20/06/2009

rebelião na grécia (5) - carta...

Carta de um anarquista na prisão

A carta abaixo, divulgada no blog Grécia Libertária, foi escrita pelo anarquista grego Ilias Nikoláu, encarcerado numa prisão da Grécia. É um desses testemunhos que dispensam muitos comentários; não somente pela coragem, determinação, sensibilidade e lucidez de quem a escreve, mas até mesmo em respeito à sua situação de prisioneiro. Para aqueles que estão até mesmo perdendo a sua liberdade em nome da resitência e de um horizonte completamente diferente para todos nós, para aqueles que estão de fato se cumprindo como profetas de um novo tempo, um silêncio respeitoso às vezes é a melhor homenagem.

Carta do companheiro anarquista Ilias Nikoláu
"Há quase 6 meses estou aqui, nas masmorras da democracia. Uma prisão provocada pelo meu jeito de viver e pelas minhas idéias. Os criadores desta situação são os cães fardados democracia. Os dias, passo-os entre as paredes mudas e miseráveis, os pensamentos vêm e vão, algumas imagens atravessam rápidas a minha cabeça, outras se demoram um pouco mais, mas há também aquelas imagens, memórias e sentimentos que não vão embora nunca, que não são esquecidas e que estão bem enraizadas no coração de minha consciência.
Eles não podem ser dobradas, não podem ser alteradas, não podem ser fragmentadas. São memórias da raiva, são as imagens das chamas e dos ruídos ensurdecedores, sentimentos de amor e de companheirismo, são os momentos e experiências de um modo de vida, que tem como principal objetivo levantar alto a bandeira de uma dignidade indomável.
Tal como escrevi na minha primeira carta, "Eu pertenço ao acampamento dos que são guiados pela dignidade”. Para mim tudo começa e tudo acaba aí. Os projetos, as dificuldades e as prisões são para mim nada mais que sintomas de um estilo de vida saudável. Uma vida que não abaixa sua cabeça, uma vida que não se contenta com o que existe, mas que busca e aspira algo que, infelizmente, parece impossível para a maioria. Mas o impossível não é nada de imaginário, apenas algo que ainda não tentamos, experimentamos.
Claro que os inimigos são muitos. Os mecanismos de Poder e seus seguidores, os seus donos e os seus eleitores, os seus guardiães e defensores. Essas isoladas e desesperadas massas, que se sentem gratas, cada vez que o Poder aumenta as medidas repressivas, e se sentem seguras e aplaudem quando os seus senhores são bem protegidos. À mais miserável sobrevivência chamam de "vida". Uma sobrevivência administrada em doses, uma dignidade perdida debaixo de ordens diretas ou indiretas.
E há a sua famosa democracia, que está se armando e se blindando, que persegue, encarcera e assassina tudo o que lhe é hostil.
Mas a questão para nós não é saber se eles são muitos, se estão organizados e se têm os meios e os métodos para nos vencer. A questão para nós é a de colocar todo o nosso ser na luta. E não se trata de uma luta pacífica por alguns ideais, por um belo mundo ou por uma utopia, mas de uma luta pela dignidade, pela liberdade e pela destruição do Poder.
A nossa existência nós temos que buscá-la, temos que conquistá-la. Não é algo a ser comprado e vendido nas prateleiras dos supermercados ou nas vitrines dos shoppings, com cartões de crédito. Não é algo que abaixa a cabeça e jura em frente da bandeira de alguma nação e em seguida vai guerrear contra outras existências, supostamente inimigas de nossa nação.
Os nossos princípios e as nossas ações nós os definiremos clara e lucidamente, no dia a dia de uma luta difícil. Sejam o que for as histórias que as autoridades inventarem sobre terroristas, encapuzados e ‘agentes’, responderemos que nunca iremos nos submeter à obediência e ao silêncio. Guiados pela dignidade nós nos dirigimos em direção à liberdade."
Saudações Companheiras
Ilias Nikolau, 6 de junho de 2009, da prisão Amfissas
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