06/08/2011

um poema veloz

Ouvindo cantos gregorianos
seguia num carro veloz
numa auto-estrada de França.
As árvores precipitavam-se para o passado. As vozes
dos monges cantavam louvores a um deus invisível
(ao amanhecer, tremendo de frio numa capela).
Domine, exaudi orationem meam
vozes masculinas suplicando calmamente
como se a salvação fosse emergir no jardim.

Para onde ia eu? Para onde ia o sol?
A minha vida estendia-se esfarrapada
pelos dois lados da estrada, frágil como o papel de um mapa.
Na doce companhia dos monges
fiz o meu caminho em direcção às nuvens, ao profundo
alto, denso azul
em direcção ao futuro, ao abismo
engolindo as ásperas lágrimas do granizo.

Longe da manhã. Longe de casa.
No lugar de muros - chapas metálicas.
Em lugar de uma vela - uma fuga.
A viagem em vez da recordação.
Um poema veloz em vez de um hino.

Uma pequena estrela cansada correu
à minha frente
e o asfalto da auto-estrada brilhou
revelando onde estava a terra
onde aguardava na expectativa a lâmina do horizonte
e a aranha negra do anoitecer
e da noite, viúva de tantos sonhos.

adam zagajewski - polônia

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