18/08/2011

colapsar o coração do império

OCUPAR WALL STREET
17 de setembro - Grandioso Dia 
OCUPAR O TEMPLO DOS MAIS  ARROGANTES, PODEROSOS, CRUÉIS E INSENSÍVEIS MERCADORES DO PLANETA - MAS TAMBÉM OS MAIS EMPOBRECIDOS ESPIRITUAL E EXISTENCIALMENTE  
Esse acontecimento será realmente imperdível, tem tudo para até mesmo se firmar como um dos mais marcantes momentos da Rebelião dos Povos e do Enfrentamento pelo Pacto (leia mais aqui)
Agende, acompanhe, ajude a divulgar, faça a sua parte para furar o bloqueio imposto pelas mídias do Sistema decadente.
Celebre junto, desperte junto, ajude a abrir os olhos de todos os que você puder, para o mágico e crucial momento que os povos do mundo estão atravessando em sua caminhada para o impor o Colapso do Sistema e o Pacto dos Povos.

 Para as páginas em inglês, caso queira tradução simultânea e ainda não saiba como proceder, utilizez o recurso 'Traduzir esta página', do Google: basta colar os endereços acima  no espaço de busca do Google) 

17/08/2011

a caminho do Colapso e do Pacto 2

17 de setembro: ocupar Wall Street
Indignados do mundo, uni-vos?
Um esboço de coordenação e de plataforma comum começa a ser articulado por lideranças das mobilizações de rua de países europeus. A grande novidade há muito ansiada pela esquerda mundial é a possível adesão de movimentos civis norte-americanos aos protestos que convergem para dois pontos: mais democracia, menos poder às finanças desreguladas. Tudo ainda muito incipiente, mas é certo que o amálgama tem a força da coerência: uma coisa depende da outra e a saída para a crise depende das duas. O impulso de convergência tem uma data e uma palavra de ordem que vai ao ponto unificando os dois propósitos das ruas: "17 de setembro: ocupar Wall Street'. A ver. Quem quiser ver mais: http://occupywallstreet.com/ (Carta Maior, 4º feira, 17/08/ 2011).
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Até que enfim: depois de surpeendentemente chegar até mesmo a Israel, a Rebelião dos Povos se consolida de vez na sede do Capitalismo, no coração mesmo do sistema agonizante, nada mais nada menos do que na famigerada e patética Wall Street.

A lembrar que os Estados Unidos abrigam não apenas os insanos  (e existencialmente pobres) comandantes a serviço da Besta Fera. A lembrar que lá, como em qualquer outro lugar, há um povo sufocado, esgotado por esse modo organização social, mas também disposto a resistir  e partir  para o enfrentamento com os comandantes capitalistas e disposto a contribuir para a exigência e a construção do Pacto dos Povos.
  
A propósito dessa vocação e disposição dos americanos para a Rebelião dos Povos, veja também texto publicado aqui em  maio: os primeiros brados no coração do império.

a caminho do Colapso e do Pacto 1

O estado do mal estar social
24 depois de anunciar a disposição do governo de resgatar valores e revisar políticas para a família, drogas e educação, o governo conservador de David Cameron informa que cogita dar maior poder à polícia inglesa para assegurar a ordem pública. Entre outras atribuições, forças de repressão poderão ganhar autonomia para cercar áreas, decretar toque de recolher em bairros e proibir a circulação de menores de 16 anos. Antes, Cameron já anunciara a disposição de bloquear comunicações de rede social, em situações de conflito. A Inglaterra dos conservadores se antecipa ao mundo para informar tudo o que a direita tem condiçoes de oferecer como alternativa à crise. (Carta Maior, 3º feira, 16/08/ 2011)
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Embora breve, o texto de Carta Maior, acima, serve como alerta para quem acha que está garantida a vitória da Rebelião dos Povos contra a Besta Capitalista: os comandantes da ordem atual tudo farão para mantê-la, inclusive com a tentativa de construir um mundo totalitário, com os povos e os governos submetidos a uma ditadura global, alicerçada no controle tecnológico.
E isso não é futurismo apocalíptico, cenário de ficção científica. É perigosamente real e  bastante plausível  o advento de um totalitarismo soft, tal como preconizado por Aldous Huxley, no "Admirável Mundo Novo".

Claro, não estamos presenciando ainda aquele espetacular e assustador desenvolvimento científico, apontado  pelo brilhantismo visionário de Huxley, mas com certeza já estamos  no meio de uma organização social na qual a riqueza do ser humano está sendo, cada vez mais, capturada e aprisionada na forma de  massas alienadas e fragmentadas, consumistas e assustadas - enfim, onde a alma da humanidade, feita de mistérios e de desafios, de possibilidades e de inquietudes, está sendo  reciclada  como mera e presunçosa alma de plástico.

O momento é muito mais grave do que parece. Por isso essas primeiras, esperançosas e guerreiras manifestações - que vêm se espalhando pelo planeta - adquirem uma importância e uma gravidade ainda maior. Parece que não haverá outra solução para os povos, a não ser essa de ir para as ruas e PARAR, INTERROMPER, COLAPSAR  essa perigosa marcha para o erro e para a perda de todos nós, inclusive daqueles que conduzem essa amaldiçoada marcha para a bárbarie. 

Parar, Colapsar, Impor um Repouso nessa nossa jornada sobre a Terra, fazer um enfrentamento radical com os comandantes e seus fantoches,  exigir e construir um Pacto definitivo entre os povos, um Pacto ousado, mas necessário, um Pacto que, na sua ousadia, tenha como horizonte não apenas solucionar nossas milenares e já absurdas questões de desigualdade e opressão social, econômica e cultural, mas que vá além, que se baseie na tarefa maior do homem sobre a Terra, que é a tarefa de testemunhar o mundo, o Cosmos, a vida e a sua própria vida.

Testemunhar, para que possamos todos de fato existir como luz e sal do Cosmos,  todos de fato agir como os olhos do divino, para que possamos todos de fato cumprirmo-nos como os olhos da Criação, a testemunhando e admiriar a sua própria riqueza, mistério e fragilidade: "a criação ainda geme em dores do parto", bela e ontológica mensagem bíblica, que, aliás, é o lema do Grito dos Excluídos de 2011. 
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Enfim, essa rebeliões que ora sacodem o mundo têm que ser vistas assim, como algo ainda mais crucial, como o começo da Construção deste Pacto -  um admirável e redentor começo, é verdade, pois ninguém aguentava mais tanta insanidade e apatia, tanta incerteza e perplexidade.

Mas, como todo processo histórico que está no seu começo, nada indica que chegará até ao final, que cumprirá a sua tarefa, se de fato não espalhar o seu advento e a sua urgência. Nada está garantido. Cumpre, antes de mais, divulgá-lo aos quatro cantos do mundo, de todas as formas, em todos os momentos, criar no mundo a definitiva Consciência Planetária de que é possível, necessário e urgente a cosntrução deste Pacto e deste Testemunho. 

De sua parte,  daqui por diante este blog Desvelar assume como sua principal tarefa, como sua ação precípua, colaborar dentro de suas modestas possibilidades na divulgação e criação dessa Consciência Planetária.

16/08/2011

a tecelã

Toca a sereia na fábrica
e o apito como um chicote
bate na manhã nascente
e bate na tua cama
no sono da madrugada

Ternuras de áspera lona
pelo corpo adolescente.
É o trabalho que te chama.
Às pressas tomas o banho
tomas teu café com pão
tomas teu lugar no bote
no cais de Capibaribe.

Deixas chorando na esteira
teu filho de mãe solteira.
Levas ao lado a marmita
contendo a mesma ração
do meio de todo o dia
a carne-seca e o feijão.

De tudo quanto ele pede
dás só bom dia ao patrão
e recomeças a luta
na engrenagem da fiação.

Ai, tecelã sem memória
de onde veio esse algodão?
Lembras o avô semeador
com as sementes na mão
e os cultivadores pais?
Perdidos na plantação
ficaram teus ancestrais.

Plantaram muito. O algodão
nasceu também na cabeça
cresceu no peito e na cara.

Dispersiva tecelã
esse algodão quem colheu?
Muito embora nada tenhas
estás tecendo o que é teu.
Teces tecendo a ti mesma
na imensa maquinaria
como se entrasses inteira
na boca do tear e desses
a cor do rosto e dos olhos
e o teu sangue à estamparia.

Os fios dos teus cabelos
entrelaças nesses fios
e noutros fios dolorosos
dos nervos de fibra longa.
Ó tecelã perdulária
enroscas-te em tanta gente
com os ademanes ofídicos
da serpente multifária.

A multidão dos tecidos
exige-te esse tributo.
Para ti, nem sobra ao menos
um pano preto de luto.

Vestes as moças da tua
idade e dos teus anseios
mas livres da maldição
do teu salário mensal
com o desconto compulsório
com os infalíveis cortes
de uma teórica assistência
que não chega na doença
nem chega na tua morte.

Com essa policromia
de fazendas, todo o dia
iluminas os passeios
brilhas nos corpos alheios.

E essas moças desconhecem
o teu sofrimento têxtil
teu desespero fabril.
Teces os vestidos, teces
agasalhos e camisas
os lenços especialmente
para adeus, choro e coriza.

Teces toalhas de mesa
e a tua mesa vazia

Toca a sereia da fábrica,
E o apito como um chicote
bate neste fim de tarde
bate no rosto da lua.

Vais de novo para o bote.
Navegam fome e cansaço
nas águas negras do rio.

Há muita gente na rua
Parada no meio-fio.
Nem liga importância à tua
blusa rota de operária.

Vestes o Recife e voltas
para casa, quase nua.

mauro mota - pernambuco, brasil, "elegias" (1952)

15/08/2011

os que vinham da dor

Os que vinham da Dor tinham nos olhos
estampadas verdades crudelíssimas.
Tudo que era difícil era fácil
aos que vinham da Dor directamente.

A flor só era bela na raiz
o Mar só era belo nos naufrágios
as mãos só eram belas se enrugadas
aos olhos sabedores e vividos
dos que vinham da Dor directamente.

Os que vinham da Dor directamente
eram nobres de mais pra desprezar-vos
Mar azul!, mãos de lírio!, lírios puros!
Mas nos seus olhos graves só cabiam
as verdades humanas crudelíssimas
que traziam da Dor directamente.

sebastião da gama  - portugal

12/08/2011

sandy, não me engan que eu não gosto

por Celso Lungaretti

É possível extrair-se prazer de todo e qualquer exercício da sexualidade, até porque a pessoa não se entregaria a ele caso o desagrado fosse maior do que o agrado. Elementar.
Mesmo os masoquistas sentem prazer com a dor, embora, para a maioria, isto pareça bizarro.

Então, é de um ridículo atroz o auê que a revista Playboy armou para promover sua edição de aniversário, fazendo circular a informação de que a principal entrevistada, a cantora Sandy, afirmou ser possível sentir-se prazer com a sodomia. Além de escalar celebridades para, com suas declarações, darem maior quilometragem à besteirinha.

E daí? Não estamos mais na década de 1970, quando os brasileiros amaldiçoavam a censura ditatorial por lhes impedir de ver Marlon Brando simulando penetração anal em Maria Schneider, no lendário O último tango em Paris (d. Bernardo Bertolucci, 1972) -- um filme que merecia ser reconhecido como ótimo drama e não se tornar um sucesso de escândalo .

Quem viajava e assistia lá fora, era obrigado a contar tintim por tintim para os amigos.
Quando finalmente foi liberado, lá por 1980, eu estava entre os críticos de cinema convidados para a primeira cabine, antes da estréia.
O assessor de imprensa da empresa distribuidora nada viu de errado em trazer seu filho, que tinha uns 15 anos de idade. E não havia mesmo, salvo, talvez, o tédio que lhe deve ter causado.
Enfim, mais manjado e retrô do que este truque promocional da Playboy , impossível.
Afora a escolha de Sandy para a jogada rasteira ter sido, obviamente, inspirada no espanto (choque de imagens) causado por sua participação nos comerciais da cerveja Devassa . Estão vendendo o mesmo peixe pela segunda vez. Já apodreceu.

É lamentável uma moça que sempre nadou em dinheiro estar se prestando a um papelão desses para reerguer uma carreira artística em baixa. Não tem sequer a atenuante da necessidade.
Sandy, não me engana que eu não gosto!

10/08/2011

relâmpagos de memória

Tão vivos como se os factos acabassem de acontecer.

Por vezes incómodos, feitos juízes, opondo-se aos arranjos que inconscientemente propomos para moldar as versões do passado.

Desagradáveis também, recusando sumir no fundo para onde os queremos empurrar.

Ou meigos como ternuras de amante, embelecendo a lembrança, colorindo e tornando duradouro o que foi cinzento, o que foi fugaz.

A memória que nos põe em palcos onde nunca estivemos, fazendo-nos ouvir o aplauso nunca recebido.

A memória, com seus sobressaltos e mistérios, as suas sombras, cheia de ziguezagues, reviravoltas, impasses.

Cheia também de armadilhas em que de boa vontade caímos, a tecer a interminável teia do que não foi mas podia ter sido, da ficção tornada real à força de sonhada.

A memória e o seu comparsa, o esquecimento.

J. Rentes de Carvalho - Portugal
"La Coca", Editora Quetzal (2011), p. 15
Transcrito de Rua das Pretas

09/08/2011

a besta na fornalha 2: capitalismo está podre:

As convulsões do capitalismo
Na civilizada Grã-Bretanha acontecem motins de rua. Os EUA são degradados pelas agências de classificação de crédito. O pânico atinge bolsas de valores de todo o mundo. A Espanha e a Itália ameaçam ser os próximos países insolventes (a seguir, na fila, está a Bélgica). O mundo já está em recessão e no limiar de uma depressão. Milhões perdem o emprego e as casas no centro do império. E este intensifica o seu belicismo, com agressões contra tudo e contra todos (Líbia, Afeganistão, Iraque, Somália, Colômbia, ...). O grande beneficiário, o capital financeiro, vive à custa dos erários públicos. O capitalismo está podre. Entrou numa fase autofágica e já não é "consertável". Há que substituí-lo. resitir.info, em 09/08/2011

imagens da rebelião pelo mundo

israel, surpreendente e comovente: a libertária imagem do che ao lado
da  bandeira  que até hoje simbolizava o fascismo, a arrogância
e a apatia, mas que de agora em vai fazer parte 
da luta dos povos   

londres: a cidade arde, enquanto os estupefatos e impotentes
capangas  da ordem tentam conter os 'desordeiros' 

londres

londres

chile: os estudantes desafiam o que resta da ditatorial elite
 que alimentou pinochet, com seus gorilas uniformizados
que  viva españa!!! ao lado dos gregos, o povo que se faz  mais
 combativo e mais organizado nesta rebelião planetária

espanha

a besta na fornalha 1

O breve editorial de Carta Maior, desta terça, resume bem a explosiva situação do Ocidente: enquanto se alastra pelo mundo (Chile, Espanha/EuropaInglaterra, Egito e até mesmo Israel) a revolta contra essa estúpida, obsoleta e opressiva forma de organização social, chamada Capitalismo, os seus dirigentes políticos ainda agem  como se tudo fosse passageiro, como se fossem distúrbios localizados e sem nenhuma afinidade entre eles.

Não conseguem ver, ou fingem que não vêem, a profunda ligação entre tantas manifestações de revolta e de desespero, mas também de resistência e de superação, contra essa ordem que já teve a sua importância histórica, que  cumpriu de fato a sua tarefa dialética, como impulsionadora da jornada humana sobre a Terra, mas que hoje é apenas uma Besta Fera que se recusa  a morrer. 

Quanto a essas espetaculares manifestações no Chile e na Inglaterra, registre-se: nem só de marchas e acampamentos pacíficos vive a Rebelião no Ocidente, mas também de confrontos e enfrentamentos, sejam eles aparentemente raivosos  e desorganizados, sejam eles articulados e extremamente politizados, como têm sido, desde 2008,  as admiráveis manifestações dos Anarquistas e Libertários da Grécia - que foram, aliás, aqueles que detonaram, ou ao menos inspíraram,  este fascinante e extremamente necessário processo de resistência, de enfretamento e de crença na possibilidade de FAZER COLAPSAR O OCIDENTE PARA DAÍ RETOMARMOS A NOSSA JORNADA SOBRE A TERRA, com valores, projetos, sonhos e formas de convivência menos nocivos, descrentes e agressivos para com o planeta e conosco mesmos. Leia abaixo o texto de Carta Maior:


Cameron antecipa como a direita vai resolver a crise: 'é uma questão de polícia, estúpido!'
Premiê britânico resume os maiores distúrbios sociais da história de Londres a uma questão de 'criminalidade pura e simples'. Governo envia mais 16 mil policiais às ruas.Há 500 detidos e mais um morto. Tudo começou com o assassinato,sábado, de um jovem negro detido pela polícia num bairro pobre da periferia de Londres. No mesmo bairro, o orçamento social foi cortado pela sub-prefeitura em 75% e 8 dos 13 centros de lazer e atendimento à juventude foram fechados. Passo um: ajustes da crise. Passo dois: à fúria dos desajustados, o porrete. Em ponto pequeno, a direita britânica dá um jeito na crise mundial. Transcrito de Carta Maior

até a esquerda já se assusta?!

Apesar de estranha e visivelmente se tratar de uma abordadem ambígua (com sua mal disfarçada e moralista condenação dos protagonistas dos protestos) vale a transcrição dessa matéria acerca dos acontecimentos de Londres. Um pouco pelo relato preciso e detalhado e um pouco exatamente pelo de medo e susto do autor da matéria.
Mas o autor não se assusta sozinho,  afinal a esquerda partidária e institucionalizada sempre se assusta quando perde o controle das massas, quando não consegue entender e aceitar o seu fracasso em trazer o povo para as ruas, com tamanha energia, rebeldia e consciência de sua força.

O caos em Londres (noite 3)
por Wilson Sobrinho, correspondente da Carta Maior em Londres

Caos. Essa palavra tão abusada ao longo da história precisaria ser reinventada para descrever o que se vê na cidade que se orgulha de ser uma das mais seguras e organizadas do planeta. Dalston, Chalk Farm, Woolwich, Lewisham, Clapham, Hackney, London Bridge, Croydon, Peckham, Ealing, Canning Town. A lista de bairros com registro de distúrbios cresce com o avanço da noite e se aproxima do centro a passos largos. A luz que mais chama a atenção na cidade são as das lixeiras, dos carros e dos prédios em chamas.
Muitas testemunhas relatam saques, incêndios perpetrados por grupos de jovens e pouco ou nenhum policiamento. O vice primeiro ministro definiu com precisão. Atos de violência sem sentido. Agora, à meia noite em Londres, as forças policiais e de combate de incêndio estão operando perigosamente perto de seus limites.

Uma coisa que chama a atenção de quem mora em Londres é que sempre há uma noção de apocalipse rondando o ar respirado pelos londrinos. Seja pela imensidão da cidade, por tudo o que já se experimentou por aqui – bombardeios da Segunda Guerra Mundial ou os ataques terroristas de 2005. Em 2009, por exemplo, quando da gripe suína, o medo era palpável nas ruas e no transporte público. Em 2010, quando uma nevasca trouxe a cidade e o país a um estado de paralisia quase total, pessoas corriam para as lojas estocar comida como se estivessem em um filme B dos anos 1970. Mas agora é diferente.

Em Birmingham, a segunda maior cidade inglesa, mais saques, confusão e gente presa. Pela BBC, chegam notícias de Liverpool, dando conta de que a rebelião chegou lá, pela zona sul da cidade. Sob qualquer aspecto, a sensação é de perda de controle.

Esse é o período de férias de verão na Inglaterra: e o primeiro ministro, o prefeito de Londres, a secretária da Casa Civil e até o líder da oposição, todos se encontravam longe de Londres. Os jovens gangsteres, vestidos com capuzes para cobrir o rosto, aproveitaram o momento para se acomodar no assento de motorista, dirigindo a capital rumo a uma estrada perdida.

A verdade é que esses garotos que causam toda essa confusão sempre estiveram patrocinando vandalismo e pequenos crimes ao redor da cidade. Como antes eles estavam, no mais das vezes, restritos a áreas distantes, geralmente afastados das regiões mais afluentes, foi fácil para a sociedade ignorar o problema. Até agora. Então um conjunto extraordinário de fatores que vão da crise de emprego às medidas de austeridade, das férias escolares de verão à cultura da ganância catalizaram todo o potencial de destruição de uma só vez.

E a sensação que isso gera em qualquer um é o atordoamento da incredulidade. Agora imagine a descrença que isso gera nos moradores de uma cidade como Londres, tida como modelo básico da civilização ocidental.
Foi preciso 48 horas para o primeiro-ministro David Cameron anunciar seu retorno das férias para cuidar do que agora já toma contornos da maior crise civil já enfrentada por um país de primeiro mundo. Embora não seja o assunto do momento, quando a fumaça dissipar, essa demora na resposta irá certamente gerar embaraços e perguntas.

Mas as perguntas mais fundamentais não são as que definirão o futuro de David Cameron como primeiro ministro. As perguntas que todos se fazem nesse momento é como se chegou a essa situação. Que loucura é essa que vem se espalhando pelo globo a uma velocidade impressionante neste ano de 2011 e quantos cantos sairão incólumes a essa tsunami de rebeliões, revoluções, desobediência civil.

Que cartas tem David Cameron na mão para retirar esses "bandidos" das ruas é algo que deve se começar a responder amanhã à noite, quando, a menos que um milagre aconteça nas próximas horas, Londres entra no quatro dia de caos . Mas diante dos fatos, não é possível descartar nem mesmo a presença do exército nas ruas.

'A noite em que tive orgulho de ser israelense'

Gideon Levy - Haaretz, transcrito de carta maior

Foi a noite em que Benjamin Netanyahu foi expulso do gabinete de Primeiro Ministro em desonra.
Netanyahu permanecerá no gabinete por um tempo, mas esse tempo está aí. Acabou. Ele vai se contorcer e fazer promessas, dar declarações e virar as costas, ele vai pregar mais algumas peças, mas isso não vai ajudá-lo nem um pouco.

Assim como o foi ontem, ele é um pato manco. Na noite de sábado, o 17° primeiro ministro de Israel recebeu sua carta de demissão. Quando dezenas de milhares de israelenses ao longo do país gritaram “Bibi, vá para casa”, Bibi irá de fato para casa. Bye bye, Bibi, adeus para sempre.

Essa foi a noite de que todo israelense pode se sentir orgulhoso de ser israelense, como nunca antes o foi. A verdadeira marcha do orgulho de Israel ocorreu ontem. Não pode haver melhor campanha de relações públicas para um país desprezado e evitado, do que a manifestação de ontem à noite, deste novo Israel. O ministro do Exterior deveria transmitir as imagens para o mundo todo: a democracia de Israel celebrada sábado à noite, como não o era em anos, levantando-se contra todos os que a queriam morta. Sem violência, sem apoios políticos supérfluos, nem Cairo, nem mesmo Atenas, mas algo muito mais bonito – uma luz genuína para as nações.
O povo, digamos, falou com uma voz alta; sem medo e sem causar medo – Tahrir, liberdade, mas não tiroteio. Falar? Não, gritar. Sim, na noite passada eu estava muito orgulhoso de ser um israelense. Só me senti embaraçado diante de minha inabilidade em assobiar com dois dedos, como a massa que marchava pela rua Ibn Gvirol assobiava, em deboche, num volume de doer os ouvidos, ecoando pelos muros do [restaurante] Goocha, para onde os clientes tinham ido comer frutos do mar como se nada fora do comum estivesse se passando. Se soubesse, eu também teria assobiado.

Nunca houve uma manifestação como essa antes em Israel – todo mundo junto, jovens e velhos, direita e esquerda, árabes e judeus. O estado que foi criado no (velho) Museu de Tel Aviv demonstrou na noite passada sua robusteza e maturidade diante do atual Museu de Arte de Tel Aviv.
Entre esses museus repousam 63 anos de altos e baixos. A noite passada foi a mais alta marca d’água recente. Foi também, aparentemente, a maior demonstração da história, a maior depois da de Sabra e Shatila.

Os manifestantes mandaram ver ontem à noite. Palavras de ordem contra os altos preços dos alugueis eram raras. “O povo quer justiça social” era a mais comum, seguida por “Hoo, há, mi zeh ba”? Medinat harevaha (“O que é isso que vem aí? É o Estado de Bem Estar Social”). Socialismo, hoje? Sim, com a garganta engasgada e tons emocionais. O protesto ganhou asas ontem à noite. Esqueçam o protesto sobre moradia, não se trata mais somente disso. Aqueles que temiam que os protestos fossem muito restritos, comezinhos, ontem assistiram à sua expansão. Seus objetivos já ultrapassaram o aluguel de um pequeno apartamento.
Aqueles que fizeram caretas para o mini-Woodstock no Boulevard Rothschild devem reconhecer, agora, que o que ocorreu nesse boulevard é apenas o ponto de partida para a explosão de um movimento, o mais impressionante movimento da história de Israel.
Os cínicos deveriam ter vergonha de si mesmos. Qualquer um que estivesse nas ruas na noite passada só poderia se comover – e, se não, então deveria ter vergonha. Quando pisei no pé de um inocente transeunte, um homem religioso, ele encrespou: “Isso não é justiça social”. Alguém tinha ouvido essa expressão antes de tudo isso começar?

A trilha sonora da semana passada incluiu John Lennon, mas na noite passada Janis Joplin foi acrescentada – outra maneira de tornar tudo mais legal. Corinne Alal’s “Zan Nadir” também tocou na noite passada. “Estamos com medo de nossa própria sombra, presos dentre os muros dos edifícios, e a maior parte do tempo com vergonha de nossos corpos, espremidos em abrigos antiaéreos... Somos espécies raras, um pássaro estranho, sonhos no ar e cabeça no chão”. Na noite passada, os sonhos estavam no ar, e que ar! Na noite passada eu tive muito orgulho de ser um israelense.

chile: a rebelião finca os pés na latinoamérica

Repressão, a resposta de Piñera aos estudantes chilenos
transcrito de carta maior
O governo conservador de Sebastián Piñera respondeu à nova manifestação dos estudantes chilenos, mobilizados em defesa da educação pública, com balas de borracha, gás lacrimogêneo e 133 detenções. As forças de segurança impediram que os estudantes secundaristas e universitários utilizassem o transporte público e realizou batidas nos colégios tomados. O porta-voz do Palácio de La Moneda, Andrés Chadwick, advertiu que não o governo não permitiria que os estudantes tomem conta do país, que a jornada de hoje seria “difícil” e que a lei “tem que ser respeitada”.

Horas antes da repressão, a líder universitária Camila Vallejo justificou o protesto porque “não aconteceram avanços substantivos” nas negociações que mantiveram nos últimos dias com representantes do governo Piñera. O governo havia feito uma proposta de 21 pontos, que despertou a imediata rejeição dos estudantes.

Em resposta, o porta-voz do governo disse que “os estudantes não são donos do país” e os criticou por estarem “obstinados” em marchar rumo ao palácio.

Na metade da manhã desta quinta-feira, os dirigentes estudantis apresentaram à Corte de Apelações de Santiago um recurso de proteção contra o ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter, que os proibiu de marchar. Neste clima, a polícia atuou durante toda a manhã com detenções e ações de dispersão em distintos pontos da cidade.

O centro amanheceu com barricadas que cortaram o trânsito em vários pontos, como antessala das mobilizações que já tinham sido proibidas. Não obstante, a concentração iniciou na avenida Alameda, rodeada por mil carabineiros que, minutos antes da marcha, avançaram com carros com jatos d’água e gases para dispersar os primeiros grupos.
Logo em seguida, as forças de segurança impediram que vários grupos de jovens subissem nos ônibus da Transantiago que conduzem ao centro da cidade e desalojou vários colégios que estavam ocupados como o Colégio Alemão de Arica e o Liceu Vanlentín Letelier, de Recoleta, onde vários estudantes foram detidos.

Por sua parte, os partidos da Concertação começaram a expressar seu rechaço à repressão e exigiram que o governo respeite o direito à manifestação. Os deputados da Democracia Cristã, Gabriel Silber e Ricardo Rincón foram ao Palácio de La Moneda entregar uma carta a Hinzpeter criticando a decisão de não autorizar as marchas e – ante a possibilidade de pessoas ficarem feridas – “responsabilizando diretamente ao governo por não entender que a repressão e a limitação dos direitos básicos não é o caminho”. 

06/08/2011

a grande encenação

EUA: A GRANDE ENCENAÇÃO DA CLASSE DOMINANTE


A encenação em torno da "debt ceiling" dos EUA vai ser rematada agora. Trata-se de uma farsa sinistra montada para reduzir os benefícios sociais dos trabalhadores americanos. A redução das despesas exigida pelos republicanos não era com as das múltiplas guerras travadas pelo imperialismo mundo afora. Era, sim, para reduzir ainda mais a segurança social, o Medicare, etc. Aparentemente conseguiram o que queriam. O governo Obama capitulou duplamente: com o corte nas despesas sociais e com o não aumento de impostos sobre os altos escalões de rendimento e sobre a propriedade. Ganhou com isso uma sobrevida até as eleições de 2012. E depois?
Transcrito de resistir 

um poema veloz

Ouvindo cantos gregorianos
seguia num carro veloz
numa auto-estrada de França.
As árvores precipitavam-se para o passado. As vozes
dos monges cantavam louvores a um deus invisível
(ao amanhecer, tremendo de frio numa capela).
Domine, exaudi orationem meam
vozes masculinas suplicando calmamente
como se a salvação fosse emergir no jardim.

Para onde ia eu? Para onde ia o sol?
A minha vida estendia-se esfarrapada
pelos dois lados da estrada, frágil como o papel de um mapa.
Na doce companhia dos monges
fiz o meu caminho em direcção às nuvens, ao profundo
alto, denso azul
em direcção ao futuro, ao abismo
engolindo as ásperas lágrimas do granizo.

Longe da manhã. Longe de casa.
No lugar de muros - chapas metálicas.
Em lugar de uma vela - uma fuga.
A viagem em vez da recordação.
Um poema veloz em vez de um hino.

Uma pequena estrela cansada correu
à minha frente
e o asfalto da auto-estrada brilhou
revelando onde estava a terra
onde aguardava na expectativa a lâmina do horizonte
e a aranha negra do anoitecer
e da noite, viúva de tantos sonhos.

adam zagajewski - polônia

madrugada

Ah! Este poema das madrugadas
que há tanto tempo enrodilhado
num sem-fim de estados de alma
me obcecava, tirânico
sem se deixar fixar!...

Madrugada... e esta solidão crescendo
esta nostalgia maior, e maior, e maior
de não se sabe o quê
- nunca se sabe o quê...

que haverá nestas horas sozinhas e geladas
para assim trazer à tona as indefinidas mágoas
as saudades e as ânsias sem motivo
- de que não sabemos o motivo?...

Vieram as saudades do tempo de menino
- ou dum paraíso lá não sei onde?

Ah! que fantasmas pesaram sobre os ombros
que sombras desceram sobre os olhos
que tristeza maior fez maior o silêncio?

A que vem esse calor distante e absorto
esse calar, esses modos distraídos?
Meu pobre sonhador! a esta hora
porventura se desvenda a Suprema Inutilidade?
e a definitiva ilusão de tantos gestos?

Interroga, interroga...
vai sonhando
sem que saibas sequer o caminho que segues
vai, distraído e pensativo
alheio de hoje
vivendo já o derradeiro segundo...
Que a madrugada tem o pungir das agonias
mas alheio, como o fim dum pesadelo...

adolfo casais monteiro - portugal



05/08/2011

a tirania da beleza

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS

São no mínimo intrigantes os títulos de livros como A tirania do prazer (Jean-Claude Guillebaud), O império do efêmero (Gilles Lepovetsky), Estrangeiro a si mesmo (Marc Augé) e Modernidade líquida, Amor líquido ou Medo líquido (Zygmunt Bauman), entre outros. Os autores expressam um contexto sociocultural onde as pessoas parecem fazer parte de um teatro de marionetes, cujos fios, controlados por forças invisíveis, adquirem maior eficácia em termos de sedução e fascínio. Por trás ou acima do palco iluminado, dedos igualmente invisíveis e poderosos manipulam gostos, vontades e desejos, na busca de um modismo permanente.

Surge em toda sua nudez o contraste entre o mundo real e o virtual. No primeiro, o cotidiano de milhões de cidadãos traz a marca da luta pelo trabalho, a moradia e a educação, pela saúde, a segurança e o transporte, pelo alimento, a roupa e o lazer. Um dia-a-dia prosaico e fastidioso, permeado de dúvidas, angústias e contradições. Já no mundo virtual, grande parte da população se move pelo glamour do fashion show, as luzes e sons do Shopping Center, o desfile das modelos ou candidatas a miss Brasil ou miss Universo, os caprichos das estrelas e celebridades da fama, os apelos das últimas novidades no mundo informática, a profusão de cirurgias plásticas, o som metálico dos vídeos-game, e assim por diante.

Num centro indeterminado, também ele invisível, um cérebro e um olho, oniscientes, onipresentes e onipotentes, dirigem o grande espetáculo. Ou, ao contrário, serão olhares múltiplos e diferenciados, estrategicamente distribuídos nos pontos nevrálgicos das redes virtuais? Seja como for, o universo da economia globalizada e da padronização cultural mais parece um gigantesco Big Brother. Cenário que nos remete ao conceito de “sociedade panoptizada”, extraído do livro Vigiar e Punir, história da violência nas prisões (Michel Foucault). Vale notar o número de palavras em língua inglesa nos dois parágrafos anteriores, o que pode nos orientar na descoberta das torres de comando onde se escondem os deuses – no plural – dessa monumental “divina comédia” ou “comédia humana” (outros títulos das grandiosas obras de Dante Aleghieri e Honoré de Balzac, respectivamente).

Em meio a esse choque, o indivíduo se vê afogado pela enxurrada da publicidade agressiva e permissiva, ao passo que, por outro lado, corre atrás das necessidades básicas de uma sobrevivência penosa e precária. Diariamente prensado entre dois chamados igualmente pungentes. Sonha com o ideal e tropeça no real. Bate as asas para subir ao céu e se vê acorrentado às urgências terrenas. O pensamento voa, os pés se arrastam lenta e laboriosamente. Almeja brilhar como estrela, mas não passa do reflexo de um planeta. A tirania da beleza, de maneira invasiva e estridente, tanto mais forte quanto sub-reptícia, dita as regras, as medidas, o vaivém da moda, os produtos necessários para “manter-se em dia”, os padrões modernos, as fórmulas mágicas para emagrecer ou melhorar a perfomance... Diante de tantas exigências artificiais para ser alguém, o indivíduo se descentra e, no dizer de Marc Augé, a própria casa invadida por tantas sugestões pode se converter em um “não-lugar”.

Prevalece a busca por um corpo perfeito, obcecado pela balança, pelo espelho, pela foto estampada ou pelo bolso – talvez os órgãos mais sensíveis do corpo humano! Ou ainda, a visão mágica de um sucesso instantâneo, revestido de luxo e poder. Multiplicam-se por toda parte os Ronaldinho(s), Neymar(s), Michael Jackson(s), Henry Porter(s) ou as Gisele Bündchen(s), Amy Winihause(s) Elis Regina(s), Lady Diane(s)... De passagem, que tal um voo de pássaro pelas páginas dos jornais ou pelos noticiários televisivos dos últimos anos! Bastaria isso para dar uma idéia de quantos jovens, de ambos os sexos, foram vítimas às vezes fatais dos aplausos de uma platéia eletrizada e enlouquecida, da idolatria massificada, ou, mais concretamente, da lipoaspiração, das overdoses de álcool e droga, do da riqueza fácil e precoce, etc. Rojões que se apagam, despencam e viram cinzas de forma tão veloz e abrupta como haviam subido, explodido na “sociedade do espetáculo” (Guy Debord) e iluminado o céu de luzes e cores. Espigas ceifadas em plena primavera: murchas e mortas antes da colheita ou do outono!

Nos termos de Bauman, com frequência inusitada, a fama, o sucesso e o dinheiro se liquidificam, uma vez que nem sempre se erguem sobre alicerces sólidos. Vale o mesmo, não raro, para os valores, as relações e os direitos humanos. A metáfora do “ficar” é sem dúvida um exemplo emblemático. Namorar exige compromisso, carinho, compreensão, mudança, diálogo, renúncia, capacidade de perdoar, respeito à alteridade... Numa palavra, renascimento e crescimento recíprocos. O diabo é que o ato de nascer e crescer pressupõe insegurança, impotência e sofrimento. O amor é flor exposta ao vento e às intempéries. Por que seguir esse caminho longo, se existem atalhos mais curtos? Por que suportar a dor, se o mercado dispõe de analgésicos para tudo? Por que ruminar fracassos, se a lição acaba saindo tão cara?

Claro, melhor ficar, utilizar o outro para o prazer momentâneo. De preferência alguém sem rosto, sem nome, sem endereço, sem família e sem história... Dá menos trabalho e tudo se resolve sem conseqüências embaraçosas. A intimidade pode trazer sérios problemas. Mais fácil cada um ficar na sua, numa boa! E se houver algum acidente de percurso, uma gravidez inesperada e indesejada, por exemplo? Bem, neste caso a mulher que resolva! Isso explica porque conhecemos tão bem ( e julgamos tão mal) as mães solteiras, mas em geral ignoramos o paradeiro dos pais solteiros. Explica também a quantidade de abortos e o abandono de tantos recém-nascidos, muitas vezes por adolescentes e jovens, incapazes de levar adiante, e sem qualquer ajuda, semelhante “fardo”. Numa sociedade histórica e estruturalmente patriarcal, o peso de uma relação fugaz e irresponsável recai quase que inteiramente sobre o sexo feminino.

Também as relações se liquidificam. De duas uma: ou se descartam as pessoas da mesma forma que os objetos, ou cultivamos um amor doentio e possessivo. O que joga luz sobre dois extremos tão comuns na sociedade atual. De um lado, troca-se de namorada, de amigo ou até de esposa quase como se troca de roupa; de outro, um rompimento da relação pode significar um risco de morte, na imensa maioria dos casos para a mulher. Leviandade ou tirania, dois conceitos que, da mesma forma que outros extremos, também se tocam e andam juntos. Ou se joga pela janela um relacionamento de anos ou décadas, ou, pelo contrário, se inibe e intimida qualquer idéia de rompimento. Muitas vezes, sob a mira de um revólver e a ameaça de perseguição, sequestro ou morte.

A ansiedade entre a realidade e a ilusão acaba sendo elevada à máxima potência pelos apelos de um marketing pesado e repetitivo. Um verdadeiro tsuname de mercadorias invade, varre e devasta a vida e a casa de cada família. A força, a insistência ou a subtilidade da propaganda cria e mantém necessidades artificiais. Evidencia-se, assim, a dimensão dupla da globalização: extensiva, na medida em que procura incorporar novas regiões e países, novas matérias-primas e pessoas à economia de mercado; e intensiva, no sentido de ampliar a fé e o consumo dos que já professam o credo capitalista. Não poucos passam a desejar coisas que nem sempre sabemos para que servem, se é que servem para algo! As novidades exibem sua dança contínua diante dos olhos, é preciso atualizar-se, fazer como todo mundo!

A tirania se instala pelo lado mais fraco do desejo: propõe, impõe, padroniza e impera. Mas o faz de forma diferenciada e perversa. Enquanto uns são despertados para o desejo e a compra, a população em geral o é somente para o primeiro, pois não pode dar-se ao luxo de adquirir tudo o que deseja. Imaginemos, por exemplo, os sentimentos de um trabalhador de baixa renda, frente à telinha apelativa juntamente com seus filhos pequenos, às vésperas do Natal ou do Dia da Criança! Esta aponta o dedo e deseja o brinquedo, profusa e estrategicamente iluminado. Os meninos e meninas de Fulano, Sicrano e Beltrano têm carrinho de controle remoto, bonecas capazes de falar e chorar, jogos que brilham e emitem vozes metálicas...

Mas o pobre pai tem consciência da dispensa vazia (quando há uma), do aluguel atrasado, das contas a pagar, das exigências da escola, dos remédios, do trocado para o ônibus... Daí o sentimento de inferioridade, e às vezes de fracasso. A felicidade passa a ser sinônimo de ter, consumir, aparentar, renovar, descartar. Frágil e efêmera felicidade, incapaz de resistir à primeira queda ou desilusão. Pior ainda, essa tirania vem acompanhada de uma cegueira inevitável para outras dimensões da beleza, tais como a das relações humanas, do silêncio da oração e meditação, da sensibilidade estética, da compaixão e solidariedade. A beleza se reduz a um “eu” atomizado, onde as partículas dos interesses, afeições e sentimentos gravitam em torno do próprio núcleo, quando não do próprio corpo cristalizado numa estátua ou num fóssil.

04/08/2011

a arte do poeta

escrever um poema é ser assaltado
e manter o sangue frio

ou fazê-lo ferver, borbulhar e correr
nas frias treliças metálicas
do concreto armado

escrever um poema é costurar
gotas
de suor ou lágrimas
tecer longa colcha de ondas
sobre sonhos profundos

ou subir na espiral dos sons
de uma escada cujos degraus
são as notas de uma canção oca
e ascender
através das nuvens evaporadas
rumo ao sol
ao céu
ao nada

lucas nicolato

pacto

Para o caso de chover na tua rua
e quereres enxugar o corpo
entre meus braços
Para o caso de o silêncio te acometer
e recordares a língua estranha
que aprendeste a meu lado
Para o caso de regressares
humedecendo de luas as lembranças 
Para o caso de o trópico te reclamar
impaciente entre seus verdes
Ou para o caso de ser noite na tua morada
deixarei aberta a porta.
josefa parra - espanha,  tradução: a.m

a rebelião se internacionaliza na europa

15-M dá início a Marcha Internacional rumo ao Parlamento Europeu

Uma nova jornada começará em diversos países rumo a Bruxelas, onde está a sede do Parlamento Europeu. Essa marcha internacional, que começou dia 26 de julho, com a partida de cerca de 30 pessoas desde a Puerta del Sol, em Madri, que chegará a seu destino no dia 8 de outubro, uma semana antes de uma grande manifestação internacional planejada pelo movimento Democracia Real Já. Trata-se de uma mobilização, prevista para 15 de outubro, cujo objetivo será o de declarar que os cidadãos não são mercadorias na mão de políticos e banqueiros. Por Fabíola Munhoz, transcrito de Carta Maior

Dia 25 de julho foi feriado na Espanha em celebração ao dia de Santiago de Compostela, santo que dá nome a uma famosa rota espiritual e cultural de peregrinos, que conecta diversas zonas da Europa. Nessa data, os participantes do 15-M se reuniram no Parque do Retiro, em Madri, para debater a organização e o planejamento de duas ações espelhadas na Marcha Popular Indignada, que chegou à capital espanhola no último sábado, depois de 29 dias de caminhadas por diferentes cidades da Espanha.

Uma dessas novas jornadas começará em diversos países do continente rumo a Bruxelas, onde está a sede do Parlamento Europeu. Essa marcha internacional, que começou nesta terça-feira (26) às 18h00, com a partida de cerca de 30 pessoas desde a Puerta del Sol, chegará a seu destino no dia 8 de outubro, uma semana antes de uma grande manifestação internacional planejada pelo movimento Democracia Real Já. Trata-se de uma mobilização, prevista para 15 de outubro, cujo objetivo será o de declarar que os cidadãos não são mercadorias na mão de políticos e banqueiros.

Os ativistas que se propuseram a essa nova aventura continuarão seguindo o procedimento adotado para a Marcha Popular Indignada: visitar cada comunidade encontrada no caminho, para realizar nesses locais assembleias que permitam a coleta de reivindicações populares. O primeiro ponto de parada dessa nova rota saída da capital espanhola será San Sebastián de los Reyes. Um grupo francês que se somou à peregrinação partiu de Toulouse na manhã de ontem, enquanto outro coletivo deixará Aachen, na Alemanha, no dia 11 de setembro, comprometendo-se a passar pela Holanda. Essas duas rotas se encontrarão no dia 17 de setembro num protesto prévio diante da sede da Comissão Europeia.

Nessa mesma data, a Marcha Popular Indignada espanhola, que conta com representates das acampadas do 15-M em Madri, Barcelona e Cantabria, chegará a Paris, onde se encontrará com outras rotas, vindas de países, como Portugal, Itália, Grécia, Suíça, Alemanha, Bélgica, Holanda, Inglaterra e Irlanda. Ainda para esse dia, está previsto o acampamento de 20 mil pessoas no baixo Manhattan, em Nova Iorque. Os participantes dessa ação pretendem se rebelar contra a ordem financeira mundial encabeçada por Wall Street, permanecendo no local durante alguns meses.

Outro protesto itinerante debatido pelo 15-M de Madri terá início no dia 26 de agosto e consistirá na passagem por diferentes povos do Vale de Laciana, na Espanha, para criar espaços de encontro e debate, bem como laços de apoio e solidariedade à defesa da região contra os riscos que sua biodiversidade corre atualmente, devido à abertura de minas de carvão a ceu aberto. Os participantes dessa ação pretendem chegar à montanha de Laciana no dia 5 de setembro, para ali acampar e realizar atividades, que serão transmitidas pela televisão da acampada de Madri, via Internet.

O planejamento dessas mobilizações fez parte do 1º Fórum Social do 15-M, realizado durante manhã e tarde de segunda-feira. Nesse dia, a partir das 17h00, podiam ser vistas frente ao Palácio de Cristal, no Parque do Retiro, centenas de pessoas distribuídas em rodas de discussão sobre Cultura, Educação, Saúde, Pensamento, Economia e Ações Sociais. Participavam dessa conversa não só os militantes do 15-M mais engajados, como também simpatizantes à causa do movimento.

A discussão sobre Economia era de longe a que mais participantes reunia. Ali, pessoas com olhar curioso buscavam compreender melhor as causas da crise financeira que lhes afeta, assistindo à exposição de dois estudiosos da área. Esses dois especialistas indicaram como maior culpado da atual desigualdade social que assola o mundo o sistema financeiro global contemporáneo, que é baseado na lucratividade do crédito e na especulação referente a juros cobrados sobre essas dívidas, em detrimento da atividade produtiva real.

Os dois condutores do debate também criticaram a subserviência dos governos europeus às instituições financeiras, que é refletida na transferência de débitos privados ao erário público, por meio do recorte de direitos sociais para que o dinheiro economizado dessa maneira seja empregado no pagamento de títulos de dívida comprados por Banco Central Europeu e FMI.

Eles ainda defenderam a redução da jornada de trabalho como forma de distribuição de recursos e a exigência de uma investigação rígida sobre a origem da dívida que os povos de países periféricos da Europa são hoje obrigados a pagar, sem que lhes tenha sido dado acesso a informação ou poder de decisão a respeito. Outra proposta do 15-M, lida por um dos estudiosos de Economia, é a responsabilização penal dos líderes das instituições financeiras que desencadearam a presente crise, a exemplo do que sucedeu na Islândia, depois de forte mobilização popular contra as medidas de austeridade econômica praticadas pelo governo do país.

O debate seguia com intensidade, quando foi interrompido pela chegada do prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, que passava por Madri e aceitou o convite de integrantes do 15-M para participar do encontro. Durante sua fala, o economista expressou solidariedade à luta dos indignados e disse que o fato de o atual sistema econômico mundial criar continuamente problemas sociais e ambientais que é incapaz de resolver, sinaliza a necessidade de mudanças urgentes. Stiglitz sugeriu que haja maior controle do mercado financeiro mundial, visto que atualmente ele funciona como fonte de lucro para poucos, e não como impulsor de oportunidades de trabalho e consumo para a população em geral.

Depois dessa rápida intervenção do economista norte-americano, foi aberto um turno de palavra e apresentação de propostas de solução à atual crise econômica. Várias pessoas se habilitaram a falar, enquanto no debate ao lado, cujo tema era Pensamento, um grupo filosofava sobre a necessidade de que os seres humanos tenham um tempo diário de ócio criativo no qual possam refletir sobre as próprias buscas, sem que lhes seja dada como única alternativa o consumo de ideologias prontas. “O trabalho deve ser um direito universal. Mas, a tecnologia que temos hoje permite que a gente trabalhe um mínimo de horas por dia, para que o restante do tempo seja utilizado para pensar e criar, fazendo filosofia. O problema é que atualmente só são financiadas e usadas as tecnologías que podem dar lucro”, compartilhou sua ideia um idoso.

Saí dessa confrontação de ideias interessantes por volta das 21h00 do dia 25, horário em que acontecia, frente à entrada do Congresso Nacional espanhol que é vizinha à Praça Neptuno, a divulgação do documento de reivindicações populares resultante da Marcha Popular Indignada. Nessa apresentação, para a qual havia sido convocada a imprensa em geral, sem que no entanto se vissem jornalistas no local, um jovem militante catalão pediu a palavra para fazer uma denúncia sobre algo que havia passado no bairro Clot, em Barcelona. De acordo com o garoto, durante um protesto contra o despejo de uma família, sem condições de pagar pela hipoteca de seu imóvel, cerca de 20 manifestantes sofreram lesões leves e graves, num confronto com a Polícia.

Em Madri, as coisas não são diferentes. Na terça-feira, dois ativistas do 15-M foram agredidos por um policial, enquanto outro foi identificado, segundo informações de integrantes do movimento. O conflito aconteceu em uma das áreas de acesso ao Congresso Nacional, que desde segunda estava cercado por viaturas da Polícia, já preparadas para evitar que no dia seguinte, quando o Parlamento voltaria à ativa, os indignados pudessem se aproximar dos deputados federais.

Na quarta-feira, quando os militantes se concentrariam às 10h00 frente a uma das entradas do Congresso Nacional, para tentar entregar o documento de reivindicações populares resultantes da Marcha Indignada aos parlamentares, muitos dos jovens que estavam acampados diante do Parlamento e no Passeio do Prado foram desalojados com violência por policiais à partir das 7h00. Diante disso, o 15-M organizou um protesto para chamar a atenção da sociedade a essa repressão policial. O ato, que reuniu mais de mil pessoas, começou às 20h00 em zona do Passeio do Prado próxima à Praça Neptuno, percorrendo Gran Via e Rua de Preciados até chegar à Puerta del Sol.

Enquanto isso, alguns dos "indignados" vindos de outras partes da Espanha preparavam as malas para voltar a seus locais de origem antes de domingo, data inicialmente prevista para o fim do acampamento estabelecido com a chegada da Marcha a Madri. Diante da atual opressão das forças policiais espanholas, parece que os integrantes do 15-M, que se autodenominam não-violentos, já escolheram suas armas: a comunicação com a sociedade, por meio da tomada de ruas e estradas, e também pelo uso da Internet para a criação de formas de expressão alternativas. Exemplo disso é o blog http://tomalaplaza.net/, que reúne informações de diversas acampadas espalhadas pela Espanha.

01/08/2011

a rebelião na terra santa

Aleluia, Aleluia!
E não é que a Rebelião no Ocidente chegou até a chamada Terra Santa, desafiando um dos regimes mais fascistas do mundo?

É mais um sinal da convulsão social e política que anuncia o colpaso do capitalismo: depois dos árabes, agora é o povo judeu que sai às ruas, demonstrando que entre árabes e judeus há  aquela mesma afinidade que existe, ou deveria existir, entre quaisquer outros povos, afinidade e fraternidade que o sistema capitalista precisa esconder, neutralizar, negar, sob pena de não conseguir exercer a sua dominação, de impor os eu modelo de organização social e econômica.

E não é pouca coisa: 150 mil pessoas despertando, marchando contra a imposição de uma agenda de guerra por parte da direita que governa o país.   Leia abaixo:    

INDIGNADOS EM ISRAEL: na maior mobilização da sua história,150 mil pessoas vão às ruas de Israel neste final de semana,100 mil só em Tel Aviv. O motivo não era a guerra, mas a paz indissociável da justiça social. Movimento por melhores condições de vida esfarela a agenda belicista do governo de extrema-direita e inaugura um novo ciclo na vida israelense:esquerda reencontra seu espaço nas ruas. (Carta Maior; 2ª feira, 01/08/ 2011).

uma complicada ilusão chamada obama

OBAMA CEDE: CORTE FISCAL CONTRA OS POBRES PODE CHEGAR A US$ 3 TRILHÕES. RICOS SÃO POUPADOS.

O capitalismo americano não iria acabar, fosse qual fosse o resultado do impasse fiscal no Congresso. Mas o desfecho esboçado nesta noite de domingo é quase uma rendição de Obama ao Tea Party, tendo merecido a repulsa da esquerda do partido Democrata. Formada por cerca de 70 parlamentares ela vocaliza os setores da sociedade que mais se engajaram na eleição de Obama. A proposta a ser votada nas próximas horas rompe as bases desse engajamento, põe em risco a reeleição democrata e fixa uma nova referencia de crise política dentro da crise financeira mundial. Obama não se mostrou uma alternativa histórica capaz de contrastar os interesses enfeixados pela supremacia das finanças desreguladas. Ao contrário de Roosevelt, em pleno colapso econômico, abraça um plano de arrocho fiscal que imobiliza o Estado e torna ainda mais incerta a recuperação americana e mundial. Pior que isso. A crise fiscal evidenciou a monopolização do sistema político norte-americano por uma direita extremista, filha da madrassa neoliberal ativada nas últimas décadas.Embebida em um laissez-faire rudimentar, indissociável de uma visão de mundo belicista, ela busca compensar a desordem intrínseca a sua ideologia com uma pregação moralista e religiosa de sociedade. Ao ceder em quase tudo o que exigia a ortodoxia extremista, Obama coloca a população pobre dos EUA na linha de tiro de cortes que podem chegar a US$ 3 trilhões em dez anos. Em contrapartida, seu plano de elevar a receita com maior imposto sobre os ricos foi engavetado. A rendição de Obama coloca o mundo à mercê de forças incapazes de exercer o poder americano com algum equilíbrio e discernimento. Ademais de irradiar instabilidade financeira, os EUA se transformam em fator de insegurança política global. A negociação orçamentária escancarou o que estava subentendido e consolidou uma dimensão atemorizante do passo seguinte da história. Os países em desenvolvimento devem extrair lições esse episódio. Mas, sobretudo, blindar sua agenda econômica e social contra os solavancos implícitos na nova era da incerteza (LEIA análise de Amir Khair nesta pag.). (Carta Maior; 2ª feira, 01/08/ 2011)

punks e anarquistas em cena


O movimento libertário do Espírito Santo mostra que está vivo e atuante. O cartaz acima convida para o encontro punk que se realizará em Cariacica, sábado próximo. Que o ato seja vibrante e autêntico, verdadeiramente libertário. E que se mostre como uma rara oportunidade de fugir dos ambientes cada vez mais bem comportados e institucionalizados, que  vem pasteurizando até mesmo as manifestações culturais. Nada como um pouco de choque, de berros, uivos, nessa paisagem acomodada, ora feita de apatia, ora de presunção, ora de otimismo ingênuo e oportunista, prostituído.