Esse texto pode ser lido como um complemento ao 'A festa da vida nas ruas', relato poético que escrevi acerca da Iª Festa da Identidade Capixaba, ocorrida no último sábado, no Centro de Vitória. As tarefas essenciais da arte moderna (entenda-se aqui arte moderna como aquela que veio com a Renascença e se consolidou de vez com o Romantismo, não havendo nessa definição nenhuma pretensão de detalhes acadêmicos) são as da crítica e da inovação, da denúncia e da transformação, seja no aspecto estético, político ou social. Ora, ocorre que com o passar dos séculos, essas tarefas foram se tornando cada vez mais complexas e custosas, pelo próprio fato de que a arte havia que acompanhar as também complexas, custosas, ininterruptas e cada vez mais velozes transformações das sociedades ocidentais, provocadas pelo necessário e revolucionário advento do modo de produção capitalista.
Esse processo de acompanhar, compreender ou questionar a marcha da sociedade, se fez com que a arte moderna cumprisse, e bem, a sua tarefa, por outro lado arrastou-a para a mesma complexidade e sofisticação daquilo que ela acompanhava, e com o tempo esse deslocamento inevitavelmente resultou no distanciamento cada vez maior entre artista, linguagem artística e público, ou pessoas “comuns’’ - distanciamento que só fez se agravar com a consolidação da sociedade e da cultura de massas.
No outro extremo permaneceu a arte popular, sem possibilidade de acompanhar esse projeto de conquista da modernidade, mesmo porque não era e não é vocação da arte popular exercer-se como arte moderna, nessa constante preocupação de renovação.
Ao contrário, a sua vocação é a da permanência, da tradição e, embora a inovação seja também própria da arte popular, ela se dá num ritmo próprio, sem submissão a fatores externos, ou seja, ela não tem como preocupação central a inovação a qualquer preço ou por qualquer motivo; enfim, não existem propostas explícitas de inovação e invenção, quando essas ocorrem são consequências de um proceso natural, decantado ao longo de anos e às vezes décadas. Em razão dessa sua vocação para a permanência e a tradição, a arte popular se manteve mais próxima da maioria das pessoas, de suas vivências e de seus formas de expressão.
É uma arte mais próxima das origens, uma arte que soube conservar um pouco dos mitos, da religiosidade e da transcendência próprias do ser humano, sem se deixar envolver pelo transitório e pelo racional.
Assim, é natural que encontros como o de sábado (Iª Festa da Identidade Capixaba) desemboquem numa verdadeira comunhão entre artistas e povo, entre atores e espectadores, é nada mais nada menos do que o resgate de um tempo em que não havia tanta separação, indiferença e desconhecimento mútuo entre os indívíduos e entre as diversas formas de conhecer e estar no mundo (ciência, arte, religião) - um tempo anterior ao advento da cultura de massas. Na verdade, essa comunhão aponta não só para o resgate do passado, mas também para uma promessa de futuro - um futuro para além da cultura de massas.
Nessas manifestações populares ocorre o encontro concreto, sem mediações teóricas, entre arte e vida, entre cultura e natureza, sem preocupações de se definir aquilo que deve predominar.
E, embora não seja uma aspiração explícita, ou reconhecida, esses momentos de fusão com o público são tambérm uma aspiração de muitos artistas da modernidade, um resgate do elo perdido, ou a construção de um novo elo.
Sabemos que as condições históricas atuais saõ de um cada vez mais visível esgotamento do modelo de conquista proposto pelo outrora revolucionário sistema capitalista. E talvez essas condições históricas permitam e exijam o advento de uma arte que consiga realmente unir as características essenciais tanto da arte moderna quanto da arte popular.
Com certeza que, nessa construção de uma nova arte, celebrar junto com a arte popular não significará para o artista moderno abdicar da sua tarefa de crítica e denúncia, de invenção e de enfrentamento. Comungar com o povo e com a arte popular não significa se anular perante as características mais simples e espontâneas dessa arte.
Participar da construção de uma arte assim não significa jogar fora todo o precioso e grandioso acúmulo construído pela arte moderna, em sua incansável tarefa de acompanhamento, interpretação e expressão dos dramas e vivências dos homens da idade moderna.
Nem a arte popular teria que passar a ser mais elaborada, mais crítica ou estar em busca da constante inovação, sob o risco de também se afastar do universo das pessoas.
De qualquer forma, esses encontros mostram que é possível, sim, o resgate da comunhão entre arte e vida, entre ator e espectador, e o artista que quer caminhar na direção dessa nova arte com certeza só tem a ganhar quando dedica mais atenção à arte popular e, principalmente, a momentos mágicos e grandiosos como aquele que vivenciamos no sábado passado nas ruas do Centro de Vitória.
Esse processo de acompanhar, compreender ou questionar a marcha da sociedade, se fez com que a arte moderna cumprisse, e bem, a sua tarefa, por outro lado arrastou-a para a mesma complexidade e sofisticação daquilo que ela acompanhava, e com o tempo esse deslocamento inevitavelmente resultou no distanciamento cada vez maior entre artista, linguagem artística e público, ou pessoas “comuns’’ - distanciamento que só fez se agravar com a consolidação da sociedade e da cultura de massas.
No outro extremo permaneceu a arte popular, sem possibilidade de acompanhar esse projeto de conquista da modernidade, mesmo porque não era e não é vocação da arte popular exercer-se como arte moderna, nessa constante preocupação de renovação.
Ao contrário, a sua vocação é a da permanência, da tradição e, embora a inovação seja também própria da arte popular, ela se dá num ritmo próprio, sem submissão a fatores externos, ou seja, ela não tem como preocupação central a inovação a qualquer preço ou por qualquer motivo; enfim, não existem propostas explícitas de inovação e invenção, quando essas ocorrem são consequências de um proceso natural, decantado ao longo de anos e às vezes décadas. Em razão dessa sua vocação para a permanência e a tradição, a arte popular se manteve mais próxima da maioria das pessoas, de suas vivências e de seus formas de expressão.
É uma arte mais próxima das origens, uma arte que soube conservar um pouco dos mitos, da religiosidade e da transcendência próprias do ser humano, sem se deixar envolver pelo transitório e pelo racional.
Assim, é natural que encontros como o de sábado (Iª Festa da Identidade Capixaba) desemboquem numa verdadeira comunhão entre artistas e povo, entre atores e espectadores, é nada mais nada menos do que o resgate de um tempo em que não havia tanta separação, indiferença e desconhecimento mútuo entre os indívíduos e entre as diversas formas de conhecer e estar no mundo (ciência, arte, religião) - um tempo anterior ao advento da cultura de massas. Na verdade, essa comunhão aponta não só para o resgate do passado, mas também para uma promessa de futuro - um futuro para além da cultura de massas.
Nessas manifestações populares ocorre o encontro concreto, sem mediações teóricas, entre arte e vida, entre cultura e natureza, sem preocupações de se definir aquilo que deve predominar.
E, embora não seja uma aspiração explícita, ou reconhecida, esses momentos de fusão com o público são tambérm uma aspiração de muitos artistas da modernidade, um resgate do elo perdido, ou a construção de um novo elo.
Sabemos que as condições históricas atuais saõ de um cada vez mais visível esgotamento do modelo de conquista proposto pelo outrora revolucionário sistema capitalista. E talvez essas condições históricas permitam e exijam o advento de uma arte que consiga realmente unir as características essenciais tanto da arte moderna quanto da arte popular.
Com certeza que, nessa construção de uma nova arte, celebrar junto com a arte popular não significará para o artista moderno abdicar da sua tarefa de crítica e denúncia, de invenção e de enfrentamento. Comungar com o povo e com a arte popular não significa se anular perante as características mais simples e espontâneas dessa arte.
Participar da construção de uma arte assim não significa jogar fora todo o precioso e grandioso acúmulo construído pela arte moderna, em sua incansável tarefa de acompanhamento, interpretação e expressão dos dramas e vivências dos homens da idade moderna.
Nem a arte popular teria que passar a ser mais elaborada, mais crítica ou estar em busca da constante inovação, sob o risco de também se afastar do universo das pessoas.
De qualquer forma, esses encontros mostram que é possível, sim, o resgate da comunhão entre arte e vida, entre ator e espectador, e o artista que quer caminhar na direção dessa nova arte com certeza só tem a ganhar quando dedica mais atenção à arte popular e, principalmente, a momentos mágicos e grandiosos como aquele que vivenciamos no sábado passado nas ruas do Centro de Vitória.
Roberto Soares Ir para 'A festa da vida nas ruas'
Nenhum comentário:
Postar um comentário