1.
Aceitas para os teus olhares
as impurezas deste homem
e, para o teu corpo,
as cicatrizes que ele traz?
Aceitas para os teus sonhos
a aspereza deste homem
e, para as tuas boas lembranças,
as dores que ele provoca?
Aceitas para os teus dias
os ruídos deste homem
e, para as tuas noites vazias,
os gritos que ele te arranca?
Aceitas para a tua simplicidade
a arrogância deste homem
e, para as tuas delicadezas,
os cheiros do asfalto nele?
Aceitas para a tua beleza
a estranheza deste homem
e, para a tua sensualidade,
a prepotência e a força dele?
Diz que sim e a paz te será negada.
Mas não existe outra maneira de amar
senão em guerra.
Amor não é gelo, nem previsível
— não há uma estação do amor.
Amor é simum
avalanche
pesadelo
amor é ermo.
2.
Aceitas para a tua imponência
a permanência desta mulher
e, para as tuas muitas tristezas,
os cristais dos risos dela?
Aceitas para as tuas ausências
a espera desta mulher
e, para o teu lado de ferro,
as asas que ela te dá?
Aceitas para o teu ódio
as luzes desta mulher
e, para os teus dias de angústia,
os mapas que te oferece?
Aceitas para o teu ranger
de dentes os beijos dela
e, até para o teu cansaço,
as almas desta mulher?
Aceitas pra o teu veneno
as veias desta mulher
e, para os teus tempos de câncer,
o abraço em que te protege?
Aceita, tua sapiência,
as pistas desta mulher?
E aceitas que onde ela esteja
é onde estar é melhor?
Diz que sim e tua guerra será negada.
Existem, sim, outras maneiras de amor
que não em guerra.
Amar não é selo, nem imprevisível.
E toda estação, decerto, é estação de amar.
Amar é brisa
planície
pensamento.
Amar é zelo
— e não tem meio-termo.
miguel marvilla - vitória, es
(do blog os mortos estão no living)
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