Comecemos esse tributo com um verbo bastante contundente de Saramago. Como se fosse um raivoso e desesperado poema de escárnio que ele lança, tal qual um projétil, em direção a essa putrefata ordem burguesa, em direção à patética e desumana elite que a impõe e em direção às submissas e deslumbradas camadas intermediárias, as chamadas classes médias, que parecem ter tem como único alimento existencial macaquear essa mesma e lamentável elite.
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E, finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... E, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos"
José Saramago em «Cadernos de Lanzarote – Diário III», pág. 148
José Saramago em «Cadernos de Lanzarote – Diário III», pág. 148
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