03/02/2012

uma semana de cerco à Rede Bobo:

um novo marco na luta popular?

O primeiro protesto contra a Rede Globo aconteceu no dia 20 de janeiro, em São Paulo - veja aqui.
O segundo protesto - este mais marcante e emblemático - completa uma semana amanhã. Trata-se da greve de fome, em frente à sede da emissora de televisão, levada a cabo pelo cineasta Pedro Rios Leão, o mesmo que documentou a barbárie de Pinheirinhos.

Independente dos desdobramentos desses duas primeiras ações de enfrentamento contra o símbolo da manipulação e da alienação no país,  fica a gratificante constatação de que a resistência popular começa a mirar alvos mais mais amplos, começa a transformar, em atos concretos de enfrentamento,  aquilo que sempre foi sabido, mas que nunca pode ser colocado em prática: que os sustentáculos dos mecanismos de dominação, que devem ser enfrentados, desmascarados e superados, não são apenas os parlamentos, as forças repressivas, o aparelho judiciário,  mas  também, e talvez principalmente, o aparato de comunicação ligado a esses mecanismos de dominação.    

Nesse sentido, essa solitária e oportuna Greve de Fome de Pedro Rios talvez venha a se tornar um marco da luta popular no Brasil,  demarcando o momento em que a resistência popular ousou mirar horizontes mais amplos e  radicais.
Radicais, no sentido de ir de fato à raiz dos problemas do povo, quando se constata que todas as outras instâncias foram esgotadas, no sentido de pura e simplesmente ir para as ruas, para mostrar aos comandantes dos mecanismos de dominação que, finalmente, é chegado o momento de os povos do planeta inteiro terem a sua real parcela de poder e de responsabilidade nos rumos de sua história, da história da humanidade e da história do planeta.

Segue o vídeo com a entrevista de Pedro, algemado em frente à sede da Rede Globo. E, em seguida, uma ótima reportagem e transcrição de trechos da referida entrevista,  feita por Ana Tavares para quem tem medo da democracia?

Pinheirinho, Pedro e a Globo
por Ana Helena Tavares
Quarta-feira, 1º de Fevereiro de 2012, o cineasta Pedro Rios Leão, que esteve em Pinheirinho (São José dos Campos – SP) documentando tudo, está em seu 4º dia algemado e em greve de fome em frente à Rede Globo. Ele protesta contra a omissão da mídia que acobertou a barbárie. O site “Quem tem medo da democracia?” foi lá conversar com ele (vídeo acima).

Pedro tem tido sempre a companhia de diversos outros jovens. Tem sido muito bem tratado pelos pedestres, comerciantes e já até recebeu visitas cordiais de alguns funcionários da Globo. Contou também que um Tenente esteve lá, dizendo-se a mando do governador do RJ, e deu pra ele um número de celular para que ele o ligasse caso alguém o tentasse tirar de lá.

Formação marxista e “apartidarismo”
Com formação marxista, segundo ele “rígida”, porém “muito mais acadêmica do que ativista”, Pedro nunca militou em nenhum partido político. Vestido com a camisa 10 de Zico, comemorativa pelo título mundial do Flamengo, em 81, ele disse ter feito esta escolha “na tentativa de mostrar apartidarismo”.

Apenas participou do movimento “Ocupa Rio”, de vertente apartidária, que ele define como tendo sido “um protesto contra o capitalismo e a enganação que é a democracia representativa, um sistema baseado em abuso de poder econômico, tráfico de influência e força bruta”.

Considera que “estamos passando por um período de graves rupturas econômicas, entre elas a concentração de renda que se tornou absurda, com a exploração inegável e massiva do mercado privado, onde o assédio moral é implícito. No mundo inteiro a política de mercado livre falhou e criou monstros capazes de engolir governos. Em 1916, o Thomas Jefferson falou que ‘os bancos são mais perigosos que todos os exércitos ativos do mundo’”.



A sociedade não pode se fazer de “tadinha”
Segundo ele, há uma “quadrilha que controla o país há muito tempo, formada por banqueiros, empresários, congressistas…” E não adianta só reclamar, porque garante: “O Congresso liberal é feito para ser um balcão de negócios. Se são essas as pessoas que legislam, evidentemente as leis vão proteger os negócios corporativos.”

E vai mais fundo: “Há uma postura muito ruim da sociedade civil de acusar a polícia, o congresso e o governo de corrupção, como se a sociedade fosse cândida e passiva. Tadinha! Eu acho que está na hora de as pessoas relacionarem o sistema corrupto que elas sustentam com a preguiça e omissão delas de exercerem os seus direitos políticos. Não existem forças legalistas ou malvadas dentro do governo ou de um partido. Dentro de qualquer estrutura, seja partidária ou sindical, existem pessoas que aplicam a lei e outras que empregam práticas capitalistas”

A luta não é jurídica, é política
Pedro exemplifica: “O Daniel Dantas já teve pedido de prisão decretado algumas vezes, mas alguns juízes insistem em mantê-lo livre, baseados no absurdo descontrole que existe sobre o poder judiciário no Brasil. Então, as pessoas tem que se conscientizar de que não existe um sistema em funcionamento, existe uma guerra encarniçada, política, dentro do aparelho de Estado, que só vai se resolver para o nosso lado a partir do momento em que a sociedade civil intervir”.

A revolução da tecnologia de informação
“Hoje, a gente pode se comunicar, se expressar, mostrar as coisas. A pulverização da mídia beneficia e agrada o consumidor. As pessoas estão largando a televisão, um quadrado que fala sozinho, para se envolverem em debates”. E ele vê isso tudo positivamente: “Gera benefícios gigantescos na sociedade”.

O Caso Pinheirinho
Para Pedro Rios Leão, que presenciou o drama vivido em Pinheirinho, nem o governo nem a justiça nem a polícia vão aplicar a lei. Assegura que a única “força política” capaz de fazer isso é a sociedade civil. E explica porque resolveu ir até lá: “Quando eu estava aqui no Rio de Janeiro e já acompanhava a disputa política entre o Naji Nahas e seus braços no poder judiciário de São Paulo e o governo paulista contra o governo federal, eu já estava muito preocupado. Eu fui para lá na segunda-feira (23/01, dia seguinte à desocupação), mas antes eu vi o pacto federativo sendo rompido, soube que a Polícia Federal tinha sido expulsa a tiros e o Paulo Maldos (secretário nacional de articulação social da presidência da República) havia sido baleado.”
Se Marechal Lott fosse vivo…
“Se a gente tivesse um único general legalista neste país, se Marechal Henrique Teixeira Lott fosse vivo, isso não teria acontecido. Porque o que aconteceu é muito mais grave que uma questão da esquerda. Eu acho que um militante do Jair Bolsonaro consegue entender que a Polícia Militar não pode atirar na Polícia Federal. Por mais de direita ou conservador que você seja, você fica irritado quando mostram que estão te fazendo de otário, que mentem descaradamente na sua cara”.

As mortes e a ocultação de corpos
Pedro acredita que as provas de sequestro e ocultação de cadáver são “inencontráveis”, mas sustenta que há mortos. E vai mais longe: ”Qualquer um que pise em São José dos Campos, sabe disso”.

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