transcrito de carta maior
(antes de passar propriamente ao texto de Carta Maior, vale registrar o comentário de um leitor, publicado no mesmo site:
Baco diz: Eu não entendo esse governo do PT. O PT sob fogo cruzado intenso-via mídia empresarial e "mini-ministros" do STF. E o Governo Federal se prontifica a ajudar ao governo do PSDB, que é o responsável direto por essa violência. Tinha que deixar eles solicitarem socorro e não socorre-los!
Na verdade, caro Baco, você não deixa de ter um pouco de razão, mas ocorre que é isso que diferencia um governo popular, ou ao menos progressista, de um governo despersonalizado e pró-elite: a generosidade e o compromisso sério com a vida e a dignidade das pessoas em primeiro lugar. E valeu pelo 'mini-ministros'. Ao texto de Carta Maior)
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A criação de uma agência de cooperação e inteligência entre o governo de São Paulo e Brasílial é a primeira providência estrutural diante da pasmaceira de violência e incompetência que assola a maior e mais rica capital do país.
Com mais cinco assassinatos verificados na madrugada desta 3ª feira, São Paulo atingiu a apavorante marca de 290 homicídios nos últimos 60 dias. A marca da 3ª feira ficou dentro da média do período: quase 5 mortes (4,8) por dia.
O padrão equivalente a cerca de 150 mortes por mês é mais que o dobro do descalabro registrado em Ciudad Juarez, a capital conflagrada do narcotráfico mexicano. De janeiro a setembro deste ano Ciudad Juarez recolheu uma média mensal de 65 cadáveres de suas ruas, entre corpos baleados e algumas cabeças decapitadas.
São Paulo não é Ciudad Juarez. Assiste-se aqui a um surto; uma irrupção refletida no aumento de 90% no total de homicídios dos últimos dois meses, em relação ao bimestre equivalente de 2011.
Um surto de execuções, melhor dito. E isso guarda semelhança com o padrão de Ciudad Juarez. Lá e cá a matança em nada se confunde com latrocínio, o roubo seguido de morte, tampouco é fruto de confrontos eventuais entre policiais e bandidos. Esses são casos de contabilidade distinta.
A sangria desatada que interliga tristemente as estatísticas das duas cidades reflete a morfologia de uma violência planejada. Há listas de mortes programadas e jagunços a campo. Portanto, é mais assustador ainda.
O acerto de contas acontece nas ruas da maior e mais rica cidade brasileira, no estado cuja segurança pública é ordenada há 18 anos por governos do PSDB. A nominação é pertinente na medida em que a proficiência na matéria sempre foi um apanágio reclamado pelos tucanos. O que houve então?
Há 60 dias, alternam-se em toda a região metropolitana paulista execuções de policiais e civis. Noventa e dois policiais militares foram fuzilados em situações semelhantes desde o início do ano. Média de nove corpos por mês. A maioria, fora de serviço, vestida à paisana, muitas vezes próxima da residência ou dentro dela. Parentes também foram alvejados.
Até a semana passada, o governo do PSDB paulista repetia a cada enterro: temos o controle. Na 5ª feira depois das eleições, um telefonema da Presidenta Dilma ao tucano Geraldo Alckmin desfez a encenação: o governo de SP aceitou a ajuda federal para tentar conter a guerra. Nesta 3ª feira surgiram as primeiras iniciativas, como a da agencia de cooperação.
Outras providências de sensatez desconcertante pelo ineditismo serão tomadas a partir de agora. Líderes do PCC serão transferidos para presídios federais de segurança máxima.
Hoje, eles estão espalhados em cárceres do sistema prisional paulista sabidamente saturado e, é quase uma delicadeza colocar as coisas assim, co-administrados pelo crime.
A inteligência federal ajudará a deslindar um dos mistérios mais guardados pela cúpula tucana: quem está matando quem, e por qual motivo?
Documentos apreendidos em batidas policiais feitas em favelas comprovam a deliberada aritmética da morte comandada de dentro das prisões: dois policiais por bandido morto.
Há, ainda, a suspeita de um ajuste de contas entre milícias compostas de policiais da PM paulista fora do expediente e traficantes ligados ao PCC.
Os dois lados estariam redesenhando a chumbo e sangue os perímetros de controle do jogo clandestino e do comércio de drogas. É uma das hipóteses da investigação.
Sobram perguntas numa crise encoberta pelo lacre da opacidade conveniente à leniência oficial e ao matador clandestino. A cidadania tem o direito de saber o que se passa. E mais que isso, de arguir o que deixou de ser feito a ponto de se ter, não pela primeira vez, diga-se, a maior cidade brasileira ao sabor de bandos e balas fora do controle. Sobretudo, tem o direito de cobrar as providencias para que o horror cesse -- e a sua ameaça não se repita.
Assusta a opinião progressista de São Paulo que até hoje a sua Assembleia de representantes não tenha tido a coragem, e a responsabilidade soberana, de convocar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para tirar a segurança da sarjeta onde bandos armados disputam o território com a incompetência desarmada pela soberba e o interesse eleitoral. Ainda é tempo.
Com mais cinco assassinatos verificados na madrugada desta 3ª feira, São Paulo atingiu a apavorante marca de 290 homicídios nos últimos 60 dias. A marca da 3ª feira ficou dentro da média do período: quase 5 mortes (4,8) por dia.
O padrão equivalente a cerca de 150 mortes por mês é mais que o dobro do descalabro registrado em Ciudad Juarez, a capital conflagrada do narcotráfico mexicano. De janeiro a setembro deste ano Ciudad Juarez recolheu uma média mensal de 65 cadáveres de suas ruas, entre corpos baleados e algumas cabeças decapitadas.
São Paulo não é Ciudad Juarez. Assiste-se aqui a um surto; uma irrupção refletida no aumento de 90% no total de homicídios dos últimos dois meses, em relação ao bimestre equivalente de 2011.
Um surto de execuções, melhor dito. E isso guarda semelhança com o padrão de Ciudad Juarez. Lá e cá a matança em nada se confunde com latrocínio, o roubo seguido de morte, tampouco é fruto de confrontos eventuais entre policiais e bandidos. Esses são casos de contabilidade distinta.
A sangria desatada que interliga tristemente as estatísticas das duas cidades reflete a morfologia de uma violência planejada. Há listas de mortes programadas e jagunços a campo. Portanto, é mais assustador ainda.
O acerto de contas acontece nas ruas da maior e mais rica cidade brasileira, no estado cuja segurança pública é ordenada há 18 anos por governos do PSDB. A nominação é pertinente na medida em que a proficiência na matéria sempre foi um apanágio reclamado pelos tucanos. O que houve então?
Há 60 dias, alternam-se em toda a região metropolitana paulista execuções de policiais e civis. Noventa e dois policiais militares foram fuzilados em situações semelhantes desde o início do ano. Média de nove corpos por mês. A maioria, fora de serviço, vestida à paisana, muitas vezes próxima da residência ou dentro dela. Parentes também foram alvejados.
Até a semana passada, o governo do PSDB paulista repetia a cada enterro: temos o controle. Na 5ª feira depois das eleições, um telefonema da Presidenta Dilma ao tucano Geraldo Alckmin desfez a encenação: o governo de SP aceitou a ajuda federal para tentar conter a guerra. Nesta 3ª feira surgiram as primeiras iniciativas, como a da agencia de cooperação.
Outras providências de sensatez desconcertante pelo ineditismo serão tomadas a partir de agora. Líderes do PCC serão transferidos para presídios federais de segurança máxima.
Hoje, eles estão espalhados em cárceres do sistema prisional paulista sabidamente saturado e, é quase uma delicadeza colocar as coisas assim, co-administrados pelo crime.
A inteligência federal ajudará a deslindar um dos mistérios mais guardados pela cúpula tucana: quem está matando quem, e por qual motivo?
Documentos apreendidos em batidas policiais feitas em favelas comprovam a deliberada aritmética da morte comandada de dentro das prisões: dois policiais por bandido morto.
Há, ainda, a suspeita de um ajuste de contas entre milícias compostas de policiais da PM paulista fora do expediente e traficantes ligados ao PCC.
Os dois lados estariam redesenhando a chumbo e sangue os perímetros de controle do jogo clandestino e do comércio de drogas. É uma das hipóteses da investigação.
Sobram perguntas numa crise encoberta pelo lacre da opacidade conveniente à leniência oficial e ao matador clandestino. A cidadania tem o direito de saber o que se passa. E mais que isso, de arguir o que deixou de ser feito a ponto de se ter, não pela primeira vez, diga-se, a maior cidade brasileira ao sabor de bandos e balas fora do controle. Sobretudo, tem o direito de cobrar as providencias para que o horror cesse -- e a sua ameaça não se repita.
Assusta a opinião progressista de São Paulo que até hoje a sua Assembleia de representantes não tenha tido a coragem, e a responsabilidade soberana, de convocar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para tirar a segurança da sarjeta onde bandos armados disputam o território com a incompetência desarmada pela soberba e o interesse eleitoral. Ainda é tempo.