confiei em mim desde o primeiro momento.
custa muito pouco ser dono do vento.
e à besta não lhe é mais custosa
a vida, até que a lançam à fossa.
nasci, amei, fui longe, fiz o resto.
com medo, às vezes, mantive-me no posto.
paguei sempre as dívidas contraídas
e agradeci, com as mãos estendidas.
se fingida mulher aqui e além me quis,
amei-a, para que pudesse ser feliz.
fiz cordas, varri, dei-me ao vinho
e entre os espertos fingi-me cretino.
vendi brinquedos, pão e poesia,
jornais e livros: o que se vendia.
não morrerei enforcado em fácil trama
ou em grande batalha, mas na cama.
vivi (já está aí o saldo final):
muitos outros morreram deste mal
attila józsef - hungria Attila József (1905-1937) viveu apenas 32 anos, tempo suficiente porém para se ter tornado um dos mais importantes poetas húngaros do século XX. Nascido em Budapeste, filho de mãe lavadeira e pai operário da indústria de sabões, tem um curriculum impressionante de miséria, fome e dificuldades de vária ordem. A sua poesia é muitas vezes reflexo disso mesmo, com influências desde o expressionismo alemão ao surrealismo francês, num tom - a melhor parte das vezes - amargo. Guillevic escreveu a seu respeito: “Ele tem o dom de exaltar, de elevar qualquer coisa ao nível em que a derrota pessoal se torna vitória sobre a infelicidade.” (Transcrito do blog português poesia ilimitada)
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