06/08/2011

madrugada

Ah! Este poema das madrugadas
que há tanto tempo enrodilhado
num sem-fim de estados de alma
me obcecava, tirânico
sem se deixar fixar!...

Madrugada... e esta solidão crescendo
esta nostalgia maior, e maior, e maior
de não se sabe o quê
- nunca se sabe o quê...

que haverá nestas horas sozinhas e geladas
para assim trazer à tona as indefinidas mágoas
as saudades e as ânsias sem motivo
- de que não sabemos o motivo?...

Vieram as saudades do tempo de menino
- ou dum paraíso lá não sei onde?

Ah! que fantasmas pesaram sobre os ombros
que sombras desceram sobre os olhos
que tristeza maior fez maior o silêncio?

A que vem esse calor distante e absorto
esse calar, esses modos distraídos?
Meu pobre sonhador! a esta hora
porventura se desvenda a Suprema Inutilidade?
e a definitiva ilusão de tantos gestos?

Interroga, interroga...
vai sonhando
sem que saibas sequer o caminho que segues
vai, distraído e pensativo
alheio de hoje
vivendo já o derradeiro segundo...
Que a madrugada tem o pungir das agonias
mas alheio, como o fim dum pesadelo...

adolfo casais monteiro - portugal



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