28/08/2013

um grito (cada vez mais) vivo



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Já no seu 19° ano, o Grito dos Excluídos das pastorais da Arquidiocese de Vitória, neste ano, vai ocorrer novamente num bairro de periferia (parece que já pela terceira vez)  e não mais nas proximidades dos desfiles oficiais de 07 de setembro, nem em  avenidas e praças de bairros mais bem estruturados da região metropolitana.

Dessa vez é na cidade de Serra, nas comunidades de Vila Nova de Colares e de Feu Rosa.
Posso dizer que contribuí modestamente para essa iniciativa, pois defendi insistentemente a sua importância e pertinência, durante minhas últimas participações nas reuniões de articulação do Grito - não tenho podido participar nos últimos três anos.

Sempre acreditei que força e a persistência do Grito deveriam ser mostradas lá na periferia, lá onde estão os excluídos de quase tudo, na cada vez mais estúpida, irracional e perversa ordem capitalista. Para mim, era um verdadeiro desperdício de energias e esperanças fazer com que o Grito ficasse, repetidamente, a disputar atenção com a sempiterna e sempre sedutora patriotada dos desfiles militares e escolares.

Claro que foram válidas ( ainda o serão, vez por outra) as ações do Grito nas proximidades dos desfiles, afinal é ali que se concentram milhares de pessoas, de variados estratos sociais, mas certamente com predominância das camadas populares. E, nesse caso, é o lugar adequado para dar visibilidade jornalística ao Grito dos Excluídos e para apresentar as suas propostas a essas camadas populares.
Mas, consolidada essa fase de afirmação na mídia e de inserção popular, corre-se o risco de não se avançar, afinal, na algazarra e no entorpecimento emotivo próprios do desfile cívico-militar (que, no fundo, no fundo, mexe com todos nós, remete à festa e à inocência da infância), são limitadas as possibilidades de um maior envolvimento, convocação e engajamento das camadas populares num Projeto Popular para o Brasil, que é o que deve ser afinal o objetivo maior do Grito dos Excluídos.















  
Com a realização do Grito em bairros populares (São Pedro, em Vitória, e agora Feu Rosa e Vila Nova, na Serra) o Grito está no lugar certo, próximo das pessoas certas, pessoas a quem ele efetivamente busca despertar, sacudir de sua imobilidade, entorpecimento e desesperança, pessoas que de fato poderão provocar enfrentamentos e rupturas com as estúpidas e obsoletas estruturas sociais atualmente vigentes.


Ao passo que, próximo aos desfiles, para a maior parte das pessoas o Grito dos Excluídos, embora cause certo desconforto, não passa de um 'desfile' a mais; e para uma outra parte provoca no máximo admiração e respeito, mas não passando de um protesto a mais, que não vai levar a lugar nenhum, a mudança nenhuma. Resta um contingente mínimo, que pode ou não ser sacudido de sua apatia, ou que pode ter reforçada a sua resistência e a sua crença na luta popular.
Como também sempre há o risco de o Grito ser abafado, ter a sua força amortecida pela postura oportunista dos governantes e autoridades de plantão, que, espertamente, passaram a divulgar e ‘apoiar’ os manifestantes do Grito, de cima de seus presunçosos e enganosos palanques, fazendo parecer aos desinformados que aquela seria apenas mais uma manifestação oficial, permitida e “benvinda’ pelas “autoridades” e governantes.