03/07/2013

rumo à superação do medo, da barbárie e da estupidez

Em mais um dia histórico, em mais um grandioso ato de rebelião e ação política, cerca de 100 manifestantes ocupam neste momento (manhã de 03/07/2103) ocupam o gabinete da Presidência da Assembléia Legislativa do Espírito Santo, como forma de pressão popular  pelo fim da cobrança do pedágio da Terceira Ponte (Vitória – Vila Velha).

É mais uma ousada ação de um movimento que na verdade se iniciou em junho de 2011 (na verdade antes, mas não há espaço aqui para minúcias históricas – consulte MPL nos googles da vida) com as lutas estudantis contra os abusos e precariedades dos gerenciadores do transporte público da Grande vitória.
Mas é também mais um passo ousado e vitorioso rumo à lenta, incerta, complexa mas cada vez mais inadiável construção de uma movimentação planetária. Pois este nosso movimento é parte de um movimento mais amplo, é capítulo de uma história maior e muito mais grandiosa.

A Rebelião de Junho no Brasil vem se somar à Rebelião no Ocidente, que, nesta década, teve seu início mais marcante, ou mais visível, com as ousadas e pioneiras lutas do povo grego em 2008. Depois a Rebelião foi se espalhando: mundo árabe, Espanha, Portugal, França, Estados Unidos e alimentando, ou inspirando,  a criação dos acampamentos Ocupa pelo mundo afora, inclusive no Brasil.  
Nesses dois anos, têm havido avanços e recuos na Rebelião. E, no mais das vezes, essa Rebelião tem se manifestado por motivos e demandas localizadas, específicos de cada região ou país, enfim, seria aparentemente uma Rebelião localizada, não global, não-planetária.

Mas a verdade é, que sem tirar o seu caráter concreto e sem questionar de forma alguma a sua sustentação em demandass localizadas, essas lutas refletem um momento muito mais grandioso, no tempo e no espaço.
Elas se inscrevem na rota das lutas libertárias, que deram seu grito mais articulado, criativo e ousado na década de 60. Não se trata de defini-las como continuidade ou como devedora da Contracultura da década de 60 – isso são questiúnculas.

O que importa é tentar entender as possibilidades de que essas lutas do século XXI venham a se tornar  a concretização ( ou ao menos um avanço fantástico) de todos aqueles sonhos, utopias e projetos dos companheiros e companheiras que vieram antes de nós:  anarquistas, comunistas, libertários, maoístas,  hippies, guerrilheiros, Teologia da Libertação  - e tantos outros que não chegaram a se constituir como corrente ou movimento reconhecido, ou que sequer foram vistos como militantes e ativistas, mas que, na sua maneira humilde  e anônima,  sonharam, lutaram e acreditaram na possibilidade concreta de um OUTRO MUNDO, um verdadeiramente ADMIRÁVEL MUNDO NOVO.

Certamente continuarão a haver avanços e recuos, brotarão contradições e aparentes incoerências nesses movimentos espalhados pelo mundo, haverão esfriamentos e explosões. Mas tudo obedecendo a uma lógica própria, a lógica da revolta contra o modo de vida imposto por esse projeto de civilização, ou uma revolta contra esse projeto de civilização, o qual já cumpriu o seu papel histórico e mesmo transcendente, mas que precisa ser imediatamente superado por um outro projeto de civilização.

Precisamos entender de vez a grandeza e complexidade de nosso tempo: neste início de século entramos definitivamente em um tempo de batalhas, de combates - ou melhor, um tempo de combater o bom combate. Sem tréguas, sem ilusões, sem ideologias estreitas e presunçosas. Sem a exigência e a  ansiedade de certezas que não poderão ser dadas por nenhum “especialista”, acadêmico, militante ou liderança. Por um longo tempo tudo estará em aberto, em construção, tudo serão avanços e recuos, afirmações  e negações – no melhor estilo da verdadeira e corajosa dialética.

A única certeza é a de que todos esses movimentos convergirão para um só ponto, uma só estrada:  a estrada da superação do mundo velho e da construção do mundo novo. A única certeza é que essa rebelião e essa movimentação planetárias são simplesmente inevitáveis, sob pena de a humanidade, num tempo não muito distante, perder em definitivo a sua própria alma – perdê-la para o erro, o medo e a estupidez.     
A única certeza é a de que não  é tarde nem cedo demais. É simplesmente o momento ofertado pela História, construído pelos homens.
Momento construído para propormos a interrupção do projeto de conquista do Ocidente, para colocarmos em outras bases o projeto do Homem sobre a mágica  e carinhosa face da Terra.

Para isso, é inevitável  a construção da Greve Mundial, planetária, global: ocupar praças, ruas, campos e cidades. Parar o Ocidente e colapsar o Capitalismo, para então reorganizarmos a nossa marcha planetária.
Somente assim superaremos o erro, a tragédia e a barbárie que já nos envolvem, com sua plastificação dos espíritos, dos desejos e das vontades, disfarçada e sustentada por   seduções tecnológicas, por falsas necessidades e por violências e inseguranças pré-fabricadas, ou pelo menos bastante convenientes à manutenção desse estúpido mundo  velho.  

Às ruas, às ruas!!!
Não há mais tempo nem necessidade de minúcias ideológicas, de ultrapassadas disputas à esquerda, de sofisticações acadêmicas.

Há sim tempo e necessidade de ação, de debates e projetos lúcidos, de estratégias adequadas, de ações amadurecidas, e tudo sempre com o olhar fito no horizontes das ruas, das praças, das estradas, nos campos e nas cidades – o resto são véus fabricados pelo medo, pela impossibilidade de lucidez e pela perda da crença na poesia e na grandiosidade   da vida, do mundo e do homem  e do Cosmos.

Cosmos para com o qual o ser humano tem a tarefa de viver como ‘luz do mundo’ e “sal da terra”, humilde e frágil, mas também  alegre e corajosa.



Roberto Soares, bacharel em Filosofia e editor do blog Desvelar

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Desde 2008, venho publicando textos sobre a Rebelião no Ocidente. Quem quiser ler procure à direita do blog, no link “Rebelião no Ocidente”. Veja também textos sobre as ações de junho de 2011 em Vitória. Alguns links:

um fascinante caminho...
a romaria do sonho
o mca de vitória...
nunca duvide