noite de sábado dessas, de tanto bombardeio da televisão, a incensar o supostamente hipnótico espetáculo da neve em terras do brasil, acabei eu próprio entrando no clima, literalmente - já que chovia a cântaros pelas ruas de Vitória afora. e então cometi breve e modesto poemeto, com um vídeo como pano de fundo.
e já enevoado de poesia e vinho e fantasia, não pensei muito e me empolguei e divulguei rapidamente o poemeto com o vídeo, para contatos mais próximos. só que me esqueci e acabei enviando o vídeo-poema para Índio, liderança do movimento de população de rua, o SAI DA RUA.
Que, junto com alguns de seus companheiros, naquele momento estava exatamente deitado, preparando-se para dormirem, numa das calçadas que circundam a Praça Costa Pereira - tal como mostrado no vídeo logo abaixo. O grupo, desamparado, isolado, exposto a frio e chuva, a silêncio, aflições - e certamente a saudades e memórias de outros tempos.
foi-me um verdadeiro tapa na cara, tanto as imagens quanto as tristes-pacatas palavras de Índio. Humilde, educado, sem ironia ou rancor, apenas realista, incisivo - como um bom e simbólico tapa na cara deve ser.
a surpresa foi tão grande, e o tapa tão áspero, mas didático e enriquecedor, que senti necessidade de responder qualquer que fosse, imediatamente - no calor, ou melhor, no frio da batalha.
E, então, enviei mensagem a Índio, com estas exatas palavras:
Realmente pesado. Vcs são a vida real. A denúncia de que nossa civilização fracassou, a mancha benigna na paisagem. Um tapa na cara da ilusão, na cara da sociedade capitalista modernosa, mas doentia, cancerosa.
Mas tenho a impressão de que vcs tem uma tarefa profética a cumprir, na mudança e cura dessa civilização doente .
Fica firme!
poucas, mas era como se com essas palavras me redimisse, pudesse me transportar lá para o meio do grupo, a fazer-lhes companhia, bem no meio da Praça deserta e tristonha.
continua daqui a alguns dias
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