17/02/2009

os ingovernáveis deste mundo: anarquistas e libertários

De certa forma dialogando com a matéria Rumos do FSM, postada agora em fevereiro, DESVELAR publica abaixo trechos de manifestos, elaborados em 2001, e outros textos e endereços de caráter libertário. Mas não apenas com o objetivo de complementar as abordagens sobre o FSM, o foco aqui não é um contraponto ou debate sobre o Fórum, e sim divulgar e contribuir para o próprio movimento libertário, que é uma das propostas deste blog. Na verdade, já vinha há algum tempo preparando uma seleção de textos de natureza libertária. São matérias extraídas de publicações anarquistas ou independentes - alguns endereços estão na lateral, na seção “pontes - dia-a-dia”.
Claro que não há aqui a pretensão de esgotar, em meia dúzia de textos, a história, as idéias, as diferenças e singularidades do anarquismo em relação ao socialismo, e muitas outras questões. Afinal, a luta libertária tem uma trajetória longa, rica e extremamente combativa, trajetória essa que inclusive vem demonstrando sua atualidade nas revoltas populares da Grécia, agora em dezembro de 2008, nas quais os anarquistas têm tido uma combativa e destacada presença. Dessa forma, optei por publicar aos poucos, em cada mês, o material teórico, as notícias e os manifestos oriundos do movimento libertário, nos seus diversos movimentos e correntes, ou seja, pretende-se neste blog uma continuidade e uma constância desse diálogo com o movimento libertário.
Mas voltar ao FSM é uma boa maneira de começar a conhecer as propostas do movimento libertário. De um lado, intelectuais e militantes de movimentos sociais, partidos e governos de esquerda, fazem exigências e propostas à direção do Fórum Social Mundial, para que esse de fato avance na busca conjunta de alternativas concretas para a superação do capitalismo. Principalmente neste momento de abalos nas estruturas do sistema, quando podem se abrir oportunidades reais, não de uma ruptura súbita e de uma transformação total em nível global, mas ao menos para se consolidarem governos e formas de organização alternativos, de caráter mais popular, democrático e igualitário, e menos individualistas e agressores do homem e da natureza.
Já quanto aos militantes e expoentes do movimento anarquista e libertário, vão numa direção diferente as suas críticas ao FSM, tanto em termos de apontar caminhos para o Fórum quanto para a superação do modelo econômico que domina as nossas vidas. Os movimentos libertários alertavam, já desde os inícios do Fórum, em 2001, para o perigo da “captura”. Ou seja, o advento de um espaço global como o Fórum Social Mundial teria sido, na verdade, uma forma de neutralizar, de capturar a revolta e o enfrentamento ao capitalismo (e à sua versão mais recente, o neoliberalismo), enfrentamento esse que se iniciou através das grandes manifestações de rua em Seattle, em Gênova, em Bolonha, em Washington e inúmeras outras cidades, por ocasião dos encontros do G8, do Fórum de Davos, do Banco Mundial e de outras instâncias representativas do neoliberalismo. Na verdade, anarquistas e libertários colocam-se nas origens do próprio Fórum Social Mundial, reivindicando para eles uma atuação combativa e fundamental nessas mesmas articulações e manifestações de rua, que inauguraram uma contestação mais consolidada ao capitalismo neoliberal.
Nessa crítica radical ao FSM, o risco estaria, então, na perda da espontaneidade e da horizontalidade dos protestos e dos esforços que buscam construir um mundo diferente. Pois, para o anarquismo, toda ação realmente revolucionária e transformadora do mundo e da vida não pode ser limitada, não pode se dar nos estreitos limites dos poderes instituídos, tais como partidos políticos, governos, sindicatos, poderes que se caracterizam pela hierarquia, pela autoridade e pela verticalidade de comando, mesmo que se tratem de poderes com propostas esquerdistas, socialistas ou progressistas. Pois, a partir do momento em que as forças revolucionárias institucionalizam-se através do poder do Estado, o seu ímpeto transformador, igualitário e criativo é neutralizado, é contaminado pelas práticas e valores da velha ordem, mantida por aqueles que deveriam ser combatidos e superados pela historia.
Desse ponto de vista, os anarquistas entendem que, senão todas, a maioria das forças presentes no FSM - ONGs, movimentos sociais, partidos e representantes de governos progressistas - fariam parte do mesmo processo de captura da espontaneidade e da verdadeira transformação, a partir do momento em que essas próprias forças também já teriam sido capturadas, neutralizadas pelas práticas, valores e visões institucionais, verticais e hierarquizadas.
Para uma melhor compreensão, publicamos aqui trechos de manifestos de dois coletivos libertários. Vale informar que os textos são do ano de 2001 e 2002. A escolha deve-se não só à clareza, firmeza e atualidade de suas posições e análises, como também a uma espécie de resgate histórico, de mostrar que já existia uma produção teórica anterior ao próprio FSM, enfim, todo um acúmulo em termos de enfrentamento do neoliberalismo. Independente de se concordar ou não com as posições expressas nos textos, conhecê-los é um exercício de inquietação intelectual e abertura àqueles que pensam diferente, e que manifestam essa diferença com coragem e lucidez.
E, para quem se interessar, seguem outros textos e páginas, diretamente nos endereços de origem:
http://ervadaninha.sarava.org/pagina2.html - espaço anarquista com conteúdo abrangente e linguagem incisiva.
http://anarkopagina.org/noticias/grecia.nova.internacional.html - manifesto anarquista por uma nova internacional.
http://diplo.uol.com.br/2009-01,a2732 - embora não focado no movimento libertário, o texto traz infomações e análises do Le Monde Diplomatique sobre a participação dos anarquistas nas recentes revoltas populares na Grécia.
http://grecia-libertaria.blogspot.com/ - divulga o movimento libertário na Grécia, bem antes das revoltas de Dezembro de 2008 (em espanhol).
http://www.nu-sol.org/links/links.php?tipo=1 - página do nu-sol que remete a vários outros endereços.

2 comentários:

  1. hahahahaha, era oque eu sempre vi a respeito do forum social mundial, (mas não sabia que outros libertários tambem viam a coisa assim, então fiquei feliz em saber que eu não sou a única)
    Para mim o FSM é uma bela forma de separar todos os "maloqueiros" num país tropical (onde muitos vem mesmo é para fazer turismo), enquanto OQUE REALMENTE IMPORTA é discutido em Davos.
    Não sei como é que que esses doutores, intelectuais, e gente tão esclarecida não consegue perceber que tudo isto é uma armação para reforçar esta caricatura que a midia faz a respeito dos socialista.
    alias, eu tambem não os defendo, são podres de certa forma, se contradize4m muito, não aceitam aprender com o oposto ( enquanto a oposição sabe tudo sobre eles).
    Fora FSM, isto nunca deu em nada!

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