17/08/2009

nós somos

Como uma pequena lâmpada subsiste
e marcha no vento, nestes dias
na vereda das noites, sob as pálpebras do tempo.

Caminhamos, um país sussurra
dificilmente nas calçadas, nos quartos
um país puro existe, homens escuros
uma sede que arfa, uma cor que desponta no muro
uma terra existe nesta terra
nós somos, existimos.

Como uma pequena gota às vezes no vazio
como alguém só no mar, caminhando esquecidos
na miséria dos dias, nos degraus desconjuntados
subsiste uma palavra, uma sílaba de vento
uma pálida lâmpada ao fundo do corredor
uma frescura de nada, nos cabelos nos olhos
uma voz num portal e a manhã é de sol
nós somos, existimos.

Uma pequena ponte, uma lâmpada, um punho
uma carta que segue, um bom dia que chega
hoje, amanhã, ainda, a vida continua
no silêncio, nas ruas, nos quartos, dia a dia
nas mãos que se dão, nos punhos torturados
nas frontes que persistem
nós somos
existimos.

António Ramos Rosa (Faro - Portugal)

Um comentário:

  1. o Tiago Bettencourt fez uma musica com a Dalila Carmo com este poema.

    http://www.myspace.com/tiagonatoca

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