01/07/2010

copa da áfrica IX: a fifa que poucos conhecem

Trecho da reportagem do Correio da Cidadania, citada acima.

E se os africanos esperavam ao menos desfrutar a parte lúdica do evento, também se decepcionaram fortemente. A poucos meses da abertura, a FIFA anunciou que havia um encalhe de cerca de 800 mil ingressos, reclamando abertamente da falta de adesão do povo local ao Mundial. No entanto, ao analisarmos os fatos, veremos que foi a própria senhora do futebol quem propiciou este revés.

Primeiramente, ignorou-se a realidade econômica do país sede, com os ingressos sendo postos à venda somente por internet, com cartão de crédito e a preços similares aos da Alemanha-2006, fatores de exclusão imediata de uma infinidade de fãs. De quebra, para os estrangeiros, já atemorizados com as inúmeras notícias da violência das cidades sul-africanas, a intermediação das vendas era obrigatoriamente feita pela Match, agência oficial da FIFA, que tem como sócio Philip Blatter, sobrinho do ilustríssimo Joseph, presidente da entidade e sucessor de João Havelange, unanimemente considerado o homem que injetou o futebol-negócio em nossas veias.

E a incompetência (e avareza) da empresa apadrinhada por tio Blatter contribuiu de forma magnífica para que as previsões de 500 mil turistas no país caíssem pela metade. Por conta das imposições que a FIFA faz a toda sede, 80% dos quartos dos hotéis mais estrelados ficam reservados, e não tem conversa, para a Match. Sabendo-se dona do pedaço, a agência cobrou ágios de até 30% na hospedagem dentro dos pacotes de viagem. Assim, muitos torcedores resolveram assistir aos jogos de casa. E a rede hoteleira sul-africana ficou na mão.

Mas como toda boa famiglia, os laços sangüíneos tornam as relações inabaláveis. Philipinho Blatter também é dono da empresa que detém a prerrogativa de negociar os direitos de transmissão da Copa em nome da FIFA. Fora que sua consultoria para ajudar na organização de perfumarias da entidade lhe rendeu US$ 7 milhões em honorários.

Cabe perguntar por que as emissoras de TV interessadas em transmitir a Copa não podem ir à sede da federação em Zurique e sentar pra negociar diretamente com sua diretoria e departamentos comercial e jurídico. Cabe também questionar por que a intermediadora tem sede no mesmo local (Zug, na Suíça) da ISL, a antiga representante comercial da FIFA, cuja falência a justiça suíça comprovou ser uma fraude após seis sócios confessarem desvios de 96 milhões de dólares. Tais indagações podem ser feitas por qualquer um que leia ‘As contas erradas da FIFA’, no Le Monde brasileiro deste mês de junho.
texto do jornalista Gabriel Brito

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