Leituras afins: 'twitter' e 'não à captura da rede!'
Como complemento ao texto Rumos da Arte Capixaba e Cultura em Rede, publicado abaixo, vale a pena chamar a atenção para um detalhe: o potencial de aglutinação e de integração de uma lista de discussões virtuais. Mesmo que haja a necessidade de um administrador ou de um moderador, para evitar excessos ou desvios dos objetivos propostos, uma lista, diferentemente de um blog ou site, não tem dono, não tem hierarquia. Não há um editor para selecionar textos, matérias ou para definir uma linha editorial, para “dar o tom”.
E o procedimento para postar um texto é bem mais simples. Num blog ou site, é preciso passar por um procedimento técnico que, por mínimo que seja, não deixa de ser uma barreira, um desestímulo. Além disso, já há uma certa apresentação visual, escolhida de antemão pelo editor, por uma terceira pessoa. Já na lista, além de o processo de postagem ser instantâneo e sem necessidade de operar muitos comandos, há um completo despojamento, em termos de layout e de formatação de texto. É como se o espaço da lista, com seu despojamento e simplicidade, fosse mais humanizado, oferecesse uma maior proximidade com as nossa vivências e com aquilo que queremos transmitir. Não há uma presença tão forte da tecnologia da informática, com sua carga de complexidade e de desumanização. Na lista, o que vale mais é de fato o conteúdo, a mensagem, a conversa, a naturalidade, as pessoas sem medo de se mostrar na sua espontaneidade e mesmo nas suas vulnerabilidades de domínio da tecnologia. No blogue e principalmente no site, há o distanciamento da forma, da inovação visual, do domínio da tecnologia. Claro que são veículos diferentes, para servir a diferentes propósitos diferentes. Não podemos criar uma lista de discussão se pretendemos publicar textos e imagens em grande número, agrupados em diversas categorias, ou se queremos apresentar criações artísticas ou intelectuais mais elaboradas, seja do ponto de vista visual ou da formatação. Assim, como não resolve oferecer um blog ou site se o propósito é o de uma discussão livre e ágil, sem muitas formalidades. Isso iria inibir a participação. Não é mera coincidência que as conversas, que desembocaram no movimento ‘Rumos da Arte e da Cultura no Espírito Santo’, tenham começado exatamente numa lista de discussão, a “Opiniões Cênicas”, criada por Rosa Rasuck e Charlaine Lopes. Também é facilmente compreensível que o espaço adequado para a continuidade do movimento seja agora uma rede social, do ripo NING, criada e administrada por Orlando Lopes, e que é um veículo mais elaborado e abrangente, próprio para abrigar, oferecer acessos a e fazer cruzamentos de documentos de características variadas. O que não quer dizer que se deva esquecer a “Opiniões Cênicas’ com sua atmosfera de espontaneidade, de despojamento, de democracia horizontal. Talvez a lista seja até mesmo fundamental para se dar continuidade ao “Rumos...’, no que o movimento necessitar de oxigenação, informalidade, criatividade. De qualquer forma, o “Opiniões Cênicas”, nascido e mantido como uma simples e despretensiosa lista de discussão, já exerceu um importante papel de aglutinação, reflexão e divulgação das artes. Papel este que uma imensa gama de publicações digitais que, embora bem intencionadas e voltadas para a divulgação e reflexão do fazer artístico, não conseguem cumprir; em parte, devido ao próprio aparato tecnológico, distanciador, vertical, impessoal; ainda mais quando ao lado desse aparato, há toda uma entusiasmada opção pela espetacularização verbal-visual, que se pretende inovadora, criadora, quando na verdade apenas substitui essência criativa e reflexão crítica por ‘modas’, ou para sermos mais moderninhos, por ‘atitudes’- típicos e, sem dúvida nenhuma, eficientes produtos da geração sprite, para a qual “imagem é tudo”.
Sensível e verdadeiro retrato de uma ferramenta que se diz fria por ser virtual...agradeço de coração o olhar poético e vivo sobre o "Opiniões".
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