O day-after: implicações de uma vitória
A vitória superlativa das ruas com a reversão do reajuste tarifário em SP foi saboreada pelos dirigentes do MPL com um misto de euforia e alívio.
A continuidade dos protestos evidenciava uma crescente diluição do movimento nas tinturas de uma desqualificação do governo federal e das conquistas econômicas e sociais dos últimos dez anos.
A jovem liderança do MPL, que se declara de esquerda, admite que já não sabia como reverter a usurpação martelada pela mídia conservadora.
Há atitudes óbvias.
Incompreensivelmente ainda não adotadas por quem dispõe de todos os holofotes da boa vontade nesse momento.
Uma sugestão prosaica: convocar uma entrevista coletiva e desautorizar o dispositivo midiático conservador, que surfa na onda dos novos cara-pintadas para rejuvenescer a narrativa de um antipetismo histórico.
A abusada antecipação da campanha de 2014 inclui cenas -e ameaças-- de invasão de palácios, mesmo quando ocupados por governantes já comprometidos com a redução tarifária.
Essa era a agenda da 'comemoração da vitória' no RS, nesta 5ª feira.
Qual o propósito dessa 'sessão fotográfica' com data e hora marcada?
Aos integrantes do MPL não cabe o bônus da ingenuidade.
Embora jovens, souberam fixar um alvo de notável pertinência histórica.
A mobilização de massa pela tarifa zero e por uma cidade dos cidadão carrega a promessa de um chão firme do qual se ressente o planejamento democrático no país.
Só um movimento urbano forte, capaz de disputar a construção da cidade com a lógica do lucro imobiliário poderá reverter o caos das grandes metrópoles.
Se for a semente disso, o batismo de fogo do MPL, com todas as suas lacunas, já terá valido a pena.
Antes, porém, precisa se desvencilhar da carona oportunista que hoje embaralha a sua extração histórica e pode ferir de morte a credibilidade conquistada nas ruas.
Ao PT, o day-after, se caracterizar o espaço de uma trégua, deve abrigar uma desassombrada avaliação das razões pelas quais as ruas e uma parcela da juventude já não se expressam através do partido, de sua capilaridade e dos fóruns oferecidos até aqui por suas administrações.
Ao conjunto das forças progressistas, sobretudo os partidos de esquerda, cumpre a autocrítica mais aguda.
O sectarismo autodestrutivo que gerou um arquipélago de entes incomunicáveis abriu um vácuo no espectro das mobilizações de massa.
Nesse oco de alianças, choca o ovo da serpente que inocula na sociedade uma histérica rejeição à política e à organização democrática do conflito social.
O que se viu nesses 13 dias que abalaram o Brasil, mais uma vez, é que em política não existe vácuo.
A incapacidade da esquerda de fazer alianças com seus pares e, desse modo, oferecer uma agenda crível às angústias e anseios da cidadania, pavimentou o despontar de visões e concepções regressivas turbinadas pela mídia conservadora.
Foi só um aperitivo. Convém não esperar pelo banquete para reagir. A ver