28/06/2012

carta: liberdade para assange

(Veja também assange-e-o-paraguai.html)

Intelectuais e artistas defendem asilo político para Assange
Noam Chomsky, Michael Moore, Tariq Ali, Oliver Stone e Danny Glover, entre outros, entregaram segunda-feira (26) carta à embaixada do Equador em Londres, pedindo que seja concedido asilo político a Julian Assange, fundador do Wikileaks. Os signatários da carta defendem que se trata de um caso claro de ataque contra a liberdade de imprensa e contra o direito do público de conhecer verdades importantes sobre a política externa, além de uma séria ameaça à saúde e ao bem-estar de Assange (no caso de uma extradição para os Estados Unidos).
David Brooks - La Jornada  (transcrito de carta maior)
Nova York - Um amplo leque de intelectuais, artistas, cineastas e escritores de várias partes do mundo solicitaram ao governo do Equador que conceda asilo a Julian Assange, Fundador do Wikileaks, que se encontra refugiado na embaixada desse país em Londres.

Noam Chomsky, Michael Moore, Tariq Ali, Oliver Stone, o ator Danny Glover, o comediante Bill Maher, Daniel Ellsberg, ex-analista militar famoso por divulgar os Papeis do Pentágono durante a guerra do Vietnã, e Denis J. Halliday, ex-secretário geral assistente da Organização das Nações Unidas, entre dezenas de outras personalides, assinaram a carta de apoio ao pedido de Assange de asilo político, a qual foi entregue segunda-feira (26) à embaixada do Equador em Londres.

Afirmaram que por se tratar de um caso claro de ataque contra a liberdade de imprensa e contra o direito do público de conhecer verdades importantes sobre a política externa, e porque a ameaça à saúde e ao bem-estar é séria, pedimos que seja concedido asilo político ao senhor Assange.
O fundador do Wikileaks ingressou na sede diplomática equatoriana a semana passada para evitar sua extradição para a Suécia. Os signatários da carta entregue ontem concordam com o agora fugitivo (rompeu as condições de sua detenção domiciliar ao entrar na sede diplomática) que há razões para temer sua extradição, pois há uma alta probabilidade de que, uma vez na Suécia, seja encarcerado e provavelmente extraditado para os Estados Unidos.

O governo de Barack Obama realizou um processo conhecido como grande júri para preparar uma possível acusação legal criminal contra Assange, ainda que o procedimento seja secreto até emitir sua conclusão. Além disso, meios de comunicação relataram que os departamentos de Defesa e de Justiça investigaram se Assange violou leis penas com a divulgação de documentos oficiais.

Os signatários sustentam que esta e outras evidências mostram a hostilidade contra Wikileaks e seu criador por parte do governo estadunidense, e que se ele fosse processado conforme a Lei de Espionagem nos Estados Unidos poderia enfrentar a pena de morte. Além disso, acusam o tratamento desumano ao qual foi submetido Bradley Manning, o solado acusado de ser a fonte dos documentos vazados para Wikileaks.

“Reivindicamos que seja outorgado asilo político ao senhor Assange, porque o ‘delito’ que ele cometeu foi o de praticar o jornalismo”, afirmam na carta. Assange revelou importantes crimes contra a humanidade cometidos pelo governo dos Estados Unidos. Os telegramas diplomáticos revelaram as atividades de oficiais estadunidenses atuando para minar a democracia e os direitos humanos ao redor do mundo, acrescentam.

A carta, entregue por Robert Naiman, diretor da organização estadunidense Just Foreign Policy, autora da iniciativa, foi acompanhada de outra petição assinada por mais de 4 mil estadunidenses que solicitam que o governo do Equador conceda asilo a Assange.
A íntegra da carta pode ser vista em justforeignpolicy.org/node/1257.

26/06/2012

comédia ou drama para o povo paraguaio?

E os fascistas das elites paraguais venceram a primeira batalha contra o povo, através da deposição, pelos seus senadores fantoches, pura e simples do presidente Fernando Lugo, baseados  em argumentos inconsistentes e descaradamente  oportunistas.
Se não fosse dramático e humilhante para a soberania do povo paraguaio, seria risível, grotesco, ver os desprezíveis parlamentares votando pela deposição, mas distantes do povo, protegidos por tanques de guerra e agentes da repressão.

Por esse inaceitável isolamento do povo, nota-se o tão alto grau de representatividade popular que têm esses cretinos membros do parlamento paraguaio! 
Mas, apesar de todo o aparato repressivo e midiático, o episódio tem tudo para se tornar tão risível quanto o foi a tentativa de golpe na Venezuela há exatos dez anos atrás, desnudando o seu caráter de  farsa institucional-burguesa.
Parlasul deve seguir decisão do Mercosul

Afinal, os golpistas paraguaios já estão sendo isolados e acuados pelos governos parceiros do Mercosul e da Unasul,  numa atuação firme e coerente, que, aliás, é o mínimo que se espera dos governos progressistas da América Latina.
E, além da pressão internacional, começam a ser articuladas as resistências internas ao golpistas:
Fernando Lugo anuncia resistência
Paraguai: resistência ao golpe ganha página na internet

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Esse episódio do Paraguai serve para refletir sobre  as exigências de radicalidade que os movimentos populares podem e devem fazer aos governos progressistas da América Latina.
Refletir sobre o difícil equilíbrio que deve ser preservado, entre radicalidade e governabilidade, entre projetos e ações autenticamente de esquerda e os posturas moderadas ou conciliatórias dos governos progresssistas.
Com o golpe do Paraguai, fica mais uma vez evidente que os fascistas estão à espreita, aguardando oportunidades para se lançar à retomada (seja através de desestabilizações, eleições ou golpes miliatres/institucionais) dos governos arduamente conquistados por progressistas, mais ou menos contundentes nos seus enfrentamentos com a ordem capitalsitas. 
E, claro, os fascistas só tem a agradecer quando explodem divisões e confrontos incontornáveis entre movimentos autenticamente populares e governos progressistas, moderados.
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O que não quer dizer que, em nome da governabilidade e em nome do acúmulo de forças - visando a transformações mais radicais da ordem burguesa - a luta popular tenha que se tornar refém de conciliações excessivas, desnecessárias e, em consequência, deslegitimadoras dos governos progresssitas, e dos movimentos populares que os apóiam.
Como no caso do PT, no Brasil, com sua espantosa concordância em relação às iniciativas de Lula em eleger Fernando Haddad em São Paulo, a qualquer custo, até mesmo ao custo de uma ressurreiçaõ do cadáver político de Paulo Maluf.
Qual o limite, afinal, que o PT impõe a si próprio, no seu projeto de,  supostamente, construir  a hegemomnia popular no Brasil? 
Iniciativas como a  de Lula precisam ser realmente toleradas? O PT não conhece mais a sua própria força e sua própria história, para entender que pode impor, na aliança com o PP, a condição inegociável de não se abrir espaços excessivos para o cadáver polítco de Paulo Maluf?
Que pelo alguém no PT tenha a coragem, e  o cacife político necessário, para conseguir alertar Lula, para ele não manchar de forma tão ingênua e desnecessária a sua respeitável biografia.
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Enfim,  as elites e os fascistas do Paraguai - através de seus parlamentares golpistas e fantoches - poderão estar prestes a fazer um papel tão risível quanto os seus congêneres da Venezuela, em 2002. Que tudo termine realmente em comédia, que não seja mais uma nova tragédia para o povo do Paraguai.




25/06/2012

assange e o paraguai

Interessante  a ligação entre dois dos assuntos que mais chamam a atenção do mundo, no momento.
Com o texto abaixo, dá para entender porque Julian Assange, o fundador do Wikileaks, está sendo praticamente caçado pelas autoridades dos países do capitalismo central. Afinal, a denúncia acerca das articulações contra o governo democrático do Paraguai (feitas pelo Wikileaks quase um ano antes do atual golpe) é apenas um entre centenas ou milhares de documentos incômodos aos comandantes da atual ordem mundial. 


WIKILEAKS: GOLPE ERA PLANEJADO DESDE 2009
(carta maior, 25.06.2012)

Despacho sigiloso da Embaixada dos EUA em Assunção, dirigido ao Departamento de Estado, em Whashington, já informava, em 28 de março de 2009, a intenção da direita paraguaia de organizar um 'golpe democrático' no Congresso para destituir Lugo, como o simulacro de impeachment consumado na última 6ª feira.
O comunicado da embaixada, divulgado pelo WikiLeaks em 30-08-2011 http://wikileaks.org/cable/2009/03/09ASUNCION189.html mostra que já então o plano era substituir Lugo pelo vice, Federico Franco, que assumiu agora. O texto enviado a Washingnton faz várias ressalvas. Argumenta que as condições políticas não estavam maduras para um golpe, ademais de mostrar reticências em relação a seus idealizadores naquele momento. Dos planos participavam então o general Lino Oviedo (ligado a interesses do agronegócio brasileiro no Paraguai, que agora pressionam Dilma a reconhecer a legitimidade de Federico Franco, simpático ao setor) e o ex-presidente Nicanor Duarte Frutos. Em seu governo (2003-2008), o colorado Nicanor Duarte Frutos foi duramente criticado por vários governos latino americanos por ter permitido o ingresso de tropas norte-americanas no territorio paraguaio para exercícios conjuntos com o Exército do país; foi em seu mandato também que os EUA tiveram permissão para construir uma base militar na zona da Tríplice Fronteira,com gigantesca pista de pouso, supostamente para combater narcotráfico e o terrorismo islâmico.

Leia também:
Julian Assange pede asilo político para o Equador
Julian Assange: Londres diante de um problema sem precedentes


23/06/2012

identidade

esta tarde,
enquanto a telefonista
soletra os meus dados pessoais
do outro lado
do auricular,
tenho de lhe lembrar
que ester
é ester

mas sem h.

que Camps é como Campos
mas em valenciano
e que, além disso,
esse é o meu segundo
apelido
o primeiro é García

com acento no i.

é importante
não esquecer o meu nome
uma pessoa tem de poder dizer
quem é

mesmo que na realidade
não o saiba ainda.


ester garcía camps - espanha    (1984 - )

21/06/2012

os fascistas se articulam

Na Venezuela e no Equador os golpistas a serviço das elites foram barrados pela reação popular e pelas pressões dos governos progressistas da região.
Em Honduras os fascistas e golpistas venceram e desalojaram do poder Manuel Zelaya, presidente legitimamnete eleito pelo voto popular.
Agora, é contra o povo e o governo do Paraguai a nova  tentativa de golpe branco, mascarado de institicionalidade. 
Embora pareça inócua, a ampla divulgação das reais causas da tentativa de impeachment de Fernando Lugo pode contribuir, e muito, para deter essa iniciativa dos fascistas, que estão sempre à espreita na América Latina.

Lugo sob ameaça de golpe no Paraguai
Gilberto Maringoni, em carta maior
 
A Câmara paraguaia, dominado pelos partidos de direita, abriu processo de impeachment nesta quinta-feira (21) contra o presidente Fernando Lugo. Senado agora também discutirá a medida. Trata-se de um eufemismo para golpe de Estado, segundo analistas consultados por Carta Maior.

Não é a primeira vez que setores dos grandes proprietários de terra aliados de setores empresariais tentam interromper a vida democrática do país vizinho. À diferença de outras situações ao longo do século XX é que a ação atual recobre-se de uma fachada legal.
 
O pretexto é que Lugo teria sido negligente na resolução de conflitos agrários, como o ocorrido há uma semana em Curuguaty, próximo a fronteira com o Brasil. Na ocasião morreram nove camponses e seis policiais.

Por "negligência" entenda-se as tentativas do mandatário de resolver os problemas com negociação e não através de violência pura que caracteriza historicamente a resolução de conflitos sociais no país.

Os presidentes da Unasul, reunidos no Rio de Janeiro, colocam-se frontalmente contra o golpe. A situação em Assunção é de calma aparente. Manifestações populares de apoio começam a acontecer na capital. Em pronunciamento feito nesta manhã e transmitido pela tevê paraguaia, Lugo descartou a possibilidade de renúncia.

**************
Na segunda-feira, 18, Carta Maior já antecipava essa tentativa de golpe: Latifundiários brasiguaios querem derrubar Lugo"

Leia também:  Legalização de um golpe

o semáforo

amarelo, cuidado! vermelho, parar!
som de freios no asfalto aquecido, estridente e metálico
automóveis se alinham brusca e desigualmente
motocicletas disputam os espaços intermediários
camelôs giram em órbita dos carros
com seus produtos e serviços descartáveis.
cruza a faixa uma pequena multidão, muda e apressada
do outro lado, motores roncam em tonalidades dissonantes
buzinas nervosas insistem em erguer a voz

foi então que vi aquele olhar.
uma criança, menina, estacionada à minha frente.
yinha nas mãos um maço de folhetos
mas aparentemente esquecera que devia entregá-los.
despenteada, com alguns farrapos sobre os ombros
não devia ter nome e menos ainda família
de perfil, olhava sobre os ombros:
olhar sem palavras, seco de riso e de lágrimas
onde medo e desejo pareciam alternar-se.
abarcava tudo e nada, perdido e só
sobre o ruído das máquinas e a pressa dos transeuntes.

vermelho, avançar!
mas aquele olhar permaneceu ali, vívido e teimoso
como que petrificado no pára-brisa do carro
gravado para sempre no mármore da memória.

certamente me fará algumas visitas inoportunas
nas noites quentes de insônia.

pe. alfredo gonçalves, CS

18/06/2012

barbárie tingida de verde

E começou a Rio + 20.
Então, nada mais apropriado do que o artigo de Laerte Braga, que desnuda com contundência um pouco do jogo de cena que está por detrás, não apenas da Rio + 20, mas da própria tentativa de se trasnformar o atual e futuro desastre ambiental numa fórmula para adiar a derrocada do capitalismo.

Seria sectarismo simplista negar a validade deste encontro de cúpula, que tenta avançar em propostas e ações urgentes, sérias, para se tentar evitar o pior, não para o planeta em si, mas para a humanidade, e para outras espécies que o habitam, e que serão levadas de roldão pelos erros humanos.
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Mas a questão é saber até onde é possível negociar com o capitalismo a solução do impasse em que está metido o projeto ocidental de civilização. E, também, refletir sobre até onde é necessária essa negociação.

Ao que se sabe, não é possivel instaurar uma verdadeira racionalidade nos mecanismos de dominação que sustentam o capitalismo. Uma racionalidade voltada para o desenvolvimento das plenitudes do ser humano, e para o convívio inteligente e transcendente com o mundo que rodeia esse mesmo ser humano.

A história, passada e presente, tem dado provas cada vez mais terríveis, sufocantes e absurdas da impossibilidade desse tipo de negociação com o capitalismo, da impossibilidade de humanização do capitalismo.
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Resta pensar seriamente até onde é necessário levar a sério o capitalismo. Claro que muita barbárie, muito sofrimento e muita besteira ainda será provocada pelos atuais mecanismos de dominação das pessoas.
Mas parece cada vez mais claro que, ao lado da impossibilidade de negociação com o capitalismo, cresce a consciência de que não há mais necessidade de levar em conta esse sistema outrora revolucionário e necessário para a história humana, e hoje apenas obsoleto, burro, criminoso e decadente.

É como se as pessoas e povos aguardassem, ou estivessem se preparando para acolher um novo projeto de civilização. Como se fosse uma mera questão de tempo a queda desse sistema obsoleto, mas cada vez mais perigoso, insano e maléfico à esmagadora maioria das pessoas.

O texto de Laerte Braga toca nesse ponto, ao registrar que a legitimidade da Rio + 20 está exatmente no acúmulo de articulações, debates e forças das lutas populares, que se farão presentes na Cúpula dos Povos, evento paralelo ao encontro oficial e institucional da ONU.
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Apenas a título de ilustração literária - e a propósito dessa consciência de povos e pessoas, acerca da obsolescência do atual modelo de organização social e econômica - transcrevo um trecho de uma novela de minha autoria.
Na cena, Dala (personagem-título e personificação do planeta Terra), discorre para o poeta U. suas angustiadas expectativas acerca dos anos decisivos vividos pela humanidade, acerca do impasse em que suas criaturas prediletas estão se envolvendo - e envolvendo a ela própria, Dala.
Na sua fala, Dala também trata levemente da intuição das massas, da 'turba', que suspeita que algo está muito errado, mas uma intuição feita apenas de ironia e de resignação, sem ainda potencial de enfrentamento:
"sim, não se entende o que falta, para onde dar o passo final. tudo ainda são suspeitas, vislumbres no meu horizonte, sussurros trocados entre os astros e estrelas mais próximos de minha trajetória e que escuto sem querer, apostas ora cautelosas ora piedosas sobre o meu destino e o de vossa raça. quanto a mim aprendi, nesses dois mil anos de sustos e aplausos, que não se deve concluir com segurança sobre vós ocidentais. é preciso às vezes apelar para o humor e, então, se não fosse tão trágico, eu diria que a hesitação de vossa raça, nestes esplêndidos e atormentados anos, é uma vingança dos deuses do Olimpo (ou uma feitiçaria dos deuses de áfrica, ásia ou ameríndia) por terdes incumbido o ocidental Prometeu da serpenteante e ígnea tarefa de roubar o fogo do saber e do saber fazer...

enquanto isso, todos esperam, cansam-se... o pensamento exaspera-se, tortura-se, confunde-se, estiola-se, nega-se, volta-se sobre si mesmo, obras e mais obras, a palavra intentando viver de sua própria nave, de sua construção paralela, de si própria palavra, tentando dar vazão à sua própria sede de domínio sobre o Real... a casta dos comandantes acautela-se, perde-se e perde a razão de existir como comando, faz que não ouve a urgência, a possibilidade e a necessidade de um repouso planetário... e a turba dos comandados espera, apenas mais uma vez espera, parecendo ironizar, na sua condição de impotente e ainda faminta de tanto, parecendo dolorosamente debochar dos esforços patéticos e desnecessários dos comandantes para resguardar o domínio da jornada, com suas antiquadas, arrogantes e cruéis barreiras erguidas em volta dos castelos, anéis e plantações...

ah, talvez seja necessário dizer como o suicidoce vidente celan: ‘que um homem saia desta tumba!’, para que de fato o ocidente mergulhe naquele estado de espanto-admiração, mostrado no final da obra de sagan e kubrick, e a partir daí verem-me, a si próprios e ao formidável campo além de mim, ver tudo isto com outros olhos, olhos mais pacificados, mais doces, menos ansiosos... o homem do ocidente como um embrião novo para si próprio, para o meu corpo, para o oriente, para o Real...

ah, equador de calmarias
vibrar o canto e fazer os homens
em cada nascer de luas, maiores:
o mundo precisa de artesãos

o mundo, esta pedra de alabastro
pedra-sabão, âmbar, marfim seleto
peça de ferro cru, a carecer
de têmpera e mãos doces, inspiradas

estão os homens a construir?
estão os homens?”

dala, capítulo 6 (registro bn 248.522)

nas manhãs de minas

olhares, rostos, corpos - 2

junto com a família, jarbas cultiva uma pequena propriedade no interior das minas gerais  - em
são miguel do anta, na famosa zona da mata mineira). e se ele não existisse na vida real,
com certeza que teria que ser inventado pela arte, principalmente nessa ancestral postura
de quem amanha a terra e cuida da criação, já nas primeiríssimas horas de uma enevoada e fria
manhã de junho. não falta nem mesmo o indefectível cigarrim de palha.   

e a nubescente filha de nome núbia, após haurir da vaca  o sagrado leite matinal, sorridente retribui,
compensando os filhotes com o não tão sagrado alimento produzido  pelos  homens.
se os famintos filhotes em questão acham a troca justa e agradável, já é outra história.  

ainda a propósito de ordenhas ,da manhã ou do verbo,
veja os poemas: 

a apoteose do nada

por Laerte Braga
Começa nos próximos dias de junho a conferência mundial sobre desenvolvimento sustentável com o pomposo título de RIO + 20. O espetáculo cambeta das grandes nações e seus “sábios” a tentar exibir, aos que habitam o mundo cá embaixo, o nada.
A História mostra grandes impérios. Ruíram todos na arrogância, na prepotência, em suas contradições, na própria roda da História, um processo inexorável que já tentaram sepultar e que revive hoje com vigor impressionante: a luta de classes.

Débord, em seu magnífico e definitivo "A sociedade do espetáculo" (Contraponto, 2ª. Impressão, 2000, RJ) afirma que “a classe ideológica totalitária no poder é o poder de um mundo invertido: quanto mais forte ela é, mais afirma que não existe, e sua força serve em primeiro lugar para afirmar sua inexistência. É modesta apenas nesse ponto, pois sua inexistência oficial também deve coincidir com o nec plus ultra do desenvolvimento histórico que ao mesmo tempo seria devido ao seu infalível comando”.

A crise que transforma a União Européia em meras bases militares do terrorismo de Estado norte-americano/sionista, vai custar 100 bilhões de euros a trabalhadores espanhóis e europeus no geral, para salvar um sistema financeiro podre, falido, a síntese do capitalismo.
Os milhões de desempregados, a perspectiva negativa para os milhões de jovens que chegam ao mercado de trabalho do mundo capitalista, são meros detalhes para “essa classe ideológico- totalitária”.

Há um mundo a parte, de castelos, onde os donos das milhares de ogivas nucleares que garantem esse nada,  se refugiam se impõem na crença da infalibilidade da qual fala Débord.
A RIO + 20 é um exercício de masturbação de países ricos. Não está prevista nenhuma declaração ou compromisso formal, apenas isso, masturbação.
O que não quer dizer que forças populares sitiadas em cada canto do mundo, ainda que díspares, não devam se expressar e fazer ecoar os tambores da luta contra um modelo falido, predador e terrorista.
*****************
Há um golpe de estado em curso na Síria. Houve antes na Líbia devastada por mais de cinco mil ações de bombardeios aéreos. Ou a devastação do Iraque, do Afeganistão, o terror do ATO PATRIÓTICO espalhando mortes por todos os lados.
Centenas de milhares de palestinos expulsos de suas terras, presos, assassinados na sanha insana do nazi/sionismo.
Gregos, espanhóis, portugueses, norte-americanos (milhões na linha da pobreza ou abaixo dela), africanos, árabes, chineses, enfim, a classe trabalhadora submetida a um tacão que não difere do que Hitler imaginava que fosse durar dois mil anos.
E uma preocupação inexistente com o que também não existe, o tal desenvolvimento sustentável. O show, o espetáculo. A turba mantida ao longe por escudos e zumbis chamados de Polícia Militar (a ONU recomendou o fim dessa aberração). E montes de agentes especiais para garantir a nobreza. Os grandes nomes das potências terroristas não virão. Hilary Clinton será a atração do terror.

O presidente do Irã, Ahmhoud Ahmadinejad, em sua cruzada mundo afora para manter a dignidade de seu povo e da revolução islâmica, vem trazer sua voz de protesto, de indignação e de coragem, sabedor da força devastadora e cruel dos que se sustentam nesse terror capitalista.
Sabe que resistir é preciso. (...)
*****************
(...) A RIO + 20 vai propiciar matérias à mídia de mercado sobre o próximo fim do mundo, as mudanças climáticas, a necessidade de controle da poluição atmosférica, vão falar sobre a caça às baleias pelos insanos governantes japoneses, o trabalho escravo na China capitalista – o comunismo é eufemismo, rima –, a fome na África, expor as vísceras espetaculares do drama dos trabalhadores e, ao final, marcar nova conferência para absolutamente nada.

A destruição é intrínseca ao capitalismo. Como a corrupção. São inseparáveis e com certeza ao final de tudo vão dizer que o Brasil está apto a receber a copa do mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
E lógico, a foto oficial. Não sei se o rei da Espanha vem, se vier que traga seu rifle de caçadas. É evidente que Elizabeth II não vem, está às voltas com destempero do príncipe Philip que, na patetice da nobreza, pode sair pelas ruas de Londres nu e gritando “heil Hitler”.

Da RIO + 20 vai sobrar a possibilidade de percepção de todo esse nada transformado em espetáculo, e a conseqüente necessidade de organização das forças populares, num consenso que é inevitável, sob pena de ficar a reboque de maneira permanente e assistir a esse massacre capitalista.

A importância da luta popular. É nas ruas, é de sobrevivência, não é por mandatos eletivos. É por enfrentar e jogar por terra todo esse processo de destruição e escravidão, transformado em show a cada domingo, ou em cada edição de VEJA, GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, ESTADÃO, ESTADO DE MINAS, RBS, etc, até porque não existe nada de FANTÁSTICO nisso. 
 
Tanto é um desafio para partidos com história de lutas, como para o movimento popular.
Tirar da inércia os que acreditam que vivemos uma era de progresso, e que estamos predestinados a ungir o mundo com o equilibrismo de Dilma, em cima dos passos e contrapassos de Lula na tentativa frustrada de apagar os anos de FHC. Está ai, impávido não o gigante que continua adormecido, mas o neoliberalismo imposto pelos tucanos.

A RIO + 20 vai valer pelo que se puder aprender de luta popular e pela consciência que essa luta é nas ruas, e não em eleições de cartas marcadas.Gigantes são os trabalhadores e a bola da vez do terror de ISRAEL/EUA TERRORISMO “HUMANITÁRIO” S/A é a Síria.

13/06/2012

a greve vai à praça

Não deixa de ser um sinal dos tempos a louvável iniciativa dos professores grevistas da UFES - de fazer uma atividade de integração popular na relativamente distante Praça Costa Pereira (centro de Vitória), conforme texto abaixo da ADUFES.
Claro que não apenas os professores, mas a maior parte dos trabalhadores organizados têm, através de suas entidades, toda uma tradição de engajamento e de integração com as lutas populares das mais diversos setores sociais, enfim uma relação orgânica, direta com a população - embora não seja exatamente uma interação que promova o enfrenatmento com as estrutruras estabelecidas, uma integração transformadora, muito menos revolucionária.

Mas, de certa forma, não há como não ver nessas 'ocupações' - nessa prática e nessa consciência da necessidade ir até o povo e até às ruas e praças, em seus momentos de luta - um reflexo dos movimentos Ocupa, que se espalharam pelo mundo ao longo de 2011, e que neste ano recuaram drasticamente - o que não quer dizer que tenham sido derrotados em seus propósitos e propostas.

Aliás, uma atividade interessante e benvinda, que farão os professores na Costa Pereira,  e que é prática comum nos acampamnetos do movimentos Ocupa, são as aulas públicas, acessíveis a qualquer pessoas que esteja nas ruas e praças.

Abaixo o texto de divulgação da ADUFES. Quanto aos movimentos Ocupa, veja mais  no  ítem "rebelião no ocidente", à direita deste blog, na seção "nomes e temas'.

Comando Unificado leva Ufes em Greve para a Praça Costa Pereira
Cortejo fúnebre da Educação nessa terça-feira, 12,
no campus de Goiabeiras e Fernando Ferrari

A atividade “Ufes em Greve na Praça” reunirá nesta quinta-feira, 14, a partir de 8 horas, professores, estudantes e trabalhadores técnico-administrativos da Ufes, na Praça Costa Pereira, no Centro de Vitória.
O comando unificado de greve da Ufes vai levar para a praça uma série de atividades e serviços à população. Na programação estão aulas de alongamento, aeróbica, capoeira e serviços de medição de pressão arterial, exame de sangue, avaliação de obesidade e orientação ao exercício físico.

Até uma sala de aula com 100 cadeiras será montada ao ar livre, sendo que o aulão será ministrado por dois professores, um da Ufes e outro da rede estadual de ensino. A aula pública será assistida por estudantes e demais pessoas interessadas no tema “A crise, A Copa, A Greve na Educação”.

Além de quebrar o conceito antigo de que sala de aula é o único lugar em que se pode aprender, a atividade tem como objetivo chamar atenção da sociedade para os problemas enfrentados pela educação pública brasileira. O Comando Unificado de Greve da Ufes distribuirá panfletos que explicam as razões da greve nas instituições federais de ensino.

Os professores estão em greve há quase um mês. Já os técnico-administrativos iniciaram o movimento nessa segunda-feira, 11. Os estudantes, por sua vez, aderiram à greve dos professores no último dia 30.

Que a universidade se pinte de povo!
Num ambiente alternativo, rodeado de árvores, o Ufes em Greve na Praça pretende mostrar a importância da universidade pública, as atividades desenvolvidas e denunciar o desrespeito à educação superior e aos profissionais em greve. Um panfleto a ser distribuído no local mostra que é comum encontrar bibliotecas desatualizadas, laboratórios improvisados, salas de aula superlotadas, equipamentos antigos e sem manutenção, hospitais atendendo em condições precárias, restaurantes com alimentação inadequada, creches sucateadas, técnicos administrativos mal remunerados, professores sobrecarregados, estudantes desmotivados.

Lembra que as expansões promovidas pelo Programa de Reestruturação e Expansão do Ensino Superior (REUNI) têm comprometido a qualidade do ensino e as condições de trabalho dos profissionais da educação. Que os novos campi universitários já nascem inadequados, incompletos. “Faltam professores, técnicos, livros na biblioteca, equipamentos nos laboratórios, políticas de assistência estudantil. A expansão do ensino é “pra inglês ver”, ressalta Helder Gomes, do Comando Local de Greve (CLG) dos professores da Ufes.

Reivindicações
A greve dos docentes, iniciada em 17/05, já atinge 51 instituições federais de ensino superior no país. As principais reivindicações dos professores são: reestruturação da carreira, equiparação dos salários dos docentes de Magistério Superior e de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico ao valor pago a pesquisadores do Ministério da Ciência e Tecnologia com a mesma titulação; retirada dos itens 42 a 47 da Medida Provisória nº 568/2012, que modifica o cálculo das gratificações de insalubridade e periculosidade; expansão das Instituições Federais de Ensino Superior, com manutenção da qualidade do ensino, entre outros itens.

Quanto aos servidores técnico-administrativos, são reivindicadas as seguintes mudanças: reajuste do piso salarial da categoria para três salários mínimos, step de 5% de um padrão de vencimento para outro, reposicionamento dos aposentados, incentivo à qualificação profissional, racionalização de cargos e isonomia salarial entre os três Poderes, dentre outros.

Fonte: Adufes

o cão e a terceira margem

olhares, rostos, corpos  - 1

captei essas imagens em guriri (são mateus, norte do es) à beira do rio cricaré,
na comunidade de meleiras
sério, numa postura ciscunspecta, o atento cão mira o rio,
parece que tenta desvelar a sua fluida e inconstante aparição.
tal como um cão-filósofo grego, parece  buscar, 
na origem e na presença mesma das coisas,
a razão de tanta diversidade no mundo, principalmente a
visível e gritante diferença entre  a sólida, protetora e perfumosa
terra e a escorregadia, hipnótica e perigosa água 
imagina então que, se se apossar do ágil e ousado
 barco dos homens, quem sabe chegue ao destino final das
águas, e à solução desse infinito e silencioso fluxo. 

então talvez poderá decidir qual dos mestres tem razão,
em explicar as leis que de fato governam o  cosmos,
o mundo e  a vida dos homens:
se o grego heráclito - o filósofo da mudança e da inconstância, ou
o também grego parmênides - o filósofo da unidade e da permanência 
mas o cão-filósofo, ao fim, decide que não é uma atitude sábia
 se aventurar no ávido, inquieto e precário barco dos homens;
afinal não importa tanto saber quem tem razão,
mesmo porque talvez ambos os filósofos estejam certos 
.o mais importante, o verdadeiramente sábio, para o cão-filósofo,
é sentir, viver o fluir do próprio rio em terra firme.
desvelar, a cada instante, o mistério de sua aparição
 mesmo sem sair da aconchegante presença da terra.
a cada instante, desvelar o presença do rio, do cosmos e da vida,
como uma oração. ou como um poema, tal como o escrito aí embaixo.
ou como uma reverente vígilia daquele homem que foi para 
a terceira margem do rio, lá nos nortes de minas. 

tradução do rio
Sento-me e traduzo o rio,
É difícil reproduzir
Esta coisa líquida,
São precisas palavras raras,
Expressões firmes,
Ritmos eternos,
Uma centena de fontes em uníssono
A contar de novo um mito antigo.
Durante toda a noite traduzi o rio.
De manhã
A minha versão tinha desaparecido.

xhevahir spahiu - albânia  (1945  -  )
tradução : do trapézio sem rede

12/06/2012

grilo

Durante uma semana inteira
um grilo andou pela cave
algures entre
a fornalha
e o estojo de críquete.
Eu gostaria de ter ido lá abaixo
todas as noites
para o ouvir trinar.
Ele daria pelos meus passos
e interromperia
a sua música mágica.
Logo depois começaria
de novo a cantar.
Isto seria assim
e eu falaria com ele
e seria seu amigo.
Mas esta noite
na cave
só encontrei um silêncio gelado
e uma aranha
a tecer uma mortalha
junto à janela.

dave etter - estados unidos
tradução: do trapézio

08/06/2012

as femen atacam de novo: no brasil e na uefa

Mais  imagens das garotas do Femen, confirmando a sua irada militância contra o turismo sexual que, segundo as militantes do grupo, seria incrementado com a realização da Eurocopa na Ucrânia e na Polônia. 







 imagens extraídas de folha online

Leia e  veja também neste blog:

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E para quem ainda não sabe, já está começando a ser articulada a fundação do grupo Femen no Brasil, através da ativista  Sara Winter (nome fictício).
Naturalmente que um dos alvos, da futura ramificação aqui no Brasil, será a Copa do Mundo de 2014, certamente com a presença das militantes do grupo original, criado na Ucrânia em  2008.

Mais informações: aqui e aqui
As imagens mostram a militante Sara na Marcha das Vadias, que aconteceu em 26 de maio, em São Paulo:   

NA SEGUNDA MARCHA DAS VADIAS DE SÃO PAULO (à esq.) E PEDINDO A LIBERAÇÃO DE UMA ATIVISTA UCRANIANA PRESA EM PROTESTO
 

07/06/2012

a fome

Aqui, onde a mão não
alcança o interruptor da vida, aqui
só brilha a solidão.
Desfazem-se as lembranças contra os vidros.


Aqui, onde a brancura
dum lenço é a brancura do infortúnio


aqui a solidão
não brilha, apenas
se estorce.
A fome fala através das feridas.


luís miguel nava   - portugal  (1957  -  1995)

06/06/2012

litania dos pobres

(trechos)
Os miseráveis, os rotos
são as flores dos esgotos.

São espectros implacáveis
os rotos, os miseráveis.

São prantos negros de furnas
caladas, mudas, soturnas.

São os grandes visionários
dos abismos tumultuários.

As sombras das sombras mortas,
cegos, a tatear nas portas.

Procurando o céu, aflitos
e varando o céu de gritos.

Faróis à noite apagados
por ventos desesperados.

Inúteis, cansados braços
pedindo amor aos Espaços.

Mãos inquietas, estendidas
ao vão deserto das vidas.

Figuras que o Santo Ofício
condena a feroz suplício.

Arcas soltas ao nevoento
dilúvio do Esquecimento.

Perdidas na correnteza
das culpas da Natureza.

cruz  e souza, "faróis" (póstumo, 1900)

05/06/2012

ataques à internet livre

De alguns anos para cá têm sido recorrentes os alertas de ativistas e especialistas, contra as tentativas de goverrnos e grande empresas para ter mais controle sobre a internet, seja no âmbito do controle da privacidade das pessoas, seja no âmbito de censurar ou restringir  a livre circulação de idéias, informações e imagens.
Na verdade, para o decadente capitalismo, a única forma de sobrevivência aos avanços das lutas populares - que vêm se tornando cada vez mais planetárias - talvez seja exatamente a instauração de um sistema policialiesco, ultra tecnologizado e eficientemente sedutor para as massas, sejam dos setores médios sejam dos setores poulares. Enfim o tão temido advento do admirável mundo novo, já vislumbrado por Huxley há quase um século.
Mas se ameaças existem , também existem as resistências e a cosnciência dessas ameaças. O texto transcrito de Carta Maior trata dessa resistência:

Liberdade na internet está sob ataque, diz Richard Stallman
Marco Aurélio Weissheimer

Porto Alegre - O criador do movimento software livre, Richard Stallman, participou nesta segunda-feira (4), no Palácio Piratini, do lançamento da 13ª edição do Fórum Internacional Software Livre, que será realizada de 25 a 28 de julho, no Centro de Eventos da PUC-RS, em Porto Alegre. Em um ato que contou com a presença do governador Tarso Genro, Stallman falou sobre as crescentes ameaças à liberdade na sociedade digital.
Em uma rápida intervenção no início da cerimônia, o governador gaúcho disse que o movimento em defesa do software livre representa hoje “uma das lutas mais importantes para recuperar a densidade da democracia que hoje se encontra esvaziada”. Tarso agradeceu e destacou o empenho de ativistas como Marcelo Branco em defesa da liberdade digital. “Quando eu era ministro da Justiça, foi ele que me advertiu sobre a necessidade de entrarmos no debate sobre o projeto restritivo e de censura que tramitava então no Congresso Nacional. Conseguimos bloquear a votação desse projeto e ajudamos a estimular um debate nacional sobre o tema”.

A fala de Richard Stallman foi marcada por graves advertências acerca das crescentes restrições na internet. Para o criador do Projeto GNU, iniciado em 1983 nos Estados Unidos, coisas muito sérias estão acontecendo na sociedade digital. “A inclusão digital pode ser uma coisa muito boa ou muito ruim. Depende de onde a sociedade será incluída. O que vemos hoje é que a liberdade está sendo atacada de várias maneiras. Talvez tenhamos que diminuir um pouco a nossa inclusão para preservar as nossas liberdades”, sugeriu.
Após um período de euforia e liberdade, os usuários da internet devem começar a se policiar, pois tudo o que fazem está sendo gravado e classificado. A palavra “tudo”, aqui, não é força de expressão. É “tudo” mesmo. Stallman citou os casos do Facebook, do Google e do Google Analytics como exemplos de um sistema de vigilância que está sendo feito em vários níveis. O mais perigoso, defendeu, é aquele controlado pelos governos.
“Grandes empresas privadas como Amazon, Microsoft, Apple e grandes empresas de telefonia também têm seus sistemas de vigilância. Nós podemos controlar isso usando software livre, por exemplo. Mas quando se trata de governos, a situação é mais complicada. Na Inglaterra, há um sistema que diz onde está cada automóvel do país pelo controle da placa. É algo que Stálin não teve, mas que gostaria de ter”, brincou.
Durante a sua fala, Stallman anunciou, em tom de lamento, que amanhã (terça-feira) estará visitando a Argentina pela última vez em virtude de um sistema de gravação das impressões digitais de todas as pessoas que entram ou saem do país. “Será meu último voo para a Argentina. Algumas coisas não podem ser toleradas. O Estado não pode saber tudo sobre todos. A polícia secreta da União Soviética não tinha esse controle sobre a vida das pessoas”, protestou o fundador da Free Software Foundation, que acrescentou. “Numa sociedade livre, não pode ser fácil para a polícia saber tudo sobre todas as pessoas. Se for fácil, então não estaremos vivendo em uma sociedade livre”.
Stallman citou também como ameaça à liberdade a tentativa de censura na internet em vários países, mas essa luta, segundo ele, parece que está sendo vencida pela internet. “A censura existe muito antes do computador, mas parece que a internet está ganhando da censura. Muitos países têm tentado exercer a censura por meio de filtros e outros mecanismos, mas não estão conseguindo”. Outra forma de controle, apontou, é o uso de formatações sigilosas de dados para limitar o acesso. “Essa prática vem sendo usada por empresas para barrar a competição, com programas que restringem o acesso dos usuários. Vídeos estão sendo distribuídos dessa forma, com formatos secretos, para que não haja livre difusão”.

O ativista defendeu a necessidade de um maior engajamento político nesta luta contra as ameaças à liberdade no contexto da chamada sociedade digital. “Muitas pessoas não querem se envolver nos aspectos políticos dessa luta, o que é um erro. Num certo sentido, precisamos mais de ativistas do que de programadores hoje”, afirmou. Stallman defendeu, por fim, que os governos e as agências governamentais passem a usar prioritariamente softwares livres, o que não acontece hoje.

As ameaças que pairam sobre a liberdade na internet no Brasil

As ameaças sobre a liberdade na internet que pairam sobre o contexto brasileiro foram tema de uma intervenção de Marcelo Branco, logo após a fala de Stallman. Militante da causa da liberdade na internet há vários anos, Marcelo Branco apontou um conjunto de problemas e ameaças que já são reais no Brasil.

As empresas operadoras de telefonia, assinalou, representam hoje uma ameaça à liberdade na internet, pois querem quebrar a neutralidade da rede. Essa neutralidade significa que todas as informações que trafegam na rede devem ser tratadas da mesma forma, navegando a mesma velocidade. Trata-se de um princípio que garante o livre acesso a qualquer tipo de informação na rede e impede, por exemplo, que as operadoras possam “filtrar” o tráfego, definindo que tipo de dados pode andar mais ou menos rápido. Para Marcelo Branco, a neutralidade na rede não precisa de regulamentação. Ou ela existe, ou não existe. O grande risco, apontou, é que essa regulamentação seja feita pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) que seria “sensível” ao lobby das operadoras.

Em segundo lugar, Marcelo Branco apontou a indústria do copyright como outra ameaça à liberdade na internet. “As empresas que compõem essa indústria querem uma internet vigiada que criminalize o usuário. Empresas como Google e Facebook podem ser nossas aliadas neste item, mas, por outro lado, ameaçam a nossa privacidade”. Neste tema (do copyright), o ativista criticou a atual gestão do Ministério da Cultura, classificando-a como “reacionária e conservadora”.

A pressão pela criminalização na internet vem crescendo em vários níveis. Marcelo Branco considerou um absurdo querer responsabilizar um provedor por um eventual crime cometido por um usuário. “É como querer responsabilizar uma operadora de celular por um crime cometido por um bandido que utilizou o telefone durante o delito ou para praticar o mesmo”. Ele também criticou a retirada de conteúdo de páginas da internet sem mandado judicial. “Isso é inaceitável em um Estado Democrático de Direito”.

Por fim, Marcelo Branco criticou a iniciativa do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) de realizar uma consulta pública sobre patenteamento de softwares. “Foi um vacilo do governo Dilma. Uma das maiores lutas do movimento de software livre mundial, foi justamente contra a implementação de patentes de software na Europa. Em 2005, a Europa rejeitou a possibilidade do software ser patenteado. Patente de software é uma ameaça a inovação, ao software livre e a liberdade do conhecimento. O Brasil não pode seguir esse caminho", defendeu.

o que diz o rato

tenho um destino. nasci
para roer o silêncio – e vou roê-lo
metodicamente


até que um dia se invertam os papéis
e seja o silêncio a roer-me a mim.


a. m. pires cabral - portugal   (1941  -  )

04/06/2012

a arte de morrer

Escrevo para chegar
serenamente ao silêncio
do meu morrer.
Para aprender a calar-me
em paz comigo mesmo
sem medo
livre, no fim.

javier salvago - espanha   (1950 -   )
tradução: roberto soares

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Ars moriendi

Escribo para llegar
serenamente al silencio,
que es el morir.
Para aprender a callar,
en paz conmigo, sin miedo,
libre, al fin.