flecheira - substantivo feminino; pequena abertura nas muralhas, pela qual se lançavam setas contra os inimigos ou sitiantes; frecheira, frecheiro, seteira (dcionário Houaiss)
Flecheira 112, 26 de maio
lata de lixo.
No Espírito Santo, os presos são amontoados em contêineres fétidos, latas de lixo humano, cercados por concertinas. É o horror. As autoridades obstaculizam as visitas de grupos de diretos humanos, alegando "questão de segurança". Mas estes entram e constatam que a comida podre, com "arroz, feijão e algo que parece batata", não é tão ruim diante de tanta imundice. Na revista íntima, mulheres são violentadas por agentes. Os assassinatos são contabilizados como fuga, o desaparecimento de indesejáveis, como na ditadura militar. Não há defensoria pública, somente a seletividade do sistema penal contra pobres, miseráveis, jovens e subversivos. As cercas elétricas e concertinas vão além do visual de campos de concentração: uma criança se corta ao tentar tocar em seu pai.
a lógica da reforma
A crítica que pretende humanizar a prisão-contêiner alimenta a distribuição de verbas e justifica a construção de mais prisões, fazendo a alegria de burocratas que vivem da morte lenta de gente considerada LIXO. Na democracia, representativa e participativa, há a ardilosa capacidade de conformar as pessoas na lógica da formalidade e alimentar esperanças vãs de mudança, respeitando a lei e o procedimento.
abolir
Enquanto existir prisões, de lata, de tijolos ou high-tech, existirá tortura e violência, desaparecimentos e morte lenta, polícia, secretários e burocratas alimentando-se dos corpos de pessoas que não interessam senão como ração de reformas. Para que não exista mais a lata de lixo humana, é preciso que não existam mais prisões.
tire o olho de mim
Num bairro da cidade de São Paulo moradores organizam uma patrulha sob a rubrica de “ vizinho está de olho!” o objetivo é inspecionar a casa e a vida dos outros em busca de inibir a ação de ladrões, por meio da vigilância da própria comunidade. A autoridade aprova, e reitera “ ser copiado por outros bairros” mas relembra que os moradores devem ajudar com informações e evitar qualquer tipo de ação policial. Talvez, perdido em sua própria retórica ele tenha se esquecido que o alcagüeta é aquele que mais deseja ser polícia.
guerras e inimigos nos fluxos
A mais nova guerra dos EUA é contra hackers, espiões e terroristas que transitam nos fluxos computoinformacionais imprescindíveis para o capitalismo e o governo do planeta. As guerras na sociedade de controle ganham novas profundidades que vão dos mega-bytes às vastidões cósmicas, opondo Estados, capitais, fundamentalismos. No entanto, nesses mesmos fluxos outras guerras podem surgir surpreendentes, esguias, imprevisíveis, sabendo que hoje se não se resiste fora dos fluxos, mas neles, afirmando novos costumes liberadores, guerreiros e inimigos das ordens.
“palavras fazem você ver novas terras e com elas estranhas viagens” (samuel beckett).
Flecheira 112, 26 de maio
lata de lixo.
No Espírito Santo, os presos são amontoados em contêineres fétidos, latas de lixo humano, cercados por concertinas. É o horror. As autoridades obstaculizam as visitas de grupos de diretos humanos, alegando "questão de segurança". Mas estes entram e constatam que a comida podre, com "arroz, feijão e algo que parece batata", não é tão ruim diante de tanta imundice. Na revista íntima, mulheres são violentadas por agentes. Os assassinatos são contabilizados como fuga, o desaparecimento de indesejáveis, como na ditadura militar. Não há defensoria pública, somente a seletividade do sistema penal contra pobres, miseráveis, jovens e subversivos. As cercas elétricas e concertinas vão além do visual de campos de concentração: uma criança se corta ao tentar tocar em seu pai.
a lógica da reforma
A crítica que pretende humanizar a prisão-contêiner alimenta a distribuição de verbas e justifica a construção de mais prisões, fazendo a alegria de burocratas que vivem da morte lenta de gente considerada LIXO. Na democracia, representativa e participativa, há a ardilosa capacidade de conformar as pessoas na lógica da formalidade e alimentar esperanças vãs de mudança, respeitando a lei e o procedimento.
abolir
Enquanto existir prisões, de lata, de tijolos ou high-tech, existirá tortura e violência, desaparecimentos e morte lenta, polícia, secretários e burocratas alimentando-se dos corpos de pessoas que não interessam senão como ração de reformas. Para que não exista mais a lata de lixo humana, é preciso que não existam mais prisões.
tire o olho de mim
Num bairro da cidade de São Paulo moradores organizam uma patrulha sob a rubrica de “ vizinho está de olho!” o objetivo é inspecionar a casa e a vida dos outros em busca de inibir a ação de ladrões, por meio da vigilância da própria comunidade. A autoridade aprova, e reitera “ ser copiado por outros bairros” mas relembra que os moradores devem ajudar com informações e evitar qualquer tipo de ação policial. Talvez, perdido em sua própria retórica ele tenha se esquecido que o alcagüeta é aquele que mais deseja ser polícia.
guerras e inimigos nos fluxos
A mais nova guerra dos EUA é contra hackers, espiões e terroristas que transitam nos fluxos computoinformacionais imprescindíveis para o capitalismo e o governo do planeta. As guerras na sociedade de controle ganham novas profundidades que vão dos mega-bytes às vastidões cósmicas, opondo Estados, capitais, fundamentalismos. No entanto, nesses mesmos fluxos outras guerras podem surgir surpreendentes, esguias, imprevisíveis, sabendo que hoje se não se resiste fora dos fluxos, mas neles, afirmando novos costumes liberadores, guerreiros e inimigos das ordens.
“palavras fazem você ver novas terras e com elas estranhas viagens” (samuel beckett).
"Flecheira Libertária" é uma seção do endereço libertário nu-sol. É um espaço de onde são lançadas flechadas certeiras e cortantes contra o senso comum e os mecanismos de domesticação e captura de nossa liberdade. É uma abertura, um buraco nas muralhas da engrenagem e na nossa tendência para a aceitação da ordem, nossa necessidade inconsciente de se entregar a uma visão sempre tranquilizadora do mundo e da história. Flechadas que, geralmente através de um ou dois parágrafos, atingem em cheio o alvo e despertam para o risco de nos aquietarmos nas certezas estabelecidas, mesmo que tenham duramente conquistadas. Mesmo para quem não comunga das propostas anarquistas ou libertárias, vale a pena ao menos acompanhar o ousado e inusitado percurso dessas flechadas. E quem sabe se deixar flechar. Um pouco de lucidez e dúvidas não ferem tanto assim.
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