para não ter de dançar - amputou uma perna
(deixou até de visitar os amigos)
para não combater e gesticular indecências - arrancou os dedos
(era incapaz até de tirar a pele a uma maçã)
para não ouvir palavras obscenas - arrancou as orelhas
(deixou também de ouvir as belas)
para não lhe chamarem narigudo - torceu o nariz
(e ficou com ele achatado)
para não ver os sapos - furou os olhos
(já não pode contemplar as rosas)
para que não lhe escapasse alguma incoerência - cortou a língua
(também não teve mais palavras gentis para a amada).
Cada dia que passava
fazia uma operação plástica ao corpo
para ficar igual aos outros, a todos os outros.
vasyl holoborodko - ucrânia (1945 - )
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