13/08/2021

um centro ( e um país) em movimento

O Centro de Vitória está, de fato, passando por  uma certa efervescência, em termos de movimentos e atividades comunitárias.

Além de inúmeras e recorrentes ações de coletivos comunitários e culturais, está havendo atualmente o Fórum de População de Rua , que já teve dois encontros e finalizará na próxima quinta-feira (19/08).

E amanhã, domingo, 15/08, haverá eleição para a nova Diretoria da AMACENTRO - Associação dos Moradores do Centro de Vitória. Será na Praça Ubaldo Ramalhete, a partir das 08:00 h, esclarecendo que será uma eleição com chapa única, a Unidos Para Avançar.

Mas, mesmo não havendo disputa, a Coordenação da campanha entendeu de realizar uma divulgação abrangente da eleição, visitando praticamente todas as regiões do Centro. No que as lideranças acertaram em cheio.

Nesta sexta-feira à noite, por exemplo,  participei como colaborador de uma caminhada com alguns membros da chapa (Lino Felette, presidente, Narcísio Soares - Política urbana,  Ricardo Aguiar - Conselho Fiscal  e Felipe - Cultura) pelas ruas Pereira Pinto e Alziro Viana e, depois, pelo Morro da Capixaba. Para divulgar a eleição, apresentar os membros presentes, as propostas e, claro, para ouvir moradores.

E me parece que é exatamente essa disposição - "desnecessária" em termos de disputa por votos - que dá esse caráter de efervescência, de mobilização e resistência, a uma eleição que, por si, seria banal, uma mera homologação de chapa. Pelo que percebi, foi bastante válida a iniciativa, as pessoas querem participar, saber o que está acontecendo, ter canais de escuta e atuação. A chapa não foi recebida de maneira morna. 

E, o mais importante, é algo que certamente acontece em termos de país, e não apenas de bairro ou cidade. 

Como se consolidássemos, a cada dia, o renascimento da resistência e da articulação da luta popular, após um longo período de perplexidade e imobilismo, a partir do golpe de 2016 e da eleição, em 2018, de certo personagem infeliz e digno do mais absoluto desprezo. **

Posso até estar enganado, um tanto ou quanto entusiasmado, digamos - afinal militantes socialistas vão acreditar na Revolução, na Festa da Humanidade, até o último dia de suas vidas, ou até o dia de seu encontro com o Mistério, para quem preferir assim. 

Mas, para mim, a recepção na caminhada é parte de uma disposição maior, em termos de país, parece-me que há uma espécie de expectativa, de preparação para alguma ação, um enfrentamento concreto do impasse nacional,  uma disposição para a discussão, a busca de alternativas populares, vindas de baixo, e não de apenas Instituições, Instituições, Instituições, Partidos, Lideranças, Imprensas etc etc.

Por óbvio, que não se está defendendo aqui a patética condenação da Política, que serve somente aos interesses dos donos do dinheiro e de vidas ***

Pelo contrário, entendo que o  renascimento da resistência e da luta popular terá que se amparar em partidos e lideranças populares, fortes e  autênticos, para de fato podermos reverter o caótico quadro de destruição no qual o país ainda está sendo mergulhado. Sem meias palavras, falo aqui do único líder de massas que pode conduzir um arrojado projeto nacional e popular para o Brasil - LULA, por óbvio. 

*****

Deixando um pouco de lado a questão da eleição da AMACENTRO, mesmo porque ela nos conduz a um cenário mais amplo.

Antes, registre-se que, há muito,  não sou mais filiado petista (tive a honra de ser suplente no Diretório de Vitória, indicado pela corrente Articulação de Esquerda - liderada por nomes como Magno Pires, Ana Rita Esgario, Iriny Lopes, Cláudio Vereza, Baioco, o paulistano Emílio, entre tantos outros combativos e lúcidos militantes; jamais esquecerei o aprendizado moral e político  que ali fiz. A corrente da Articulação de Esquerda continua atuante até hoje dentro do PT, fazendo a disputa no Partido por posições mais à esquerda, liderada por Walter Pomar.

Hoje, sou fervoroso simpatizante do PCO, Partido da Causa Operária, presidido pelo sempre lúcido Rui Costa Pimenta. Em suas análises políticas semanais, Rui é uma verdadeira metralhadora giratória, armada com o mais lúcido e rigoroso marxismo, às vezes com uma ironia corrosiva, áspera, porém sempre elegante e honesta, corajosa - de vez em quando sobra até para LULA, cuja prioridade de candidatura o PCO defende com unhas e dentes, de forma crítica, é claro. De minha parte, concordo plenamente com o PCO, e, parafraseando Voltaire, defenderei até o fim o direito de o PT tentar reencontrar, ou resgatar, seu papel histórico, e liderar o processo de um projeto popular para o Brasil. 

Goste-se ou não do PT, aponte-se, com ou sem razão, os seus desvios, o fato é que não dá para criar do nada uma força política, suficientemente forte e carismática, que consiga enfrentar os reais perigos que nos ameaçam, cada dia com mais estupidez e impiedade. O resto é divisionismo, é querer inventar a realidade. 

E isso de reduzir o debate político ao quesito corrupção, como estrela na testa do PT,  é pura demagogia e hipocrisia, é oportunismo eleitoreiro, é moralismo de esquerda pequeno-burguesa e de classe média; serve na verdade apenas a interesses de lideranças supostamente de esquerda,  que querem se construir como alternativa aceitável para as classes dirigentes, no lugar de LULA. A tal da já nauseante terceira via. Basta saber um pouco de história e de ciência marxista para entender que corrupção é um elemento essencial ao funcionamento do Capitalismo. 

Por óbvio, não se está aqui justificando a corrupção, ou defendendo uma certa tolerância para com ela,  apenas apontando a hipocrisia ou ingenuidade de se exigir total e completa pureza ética do maior partido de massas do Ocidente, quando na verdade qualquer partido é obrigado a conviver com esse esgoto essencial à estrutura capitalista - nalguns países  é um esgoto mais mal cheiroso, noutros é menos. 

Agora, a questão crucial é saber se Lula , o PT e os outros partidos autenticamente de esquerda saberão, desta feita, conduzir esse processo (e saber conduzir-se nele) de instauração de um autêntico e contundente projeto social e  popular para o Brasil. 

Da última feita, erraram feio. Não convidaram, de verdade, a luta popular para a festa da ação política, não convocaram o povo, mas convidaram (e se estreparam com) as tais Instituições, Instituições, Instituições, Partidos, Lideranças, Imprensas etc etc

Admiro muito o companheiro Zé Dirceu que, sabemos, foi o grande  e perspicaz  artífice político de Lula,  mas a sua tática se mostrou um desastre para a estratégia de um projeto popular.

E todo mundo conhece o fim da  história. Quando Lula, Dilma e o PT precisaram da luta popular, ela se encontrava em estado  de completa catatonia: perplexa, confusa, induzida ao erro. E deu no que deu, no esgoto fascista e no caos  a céu aberto que está aqui e agora olhai as praças, com sua comovente população de rua. 

Não se pode manietar,  amortecer, aparelhar a luta popular, domesticar com cargos administrativos os seus movimentos, coletivos, lideranças. Ou é transformação, ou é submissão a migalhas, ilusão.

                                                    *****

Agora, voltando à eleição da AMACENTRO, como pequeno retrato desse cenário maior. 

Se a Coordenação, com as suas muitas caminhadas pelo bairro, visava apenas legitimar uma eleição em chapa única, para não haver contestação moral e argumentos desqualificadores de  opositores, a inciativa acertou no alvo, e em mais alguma coisa. 

Mostrou que, de uma forma ou de outra, os movimentos e forças populares aprenderam com a experiência dos governos petistas. Aprenderam que não podem afastar-se das ruas e pessoas, e certamente aprenderão a não se deixar domesticar, a não se burocratizar e se institucionalizar, excessivamente, num eventual Quinto mandado petista. 

Apoiará, sustentará, defenderá esse mandato, mas também saberá exigir a autonomia e a atenção, o apoio político e material que lhe é devido num governo de esquerda autentico, para que cresça e se fortaleça cada vez mais como luta popular autônoma, atuante, critica e reflexiva. Enfim, sua difícil tarefa será a de aprender a caminhar no fio da navalha entre autonomia e engajamento, entre reflexão crítica e sustentação do Terceiro mandato LULA.

Enfim, não se pode esquecer nunca das singelas palavras de Milton, menestrel das Minas Gerais: "todo artista tem que ir aonde o povo está". Os militantes da luta popular parece que estão aprendendo e praticando essa arte de encontrar o povo das ruas.

Quanto ao PT, PCB, PSOL, PC do B, UP,  Lula, Boulos, Haddad, Flávio Dino, e tantos outros, espera-se que sejam bafejados pelos ventos da História, para praticarem, ou resgatarem, essa arte das ruas e do povo. 

Isso, se de fato todas essas lideranças e partidos cumprirem seu papel histórico de apoiar LULA, ao invés de descaradamente somarem forças com o PSDB e a direita, para lançar a já famosa e nauseante terceira via. De certa esquerda tudo se pode esperar. Aliás, no programa do PCO de hoje, 14/08, Rui mais uma vez alerta para essa possibilidade. 

Goste-se ou não do PCO, considere-se ou não as suas teses políticas obsoletas e estreitas, o fato é que sua liderança maior, o companheiro Rui Costa Pimenta, alerta e bate nessa tecla 24 horas por dia, sete dias por semana: ir para as ruas e fábricas e comunidades, ir aonde o trabalhador está. 

E, amparado nessa lucidez, o PCO tem acertado todas as suas reflexões mais importantes, desde que acompanho as suas  análises, a partir de 2014 - alertaram para o Golpe Parlamentar de 2016, para a prisão de Lula, para a farsa da eleição de 2018 (defenderam até o fim a candidatura Lula mesmo sub judice, como tática de enfrentamento e desmoralização da farsa eleitoral  de 2018). 

E, atualmente, o companheiro Rui Pimenta tem alertado muito sobre a necessidade de estarmos preparados para a difícil tarefa de  GARANTIR a inevitável vitória de Lula nas urnas. Mas GARANTIR essa vitória nas ruas e fábricas e comunidades, com os trabalhadores e movimentos populares, e não apenas recorrendo às famosas Instituições da democracia burguesa, que certamente estarão todas vendidas, ou melhor, estarão todas cumprindo o seu papel de aparato burocrático e institucional do grande poder econômico. 

Rui ultimamente tem, inclusive, alertado que,  no momento decisivo - na falta de uma candidatura de terceira via que lhes sirva a contento - todas as tais Instituições, Instituições, Instituições, Partidos, Lideranças, Imprensas etc etc apoiarão a candidatura do infeliz a quem somos obrigados a chamar de  presidente;  ou, no limite, apoiarão hipócrita e disfarçadamente a cretina e animalesca solução militar (minhas escusas aos animais da natureza) - tudo para impedir que as forças populares e de esquerda, através do governo LULA, construam, finalmente,  um autêntico governo popular no Brasil.


**  esses pobres e cretinos ricos que, na sua degradante mas inevitável e implacável condição de marionetes do Capital, da Lógica do dinheiro, nunca conseguirão cuidar de seu mal maior - sua triste miséria existencial e espiritual. 

*** para os cristãos autênticos, talvez fosse também o caso de se falar em compaixão, em co-afetação, isso se o nosso infeliz personagem não estivesse, direta ou indiretamente, envolvido na morte e no sofrimento de milhares de corpos e consciências.

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