(veja também: imagens do protesto, versão dos estudantes, barbárie de aracruz e viva españa!)
Ainda me sinto envolvido e entusiasmado pela grandiosa Marcha de desagravo, que aconteceu ontem à noite, sexta-feira, e da qual falarei com mais detalhes em breve.
E, como milhares de pessoas aqui do ES, principalmente jovens, também estou na expectativa de como esses acontecimentos se desdobrarão na próxima semana - já há uma outra manifestação programada para segunda feira de manhã, às 07 horas, em frente ao Pálácio Anchieta - para saber mais visite ato segunda feira será maior, no Facebook.
Por isso ainda não me disponho a fazer uma reflexão mais articulada e elaborada do movimento. Por ora, redijo apenas um não tão breve relato dos surpreendentes e chocantes acontecimentos que presenciei na quinta feira à tarde, na UFES, após a manifestação do Palácio Anchieta:
Ao sair do trabalho, fui para a frente do Palácio Anchieta. Eram 14 horas e já tinha havido a dispersão do movimento pelo BME. Os estudantes estavam desencontrados, isolados, cada um tinha escapado à sua maneira da força policial. Mas aos poucos foram retornando.
Após algumas discussões exaltadas e as costumeiras denúncias à imprensa, numa rápida assembléia decidiram se deslocar para a UFES, onde tentariam promover uma nova e maior assembléia. Além disso, havia a informação de que um grupo da UFES sairia em passeata pela Avenida Fernando Ferrari, como manifestação de apoio ao movimento em frente ao Palácio Anchieta e em protesto contra a violência policial. A idéia era se encontrarem os dois grupos e decidirem o que fazer. Foi decidido imediatamente um roletaço - ocupar onibus que fossem para a UFES, sem pagar a passagem.
Ainda me sinto envolvido e entusiasmado pela grandiosa Marcha de desagravo, que aconteceu ontem à noite, sexta-feira, e da qual falarei com mais detalhes em breve.
E, como milhares de pessoas aqui do ES, principalmente jovens, também estou na expectativa de como esses acontecimentos se desdobrarão na próxima semana - já há uma outra manifestação programada para segunda feira de manhã, às 07 horas, em frente ao Pálácio Anchieta - para saber mais visite ato segunda feira será maior, no Facebook.
Por isso ainda não me disponho a fazer uma reflexão mais articulada e elaborada do movimento. Por ora, redijo apenas um não tão breve relato dos surpreendentes e chocantes acontecimentos que presenciei na quinta feira à tarde, na UFES, após a manifestação do Palácio Anchieta:
Ao sair do trabalho, fui para a frente do Palácio Anchieta. Eram 14 horas e já tinha havido a dispersão do movimento pelo BME. Os estudantes estavam desencontrados, isolados, cada um tinha escapado à sua maneira da força policial. Mas aos poucos foram retornando.
Após algumas discussões exaltadas e as costumeiras denúncias à imprensa, numa rápida assembléia decidiram se deslocar para a UFES, onde tentariam promover uma nova e maior assembléia. Além disso, havia a informação de que um grupo da UFES sairia em passeata pela Avenida Fernando Ferrari, como manifestação de apoio ao movimento em frente ao Palácio Anchieta e em protesto contra a violência policial. A idéia era se encontrarem os dois grupos e decidirem o que fazer. Foi decidido imediatamente um roletaço - ocupar onibus que fossem para a UFES, sem pagar a passagem.
Lá fomos nós, depois assim que os estudantes pararam um ônibus. Eu tinha decidido acompanhar os estudantes, depois de ouvir alguns relatos, de pessoas que não estavam no movimento e que haviam confirmado que houvera truculência e excessos por parte do BME.
Como membro da CJP (Comissão de Justiça e Paz) da Arquidiocese de Vitória, eu resolvi participar do movimento como observador, para verificar se,caso houvesse uma manifestação de protesto em frente à UFES, naquela tarde o BME iria praticar os mesmos excessos que praticara em Aracruz, na desocupação de Barra do Riacho. Também estavam presentes no ônibus e na UFES dois outros membros da CJP, Vítor Zille e Arthur de Souza.
Esclareça-se que a brutalidade e os excessos de Aracruz foram denunciados por várias entidades, inclusive pela nossa CJP e também pelo CEDH (Conselho estadual de Direitos Humanos) cujo Relatório publico abaixo, elaborado por conselheiros que estiveram presentes na desocupação e presenciaram a brutalidade do BME.
Na UFES, após um breve encontro e uma rápida votação, os dois grupos decidiram pela ocupação e bloqueio da Avenida Fernando Ferrari. Num primeiro momento apenas uma das pistas foi bloqueada. E durante toda a ocupação os estudantes se manifestavam no megafone acerca da conveniência de liberar ou não ao menos uma faixa de passagem.
Uns defendiam a radicalidade, argumentando que na ocupação em frente ao Palácio Anchieta tinham desocupado uma das pistas e mesmo assim o governo tinha autorizado o BME a atacar os manifestantes. Outros defendiam a moderação e liberação de uma das vias, argumentando que era preciso ganhar a simpatia da população e evitar a hostilidade e a tensão por parte dos motoristas impedidos de prosseguir.
De minha parte, propus um meio termo: por questão de inteligência e de justiça que se ocupasse ora a pista que ia em direção a Serra, ora a pista que ia em direção a Vitória.
Mas nesse meio tempo tudo se acelerou, com a informação de o BME estava presente nas imediações, novamente autorizado pelo governo para promover a desocupação pela força. Um subtenente veio até os manifestantes, mas sem proposta de conciliação, apenas para comunicar que o governo não tinha enviado negociadores, tinha enviado apenas a polícia.
*****************
A partir desse momento, o que houve foi apenas a preparação dos estudantes para resistir à tropa de choque. Mesmo sabendo que eram remotas as chances, em nome da CJP tentei falar com alguém da direção estadual do PT, para evitar que o governador em exercício,Givaldo Vieira (que é do PT), mandasse a tropa recuar. A secretária do PT estadual me disse que somente o sr. Luiz Moraes estava presente no diretório e que não poderia atender naquele momento, mas que o mesmo tentaria fazer contato com o vice-governador. Reforcei o alerta de que poderia haver um desgaste muito grande para o Partido dos Trabalhadores pelo fato de um vice-governador do PT enviar, por duas vezes no mesmo dia, a tropa de choque para reprimir estudantes - só que nem eu mesmo imaginava o tamanho do desgaste, tal como ficou demonstrado na histórica passeata de sexta-feira à noite. Mas não houve retorno.
Mesmo porque já era tarde. As bombas de gás lacrimogêneo começaram a estourar à nossa volta. É horrivel a sensação depois que respiramos aquele gás. Tudo arde: o nariz, a garganta, o pulmão, parece que você está engolindo pimenta gasosa. E aprece que a nuvem venenosa não acaba nunca. Você se sente agredido nas suas próprias entranhas, na sua própria alma. O sangue e a indignação sobem à sua cabeça. E então não há como não revidar com palavras e com gestos, parece que você está sendo atacado por animais ou por robôs malignos, você não entende porque tanta brutalidade e tanta frieza por parte daqueles policiais.
A maioria fugiu para dentro do campus da UFES, que é area federal, portanto juridicamente protegida de diligências de policiais estaduais sem prévia autorização do reitor. Mas não foi o que se viu. BOMBAS de gás e BALAS de borracha eram atiradas a rodo momento para dentro do campus. O pânico tomou conta do campus, mesmo entre aquele que nada tinham a ver com a manifestação. No Teatro Universitário, que fica bem próximo à Avenida Fernando Ferrari, acontecia inclusive uma apresentação de teatro infantil.
A coisa chegou a um espantoso ponto de descalabro, de despreparo e de arrogância por parte dos policiais. Numa de minhas alucinadas (devido ao gás, esclareça-se) e indignadas idas e vindas, percebi que o reitor caminhava sozinho em direção aos policiais, para tentar acabar com aquela absurda infração e agressão.
Eu e outros jovens tentamos dar-lhe cobertura, acenando aos policiais, apontando o dedo e gritando que aquele era o reitor da UFES e que não atirassem. De nada adiantou. Ou os brutamontes do BME não entenderam nada ou simplesmente ignoraram nosso apelo. Mandaram bala e bomba em nossa direção, como se fôssemos todos de algum exército inimigo!!!
Todos corremos de volta, inclusive o reitor. Nesse exato momento fui fisicamente atingido por uma bomba. O artefato bateu na bolsa que eu carregava e explodiu bem próximo à minah mão esquerda. Senti uma dor fortíssima, desconhecida para mim. Quando olhei para a minha mão ela estava toda inchada e enfumaçada, parecia queimada.
Entrei em pânico, só me preocupava em gritar perguntandoo onde havia uma "droga de torneira" água para que eu pudesse molhar a mão atingida. Um estudante me guiou até a cantina do Cine Metrópolis. Lá me levaram até o banheiro e depois ao Posto Médico da UFES. Mas a médica disse que não tinha condições de fazer um raio-x da minha mão e que pela aparência o caso poderia ser muito grave, então sugeriu que eu fosse até um PA em Vitória para fazer a radiografia.
Muito a contragosto concordei em ir embora e entrar numa viatura da segurança da UFES. Fui ao PA da Praia do Suá. Mas pra variar estava lotado. Tinha que fazer inscrição, triagem para saber se era realmente urgente - depois acham um absurdo o povo revoltado quebrar esses PAs e agredir médicos e enfermeiros. Na verdade o povo é tão paciente e submisso...
Tomei algumas opiniões informais e decidi que aquele raio-x poderia ser feito no dia seguinte, se houvesse necessidade. Quis voltar para a UFES, mas a mão doía bastante. Achei melhor ir para casa e passar numa farmácia antes. Fiquei sabendo depois que os estudantes, após uma assembléia, desceram a Reta da Penha e foram para a Terceira Ponte - o memso trajeto que faríamos no dia seguinte na redentora e festiva marcha de desagravo, e que para mim mesmo eu chamei de Romaria do Sonho e da qual falarei em outro texto. Quanto à minha mão, na sexta-feira doeu ainda bastante e ficou inchada e azulada, mas hoje, sábado, melhorou quase compleramente, a ponto de eu poder digitar todos esses textos acerca do movimento.
Esclareça-se que a brutalidade e os excessos de Aracruz foram denunciados por várias entidades, inclusive pela nossa CJP e também pelo CEDH (Conselho estadual de Direitos Humanos) cujo Relatório publico abaixo, elaborado por conselheiros que estiveram presentes na desocupação e presenciaram a brutalidade do BME.
Na UFES, após um breve encontro e uma rápida votação, os dois grupos decidiram pela ocupação e bloqueio da Avenida Fernando Ferrari. Num primeiro momento apenas uma das pistas foi bloqueada. E durante toda a ocupação os estudantes se manifestavam no megafone acerca da conveniência de liberar ou não ao menos uma faixa de passagem.
Uns defendiam a radicalidade, argumentando que na ocupação em frente ao Palácio Anchieta tinham desocupado uma das pistas e mesmo assim o governo tinha autorizado o BME a atacar os manifestantes. Outros defendiam a moderação e liberação de uma das vias, argumentando que era preciso ganhar a simpatia da população e evitar a hostilidade e a tensão por parte dos motoristas impedidos de prosseguir.
De minha parte, propus um meio termo: por questão de inteligência e de justiça que se ocupasse ora a pista que ia em direção a Serra, ora a pista que ia em direção a Vitória.
Mas nesse meio tempo tudo se acelerou, com a informação de o BME estava presente nas imediações, novamente autorizado pelo governo para promover a desocupação pela força. Um subtenente veio até os manifestantes, mas sem proposta de conciliação, apenas para comunicar que o governo não tinha enviado negociadores, tinha enviado apenas a polícia.
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A partir desse momento, o que houve foi apenas a preparação dos estudantes para resistir à tropa de choque. Mesmo sabendo que eram remotas as chances, em nome da CJP tentei falar com alguém da direção estadual do PT, para evitar que o governador em exercício,Givaldo Vieira (que é do PT), mandasse a tropa recuar. A secretária do PT estadual me disse que somente o sr. Luiz Moraes estava presente no diretório e que não poderia atender naquele momento, mas que o mesmo tentaria fazer contato com o vice-governador. Reforcei o alerta de que poderia haver um desgaste muito grande para o Partido dos Trabalhadores pelo fato de um vice-governador do PT enviar, por duas vezes no mesmo dia, a tropa de choque para reprimir estudantes - só que nem eu mesmo imaginava o tamanho do desgaste, tal como ficou demonstrado na histórica passeata de sexta-feira à noite. Mas não houve retorno.
Mesmo porque já era tarde. As bombas de gás lacrimogêneo começaram a estourar à nossa volta. É horrivel a sensação depois que respiramos aquele gás. Tudo arde: o nariz, a garganta, o pulmão, parece que você está engolindo pimenta gasosa. E aprece que a nuvem venenosa não acaba nunca. Você se sente agredido nas suas próprias entranhas, na sua própria alma. O sangue e a indignação sobem à sua cabeça. E então não há como não revidar com palavras e com gestos, parece que você está sendo atacado por animais ou por robôs malignos, você não entende porque tanta brutalidade e tanta frieza por parte daqueles policiais.
A maioria fugiu para dentro do campus da UFES, que é area federal, portanto juridicamente protegida de diligências de policiais estaduais sem prévia autorização do reitor. Mas não foi o que se viu. BOMBAS de gás e BALAS de borracha eram atiradas a rodo momento para dentro do campus. O pânico tomou conta do campus, mesmo entre aquele que nada tinham a ver com a manifestação. No Teatro Universitário, que fica bem próximo à Avenida Fernando Ferrari, acontecia inclusive uma apresentação de teatro infantil.
A coisa chegou a um espantoso ponto de descalabro, de despreparo e de arrogância por parte dos policiais. Numa de minhas alucinadas (devido ao gás, esclareça-se) e indignadas idas e vindas, percebi que o reitor caminhava sozinho em direção aos policiais, para tentar acabar com aquela absurda infração e agressão.
Eu e outros jovens tentamos dar-lhe cobertura, acenando aos policiais, apontando o dedo e gritando que aquele era o reitor da UFES e que não atirassem. De nada adiantou. Ou os brutamontes do BME não entenderam nada ou simplesmente ignoraram nosso apelo. Mandaram bala e bomba em nossa direção, como se fôssemos todos de algum exército inimigo!!!
Todos corremos de volta, inclusive o reitor. Nesse exato momento fui fisicamente atingido por uma bomba. O artefato bateu na bolsa que eu carregava e explodiu bem próximo à minah mão esquerda. Senti uma dor fortíssima, desconhecida para mim. Quando olhei para a minha mão ela estava toda inchada e enfumaçada, parecia queimada.
Entrei em pânico, só me preocupava em gritar perguntandoo onde havia uma "droga de torneira" água para que eu pudesse molhar a mão atingida. Um estudante me guiou até a cantina do Cine Metrópolis. Lá me levaram até o banheiro e depois ao Posto Médico da UFES. Mas a médica disse que não tinha condições de fazer um raio-x da minha mão e que pela aparência o caso poderia ser muito grave, então sugeriu que eu fosse até um PA em Vitória para fazer a radiografia.
Muito a contragosto concordei em ir embora e entrar numa viatura da segurança da UFES. Fui ao PA da Praia do Suá. Mas pra variar estava lotado. Tinha que fazer inscrição, triagem para saber se era realmente urgente - depois acham um absurdo o povo revoltado quebrar esses PAs e agredir médicos e enfermeiros. Na verdade o povo é tão paciente e submisso...
Tomei algumas opiniões informais e decidi que aquele raio-x poderia ser feito no dia seguinte, se houvesse necessidade. Quis voltar para a UFES, mas a mão doía bastante. Achei melhor ir para casa e passar numa farmácia antes. Fiquei sabendo depois que os estudantes, após uma assembléia, desceram a Reta da Penha e foram para a Terceira Ponte - o memso trajeto que faríamos no dia seguinte na redentora e festiva marcha de desagravo, e que para mim mesmo eu chamei de Romaria do Sonho e da qual falarei em outro texto. Quanto à minha mão, na sexta-feira doeu ainda bastante e ficou inchada e azulada, mas hoje, sábado, melhorou quase compleramente, a ponto de eu poder digitar todos esses textos acerca do movimento.
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