Sábado último, quem passava pela Praça Costa Pereira se deparava com cenas inusitadas. Encontrava mendigos ou andarilhos caminhando tranquilamente pela praça, vestidos de sacolas plásticas, de supermercados ou lojas de departamentos. Pareciam um desses transeuntes solitários que de quando em quando encontramos pela cidade, com seus gestos, posturas e falas irreverentes, enigmáticas, que no mais das vezes deixam as pessoas curiosas ou até mesmo incomodadas – as quais, para nos tranqüilizarmos, classificamos como atitudes de “doidinhos’.
Na verdade, eram atores realizando uma performance teatral. Os atores (Roberta Portela e Nicholas Lopes, entre outros) pertencem ao Grupo Virundangas e estão há cerca de seis meses no Espírito Santo, vindos de Ouro Preto, onde se formaram em Artes Cênicas.
Quanto à performance, a interpretação fica a critério de cada um, segundo os atores. Com certeza é uma clara mensagem contra o degradação ambiental provocada pelas embalagens plásticas e contra o consumismo patético e absurdo ao qual as pessoas têm sido conduzidas nas três últimas décadas - certamente como resultado dos artifícios da economia capitalista em seu esforços para se manter hegemônica, num momento da história em que inúmeros indícios parecem apontar para o seu esgotamento, enquanto processo histórico necessário e outrora revolucionário – mas isso é asunto para outro e bastante longo espaço.
De qualquer forma, podemos ver no ato do Virundanga também um sutil alerta para o perigo de nós próprios nos transformarmos cada vez mais em mercadorias, já que no atual modelo de produção e civilização nossa principal função é exatamente a de produzir e consumir, produzir para consumir, viver para produzir e consumir, até nos consumirmos de vez numa embalagem qualquer.
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