30/11/2008

sobre vicente filho

Vicente Gonçalves de Paula Rilho é de Minas (Poté, Viçosa e agora Beagá). Não tem livro publicado, não frequenta meios lítero-artísticos. É desses que, embora negligentes e até incomodados com a tarefa de criar, não conseguem fugir do fado - têm a poesia na veia, ou na mão, uma certa poesia não exatamente filósofica, mas filosofante, e que mistura melancolias e impotentes ironias. Um delicado, espontâneo e preciso domínio das palavras, uma despretensiosa entrega ao despojamento da fala, e nessa entrega um resgate do surpreendente frescor das palavras, quando abordadas na sua simplicidade.

Há na sua poesia uma nostalgia de tempos, lugares, sensações, mas nostalgia que às vezes se compraz em ironizar a si própria, ironia, ao fim, que consegue tornar a nostalgia ainda mais melancólica e poética.

Há também uma comoção indignada com as tristezas provocadas pela inevitável marcha da história, mas uma comoção também marcada pela discreta ironia do poeta, ora com sua própria indignação, ora com a tristeza e o desamparo daqueles são afetados pela implacável marcha; e também aqui uma ironia que só faz crescer a indignação e a perplexidade do poeta, como se ao invés de cinismo e descrença, a ironia mais o irmanasse àqueles de quem fala.

E por fim a fala amorosa, com seus encontros e desencontros. A mesma e sutil presença de uma ironia desamparada, ou o mesmo desamparo irônico, mas ironia e desamparo permeados por uma forte e explícita celebração da pessoa ou imagem amada.

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