A Rebelião dos Povos continua a deitar por terra afirmações e análises dos chamados 'especalistas' em política, sociologia, comportamento, etc etc. O consenso ainda é o de que esse movimento ficará restrito a sociedades e países envolvidos masi fortemente pela crise, tais como europeus e americanos, ou com problemas de ordem econômica e de opressão política, caso dos africanos, árabes e de povos do Oriente Médio. Pois a Rebelião chegou ao Brasil, que está muito longe de ser afetado pela crise tanto quanto europeus e americanos (pelo menos por enquanto), nem está sob a opressão de uma ditadura. Leia abaixo, num texto trasncrito de Carta Maior
Indignados de São Paulo recebem apoio dos moradores de rua e ameaças da polícia
O 15 de outubro passou, mas os paulistanos que realizaram manifestações em sintonia com outros locais do mundo permanecem acampados no vale do Anhangabaú. Com uma média de 70 pessoas dormindo todas as noites e 200 presentes durante o dia, o acampamento aperfeiçoa sua estrutura, recebe apoios e amadurece politicamente, enquanto o poder público responde com ameaças.
Castigado nos primeiros dias pela chuva desproporcional na cidade de São Paulo, o movimento teve dificuldades de romper a barreira midiática para amplificar o seu recado à população. Mesmo assim, conseguiu marcar presença neste protesto realizado em mais de 900 cidades e 80 países.
Os dias de frio foram contrastados pela calorosa recepção dos moradores de rua. Não foi preciso grandes explicações sobre as motivações do acampamento para que um representante do Movimento Nacional da População de Rua pedisse a palavra em uma das assembleias para dar o seu apoio. Aproveitou para explicar que os moradores de rua da região estão cientes dos novos vizinhos, mas temem acompanhá-los mais de perto nas noites por medo de represálias.
A Guarda Civil Metropolitana (GCM), por motivos opostos, também se faz presente, com pelo menos duas viaturas a cada madrugada. Na manhã da terça-feira, os policiais fizeram a primeira incursão sobre o território ocupado para confiscar as faixas com as mensagens políticas, o banheiro seco e demais materiais que estavam nas margens do local utilizado como dormitório. Não foram embora sem antes ameaçar voltar com mais truculência. E voltaram, acompanhados da Polícia Militar, na tarde de quarta-feira. Apesar da tensão, não ocorreram prisões nem despejo.
A ocupação foi considerada irregular com a justificativa de “uso indevido do solo”. A juíza Simone Viegas de Moraes Leme indeferiu a liminar do mandado de segurança do movimento, que tentava garantir a instalação das barracas e de materiais estruturais do acampamento. Na interpretação da advogada voluntária do movimento, Marcela Fogaça, essa permissão deveria ter sido dada como garantia do direito à livre expressão e organização, prevista na Constituição Federal. O movimento enviou um ofício à GCM insistindo nesses pedidos e aguarda resposta.
Tudo em ordem
A criatividade das pessoas - que encaixam entre seus compromissos cotidianos um horário para visita ao local – conseguiu apresentar soluções às necessidades básicas. Pia, panelas, talheres, copos e armazém de comida são cuidados por todos. Os pertences pessoais são organizados por grupos de afinidade, para evitar perdas. A Comissão de Comunicação trabalha diuturnamente, quando não é traída pelo gerador, para acelerar a divulgação de informações. Acordada também fica a Comissão de Segurança, organizada pelo revezamento de seus membros em turnos diferentes.
Se o empenho da militância já tem sido importante para o funcionamento do acampamento, as doações também são fundamentais. O movimento arca com suas necessidades – e, assim, mantem a autonomia diante do Estado, governos, empresas e partidos, contando apenas com recursos e materiais doados pela população. As assembleias realizadas todos os dias dão rumo aos encaminhamentos propostos pelas comissões.
Fora da ordem
O movimento aprovou, na última terça-feira, um novo manifesto, onde defende “mudança completa do sistema politico” e “participação na construção do nosso Brasil”. “Chega de decisões unilaterais concentradas nas mãos dos mais ricos dentre os ricos”, completa.
As atividades no local da ocupação se intensificam, e uma comissão de programação pretende convidar membros de movimentos sociais e intelectuais de esquerda para levarem suas contribuições. O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, compareceu ao local e lembrou que o Vale do Anhangabaú é palco de manifestações populares a muito tempo, tendo como destaque o histórico e massivo comício das diretas. Referindo-se aos novos protestos, Lancellotti afirmou que “esta manifestação é legítima, verdadeira e necessária”.
O movimento planeja organizar outras ações pela cidade. Na sexta-feira está agendada uma ação na sede da Bovespa. Sem certeza do tempo que será possível permanecer no local, este é mais um passo na organização política dessas pessoas – as que estão indignadas por algum e as indignadas por muitos motivos.
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