13/12/2010

Encontro de Cancun : a cegueira continua

Como era de se prever, a Cúpula de Cancun não trouxe novidades que levassem a um enfrentamento sério e lúcido da catástrofe planetária que nos espera.
Fica mais uma vez patente que somente nos resta agir para que, através da dialética que move a história, a humanidade não deixe a barbárie do totalitarismo tecnológico substituir o capitalismo.

Que  a obsolescência e a estupidez do capitalismo e da agressão do Ocidente  sejam superados dialeticamente e que façamaos brotar um modo de organização das sociedades voltado de fato para a vida, para as pessoas e para a celebração do planeta e do Cosmos.

A esse respeito, a nota da Via Campesina, publicada mais abaixo, tem bastante a dizer.
E o texto a seguir, Natasha Pitts, traz uma análise do fracasso da Cúpula de Cancun.
Ambos os textos foram extraídos do site da Adital.

   
Acordos firmados em Cancun decepcionam organizações e movimentos sociais
Natasha Pitts,  jornalista da Adital

A 16º Cúpula sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP 16) terminou na última sexta-feira (10) deixando um forte sentimento de decepção em centenas de campesinos, indígenas, ambientalistas e membros de movimentos e organizações populares de inúmeros países, que se articularam antes e durante as negociações da COP 16 para lutar por acordos justos e que enfrentassem as causas profundas do desequilíbrio ambiental.

Mesmo com a existência de propostas viáveis, como as sugeridas durante a Conferência Mundial dos Povos sobre Mudanças Climáticas, que aconteceu em Cochabamba, na Bolívia, entre os dias 20 e 22 de abril deste ano, optou-se, mais uma vez, pelas "soluções de mercado". Essas, como bem define a Coordenadora Andina de Organizações Indígenas (Caoi), são apenas ‘negócios para tratar de solucionar o que provocaram com os mesmo negócios depredadores’.

Nesta Cúpula, tratou-se de reafirmar o texto do ‘Acordo de Copenhague’, proposto na COP 15, e considerado pelos movimentos populares um mecanismo nocivo que evadiu por completo a busca de soluções concretas para barrar a crise climática. Isso, porque o acordo não busca responder com urgência situações como a redução das emissões de gases que provocam o efeito estufa.
Sobre o protocolo de Kyoto, a proposta foi um segundo período de compromissos, no entanto não há informações sobre datas nem mecanismo para que o segundo período se concretize. Além disso, a adoção de compromissos será meramente voluntária, o que quer dizer que a redução nas emissões de gases será feita de acordo com a vontade e a consciência de cada país.

De acordo com a Aliança Social Continental, o acordo fechado em Cancun também prevê outras decisões graves, como a meta de aumento da temperatura mundial, que ficou definida em 2°C. Esta mesma meta já havia sido sugerida, mas foi recusada porque não cumpria com a tarefa de evitar a desaparição de regiões inteiras, como algumas ilhas. Mas, neste ano, a meta foi aceita, pondo em risco a perpetuação da vida humana.

Sobre a questão de financiamento, foi aprovada uma sugestão vazia. Apesar da aprovação da criação de um fundo global, a Aliança Social afirma que os recursos não estão garantidos, assim como sua origem e forma de implementação. Além disso, os recursos são insuficientes para enfrentar as consequências da crise climática. Outra sugestão fortemente rechaçada pelos movimentos populares foi a de que o Banco Mundial, responsável pela promoção de projetos destruidores do meio ambiente, seja responsável por coordenar este fundo.
Apesar de a ganância ter sido novamente colocada acima da vida, na ‘Declaração de Cancun’, os setores populares asseguram que a luta não chegou ao fim e que continuarão impulsionando o nascimento de uma civilização em que a vida em todas as suas formas seja o centro de tudo.
Comprometeram-se também a ‘continuar caminhando na construção de um movimento forte, multisetorial e unificado em defesa da natureza por meio da conscientização, educação e organização de base; aprofundar as propostas presentes no Acordo de Cochabamba; avaliar as possibilidades de uma consulta popular, de uma nova cúpula dos povos e de outras formas de envolvimento dos setores populares; assim como aumentar a organização e pressão sobre os governos nacionais e internacionais’.

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