20/12/2011

itambacuri

Itambacuri é uma dessas cidades bem pequenas e pacatas, que se espraiam pela vastidão das Minas Gerais. Fica no vale do Mucuri, a 30 km de Teófilo Otoni. O Mucuri, por sua vez, é vizinho do Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas.
Nada de muito especial, apenas colhi algumas imagens, sem muitas pretensões, movido pela pacata vastidão do lugar. Na verdade, me atraiu uma certa atmosfera dos cenários de Guimarães Rosa.  Claro, os livros de Rosa se passaram noutro lado de Minas, lá pelos lados de Januária, São Fancisco, enfim no Noroeste e no Norte de Minas propriamente dito. Mas como não pude ir até lá, e como estive relendo o 'Grande Sertão ...', acho que me deixei influenciar um pouco. De qualquer forma, mesmo sendo uma associação bastante pessoal, subjetiva  e própria de momentos,  vão algumas impressões: 

 a vastidão silenciosa e enigmática a cercar a cidade

da secura bruta de rochedos, emanando uma espécie
de silêncio mineral
as ruas e estabelecimentos com nomes familiares, ao invés
das costumeiras homenagens às tais figuras ilustres,
que é uma óbvia forma de dominação.

ruas e praças, aliás, que estão sempre sendo nomeadas e renomeadas,
o que é uma óbvia forma de destruir a memória de uma coletividade.

interessante como permanece essa resistência à desmemoriação de um povo,
resistência misturada com espontaneidade e familiaridade 



o 'ponto' das charretes e carroças,
onde os moradores da roça
alugam transporte

a onipresente religiosidade de minas: apesar de tudo o que ela representou, e ainda
representa, de suporte às  estruturas de dominação social e econômica, ela é  um
elemento vital para se compreender a formação da singular identidade de minas
(seminário de itambacuri)
compare-se com essas imagens do povoado de Paraguai, município
 de Cajuri (Zona da Mata de Minas): repare-se altivez das igrejas,
geralmente construídas em alturas estratégicas

como se do alto fosse mais convincente a ligação da finitude
 terrena  com as alturas e mistérios do infinito; e, claro, para
fazer mais visível a obediência do rebanho, obediência que
 certamente  ajudava, e ajuda, a manter as estruturas de poder.

aliás, a propósito de religião e poesia, veja poemas para deus
abaixo,  o colégio das freiras, quase que uma instituição em muitas
cidades de Minas: a presença da igreja (que já em si um aparelho
ideológico) em outro dos aparelhos ideológicos de estado, a escola  
nessas cidades interioranas, o casario antigo
não destoa da paisagem ao redor, integra-se ao ambiente.

ao contrário das grandes cidades, onde os chamados 'centros históricos',
quando ainda preservados,  surgem quase como uma 'anomalia',
como indefesos intrusos na paisagem fascista, quadrada
e cinzenta de edifícios, ruas e fábricas 

mas, às vezes, esse contraste ocorre até mesmo em cidades
do interior,  não necessariamente em capitais.

por exemplo, em itabira, mostrada aquiaqui e aqui mesmo o casario antigo - na 
rua onde Drumond morou - carrega algo de artificial, por restar cercado
por uma cidade  já suficientemente 'desenvolvida', 'crescida', corroída  

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