Trabalhadores das polícias são mais trabalhadores do que os outros trabalhadores?
Não são mais, nem são menos trabalhadores.
Além da greve dos policiais militares na Bahia, há ameaça de paralisação em Brasília, Rio de Janeiro e também aqui no Espírito Santo. No governo federal, no Congresso e nos meios de comunicação já se fala abertamente aquilo que já se suspeitava, a partir da da radicalização do movimento: que a motivação maior da greve é a de pressionar para que o Congresso e o governo apóiem a PEC 300, que estabelece um piso mínimo nacional no valor de R$ 3.500,00 para os policias militares.
Óbvio que, enquanto pais, esposos, filhos, mesmo servindo ao aparato de repressão, esses trabalhadores fazem jus à solidariedade e ao respeito que todo trabalhador, ou melhor, que toda pesssoa merece. Não são culpados de execer a, sejamos honestos, execrável e indesejável tarefa de vigiar, reprimir e ajuda a punir, que certamente não existirá no mundo digno e pleno para o qual a humanidade busca caminhar - ou pelo menos não existirá na mesma magnitude e no mesmo volume e com a mesma aceitação.
Mas a questão, para o movimento popular, é a legitimidade e a sinceridade de fazer a defesa dessa categoria profissional, quando os agentes da repressão fazem suas reivindicações de forma extremada, tal como estão fazendo os policiais militares da Bahia: associar-se a a setores marginalizados para simular pânico e desordem como forma de pressão em cima do governo, incendiar ônibus que levavam crianças, ocupar a Assembléia Legislativa armados.
Ora, fosse uma ação de qualquer entidade do movimento popular, num contexto de enfrentamento decisivo contra as forças da ordem (traduzindo: num contexto de revolução popular) nem num contexto assim tais ações se justificariam - espelhariam um movimento imaturo, desorganizado, desvinculado das camadas populares.
Que dizer então de ações assim, quando tem como objetivo apenas reivindicar melhorias salarias, por mais justas e urgentes que elas venham a ser? E quando é que trabalhadores e militantes populares tiveram o direito de fazer as suas reivindicações portando armas nas ruas, atirando para o alto, como já aconteceu várias vezes ao longo dos anos nas mobilizações dos trabalhadores do aparato repressivo?
Ficam duas perguntas: 1 - para convencer a sociedade da justeza de suas reivindicações é preciso portar armas, amedrontar, demonstrar força? e 2 - supondo-se que isso de portar armas em mobilizaçãoes fosse respeitoso, maduro e inteligente, então os trabalhadores da repressão teriam mais direitos do que os outros trabalhadorres, já que somente eles têm acesso legal às armas?
Leia aqui a segunda parte
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