a domingos, companheiro atropelado pelo real
pater, eu tenho um mar até o peito
mas não me alço alto e forte
nada a dor
na tarde que neblina, brinda
e escorre cremes e cristais de melancolia
eu temo e amo a visão boquiaberta
a que me lava e voa em sonhos:
tu e tua urna sem porto
aí nesse mar maior
que esta ilha de migalhas
urna úmida, muda e balouçante
a vadear as areias e arestas desta terra
arrastada em ondas que voam, rugem
além da vitória ou da derrota
no seio da vertigem
e então reconto, desponto
de praia a ponta
de barra a mar
de campos a serra viçosa:
eu busco o esquife inesquecido
as memórias jamais perdidas
na fraturada memória da partida
e ja à porta do espanto
à meia fundura do mar
eu paro, eu espero
eu-parto: o olhar ofega
mas esse teu ômega afaga-o
então já não mais naufrago
a memória na melancolia
continuarei.
carregarei essas tardes como quem carrega teus
sapatos de afogado
ancoro-me em lágrimas doces e as mesclo
com neblinas, ondas, espumas, crinas
e gotejo esses imensos instantes
que ardem na tarde
num só num só num só
poemar
e envio a esse teu
celeste deserto nublado:
inimaginável intangível
impossível imperecível
pomar
deserto de pó, de mar
pós-mar
pater?
roberto soares (ilha de guriri, es, inverno de 96)
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