E o povo árabe continua a surpreender a nós, ocidentais, que nos habituamos a vê-los como eternamente submissos a ditadores, ou entregues a governos dominados por religiosos obscurantistas. O levante árabe continua a se espalhar: Barhein, Iemen, Argélia e Lìbia, cujos povos vem manifestando uma grandeza e uma coraggem comparáveis à dos povos do Egito e da Tunísia.
É impressionante, mas todos esses países são governados, ou melhor, são submetidos por ditadores há vinte, trinta, quarenta anos. De fato, já passou da hora dos povos árabes botar esses cretinos para correr.
O povo não pode deixar pedra sobre pedra, nem mesmo na Líbia, do ditador Muamar Kadafi. Não é porque Kadafi tem, ou teve, um passado de resistências e enfrentamento contra o arrogante e decrépito império americano e o não menos arrogante e decrépito estado de Israel, que isso lhe dá o direito de submeter o povo líbio a uma ditadura.
Para vencer o decrépito império americano e os seus asseclas europeus e israelenses, os povos do mundo inteiro não podem e nem precisam se escorar em ditaduras - pelo contrário, devem criar e consolidar democracias populares, democracias verdadeiras.
Sabe-se que as revoltas do povo árabe serão absorvidas e neutralizadas pelo império americano e pelas elites econômicas e militares dos países cujos ditadores form derrubados - veja texto abaixo.
Mas essa aparente derrota não invalida a legitimidade e grandeza dos levantes árabes. Na verdade, as revotas populares dos árabes vêm se somar, com todas as dificulades e repressões, às lutas dos povos de todo o planeta pela construção de sociedades efetivamente humanizadas, democráticas e igualitárias, o que não quer dizer massificadas, padronizadas, ezxcessivamente institucionlizadas.
Mas essa aparente derrota não invalida a legitimidade e grandeza dos levantes árabes. Na verdade, as revotas populares dos árabes vêm se somar, com todas as dificulades e repressões, às lutas dos povos de todo o planeta pela construção de sociedades efetivamente humanizadas, democráticas e igualitárias, o que não quer dizer massificadas, padronizadas, ezxcessivamente institucionlizadas.
Abaixo texto extraído de carta Maior, acerca dos acontecimentos na Líbia.
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Os protestos populares que sacodem o Oriente Médio chegaram a Líbia, onde milhares de pessoas saíram às ruas em várias cidades, apesar da violenta repressão, para pedir o fim de 41 anos do regime autocrático de Muammar Kadafi. Segundo denúncia da Anistia Internacional, pelo menos 46 pessoas morreram nas últimas 72 horas, vítimas da repressão governamental. A maioria das queixas dos líbios é similar às que levaram tunisianos e egípcios a se rebelar. Muitos pediram o fim da ditadura, a instauração de uma democracia e um melhor uso para os lucros petroleiros.
Emad Mekay - IPS
A organização de direitos humanos Anistia Internacional assinala que nas últimas 72 horas morreram pelo menos 46 pessoas, resultado da violência empregada pelo regime em resposta ao primeiro grande desafio de sua história. Como ocorreu com as revoluções que derrubaram os governos da Tunísia e do Egito, as redes sociais na internet se tornaram uma importante fonte de informação sobre o levante na Líbia. O mal estar iniciou quando ativistas da rede das redes se opuseram ao mandato ditatorial de Kadafi, convocando um “Dia da ira” para 17 de fevereiro, reclamando sua renúncia. Eles criaram uma página na internet para publicar informações a respeito (http://www.libyafeb17.com).
Vídeos feitos com telefones celulares mostram manifestantes na cidade de Benghazi atacando escritórios dos “comitês populares” de Kadafi, que, na verdade, são escritórios do governo. Jovens manifestantes também destruíram monumentos oficiais que representam o Livro Verde, escrito por Kadafi e usado como Constituição de fato do país, onde o governante expõe sua ideologia. “O povo quer uma mudança de regime”, disseram os manifestantes em vídeos publicados na internet, adotando slogans da revolução egípcia que derrubou Hosni Mubarak (1981-2011). “Abaixo, abaixo o ditador”, gritaram.
A maioria das queixas dos líbios é similar às que levaram tunisianos e egípcios a se rebelar. Muitos pediram o fim da ditadura, a instauração de uma democracia e um melhor uso para os lucros petroleiros. Os protestos na Líbia suscitaram uma resposta sangrenta e imediata. Na rede social Twitter, alguns sustentaram que as forças de segurança pessoal dos filhos de Kadafi dispararam contra os manifestantes. Organizações internacionais de direitos humanos confirmam que o regime usou balas de chumbo contra os opositores. Segundo fontes locais, o regime utilizou mercenários de países africanos para dispersar os manifestantes. Kadafi, célebre por sua excentricidade, se autodenominou nos últimos anos “rei dos reis da África”.
Cidadãos líbios publicaram na internet que a cidade de Derna “agora é livre”, o que significa que, nas últimas horas de sexta, não havia efetivos pró Kadafi na região. Outros disseram que os habitantes de Derna se dirigiam a Benghazi para ajudar a população a defender-se dos mercenários. A Anistia Internacional pediu às autoridades líbias para “deixar de usar a força excessiva para eliminar os protestos contra o governo”.
Os protestos ocorrem agora apesar das medidas tomadas pelo regime líbio para prevenir revoltas como as da Tunísia e do Egito. Dezenas de ativistas foram presos e advertiu-se aos cidadãos para que não se unissem aos protestos. As forças de segurança incrementaram sua presença nas ruas. O governo proibiu toda a cobertura de imprensa sobre esses fatos e prendeu vários jornalistas em Benghazi, cidade que está registrando alguns dos enfrentamentos mais violentos. O governo de Kadafi proibiu, sexta-feira, todo acesso ao site da Al Jazeera. “As autoridades líbias tentaram silenciar este protesto mesmo antes dele iniciar, mas isso, claramente, não funcionou”, disse um comunicado do diretor da Anistia Internacional para o Oriente Médio e norte da África, Malcolm Smart. “Agora estão recorrendo a meios brutais para castigar e dissuadir os manifestantes”, acrescentou.
A organização pediu ainda que as autoridades líbias ordenassem uma investigação imediata sobre os mortais ataques contra o povo que saiu às ruas. Informes locais sugerem que os manifestantes tomaram o controle da praça Al-Sehaba, em Derna, imitando os egípcios que fizeram o mesmo na praça Tahrir, no Cairo. Logo dominaram a cidade, acrescentam.
O governo respondeu com manifestações favoráveis a Kadafi. A agência oficial de notícias Jamahiriya informou que milhares de líbios marcharam sexta-feira em apoio a Kadafi. A mesma agência publicou mais de 40 informes sugerindo que Kadafi conta com respaldo da população em todo o país. Kadafi, que derrubou a monarquia mediante um golpe militar em 1969, quando tinha apenas 27 anos, é o líder que se mantém no poder há mais tempo na região, governando com mão de ferro esta nação de 6,5 milhões de habitantes. Kadafi obriga os alunos do país a estudar seu Livro Verde e mudou os nomes dos meses no calendário por títulos inventados por ele.
Desértica em sua maior parte, a Líbia é rica em petróleo. As vendas de combustível e gás representaram mais de 95% dos lucros derivados das exportações e cerca de 80% das receitas tributárias em 2008, segundo o Fundo Monetário Internacional. A insatisfação popular que agora se expressa nas ruas pode afetar as exportações para países europeus e pressionar a alta de preços do petróleo. A Líbia vende este recurso para Itália, Alemanha, França e Espanha. Após levantar as sanções contra a Líbia em 2004, os EUA também aumentaram suas importações do petróleo líbio.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
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