ó tu com a pedra:
é noite sobre noite
eu brilho aquém de mim mesmo.
Traga-me para baixo
leve-nos a
sério
(paul celan - 'partitura da neve', 1971)
Comentários de Flávio Kothe:
À primeira vista a funda e a pedra lembram o episódio bíblico do combate entre Davi e Golias, oximoron narrativo em que o mais fraco derrota o mais forte (o que serve de base a todas as narrativas de aventuras, desenhos animados etc). Depois, vê-se que talvez aí se perca o sentido mais primário: aquele que está com afunda e a pedra é aquele que está disposto a agredir e atacar. Ao invés disso o poeta propõe o desarme, o encontro e a conversa. Como se sabe, a inveja mata: não ao invejoso, mas ao invejado. Mas ter inveja é cegueira. O próprio leitor pode ser este sujeito armado com a funda. Os poemas de Paul Celan, publicados aqui no DESVELAR, na medida do possível virão acompanhados dos comentários feitos Flávio R. Kothe, pelo tradutor e organizador "Paul Celan, hermetismo e hermenêutica" . Optei por publicá-los, em razão de se tratar de poesia hermética e de refletir uma vivência complexa e polêmica como foi a de Celan. Oportunamente, teremos uma uma abordagem mais detalhada, tanto dos comentários quanto da poesia de Celan.
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