20/03/2013

razões de um participante

Podemos carregar a infância
levá-la pela estrada até ao centro
das praças onde gritam.
Ninguém a vai pisar
e o que tivemos é apenas nosso
conforma-nos o rosto.

Isso não faz sentido, dizem.
Os que assim falam
não sabem que o presente
é passado e futuro
e que todo esse tempo nos completa
se o levarmos connosco
tentando ser alguém nas praças cheias.   

nuno dempster   - portugal  (1944  -   )

18/03/2013

fardas e batinas

A barbárie aconteceu na Argentina,  aconteceu no Brasil, aconteceu em tantos lugares da América Latina...
E  a Igreja Católica sempre esteve presente nesses países e nesses acontecimentos, de um lado ou de outro...

Por isso é importante relembrar, neste momento histórico em que um cardeal latinoamericano foi eleito papa... Com ele a Igreja irá se redimir de seus erros, com ele a Igreja irá ajudar a Latinoamérica, a Europa, o próprio mundo, enfim ajudará de fato o homem  a superar suas limitações e contradições, enquanto criatura ainda distante de se tornar de fato o "sal da terra", "luz do mundo" ?

Abaixo, um trecho de Carta Maior, relembrando:

"Na 6ª feira, dois dias depois, como relata o correspondente de Carta Maior, Eduardo Febbro, direto do Vaticano, o porta-voz da Santa Sé reclamou do que classificaria como ‘acusações caluniosas e difamatórias’ envolvendo o passado do Sumo Pontífice.

Em seguida atribui-as a ‘elementos da esquerda anticlerical’.
Alvo: o ‘Página 12’ .
Com ele, seu diretor, o jornalista Horácio Verbitsky, autor de um livro sobre o as suspeitas que ensombrecem a trajetória do cardeal Jorge Mário Bergoglio, durante a ditadura argentina.
A cúpula da Igreja acerta ao qualificar o ‘Página 12’ como ‘de esquerda’ – algo que ostenta e do qual se orgulha praticando um jornalismo analítico, crítico, ancorado em fatos.

Mas erra esfericamente ao espetá-lo como ‘anticlerical’.
O destaque que o jornal dispensa ao tema dos direitos humanos não se restringe ao caso Bergoglio."

Leia na íntegra

17/03/2013

vida


Não sei
o que querem de mim essas árvores
essas velhas esquinas
para ficarem tão minhas só de as olhar um momento.

Ah! se exigirem documentos aí do Outro Lado
extintas as outras memórias
só poderei mostrar-lhes as folhas soltas de um álbum de imagens:
aqui uma pedra lisa, ali um cavalo parado
ou
uma
nuvem perdida
perdida...

Meu Deus, que modo estranho de contar uma vida!

mario quintana  - brasil  (1906  - 1994)

um pouco de paz


Crianças que acordam
Mulheres que lavam roupa de manhã
Homens que escrevem poemas s o b r e:


Crianças
              que acordam


Mulheres
              que lavam roupa de manhã


Homens
              que escrevem poemas


wolf biermann - alemanha (1936 -    )

13/03/2013

só para relembrar: quo vadis pedro?



Claro que não é culpa da Igreja Católica a persistência da contradição entre, de um lado, a opulência, o luxo e a ostentação e, de outro, a miséria e o desamparo.

Ocorre que a tarefa, a razão mesma de ser da Igreja Católica é, ou deveria ser, fazer aquilo que estivese ao seu alcance para que, de fato,  a história humna pudesse progredir dialeticamente rumo à superação de estruturas  que se alimentam dessa contradição.

Afinal, a Igreja, mais do qualquer outra instância humana, vem se propondo, ao longo de milênios já, a ser a guardiã do testemunho do poeta-peregrino da Galiléia, a Igreja se propõe a não deixar que a "luz do mundo" se apague.

E neste momento de eleição de um novo papa, é oportuno lembrar a iamgem abaixo, só para não esquecer que, se depender do Poder de Roma, parece que a "luz do mundo" continua correndo sérios riscos de se apagar, ou de se enfraqueceer perigosamente. Quo vadis, Pedro?    

"O PÃO QUE SOBRA À RIQUEZA 
REPARTIDO PELA RAZÃO 
MATAVA A FOME À POBREZA 
E AINDA SOBRAVA PÃO"
imagem compartilhada do face de claudia.madeira











papa francisco: de novo mais do mesmo?

Há temas ou situações que, apesar do espetaculoso que as cerca,  não precisam de um caminhaõ de palavras paar sewrem dissecadas, explicadas, compreendidas satisfatoriamente, memso que não esgotadas completamente - afinal quase nada o é.

E, infelizmente (mas no fundo, como era de se esperar) a eleição do novo papa, se feita por observadoress de viésprogressista, é uma dessas situações que um bom texto desnuda, sem necesidade de pirotecnias verbais e intelectuias.
E, se corretas as suas afirmações factuais acerca do novo papa, o texto de Laerte Braga, abaixo transcrito,  cumpre com   presteza e inventividade essa tarefa de reduzir o fato a suas devidas proporções.

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E DEU MARADONA
Laerte Braga

Excesso de virtudes, na visão do escritor inglês Aldous Huxley, não significa compreensão da vida em sua essência, em seu sentido e em sua razão de ser. Pode significar orgulho, pode levar a pessoa a um afastamento gradativo da realidade, como pode significar mesquinharia.

Jorge Mario Bergoglio, o cardeal argentino eleito papa, Francisco, não é mesquinho e nem alheio à vida, isolado da realidade. Suas virtudes são políticas. É um dos mais duros críticos do governo da presidente Cristina Kirchner, foi protocolocar na condenação à ditadura naquele país e a despeito do voto de pobreza, vive dentro do sistema, mantém a igreja atrelada a conceitos medievais, agora, recheados com uma camada de chantili para dar a impressão de modernidade, ou tornar-se palatável. Por baixo dessa camada não existe marrom glacê, mas um osso duro de roer e à direita, dentro dos padrões do Vaticano.

Bergoglio não chega, necessariamente, a ser uma surpresa. No conclave que escolheu Ratzinger foi o segundo mais votado. Chegou ao Vaticano com um cacife eleitoral razoável. Sobre o brasileiro Odilo Scherer leva a vantagem de ser dissimulado (isso conta para a hipocrisia de Roma).

As mudanças serão de estilo e não de fundo. Deve tentar influir politicamente em seu país, nunca escondeu e de forma pública sua aversão tanto a Néstor Kirschner, quanto a sua mulher Cristina. A despeito de críticas a economia de mercado, nunca manifestou um ponto de vista conclusivo, apenas circundou os problemas de seu país, mais ou menos como faziam os antigos políticos do ex-PSD do Brasil. “Nem contra, nem a favor, muito antes pelo contrário, revendo meu ponto de vista.

No caso específico não estava e nunca esteve revendo nada. Exceto no que diz respeito a presidente Cristina.
Entre suas virtudes escondidas, o poder. A busca do poder é uma de suas características. Lembra João Paulo II, um produto de marketing. Sorri, enquanto sangram nos porões da monarquia absoluta que é a igreja, os seus adversários.

É jesuíta, uma ordem tradicionalmente conservadora e que durante muito tempo ignorou ou manteve-se alheia ao poder de Roma. Seu superior era chamado de “papa negro”. Começou a perder essa característica quando João Paulo II pôs fim a ela. Submeteu os jesuítas, fundado por Santo Inácio de Loiola um militar espanhol.
Um sujeito comum que só tenha virtudes é, em si, um chato. Um papa virtuoso é o sinal que latino-americanos terão problemas com as ingerências do Vaticano em questões políticas, principalmente, em países que buscam a independência plena, sem o controle de Washington.
Não há mudança alguma na igreja. Um novo showman foi eleito para gerir o Vaticano.

Essa é outra vantagem sobre o brasileiro Odilo Scherer. A falta de jogo de cintura, que sobra no argentino. No fundo são iguais. Ao dizer que os homossexuais “merecem respeito”, não está nem de longe discutindo o problema. Esta mantendo o estigma, a hipocria bem conhecida nos documentos secretos do papa anterior. Ao ser contra o aborto está deixando claro que nenhum dos dogmas férreos da Idade Média serão substituídos, ou revistos, apenas atenuados no discurso. Mas as câmaras de injeções letais do Vaticano continuarão nos cantos soturnos dos palácios papais do Vaticano.

Franciso talvez garanta a igreja uma sobrevida depois do fiasco Bento XVI. Mas só isso.
É uma espécie de canto da sereia, só isso. Ilude o pescador e o leva para o fundo do mar no atraso crônico de uma instituição em estado falimentar. Isso quer dizer perigo. Vem respaldado por forças conservadoras que podem causar estragos ponderáveis, sobretudo na América Latina, principalmente na Argentina.
Está longe de ser um Maradona, um Néstor Rossi, um Alfredo Di Stéfano.
E um detalhe, ironia ou não, o jornal brasileiro dedicado aos esportes, LANCE, chamou na edição de hoje, quarta-feira, antes da escolha de Francisco, o jogador argentino Lionel Messi de papa. Foi pelo desempenho no jogo de terça-feira contra a equipe da Milan.

Francisco não é uma incógnita. É a continuidade do atraso da igreja romana. Sua dimensão pode ser, inclusive, a de enfrentar os evangélicos, grupo de malucos que tenta roubar a primazia do contato divino que sempre foi privilégio do Vaticano.