07/02/2011

levante árabe IV: o desafio da fragilidade,

da coragem e da verdade
há ocasiões singulares, quando as pessoas se encontram e se reconhecem  como portadores de uma tarefa maior do que suas vidas isoladas. assim são as verdadeiras revoluções e transformações na vida de um povo; em ocasiões assim, não há como: as imagens falam mais do que as palavras, ou melhor, devem falar tanto quanto as palavras lúcidas e vibrantes (pessimistas ou otimistas) que também acompanham tais momentos de festiva e corajosa ruptura. 
e as imagens aqui exibidas, então, são inconstestáveis, para além de sua poesia e vibração.
na tunísia, o homem que fez do pão uma arma: quimera, bravata, frágil utopia? os companheiros desse homem mostraram que não: o pão da coragem, da celebração da vida e da ânsia de dignidade fermentou e cresceu por todo o mundo árabe.

nós os inconformados do ocidente precisamos reaprender a coragem, a poesia e  a ousadia simbolizadas no 'tiro' desse homem.  
acima, uma fusão entre ação política e vivência da religiosidade: em meio às manifestações de protesto contra o patético ditador mubarak,  os muçulmanos egípcios fazem uma pausa para as suas orações. guardadas as diferenças culturais e históricas, certamente que essa fusão deveria ser observada com mais atenção pela ação política da esquerda ocidental. 

mais ainda: a esquerda deveria fazer avançar essa fusão, superá-la dialeticamente no que ela tiver de atraso e de obscurantismo. enfim,  aprender a apresentar a ação política como parte de nossa tarefa ontológica - ou cósmica, se se preferir -  aprender a convocar o povo com uma linguagem nova, mais envolvente e verdadeiramente transcendente. 
esta talvez a mais bela e comovente dessa bela e comovente marcha do povo egípcio. é preciso  estar por demais domesticado e anestesiado pela sociedade de controle para não se emocionar com esses olhares infantis que misturam ingenuidade e desafio.

somente os desistentes - por demais anestesiados, preguiçosos e acomodados - para não ver nessa imagem o próprio símbolo da tarefa humana  no mundo e na vida: desvelar outros horizontes, forjar outros caminhos, para si e para os outros, apesar da brutalidade, da truculência ou do enraizamento na normalidade que amesquinha.

o desafio da ingenuidade e da fragilidade  convidando para o aprendizado e para a redenção, até mesmo para esses que foram engolfados pela brutalidade e pela normalidade medíocre das sociedades de controle. e do desafio e  do convite brotando a comunhão, o reconhecimento de que a tarefa maior de todos é exatamente esse desvelar de novas possibilidades para si e para os outros.

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