15/09/2010

o enfrentamento e a mobilização popular

Ainda  a respeito das falas de Lula nos dois vídeos abaixo e a respeito da transformação das estruturas políticas e sociais no Brasil.

O fato é que, para transformarmos a fundo a sociedade, precisamos fundamentalmente preservar o ambiente democrático, ou por outra, para podermos superar a democracia formal, burguesa e limitada rumo à democracia direta, popular e verdadeira, precisamos saber conservar todas as conquistas que arduamente vamos obtendo ao longo do tempo. E certamente que uma liderança de esquerda pedir a ‘extirpação’ de partidos significa dar brecha, é oferecer munição para os raivosos e assustados adversárisos do avanço popular e verdadeiramente democrático.

A não ser, é claro, que essa liderança saiba exatamente o que está dizendo, ou seja, que confie em que de fato as práticas nefastas e desesperadas das forças adversárias serão de fato ‘extirpadas’ da história política do Brasil.

O problema é que isso pode não ser lá muito verdadeiro. O caminhão de elitores, que Lula tem hoje, pode não estar com ele amanhã – em 2012, 2014, 2018... Afinal, Lula e o PT não estão conseguindo, ou não estão querendo, avançar na formação política desses novos agentes.
Pode ser que o vasto contingente social, que obteve consideráveis benefícios econômicos e sociais nos dois governos Lula, esqueça-se do partido e das lideranças que permitiram essas conquistas econômicas e sociais.

E então será presa fácil para uma direita falsamente renovada, que no momento oportuno poderá ressurgir com seus apelos moralistas, conservadores, e que certamente saberá explorar os preconceitos que as camadas populares tem contra seus próprios líderes, contra sua própria história.

O antídoto contra esse eventual veneno seria extamente a formação política, a mobilização popular, o envolvimento efetivo, regular e consciente das camadas populares nas grandes questões nacionais e nas questões locais do seu cotidiano, seria, enfim, governar junto com o povo, e não apenas para o povo, partilhar com o povo o difícil aprendizado de construir uma real demcoracia popular.

Não parece que essa tenha sido uma prioridade dos dois governos Lula, nem parece que vá sê-lo no governo Dilma - apesar da realização das várias conferências municipais, estaduais e nacionais (educação, comunicação, cultura, entre outras), a mobilização popular é quase inexistente, falta sair um pouco do institucional, do tecnicismo, enfim, trazer o governo até o povo, até a cidade, até a comunidade, até as praças, ao invés de querer levar o povo para o institucional e o o burocratizado.

Mas essa é uma outra questão, a ser abordada numa outra ocasião.

De qualquer forma, com mais alguns desses seus arroubos de fala grossa, talvez Lula compreenda que, para extirpar o atraso, o privilégio e a arrogância, qualquer partido e qualquer governo que se pretendam de fato transformadores precisam, antes de tudo, de ter ao seu lado um movimento popular amplo, autônomo, consciente e combativo – para que as camadas médias e populares não se voltem, por ignorância, comodismo e preconceito, contra esse mesmo governo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário