15/01/2011

alerta: a besta agonizante começa a escoicear

O Atentado de Tucson pode ser visto como um pesadelo que anuncia um novo despertar, ou para usar uma expressão mais comum, como a tempestade que necessariamente é substituída pela bonança.
O ato assassino do infeliz  Jared Lee Loughner talvez seja aquele que sirva como símbolo maior (mais até mesmo do que o 11 de setembro) do início da irreversível decadência do império dos Estados Unidos da América.

Traz para o plano da realidade aquilo que até então era apenas uma projeção aparentemente alarmista, qual seja, a de que o povo americano poderá passar por um processo de adesão ao fascismo e ao totalitarismo, processo esse incentivado pelas suas elites econômicas, militares e políticas.

Esse mergulho no fascismo seria fruto da resistência dessas elites em reconhecer o fim do império americano, o fim dos EUA como mandatário do planeta. A já conhecida simbologia: antes de de morrer de vez, a besta fera moribunda sai dando coices para todos os lados, tentando resistir ao fim (claro, nada contra cavalos, éguas e similares). 

Nessa desvairada e perigosa obstinação da elite dos EUA, muita dor ainda poderá ser causada ao povo americano e aos povos do mundo inteiro. O Atentado de Tucson talvez seja apenas a primeira e menos trágica dessa dores. O infeliz é apenas um subproduto da manipulação perpretada pelas elites na sua resistência desvairada. O grosso dessa manipulação ainda está por vir.

Algo similar ao que aconteceu na Alemanha nas décadas de 20 e 30: um povo desesperado em relação à sobrevivência, desolado quanto ao amanhã, abandonado pelos seus governantes ineptos, submissos e fantoches, com a auto-estima lá embaixo, tudo isso configura uam situação extremamente propícia para que as elites americanas distorçam a realidade, invertam as causas do drama americano e finalmente conduzam o povo americano a desvarios, disparates, induzindo esse povo a apoiar e mesmo desejar projetos políticos conservadores, de extrema direita, projetos irracionais, desesperados e desumanos, como o são todos os projetos fascistas e nazistóides.

Enfim, são os coices da besta que agoniza e que se recusa a morrer.

Sem esquecer, é claro, a possíbilidade uma guerra em nível mundial, como forma de tentar dar a volta por cima, de tentar reverter uma conjuntura mundial cada ano mais desfavorável, uma conjuntura mundial que a cada ano deixa mais visível como a presença do ex-império americano (ladeado por seus também decadentes e desesperados satélites europeus) é obsoleta, irritante e mal vista.
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Mas por mais que a nação americana esteja longe de um histórico de lutas e de tentativas de revoluções socialistas - ao contrário dos países da Europa e de tantos países do chamado terceiro mundo - isso não significa que as elites consigam manter para sempre o povo americano como uma massa amorfa, consumista, barulhenta, despersonalizada, pretensiosa e desconectada das realidades dos diferentes povos do mundo.

Há, sim, um histórico de lutas populares nos Estados Unidos, principalmente no começo do século XX; há,sim, uma tradição libertária em vastos contingentes do povo americano, que culminou inclusive nas lutas antiguerra da década de 60 e nas jamais esquecidas e inigualadas manifestações da geração da contracultura.

Considerar rigorosamente o povo americano incapaz de ultrapassar sua conjuntura, como incapaz de elaborar uma compreensão própria de sua situação hsitórica e, a partir dessa elaboração, avançar dialeticamente no enfrentamento das estruturas de poder e na transformação de sua realidade, uma tal consideração inflexível serve exatamente aos interesses da elite que mantém o povo americano anestesiado e alienado de seu próprio destino. Considerar dessa forma é exatamente fazer o jogo dos mecanismos de controle e dominação.

É preciso aprender a ver o povo americano como tendo a capacidade e a necessidade de, tal como qualquer outro povo, colaborar na tarefa da libertação dos povos, a partir do momento em que promove a sua própria libertação. É preciso aprender a separar a história em potencial do povo americano do execrável e moribunda do império americano, e passar a contar, amis efeetivamente, com o que há nos EUA de movimentos e organizações populares e sociais, para a planetária tarefa de avançar rumo à superação das sociedades de controle e dominação, de desumanização e espoliação.

Enfim, há sempre a possibilidade de que o povo americano, como tantos outros povos, se levante, abra os seus olhos, tome as rédeas de seu destino nas suas mãos - antecipando assim o advento da bonança e expulsando do seu país e do mundo esse pesadelo que se anuncia.
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Abaixo, o texto de Atílio Boron lança, Tiros em Tucson, lança um pouco de luz sobre toda essa complexa e perigosa realidade do f im do império americano.

O atentado nos EUA..., de Ricardo Kotscho, já publicado aqui, faz um paralelo do Atentado de Tucson com os patéticos mas não menos perigosos nazistóides tupiniquins. Ambos msotram como tudo está interligado: o Atentado de Tucson, a campanha eleitoral de 2010, os desvarios da insípida e enjoativa Sarah Palin, o execrável mas inevitável Tea Party, a dramática crise do centro do capitalismo mundial (que talvez não seja ainda a tão esperada crise definitiva), o avanço paulatino da intolerância e do desespero que propiciam a consolidação da canalha fascista - registrando que o artigo de Kotscho traz o necessário alerta de que os coices da besta moribunda terão seus efeitos fascistas aqui no Brasil e na América Latina.

Entre outros bons e lúcidos textos, vale ler também:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17293
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17298.
Dois trechos desse último texto:

"Samuel Johnson, autor inglês da segunda metade do século XVIII, disse que o patriotismo era o último refúgio do canalha. Sua sentença se aplica bem ao caso da extrema direita estadunidense. Ninguém duvida da safadeza de personagens como Sarah Palin e alguns pseudo-jornalistas, mas agora se tem a conexão direta com o super patriotismo homicida. É importante não esquecer que no Arizona já existia um ambiente político protofascista que literalmente tem os imigrantes latinos na mira. A direita e seus aliados nos meios de comunicação foram o motor do clima de ódio que impera não só no Arizona, mas em muitos outros estados dos EUA."

"O senhor Loughner provavelmente não tem ideia desses problemas. Em seu delírio, pensa que só atua defendendo o Sonho Americano que a senhora Palin reclama para si com tanta insistência. Equivoca-se. O paradoxo é que a deputada Giffords não era a única na mira da nova extrema direita estadunidense. O principal alvo desse movimento é precisamente toda a geração de Loughner, uma geração golpeada e condenada a viver sem educação, sem a promessa de um emprego bem remunerado e estável, sem serviços de saúde adequados. Uma geração perdida que nunca poderá aspirar a um melhor nível de vida. Seu sacrifício é para que uma pequena minoria de privilegiados possam viver o sonho americano, sem sonhar com mais nada. "

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