A politização da economia é o primeiro passo para livrar a agenda da crise dos impasses que a prendem em um círculo vicioso infernal. Hoje, uma hegemonia falida dita as regras à superação da própria falência,coisa que nem o código de falência do capitalismo permite. O resultado é o aprofundamento da crise.
A Grécia é o laboratório dessa contradição em termos, cujos desdobramentos não deixam dúvida sobre o lugar a que ela nos leva: desde o início dos planos de 'resgate', em 2010, com suas incansáveis inspetorias e revisões, a insolvência grega só fez se agravar, o desemprego cresceu, as metas ficais estouraram, a relação dívida pública/PIB decola. Suicidas, em número crescente, ilustram o efeito material e subjetivo do conjunto na vida da população.
Muitos se perguntam de que servem as mobilizações de rua se seus participantes - jovens em sua maioria - não tem 'clareza' (os banqueiros a teriam, por suposto) do que fazer diante do gigantismo de impasses que ameaçam a própria sobrevivência do sistema financeiro mundial.
As ruas nunca deram respostas técnicas para impasses históricos. O papel das ruas nesse momento é justamente libertar a economia da fraudulenta camisa-de-força 'técnica' que circunscreve a busca de alternativas aos limites intocáveis dos interesses geradores da crise. O longo crepúsculo neoliberal sugere que não há oxigênio renovador nesse espaço estreito e abafado. Não se trata de sancionar, por contraposição, a panacéia voluntarista do movimento pelo movimento.
Zizek em fala magistral aos acampados de Wall Street (leia nesta pág.) advertiu-o muito bem: "Não nos apaixonemos por nós mesmos. É bom estar aqui, mas lembrem-se, os carnavais são baratos". Os movimentos de rua terão que argüir seus próprios limites e rompê-los em alianças e convergências com forças, partidos e plataformas de recorte progressivamente mais objetivo. Mas o passo que antecede a todos os demais é esse que está sendo jogado nesse momento: a politização da economia e o exercício prático, urgente, de uma outra democracia.
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