇÃO CHEGOU PARA ACOMPANHAR E APOIAR, A FUNAI, CIMI, APOINME.....O ESTADO É GRAVE E A POLÍCIA SE FAZ PRESENTE COM A INTENÇÃO DE PRENDER MAIS PESSOAS E USA E ABUSA DA AUTORIDADE

ATENCIOSAMENTE

NÁDIA AKAUÃ - LIDERANÇA TUPINAMBÁ

retratos da barbárie 2: peluzo e a justiça popular, a grávida algemada e o povo do egito

Cezar Peluso, presidente do STF, alerta que um país que denigre o seu Poder Judiciário é um país suicida, um país que corre o risco de voltar aos tempos da barbárie. A fala do jurista  aconteceu ontem,  na abertura do ano Judiciário, e é uma clara referência à sessão que julga as ações impetradas, pelas entidades dos juízes, contra o poder de investigação do CNJ em relação a esses juízes.

Parece um típico caso de ideologia, ou de má-fé, tal como Sartre entendia esse conceito. Pois, há uma clara inversão da realidade, a favorecer aquele que se sente atacado, ou que sente atacada a sua 'nobre' categoria profissional, em prejuízo da verdade dos fatos.  
Ora, a barbárie ja aí está há muito. E uma barbárie para cuja consolidação e manutenção as práticas autoritárias, arrogantes e obscuras do Poder Judiciário muito contribuem - sem falar, é claro, das leis que estão a serviço da engrenagem de poder, sem falar da 'Justiça' que, no estado capitalista, é um dos aparatos de dominação, etc etc. 

Ora, quando se pede um mínimo de controle social, através do CNJ,  para cima desse Poder arrogante, autoritário e obscuro - para que esse Poder possa colaborar mínima e concretamente na redução dos danos da barbárie, que aí já está - vem o o seu mandatário maior e faz essa chantagem patética com a sociedade civil. Mal imagina esse jurista que, no novo mundo que os povos buscam construir,  a tal da Justiça será rigorosa e democraticamente  acompanhada e adminsitrada, através do controle popular.

Ainda veremos um tempo em que presidentes de tribunais, desembargadores, procuradores, juízes etc, serão escolhidos pelo poder popular, e não terão, necessariamente, que ter diplomas de Direito e afins.
Afinal, as leis e todo o arcabouço jurídico serão outros, também serão fruto da construção popular e, como tal, qualquer um, em princípio, poderá ser escolhido ou aprovado pelas instâncias populares para  exercer a  tarefa de ajudar a julgar, conciliar, decidir - ajudar , já que tais tarefas certamente não ficarão ao arbitrário critério de uma só pessoa. A propósito dessa Justiça Popular, ou comunal, ela vem sendo implantada pelo povo boliviano nos governos de Evo Morales.

Enquanto isso, é preciso tolerar essas constrangedoras sandices do presidente do STF, frutos da ideologia, no sentido de Marx, e da má-fé, no sentido de Sartre. Resumidamente: a má-fé reflete os engenhosos mecanismos pelos quais a consciência do indivíduo permite que ele se veja tal como ele precisa se ver, para justificar para si e para os outros suas escolhas no mundo, independente do valor moral dessa escolhas. Percebe-se a estreita afinidade que tem com o conceito de ideologia, pelo qual classe e indívíduos justificam para si e para os outros as suas posturas políticas e morais na sociedade, no cotidiano e na história. 

Já a propósito da barbárie que aí já está, dois entre tantos e tantos exemplos: a parturiente algemada no hospital (veja aqui) e o  espantoso confronto entre torcedores de futebol no Egito (veja aqui).
Num, as forças repressivas do Estado cumprm a sua tarefa de vigiar e punir a qualquer custo e de qualquer forma aqueles que são o produto atual das práticas de dominação ao longo da história - escravidão, corrupção, JUSTIÇA INEFICAZ, autoritarismo,  apropriação do trabalho coletivo pelos cretinos, medíocres e vazios representantes 'elitistas' das classe dominantes, etc etc.

Noutro, o resultado trágico de uma explosão do povo do Egito, certamente provocada  pela opressão dessas mesmas classes dominantes e seus cretinos, medíocres e vazios representantes 'elitistas' etc, etc. Opressão cujos mecanismos militares, políticos, ideológicos e JURÍDICOS ainda não foram eleiminados na milenar terra do povo egípico, em que pesem as fantásticas  e gratificantes mobilizações de seu povo ao longo de 2011.

Mas, certamente, para o togado  Sr Peluso, esses retratos da bárbarie não são, em nenhum momento, resultado das ações e omissões do seu Poder Judicário, que, na sua visão,  se encontra tão seriamente 'ameaçado' pela 'barbárie' do controle popular. 


Veja também

01/02/2012

amanhã, ato público contra o fascismo

Ato no Pinheirinho abrirá agenda de lutas após o FST 2012
Assembleia dos Movimentos Sociais, que reuniu 1,5 mil pessoas na Usina do Gasômetro, sábado, em Porto Alegre, aprovou realização de um ato público no terreno desocupado do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), no dia 2 de fevereiro às 9 horas. "Vamos fazer um grande ato na próxima quinta-feira (2) em repúdio a esse governo fascista de Geraldo Alckmin, que não respeita a democracia nem os movimentos sociais”, disse Rosane Bertotti, representante da CUT e coordenadora da assembleia. Leia mais em
e em
http://www.jb.com.br/pais/noticias/2012/01/31/mst-participa-de-ato-publico-em-defesa-dos-moradores-do-pinheirinho/

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o exército popular e a luz do mundo

Abaixo, uma surpreendente imagem, no momento em que os ocupantes do bairro Pinheirinhos (São José dos Campos, SP) se preparam para resistir a uma eventual desocupação, a ser feita com a brutalidade de sempre por parte das forças de repressão.  

Moradores do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), preparados para resistir a reintegração de posse na última sexta-feira (13) (Nilton Cardin/Folhapress)

Isso é que se pode chamar de um verdadeiro exército popular de libertação: a precariedade
 e a fragilidade insistindo, resistindo, sustentando a tarefa que todos nós temos, ou  deveríamos ter, de construir neste planeta uma morada digna, e ao mesmo tempo
fazer desta vida uma  exercício de plenitude, generosidade  e lucidez; lucidez vem
de  luz e "vois sois a luz do  mundo",  já lembrava o  poeta-andarilho da Galiléia
que, há milênios, já semeava a revolução transcendente no mundo. 
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Embora tenha acompanhado atentamente a barbárie que foi a desocupação do Pinheirinho, por motivo de viagem não pude postar textos e imagens.
Na verdade, tinha preparado o texto e a imagem acima antes de viajar, para publicar em momento oportuno, em momento de celebração da vitória por parte dos moradores do Pinheirinho.

Não imaginava que a luta do Pinheirinho tivesse esse desfecho trágico e fascista, afinal a Justiça Federal dava respaldo a uma solução negociada, ou minimamente solidária.

Mas, ainda assim, e talvez em razão mesmo desse fascismo declarado, creio que vale a sua publicação. Fica ainda mais forte como símbolo de luta, resistência e perseverança. Lembrando que a imagem foi divulgada mais ou menos uma semana antes da barbárie do Pinheirinho, e o meu breve comentário escrito no dia 19.01.2012.

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Numa demonstração de lucidez, de indignação e de resistência ao fascismo, foram publicados à exaustão textos, manifestos e análises acerca dos episódios de Pinheirinhos e da expulsão dos moradores de rua do Centro de São Paulo. Entre tantas e gratificantes apresentações, separei dois interessantes textos (que inclusive têm afinidades nos seus títulos, lamentavelmente realistas)  que desnudam os reais motivos, tanto da desocupação do Centro de São Paulo, quanto da barbárie de Pinheirinhos: