13/09/2010

o grito que ainda se faz ouvir

(depois de ler o texto, veja abaixo algumas  imagens do Grito dos Excluídos 2010, em Vitória)

O Grito dos Excluídos é realizado há já 16 anos, no dia 07 de setembro, por iniciativa da CNBB, em articulação direta com a Campanha da Fraternidade. Quem mantém vivo o movimento, ao longo desses 16 anos, são as Pastoriais Socias junto com a ala progressista e socialmente engajada da Igreja Católica.
O Grito é hoje a maior, senão a única, manifestação popular organizada, massiva e abrangente que temos no Brasil.

Sabemos que o próprío MST tem se recolhido um pouco, com o advento do governo Lula. Talvez por haver mais diálogo com o governo petista, talvez para contribuir com a chamada governabilidade, evitando dar munição para os eternos inimigos de um governo popular, o fato é que o MST não tem alavancado ostensivamente o seu projeto de uma integração das lutas campo-cidade.

Claro que não se trata aqui de fazer comparações inócuas entre MST e Igreja Progressista. Mesmo porque os objetivos imediatos do MST são bem específicos – a luta pela reforma agrária – ao passo que o horizonte da Igreja Progressista é mais amplo e difuso: a construção de um Projeto Popular para o Brasil, que, aliás, foi o tema do Grito deste ano: “Vamos às ruas para construir um Projeto Popular”.
Além disso, o MST, a Via Campesina e outros movimentos camponeses têm participado ativa e regularmente do Grito ao longo dos anos, e também e na construção conjunta desse Projeto Popular para o Brasil.

Trata-se apenas de registrar que, hoje, quem dá visibilidade pública à construção desse Projeto Popular são os setores progressistas da Igreja Católica. É o Grito dos Excluídos quem hoje leva as lideranças populares para as ruas, na tentativa de despertar a cidade e o campo para a necessidade e a possibilidade de o povo brasileiro construir um movimento que supere as limitações políticas e institucionais que os sucessivos governos do PT trazem consigo.

Resumindo: se houver um movimento que esteja em condições de promover a superação dialética desse momento histórico representado pelo PT, esse movimento tem tudo para brotar novamente de dentro da Igreja Progessista, e não de algum sindicato, partido ou movimento social.
*********************
Não se afirma aqui que a Igreja vá criar um movimento ou partido para comandar os avanços na luta popular em nosso país, mas simplesmente que ela está novamente a exercer o seu papel de aglutinadora, de articuladora da resistência e do avanço popular.

Ou seja, ela estaria cumprindo de novo aquela sua tarefa histórica que exerceu na década de 70 quando - principalmente através das Comunidades Eclesiais de Base, CEBs, e da Comissão Pastoral da Terra, CPT - forjou e ofertou muitos e indispensáveis quadros para o movimento de ruputura política que se inciou naquela década, que foi posteriormente conduzido pelo Partido dos Trabalhadores e que tem dado os seus primeiros frutos nesta década.
*********************
É preciso registrar ainda que a construção desse Projeto Popular é a razão de ser tanto da Consulta Popular quanto da Assembléia Popular, dois movimentos que, embora não sejam muito citados na mídia e no nosso dia a dia, talvez sejam as iniciativas que mais estejam se preparando para substituir dialeticamente o PT enquanto articuladores do processo de transformação popular.
Lembrando que tanto a Assembléia Popular quanto a Consulta Popular são constituídas, em sua maioria, por lideranças e quadros oriundos exatamente dos movimentos camponeses, das pastorias sociais e das CEBs.
*********************
É preciso também levar em conta as posições das tendências mais à esquerda do PT, notadamente a AE - Articulação de Esquerda. Para a autodenominada Esquerda Partidária do PT, ainda é possível e necessário disputar internamente os rumos do Partido, para que o PT resgate a sua vocação socialista e tenha mais poder de decisão no governo Dilma e nos futuros eventuais governos petistas.

Dessa forma, o PT poderia superar a si próprio e voltar a exercer a tarefa de força motora da transformação popular no Brasil. Ou seja, a esquerda partidária seria uma espécie de antítese a esse PT moderado, institucionalizado e cada vez mais burocratizado que vem governando o país. Desse enfrentameneto dialético surgiria uma nova síntese, um novo PT, efetivamente capaz de continuar impulsionando com lucidez, coragem e eficiência a luta popular.

Não deixa de ser uma possibilidade, essa de o PT ser seu próprio ‘substituto’, realizar sua própria superação histórica. A história está sempre em aberto. Por outro lado, essa autossuperação somente poderá se dar se a chamada Esquerda Partdidária de fato conseguir envolver novamente no PT os quadros e militantes que hoje estão alimentando exatamente as CEBs, as Pastorais, os movimentos camponeses, a Assembléia Popular, a Consulta Popular.

Enfim pode ser um PT redimido, ou um novo partido, essa força que irá fazer avançar a luta popular. De qualquer forma resta ainda saber por quanto tempo esse PT que vem conduzindo o processo de transformação ainda permanecerá à frente do governo; resta saber quantos anos ainda faltam para que esse PT esgote de fato o seu papel histórico de - bem ou mal, de forma ousada ou medrosa – conduzir o processo de transformação das estruturas sociais e econômicas de nosso país.

Mas isso já é outro tema, que exigirá um outro espaço.

Nenhum comentário:

Postar um comentário