amarelo, cuidado! vermelho, parar!
som de freios no asfalto aquecido, estridente e metálico
automóveis se alinham brusca e desigualmente
motocicletas disputam os espaços intermediários
camelôs giram em órbita dos carros
com seus produtos e serviços descartáveis.
cruza a faixa uma pequena multidão, muda e apressada
do outro lado, motores roncam em tonalidades dissonantes
buzinas nervosas insistem em erguer a voz
foi então que vi aquele olhar.
uma criança, menina, estacionada à minha frente.
yinha nas mãos um maço de folhetos
mas aparentemente esquecera que devia entregá-los.
despenteada, com alguns farrapos sobre os ombros
não devia ter nome e menos ainda família
de perfil, olhava sobre os ombros:
olhar sem palavras, seco de riso e de lágrimas
onde medo e desejo pareciam alternar-se.
abarcava tudo e nada, perdido e só
sobre o ruído das máquinas e a pressa dos transeuntes.
vermelho, avançar!
mas aquele olhar permaneceu ali, vívido e teimoso
como que petrificado no pára-brisa do carro
gravado para sempre no mármore da memória.
certamente me fará algumas visitas inoportunas
nas noites quentes de insônia.
pe. alfredo gonçalves, CS
som de freios no asfalto aquecido, estridente e metálico
automóveis se alinham brusca e desigualmente
motocicletas disputam os espaços intermediários
camelôs giram em órbita dos carros
com seus produtos e serviços descartáveis.
cruza a faixa uma pequena multidão, muda e apressada
do outro lado, motores roncam em tonalidades dissonantes
buzinas nervosas insistem em erguer a voz
foi então que vi aquele olhar.
uma criança, menina, estacionada à minha frente.
yinha nas mãos um maço de folhetos
mas aparentemente esquecera que devia entregá-los.
despenteada, com alguns farrapos sobre os ombros
não devia ter nome e menos ainda família
de perfil, olhava sobre os ombros:
olhar sem palavras, seco de riso e de lágrimas
onde medo e desejo pareciam alternar-se.
abarcava tudo e nada, perdido e só
sobre o ruído das máquinas e a pressa dos transeuntes.
vermelho, avançar!
mas aquele olhar permaneceu ali, vívido e teimoso
como que petrificado no pára-brisa do carro
gravado para sempre no mármore da memória.
certamente me fará algumas visitas inoportunas
nas noites quentes de insônia.
pe. alfredo gonçalves, CS